por Zé Roberto Padilha
Não foi a morte do Wando, e seu ritual de distribuir calcinhas, e a fossa desaparecida junto ao Jamelão, “Êta dor de cotovelos dos diabos!”, que decretaram, como supunha, o fim do romantismo. Estava lendo o segundo caderno, de O Globo, domingo, quando identifiquei o responsável por tudo. Posava em página inteira, todo de azul, diante de uma reportagem que comemorava os vinte anos do seu surgimento. Período em que roubou, debaixo das nossas incertezas e à venda sem receita nas drogarias, um secular rito de sedução. Seu nome: Citrato de Sildenafila. Viagra, para os íntimos.
Em duas décadas, o que era a conclusão de um processo de paixão, iniciado na puberdade, aflorado em espinhas e exalando os primeiros odores do cio, se tornou um só começo, meio e fim. Nada mais de enviar flores à mulher desejada, dar as mãos no escurinho do cinema, roubar o primeiro beijo a despertar desejos comuns. Desde então, basta tomar um comprimido e todo o ritual que precedia o ato foi para o espaço. Agora, Vai lá e…pimba!
Neste frio e duro processo que queima etapas que concretizaram relações, movidos a gestos de carinho e cumplicidade, foram eliminadas as poesias de Drummond, os versos de Vinícius de Moraes, os acordes do piano de Tom Jobim. Para alcançar o raso de uma relação, basta um fundo musical com a Anitta, o hit de “um pau que ama” no lugar do coração. Por R$ 18, e até genéricos a R$ 3, você pega atalhos e… Vai lá e…pimba!
Brochar, como errar, perdoar, cobrar um pênalti para fora em uma decisão, era a conjugação de um verbo transitivo direito comum a todos os seres imperfeitos que Deus convidou ao acasalamento. E se a varinha de condão foi concedida a Adão, não era justo jogar na sua conta frustrações que Eva colaborou, ao permanecer, após o terceiro filho, engordando e engordurada junto ao fogão. Caso se cuidasse, praticasse caminhadas no Éden e comesse maçã, não tortas de chocolate da Tia Anastácia, juntos alcançariam 100% de aproveitamento. E de magia. Deste jeito, ficava mesmo complicado Ir lá e…pimba!
Jamais direi, ou escreverei, que desta água não beberei. Mas enquanto nós pudermos resistir ouvindo Chico Buarque, Roberto, Erasmo e Adriana Calcanhoto, melhor convidar a patroa para jantar fora. Abrir um vinho na varanda em noites de luar. E resistir. Muitos amigos meus desconheceram que o azulzinho é um aditivo que transforma o motor do nosso Fuska, ano de fabricação 52, em uma Ferrari 2018. Esqueceram que um corpo, e um carro antigo, não são movidos apenas a motor turbo de ultima geração. E quando aceleraram forte no fim da reta oposta, sobrou para uma artéria entupida ou uma veia vencida. E a vida, tão bonita, de frustrações e prazeres, Foi lá e…pimba!
Obs. Crônica republicada em homenagem ao Gabigol. Não tem jogadas de efeito, dribles desconcertantes, tabelinhas à lá Pelé e Coutinho. Pega a bola e Vai lá e…Pimba!
O próprio Atacante Viagra que alcança mais rápido o orgasmo do gol.