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PARABÉNS, AMIGO

por Zé Roberto Padilha


Sobre você, Abel, posso escrever um livro. Chegamos juntos ao Fluminense, aos 16 anos, e saímos formados cidadãos e atletas profissionais sete anos depois. Você foi pro Vasco, eu para o Flamengo.

Oito anos depois, nos reencontramos em Campos, e disputamos, ao lado do nosso mestre, João Batista Pinheiro, e do Rubens Galaxe, o estadual de 84 pelo Goytacaz.

Histórias suas tenho aos montes para contar, mas, hoje, vou apenas lhe dedicar uma crônica pela vitória do nosso tricolor. E ela é mais do que merecida.

Sei do que você passou, há dois anos, quando saiu pelas portas dos fundos do Ninho do Urubu enquanto, pela da frente, entrava Jesus.

Nunca foi fácil, que o digam os imperadores romanos, questionar Jesus.

Na ocasião, escrevi o quanto foi injusto o Flamengo ao não lhe conceder as faixas e medalhas de campeão estadual, brasileiro e das Américas porque foi você que montou a base daquele time.

Carro de F1 e time de futebol se montam na pré ‘temporada. Seja em Jerez de la Frontera ou uma estâncias climática, dos campos e túneis de vento saem a a suspensão, os chassis e a aerodinâmica. Foi quando você indicou Bruno Henrique, Rodrigo Caio e Gabigol.

Depois, nas pistas e nos gramados, bastou ajustar os pneus, durante os milagres ocorridos no reino de Fátima, quando Rafinha chegou para o lugar do Pará, e o Filipe Luis para o do Renê.

Inegáveis foram os méritos de Jesus. Lamentável, na ocasião, foi a diretoria rubro-negra subestimar sua valiosa contribuição em meio a tantas conquistas. Mas esse é o mundo do futebol, cruel e imediatista, e você que sabe dele mais do que eu.

Sábado, no Maracanã, você não deu o troco. Nem se vingou.

Não faz parte da Escola das Laranjeiras tomar atitudes arrogantes quando a Roda Gigante nos coloca acima. Mas já que o Flamengo não lhe concedeu as medalhas, você foi lá e além de pegar a sua, mostrou que quando lhe deixam montar um time e conduzi-lo ao mesmo tempo nas pistas, o Fluminense levará a campo, durante o Campeonato Brasileiro, mais do que uma grande equipe de futebol.

Será uma Mercedes.

TUPAN F.C.

por Wendell Pivetta


O Tupan Futebol Clube celebrou 72 anos de existência no último mês. Uma das maiores equipes da região central do Rio Grande do Sul, conquistou inúmeros títulos, mas a história do Tupan vai além desse mérito, ela alcança a formação de atletas e cidadãos tupanciretanenses com base no respeito e dedicação para alcançar os objetivos na vida.

Repleto de nostalgia, a página oficial do clube no Facebook celebrou seu aniversário com mais de 20 fotos dos elencos que atuaram com a camisa do rubro-negro tupanciretanense. No acervo, atletas da nova geração, como Roaldo, Luis Henrique, Cleumir, Jean Ramos que hoje atuam pelo Figueira na Série Prata da Federação Gaúcha de Futebol de Salão foram relembrados. Também foi visualizada a presença do técnico Diogo Tassinari Cancian, hoje na casamata do SPORT F.C, equipe de futsal feminino e nas categorias de base do Gaúcho E.C, personagens da história recente do clube, quando em 2015 atuaram na segunda divisão do estado pela Federação Gaúcha de Futebol de Salão.

Emerson Barcelos, consagrado atleta que atuou no clube nos anos 90, e depois passou pelo Vasco, Inter, futsal espanhol e atual coordenador de esportes da Terra da Mãe De Deus e o ala Alcides Ribas, hoje atuando em clubes de primeira divisão do Estado, aparecem no acervo, assim como outros inúmeros jogadores.

O presidente do clube, Jairo Ramos, nos anos 80 atuou com a camisa, anos após foi técnico do clube, e recentemente celebrou a data:

“Quero parabenizar essa equipe que muito orgulho deu e vai continuar dando para a população e para todas as pessoas de Tupanciretã. Uma equipe esta que através dos tempos teve grandes conquistas nos campeonatos que participou e que o orgulho maior é a formação que teve de vários atletas que hoje brilham nas quadras de futsal pelo Estado do Rio Grande do Sul e formou também, grandes cidadãos. Então parabéns Tupã Futebol Clube pelos seus 72 anos de existência”.

Na atual direção do Tupan, Jairo Ramos tem o apoio de Jalma Ramos, irmã, diretora de esportes, e uma das personagens do futebol de campo feminino. Jalma foi campeã do Gauchão nos anos 2000 pelo Grêmio, também atuou no Internacional e hoje, com mais de 40 anos, irá atuar no Gauchão pelo Elite, clube de Ijuí, cidade vizinha de Tupanciretã. A atleta, conhecida como Tupã Ramos no meio futebolístico, tem dois filhos com o mesmo DNA do futebol: Jean Ramos, camisa 10 do Figueira, e Júnior Ramos, atleta formado na base do Tupan e atua em outros clubes da região.

Na Terra da Mãe de Deus, famílias se uniram para construir uma das camisas mais respeitadas da região. Contando também com Luiz Eduardo Aude. Mais tarde seus dois filhos também integraram o elenco nas categorias de base, e hoje já não seguem mais o caminho do futsal, mas se tornaram cidadãos com respeito e objetivos de vida conquistados. O personagem dos relatos a seguir, é mais conhecido como Brecha. Integrante por anos do clube na direção, e também como torcedor e atleta nos anos 80, relatou importantes histórias do clube:

“O nosso glorioso Tupan Futebol Clube está completando 72 anos. A gente fez parte da história desse clube que agora está inativo, mas se Deus quiser nos próximos anos ou nesse ano, nos anos seguintes, ele vai voltar à ativa de novo. O futebol é ciclo né então a gente que já passou pelo Tupã, já passou o nosso ciclo né, vamos como diz aquela música de Elis Regina: o novo sempre vem. Então nós estamos esperando uma turma de pessoas novas, pessoas que tenham um amor pelo Tupã Futebol Clube e possam tomar conta dessa agremiação muito querida”.

Luiz Eduardo dedicou boa parte da sua vida no rubro-negro tupanciretanense:

“Eu comecei a jogar no Juvenil em 1987 e comecei a torcer pelo Tupã lá em 1985, no segundo Citadino da era do Chapetão, quando ganhou de um super time da Serrana. Uma máquina de time da Serrana: Bila, maninho, Humberto e Sebão e Orion no gol. Era um cano de time da Serrana, bem-dizer era imbatível e o Tupã FC ganhou essa final e como o Jairão (presidente do clube atualmente) era meu colega de aula, e ele fez os gols da vitória e o Jairinho com tempo ficou meu amigo, comecei a torcer para o Tupã. Nesse longo tempo depois eu comecei a fazer parte da diretoria em 1990 com o Wilmar Mingotti presidência e o saudoso Jorge na vice e eu de tesoureiro. Dali não abandonei mais as diretorias do Tupã até 2010. Foi o último ano que nós tivemos ali com uma categoria infanto juvenil para disputar o Estadual e nós saímos da diretoria, mas eu continuei sempre ajudando o time ali no que eu podia né.”


O Tupan uniu famílias, lotou o ginásio municipal, e criou também histórias com resultados marcantes no cenário principal do Futsal Estadual:

“Tem um fato marcante que durante o tempo que umas vitórias mais emblemáticos da minha era ali, foi aquela vez que nós ganhamos de 4 a 1 da Uruguaianense em casa, sendo a única equipe que ganhou do time que subiu para a Ouro e depois como treinador, uma vitória do juvenil contra o Atlântico, lá em Erechim, 3 a 2, e nós ganhamos lá em Erechim e depois escutando na rádio Tupã o empate contra a ACBF, 7×7, em Carlos Barbosa. Valeu, abraço, e feliz aniversário do Futebol Clube por esses 72 anos”.

Estes personagens solidificaram, e tornaram Tupanciretã um berço formador de cidadãos e atletas para o mercado do Futsal Gaúcho. Diferentemente do futebol de campo, o salão se tornou mais propício, e amado pelos cidadãos. O jornalista que redige este texto, atuou em vários clubes tupanciretanenses, menos no Tupan FC. Em uma tarde de verão, com meus 12 anos, me apresentei para treinar no local do clube, porém naquele dia não haveria treino para a minha categoria.

Fiquei no local um pouco, e assisti aos treinamentos comandados por Jalma Ramos. Ali entendi o porquê do Tupan ser diferente dos demais clubes, pois a rigidez da treinadora em cobrar o esforço máximo dos atletas era intenso. Tinha de se ter muita fibra e determinação em quadra, e assim os atletas entravam em quadra prontos para os feitos heróicos diante de clubes com folhas salariais altas e contratações de maior expressão.

Atualmente, a torcida tem uma incógnita se em algum dia, o Tupan F.C irá voltar com suas atividades futebolísticas, voltando a ser um dos maiores celeiros de craques do município.

TITA NÃO FOI UM 1° DE ABRIL

por Marcos Vinicius Cabral


“Mas eu sou o Leandro, p…!”, exclamei ao fazer mais um gol batendo no peito estufado, pé sobre a bola dente de leite e cara de zangado.

“Negativo, você não é o Leandro, não é o Zico, não é o Júnior, Adílio, não é ninguém do Flamengo. Você é o Tita do Grêmio e tira essa camisa número 2 das costas seu moleque”, respondeu seu Válter furioso.

E completou em seguida:

“Guina, vai pra dentro e bagunça esse atrevido”, ordenou para o habilidoso neto Marcelo, que recebera dele o apelido de Guina em homenagem ao clássico meio-campista vascaíno que jogou no clube de São Januário antes de se transferir para o Real Murcia, da Espanha.

Funcionário da Fábrica Fluminense Tecidos no Barreto, em Niterói, seu Válter era homem de confiança de seu Eduardo, acionista majoritário da empresa.

Torcedor do Vasco, sempre que podia sentava numa cadeira de balanço, onde gastava seu tempo livre nas tardes entre a leitura de seu Jornal dos Sports e as instruções que dava como treinador de futebol.

Em outras palavras, era o “Clássico dos Milhões” personificado naquele chão de terra batida, onde o meu time enfrentava o do Guina sob orientações de seu Válter, treinador dos dois times.

Criou-se então, uma rivalidade entre nós e assim foi uma boa parte da minha infância.

Ora marcando Guina, ora recebendo ordens de seu Válter.

Por alguns anos, Tita foi para mim, mocinho e bandido.

Mocinho de forma inquestionável ao ganhar tudo em 1981 pelo Flamengo e bandido ao fazer o gol do título do Vasco em 1987.

Poucos, bem pouquíssimos jogadores despertaram em mim amor e ódio com tanta equivalência.

Tita foi um deles.

Se chorei de emoção abraçado ao meu tio José Cláudio em Nova Friburgo com as conquistas da Libertadores e Mundial, me escondi por uma semana, inclusive indo embora do colégio direto para casa sem aparecer na pelada para não ter que marcar Guina e receber ordens do seu Válter, na decisão do Carioca seis anos depois.

Mas foi inevitável.

O curso da vida voltou ao normal e voltei a marcar Guina e receber ordens do seu Válter.

O tempo passou.

A fábrica fechou as portas no meio da década de 1990, seu Válter faleceu tempos depois e o Guina nunca mais vi.

Esse relato poderia ter sido mais um dos tantos que fazem parte deste 1° de abril, considerado o Dia da Mentira.

Mas felizmente, não é.

Da mesma forma que Milton Queiroz da Paixão, aniversariante de hoje, não foi um mero jogadorzinho qualquer.

Tita foi craque de verdade.

Destaque na base do Flamengo, foi treinado por Zizinho e Pavão e lá conheceu Adílio e Júlio César Uri Geller.

Franzino, o talento fez com que recebesse um tratamento especial do clube e passou por um tratamento físico semelhante ao de Zico.

Aliás, Zico, este que foi seu companheiro por anos, foi também o maior de seus problemas.

Pois seja na ponta-direita ou na esquerda, como ponta de lança e até atuando como centroavante, a 7 que carregou nas costas nos 391 jogos, era motivo de insatisfação.

Ele queria mais, ou seja, ardia o desejo em seu coração em vestir a 10, como disse certa vez em 1980, em entrevista concedida ao repórter Aristélio Andrade, da Placar e republicada na série Perfis do Flamengo, relançada em 2012.

“A posição que realmente gosto e onde me sinto mais à vontade é a do Zico. Mas não dá para mim, ali ele é o melhor jogador do mundo e se fosse esperar para jogar onde gosto envelheceria na reserva”.

Envelheceu sim mas nunca na reserva nos clubes por onde passou.

No Grêmio, foi símbolo ao lado de Hugo De Léon, onde conquistou a segunda Copa Libertadores da América, em 1983.

Não bastasse, desmistificou a imagem de jogador medroso e na final da competição sangrou ao lado do clássico zagueiro uruguaio.

O vermelho escorrido na face percorreu o mundo por meio da lendária foto de Masahide Tomikoshi, da Placar, e foi a cor do rival Internacional, no qual o mórmon jogou depois.

Sua missão era substituir o ídolo Ruben Paz no coração da torcida colorada.

Missão cumprida com êxito.

Sondado e sonhado pelo Corinthians, foi no Vasco com seu gol transloucadamente comemorado com a camisa cobrindo o rosto em 1987, que virou ídolo de verdade.

Tão ídolo que foi homenageado com a manchete do Jornal dos Sports: “O Títalo é do Vascão”.

Talentoso e por mais promissor que fosse durante a carreira, ora genial, ora genioso, suas escolhas não lhe deixaram ir mais longe.

Principalmente em 1982, na Seleção de Telê Santana, onde seria naturalmente o camisa 7, mas recusou e acabou sendo deixado de lado pelo teimoso treinador mineiro.

Em tantos anos como jogador profissional, realizou sonhos, conquistou títulos e pagou algumas promessas, como o 6 a 0 no Botafogo.

“Nas cadeiras do Maracanã, eu e Adílio assistimos o Botafogo meter seis no Flamengo e prometemos que, quando fôssemos profissionais, iríamos devolver essa vergonha”, disse à época ainda na base do Flamengo.

Nove anos depois, a promessa se cumpria quando Andrade estufou as redes de Paulo Sérgio, aos 42 minutos do segundo tempo.

“Naquele momento, apenas nos olhamos e nos abraçamos”, resume Tita ao falar de Adílio.

Desfilou como um cisne em outros gramados e vestindo outras camisas como a do Bayer Leverkusen, Pescara – ao lado do ex-companheiro de Flamengo Júnior e do centroavante Edmar -, León e Puebla, ambos do México e Comunicaciones-GUA, onde encerrou a carreira.

Aposentado dos gramados, a paixão pela bola não parou e apenas diminuiu seu tamanho.

Se tornou um ávido participante de competições do golfe, esporte este em que já venceu o Masters Tour do Rio de Janeiro e é filiado à Associação Brasileira de Golfe Sênior (ABGS).

Atualmente é comentarista de futebol, esporte em que boa parte da carreira buscou a 10 enquanto foi sombra de Zico.

Ganhou algumas vezes e perdeu outras.

Mas hoje o aniversariante tem motivos de sobra para comemorar seu 63° aniversário.

E o presente maior que poderia receber neste 1° de abril é a certeza que se não foi o 10 que sempre quis ser nos gramados, fora deles, nunca deixou de ser no papel de marido de dona Sandra e no papel de pai de Desiree, Lohram, Ablanche, e Fabien.

Nada mal, convenhamos, como da mesma forma encantou as torcidas do Flamengo, Vasco, Grêmio e Internacional, onde sua maior vitória foi ter se tornado ídolo nesses clubes.

CAMISA OFICIAL CARA, GASOLINA BARATA?

por Idel Halfen


Como quase tudo que acontece no Brasil, o aumento nos preços dos combustíveis passou a ser explorado politicamente, fato que deixa mais uma vez evidente a tendência de o brasileiro se julgar conhecedor de todos os assuntos sem possuir o mínimo embasamento para tal, ou pior, se aculturando apenas através de posts que circulam nas redes sociais.

Os que atacam o presidente, ao invés de buscarem entendimento acerca da delicada situação de um país que depende da importação de petróleo, preferem preconizar a interferência nos preços dos combustíveis, interferência, aliás, que seria ainda mais nociva para a economia de forma geral. Isto sem entrar no mérito de que a Petrobrás precisa dar lucro, afinal trata-se de uma empresa de capital misto.

Os que defendem incondicionalmente o mandatário, elegem os governadores e seus impostos como responsáveis pelos aumentos, preferindo ignorar que tais receitas sempre existiram e são indispensáveis para que as contas dos estados não sofram ainda mais. Quando abatidos por esta realidade, buscam o argumento de que o combustível no Brasil, na verdade, é um dos mais baratos no mundo, denotando uma fragilidade intelectual assustadora, pois utilizam simplesmente a conversão do preço sem considerar o poder de compra da população. É justamente neste ponto que fazemos um paralelo com as camisas dos times de futebol, pois, aplicando tal raciocínio, também estariam baratas.


* Preços coletados em 14/mar/22 no site www.globalpetrolprices.com
** Dados coletados www.oecdbetterlifeindex.org

Ao se fazer um exercício de conversão dos preços de tais produtos para dólar, comparando os praticados no Brasil com mais oito países – escolhidos por representarem continentes e/ou terem alguma significância no futebol – veremos que a gasolina no Brasil só tem o preço maior do que a dos EUA e as camisas oficiais são as mais baratas de todas.

Diante desses números, os defensores incondicionais do governo enchem o peito e exclamam: “Está vendo? A economia está muito boa!”.


Só que a realidade não é tão bela quanto todos gostaríamos que fosse, pois, para se tirar tal conclusão, é mandatório parametrizar os preços dos produtos citados com a capacidade de compra do cidadão de cada país. Para realizar tal exercício, poderíamos utilizar o PIB per capita ou mesmo o salário mínimo de cada nação, o que em nada alteraria a posição do Brasil, porém, optamos por um índice que julgamos mais fidedigno: a renda média familiar, conforme pode ser visto no quadro acima.

Enquanto a família norte-americana consegue abastecer com toda sua renda mensal 68,8 vezes um tanque de 50 litros de gasolina, a brasileira encheria 16,5 vezes. Reparem que fazemos o cálculo considerando a média de renda, isto é, incluindo desde as famílias mais ricas até as mais pobres. Já no caso das camisas oficiais, uma família alemã, por exemplo, compraria 36 contra 13 da brasileira.

Culpar exclusivamente o atual governo pela condição econômica também não é justo, afinal, nossa conjuntura econômica é parte de um contexto que precisa considerar as heranças de curto, médio e longo prazo e todas as variáveis exógenas, além, é claro, da política adotada. Agindo assim, conseguiremos entender que temos um cenário ainda muito dependente de exportação e gastos públicos elevados que exigem pesadas cargas de impostos para equilibrar as contas, o que se reflete consideravelmente nos preços dos produtos.

Evidentemente que há soluções, contudo, é preciso ter em mente que o imediatismo político é o pior ofensor que uma gestão pode ter.

O PODER DO FUTEBOL

por Péris Ribeiro


Momento de pompa: a rainha Elizabeth II entrega a valiosa Copa Jules Rimet ao

Capitão inglês Bobby Moore

I) O ano é o de 1962. E, por aqui, a crise é iminente! Tanto que, em Brasília, um presidente balançado parece irremediavelmente sem saída.

Porém, graças às irrefreáveis pernas tortas do genial Mané Garrincha, o Brasil sai do Chile bicampeão mundial. 

E João Goulart – o presidente ameaçado – se sustenta um tanto mais no poder.

II) Ainda o Chile. Ainda a Copa do Mundo de 1962. Extasiado com o que via, o pouco afeito Presidente andino Jorge Alessandri apenas pergunta:

– Ele, esse Garrincha… De que planeta ele vem, afinal?

III) Por sua vez, tão afeita às cerimônias repletas de pompa, a Rainha Elizabeth parecia particularmente feliz, naquela tarde de sábado. E não esconderia, tempos depois, que ali andou vivendo um de seus inesquecíveis momentos de soberana.

É que em pleno Estádio de Wembley, debaixo das palmas quase ensurdecedoras da multidão, havia acabado de passar às mãos do jovem capitão Bobby Moore a lendária Copa Jules Rimet.

Inglaterra, campeã do mundo de 1966!

God …save the Queen!

IV) O clima é de terror. O nazismo apavora. Então, como que numa tentativa de amenizar o gigantesco pesadelo daquela II Grande Guerra, um jogo de futebol opõe onze combalidossoviéticos de Kiev e onze saudáveis alemães do III Reich.

Só que, aí, é o inesperado que rouba a cena. Surpreendentemente, os de Kiev vencem. E, como prêmio pela suprema audácia, são fuzilados sumariamente. Em plena praça pública.

Mas, como que saído do nada, eis que o orgulho soviético se sobrepõe. Os onze mártires viram heróis. Ali mesmo! Naquela mesma praça pública! E tornam-se definitivamente, em símbolos da luta pela liberdade de um povo há anos oprimido.

V) Mais de três décadas são passadas. E o que se vê, naquela noite, é uma alegria incontida tomar conta da imensa União Soviética. É que o surpreendente time do Dínamo – até então, orgulho apenas da gente da cidade de Kiev, na Ucrânia –, acaba de se sagrar campeão mais uma vez.

Só que, agora, o seu feito assume proporções inimagináveis. Tudo porque, desta vez, o Dínamo foi bem mais longe. É o grande campeão da Copa das Copas de toda a Europa.

O herói do momento é um habilidoso camisa onze: veloz, driblador e artilheiro. É o loiro Oleg Blokhin, que mostra um jogo capaz de encantar multidões. Porém, naquele exato instante, o que existe no coração de cada soviético é um sentimento que vai além. Bem mais além.

É como se em meio à loucura de uma festa que parece não ter fim, todos fizessem uma longa viagem no tempo. Em cada coração, o que ecoa é uma profunda e respeitosa reverência aos onze mártires de Kiev.

A bestialidade inominável dos soldados de Hitler, acaba de perder a sua derradeira batalha.