O jornalismo perdeu ontem um grande mito. Considerado por muitos como o maior repórter da televisão brasileira, Geneton Moraes Neto tinha um estilo peculiar de contar as histórias e foi responsável por entrevistas memoráveis, que só ele era capaz de fazer. Aplicado, frio e sereno, se aprofundava nos assuntos e não dava brechas para os entrevistados.
Sua história no jornalismo, pelo incrível que pareça, começou aos 13 anos, revelando que o sucesso na profissão não foi por acaso. Naquela idade, Geneton publicou o primeiro artigo no Jornal de Pernambuco, região onde nasceu. Daí em diante, o êxito foi questão de tempo.
Tendo passado por importantes veículos de comunicação, ganhou destaque na TV Globo, onde revelou os bastidores da ditadura militar, entrevistou dois militares que bombardearam Hiroshima e Nagasaki, presidentes, líderes religiosos astronautas, entre outras figuras simbólicas.
Apesar de nunca ter sido repórter esportivo, Geneton era apaixonado por futebol e fanático pelo Sport, do Recife. Pela curiosidade sobre a partida que entrou para a história como a mais dramática e mais inesperada derrota sofrida pelos brasileiros em Copa do Mundo, escreveu o livro “Dossiê 50”, onde conta histórias exclusivas dos injustiçados jogadores que perderam a Copa de 50, no Brasil.
Por isso, entre 1986 e 1987, fez uma expedição atrás dos onze protagonistas daquela tragédia esportiva no Maracanã. Além de entrevista com Alcides Ghiggia, o autor do gol da vitória do Uruguai naquela ocasião. Posteriormente, o livro virou o documentário “Dossiê 50: comício a favor dos náufragos”, que pode ser assistido no vídeo desta matéria.
Além disso, foi responsável também por uma entrevista inédita com PC Caju, padrinho do Museu da Pelada, na qual o ex-jogador revelou que vendeu a medalha do Tri para comprar cocaína.
Sua inquietude diante dos fatos e o foco na apuração eram duas das suas principais virtudes. Durante os mais de 40 anos em que exerceu a profissão com louvor, o jornalista publicou oito livros de entrevistas e reportagens. Costumava dizer que aproveitava sua habilidade durante os papos para transformar as entrevistas em documentos históricos.
Em postagens nas redes sociais, Michel Temer e Caetano Veloso foram algumas das personalidades que lamentaram a morte de Geneton. Enquanto o presidente em exercício destacou o fato de suas reportagens lançarem luz sobre a história do país, o músico ressaltou a lealdade do jornalista, lembrando uma entrevista em que deu brecha para uma interpretação maldosa, mas Geneton não polemizou.