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garrincha

AQUI NÃO PRECISA DE TÍTULO

por Julio Alencar


Muitos torcedores, quando querendo falar que tal time é grande, que tal time é pequeno, acabam por muitas vezes querer medir o futebol. Ora, eu te pergunto, quem pode medir o futebol? Quais são as medidas? Títulos, vice-campeonatos, número de derrotas, tempo sem fazer gol, bolas de ouro, etc e os escambau?

Para mim, a medida do futebol é tão limitada quanto a do campo de jogo, 64m x 100m. Não estou querendo dizer que todo time é igual, seria leviandade da minha parte, pois o meu time é maior que muitos tantos que não ouso nem falar os nomes.

Muitos dirão: fato é que a história é o registro dos campeões. Realmente, pode ser, mas acontece que a história não é feita só de vencedores, dentro dos números dos artilheiros existem a história dos defensores. Quando registra-se um drible, é sempre um ato entre um marcador e um atacante, e subitamente… o Garrincha transforma Telê em João.

As histórias existem e estamos aí para reverenciá-las. Se observarmos atento aos detalhes, verão que não existem hierarquias no futebol, além do goleiro que pode usar as mãos e juiz que apita, o jogo são onze contra onze.

E para aqueles que insistem em classificar o melhor no futebol em números, é melhor ficar de olho no placar, pois são os números que valem. Título é só um nome escrito num papel ao lado do ano, e o futebol é muito maior que isso.


Texto publicado originalmente no blog VIVA LA RESENHA.

MANÉ GARRINCHA, O DIABO DA COPA

por Marcelo Meira


No início andou de clube em clube, esperava na cerca. Queria uma oportunidade e agora havia saído lá das lonjuras de Pau Grande, Magé, RJ, para o estádio do Botafogo na zona sul carioca. Vinha de longe. Estigmatizavam suas pernas retorcidas e não lhe davam chance. Era quase noite e o teste já ia acabar. Acontecia ali uma peneira de jovens jogadores que tentavam a obtenção de um contrato para desembestar na vida. De repente disseram: entra aí.

O técnico era Gentil Cardoso e o seu marcador Nilton Santos, considerado, depois, pela crônica esportiva, o melhor beque do mundo ou a enciclopédia do futebol, dele ninguém se recordando ter sido driblado alguma vez. Ao pegar logo de início na bola, assumindo a ponta direita, as pernas tortas de Mané Garrincha gingaram e deixaram aquele que foi eleito pela FIFA como o maior lateral esquerdo de todos os tempos, de chuteiras para o alto. Espanto generalizado. Ninguém jamais havia visto isso. Diz a lenda que Nilton se levantou e bradou: contratem esse homem, ele tem que jogar do nosso lado! E foi o que aconteceu. Garrincha a partir dali iria disparar pelos campos de futebol do mundo inteiro.

Mané driblava e driblava, para lá e para cá, com quatro ou cinco marcadores em sua frente caindo uns por cima dos outros, sem soltar a bola ou perdê-la e a multidão nos estádios gargalhando em delírio uníssono fosse da sua galera ou do adversário. Certa vez em um Flamengo x Botafogo, no Maracanã à noite, a maior torcida do Brasil, na época a rubro-negra, ficou de pé aplaudindo o craque que havia driblado a sua própria defesa inteira antes de marcar o gol. Era o reconhecimento público incontestável até pelo principal rival do Botafogo, o Flamengo, coisa nunca dantes vista nas praças futebolísticas cariocas ou brasileiras.


Nelson Rodrigues um dos maiores cronistas desportivos em todos os tempos e que teve as mais contundentes tiradas asseverou que “toda unanimidade é burra”. Esquecia-se, se pudermos considerar válido o seu conceito, aquele mestre do jornalismo que Garrincha sempre idolatrado por ele era a única unanimidade inteligente do planeta terra. Ovacionado por todos os torcedores do mundo afora e aclamado em todos os campos de futebol por onde passou, deixou seu rastro indelével para todas as gerações futuras não contempladas ao vivo com os espetáculos que proporcionava. Mané independia de raça, clube, país, religião e tudo o mais. Era, foi e sempre será um mito a pairar na consciência futebolística mundial.

Conta-nos Mario Filho, em sua obra “O Negro no Futebol Brasileiro,” que numa excursão na Itália, preparatória para a Copa do Mundo de 1958 na Suécia, “Garrincha havia sido barrado depois de um gol que marcou contra a Fiorentina, o qual era o último de uma vitória de quatro a zero. Driblara toda a defesa italiana, inclusive o goleiro, o gol estava vazio, mas esperou que o beque voltasse para tirá-lo de debaixo dos três paus com outro drible. O beque saiu do gol, quando viu Garrincha entrando, de bola e tudo, quis voltar e bateu com a cara na trave.”

Era o dia 29 de Maio de 1958, vésperas da Copa. “Vicente Feola o técnico disse: nunca mais me entra no escrete. Carlos Nascimento, chefe da delegação brasileira, fez eco e gritou logo: irresponsável! Foi preciso que antes do jogo contra a Russia, Bellini, o capitão, Nilton Santos e Didi fossem a Feola para dizer:


– Seu Feola, viemos aqui para ganhar o campeonato do mundo. Sem Garrincha não vai dar pé.

E aí o Brasil arrancou em direção ao primeiro campeonato mundial que conquistou. Garrincha saiu de lá cognominado o Diabo da Copa.

Na competição de 1962 Garrincha foi Pelé e Garrincha ao mesmo tempo. Goleou de falta, de cabeça, de perna esquerda e driblando geral… um furacão. O Brasil venceu, era o bi-campeonato mundial. Pelé era o Rei e não pôde mais jogar o certame por uma contusão na virilha ocorrida logo no segundo jogo. Mas Garrincha estava ali, e como disse Mario Filho era “o Rei dos Reis”.

Foi conhecido como o diabo, demônio da Copa, a alegria do povo e na colocação de Vinicius de Moraes “o anjo de pernas tortas”, o qual escreveu e lhe dedicou um poema com esse título. Era um milagre que, inocentemente, zombava de todos os jogadores contrários que lhe apareciam pela frente. Não fazia questão, antes dos jogos internacionais em que participou, de saber o nome de seus marcadores, por isso em razão da difícil pronúncia para ele apelidou de “João” a todos quantos fintava incessantemente. O medo de ser o João da vez era espalhado. A firula ia sempre para a direita, na lateral do campo, quatro ou cinco lhe marcando, num espaço mínimo e mesmo assim eram ultrapassados.


As gargalhadas ecoavam nas plateias, estrondosas como sempre. Muitos jogadores após o drible mortal e caídos no gramado se levantavam para o agredir em face da desonra que consideravam ter lhes sido imposta, mas escutando o coro dos espectadores paravam, com vergonha de fazer qualquer coisa, por conta da gaiatice monumental proveniente das arquibancadas e cercanias. Nada mais lhes restava senão tentar e tentar novamente sem sucesso. Garrincha não revidava quando sofria falta e muitas vezes, ainda cambaleando no percurso do lance recuperava a jogada e com o pique mais rápido já visto no futebol assumia a lei da vantagem, partindo célere em direção ao gol para terror dos adversários.

Esse era o seu destino, jogar driblando por instinto e correr atrás da bola para executar o cruzamento ou marcar o golaço de placa. Havia, um lateral esquerdo do Vasco da Gama, Coronel, que sempre lhe agarrava pela camisa e a rasgava arrastado por Mané em seu tiro indefensável. Um outro, Altair, que jogava no Fluminense, mestre do carrinho, que era lícito, ao executar o bote para tentar barrar a passagem daquele semideus, deslizava pela grama e dificilmente conseguia acertá-lo. Mas foi Jordan lateral esquerdo do Flamengo a quem ele, numa manifestação de gratidão, atribuiu o título de seu melhor marcador apesar de que nunca tenha conseguido efetividade para interrupção de sua trajetória fulminante. Isso era perfeitamente explicável pois Jordan além de ser seu compadre jogava na bola e nunca lhe machucava.


Então foi assim que Garrincha construiu ou ajudou a construir atacantes que enriqueceram e se consagraram tal e qual Vavá, artilheiro da Copa de 62, pegando rebotes e lançamentos feitos por Mané e também Amarildo, Paulo Valentim, Quarentinha, todos do Botafogo e da seleção canarinho, bem como muitos outros. O povo soube reconhecer o seu ídolo com o seu melhor aplauso. Morreu pobre e doente o único jogador imarcável. O futebol por aqui decaiu, difícil conquistar uma Copa Mundial neste outro tempo, uma longa entressafra de craques. Querem surrupiar o direito previdenciário no Parlamento, fraudaram a carne e a política. Agora obedecendo o script nacional até o túmulo do Garrincha. É que seus restos mortais, verificou-se em maio de 2017, desapareceram do cemitério em Magé, RJ, onde ele foi sepultado, sem que houvesse ocorrido exumação. Valha-nos Deus e Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do Brasil!

FUTEBOL MECÂNICO

por Walter Duarte


Dia desses, em uma dessas intermináveis resenhas no “escritório” (bar do Vicente), debatemos sobre os talentos do futebol cada vez mais raros, apesar de toda estrutura disponível e campos sintéticos espalhado país a fora e as famosas “escolinhas”. Aliás, é um tema recorrente nos dias de hoje, onde a quantidade de jogadores revelados e com muito mercado não traduz necessariamente em qualidade, pelo menos para aqueles que entendem o futebol como uma arte, além do esporte.

Saudosismos à parte, falamos sobre o Zico, PC Caju, Adílio, Didi, Amarildo, Rivelino, Maradona, Pelé e tantos outros craques, como exemplos de jogadores diferenciados e que pensavam o jogo com muita classe. Muitas destas feras começaram seus primeiros dribles e passes, certamente, nas ruas de terra e campos de várzea em uma época em que a cada esquina deparávamos com um campinho de futebol.


Não poderia afirmar categoricamente que fatores genéticos e sociais determinam a formação do craque, ou pelo menos facilita, entendendo que a maioria deles têm origens humildes e enxergam o futebol como possibilidade de melhores dias, diante de um contexto de exclusão social. Acho, porém que algum estudioso das ciências sociais ou da Antropologia deverá ter alguma tese sobre o tema (quem sabe??) e tecer comentários mais fundamentados, longe da mesa de bar.

Pois bem, o bate papo se desenvolvia e colocávamos novas questões à mesa e o objeto da nossa resenha começou a derivar ou “viajar” para outras vertentes e todo mundo se sentindo um pouco dono da verdade. Certamente o craque não se fabrica em laboratório, ou se PROCESSA numa fábrica como um sorvete, apesar de podermos aperfeiçoar o talento com técnicas já conhecidas pelos “professores”, onde a parte física, e mecânica do jogador (movimentos repetitivos) são exploradas à exaustão.

Me veio em mente um paralelo com organização científica do trabalho, iniciada lá no início do século passado (Taylorismo e Fordismo) que promoveram mudanças significativas na produção industrial, diante das necessidades cada vez maiores de consumo de países do primeiro mundo e, por conseguinte, maximizar o lucro. Sem nenhuma conotação política e ideológica imagino que com a passar do tempo e com as “novas“ estratégias de jogo, as pressões de não perder dinheiro, bem como o mercantilismo do futebol, fizeram o jogador a se“despersonalizar”, e corromper sua criatividade, tal como o trabalhador das fábricas de automóveis na linha de produção em seus movimentos repetitivos e cadenciados.


Ao se mecanizar e acreditar que é apenas um dente da engrenagem, o jogador, em tese, perderia aquilo que é mais instintivo e natural, ou seja, a essência do futebol “moleque”, tal como um trabalhador robotizado no seu modo operatório. Ao final dessa teoria maluca muitos devem estar pensando – esse cara está inventando moda, suspende o chopp dele!!!

Chegamos a algumas conclusões um pouco alinhadas e de senso comum, e parafraseando o mestre e craque PC Caju (me permita Caju!!!), “engessaram a nossa arte”, motivo de entender aquele filme clássico do Charles Chaplin “ Tempos Modernos”, que antevia os efeitos da divisão do trabalho intelectual e de quem realmente executa, ou seja,  o jogador, que poderia induzir a alienação…


Imaginemos Garrincha, o próprio Neymar ou Messi inibidos a apresentar dos seus instintos criativos, do imponderável não combinados nas frias táticas de jogo. Até mesmo a temida Laranja Mecânica (Holanda de 74) tinha algo de especial, e por que não dizer anárquico para conduzir aquela permutação contínua e irresistível em campo sem posições definidas. O futebol mecânico e pouco criativo,me parece ter origens na praticidade e na imposição de produtividade, sem nenhum pudor e compromissos com o encantamento. A estatística de jogo tornou-se uma grande ferramenta de avaliação de performance (não se pode excluí-la), porém virou quase que uma compulsão por números.

As seleções de 70 e 82 representaram uma MAGIA e algo que me parece intangível nos dias de hoje, tornando o clássico futebol brasileiro uma UTOPIA para os europeus, e a algum tempo copiado. É claro que grandes treinadores como Guardiola e outros com a mente mais arejada e que possuem talentos “a peso de ouro”, conseguem adaptar um estilo mais solto e de toque de bola, sobrepujando as retrancas jogando bonito.

Sem a menor pretensão de encerrar o assunto tão complexo para nós pobres mortais e “palpiteiros da bola”, repasso uma questão para vocês: o futebol mecânico, previsível, com ênfase na parte física, e de“resultado” é a nossa realidade??? Com certeza a polêmica alimentará nosso imaginário, pelo sonho do futebol que minha geração aprendeu a amar.

 

GARRINCHA, GENTE BOA, É UM INTEMPESTIVO E TRIUNFAL ESTADO DE SER

por André Felipe de Lima


O poeta Fernando Pessoa escreveu o seguinte: “O mito é o nada que é tudo”.  Jung percorreu caminho parecido. Dizia ele que o mito mostra-se essencial para penetrarmos os recônditos do ser humano. O símbolo com os quais nos identificamos desenharia, portanto, quem somos na alma, possibilitando-nos identificar e compreender as “verdades” intrínsecas ao longo da vida. Ao longo da história dos homens. O mito é assim: o “nada que é tudo” que nos permite adentrar a realidade com um sorriso, com a alegria que fundamenta a arte. Garrincha é o meu mito. Jamais o vi jogar ao vivo, mas o que li e assisti em vídeo sobre ele garante-me a certeza de que ali, diante dos meus olhos, encontrava-se o mais singular e eloquente mito da história do futebol mundial. É incalculável o que se construiu a partir daquele previsível e instintivo drible para a direita, porém intransponível. Imarcável. Analogicamente, parar Garrincha seria como se alguma mão deificada fizesse parar a terra de girar. Ou seja, o fim da história. O fim do mundo, ora essa! Garrincha, decerto, jamais deixará de existir. Gira ininterruptamente e eterno como o planeta. Mané jamais nasceu ou morreu, meus caros. O impoluto Garrincha traduz, numa concepção fenomenologicamente heideggeriana, o “ser em” mais completo que brotou do nada para construir a história mais emocionante que o futebol já ofereceu ao mundo.


Outro dia, entrevistando os jogadores tchecos remanescentes da final da Copa do Mundo de 1962 — sim, aquela que o mítico Mané “ganhou” sozinho —, eles foram unânimes ao afirmar que Garrincha foi o maior dentre os maiores. Um camarada, que se dizia músico, acompanhava a delegação dos tchecos. Abordou-me e a mim mostrou um CD todo ele composto em homenagem ao Garrincha. Visivelmente emocionado, ele declarou nunca tê-lo visto jogar, mas fez do Mané o seu grande ídolo. Meu Deus, ali, diante de mim, em uma caixinha de CD, o tal “ser em” do Heidegger personificado na imagem mítica do Garrincha, para a qual jamais haverá tempo capaz de apagá-la.

O dionisíaco Garrincha sucumbiu na carne, mas na alma foi um exemplo liberto, como se fosse o Zaratustra nietzschiano. Mané ensinou-nos a felicidade. Ensinou-nos a buscarmos, sempre para frente, como se driblássemos igualzinho a ele, o gol de nossas vidas. Quando algo triste a assaltar-nos a mente tornar-se insistente, experimente-se pensar em Garrincha, no seu sorriso puro e cativante e, claro, nos seus dribles.  Tristeza vai-se embora.


O poeta Carlos Drummond de Andrade sentia-se mais do povo, e portanto feliz, ao fazer de Garrincha o remédio para a melancolia: “Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho.”

Quantos milhares nos estádios sentiram-se Garrincha vendo-o jogar? Quantos ainda hoje sentem o mesmo apenas assistindo ao extraordinário “Alegria do povo”, sob a aguçada câmera do Joaquim Pedro de Andrade e do Barretão? Mané soube retribuir, e com humildade dizia não ser ele a alegria do povo, mas sim ser o povo a sua alegria. Suscetíveis a todas as formas de resignação, louvamos Mané.

Garrincha mostrou a todos que o futebol tem sua peculiar filosofia e que ele, Mané, fez-nos mais felizes e independentes para driblarmos. Quem um dia, quando menino, não se sentiu Garrincha? Garrincha é mais que humano. Garrincha, gente boa, é um intempestivo e triunfal estado de ser.

***

ENTREVISTAS E IMAGENS DO GARRINCHA NA TV CULTURA

ENTREVISTAS E IMAGENS DO GARRINCHA NA TV RECORD

ALEGRIA DO POVO

ANOS DOURADOS

por Victor Kingma

Na segunda metade da década de 50, o Brasil vivia uma fase de euforia. O projeto desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek prometia crescimento de cinqüenta anos em cinco. A era JK foi uma fase áurea de desenvolvimento do país. Naquele período, entre tantas outras realizações, podemos destacar a expansão da malha rodoviária, a construção de hidrelétricas e a implantação da indústria automobilística e naval no país. Além da construção de Brasília, a nova capital.


No rastro do otimismo que o Brasil vivia naquele tempo, movimentos artísticos e culturais apareciam nos quatro cantos do país. 

Vivíamos os famosos “Anos Dourados.”

Em Copacabana, no Rio de Janeiro, a então capital do Brasil, um grupo de músicos e compositores, entre os quais Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, costumavam se reunir na casa dos pais da cantora Nara Leão, preocupados em criar um novo ritmo, que melhor combinasse com seus estilos de vida e formação musical. Sonhavam unir a alegria da música e do samba brasileiro com a harmonia do Jazz americano.


Certo dia, em 1957, Menescal recebeu a visita de um rapaz que não conhecia e que se apresentou como João Gilberto. Esse pediu um violão e disse que precisava mostrar uma nova batida que havia criado. Um jeito totalmente novo de tocar violão.

Impressionado, Roberto Menescal foi imediatamente mostrar a novidade aos amigos. E a batida diferente do violão de João Gilberto era exatamente o que faltava para ser criado o estilo musical que tornaria a música brasileira conhecida internacionalmente. Assim surgiu a Bossa Nova.

Em diversos esportes tivemos um período de glórias com o surgimento de estrelas como Maria Ester Bueno, no tênis, e Éder Jofre, “o Galo de Ouro”, no boxe – que acabaria conquistando o cinturão da categoria em 1960, numa épica luta contra o mexicano Eloy Sanches.


 No basquete o Brasil conquistaria o inédito título de campeão mundial, em 1959, no Chile, com uma histórica seleção, onde se destacavam os astros Wlamir e Amaury.

E no futebol?

No futebol, o Brasil vinha de duas grandes frustrações nas Copas anteriores: a tragédia da derrota de 2 a 1 para o Uruguai em 1950, em pleno Maracanã, diante de 199.854 torcedores, o maior público das história do futebol, e a queda por 4 a 2 nas quartas de final em 1954, na Suíça, diante da histórica seleção húngara, de Puskas.

Mas, no rastro das energias dos “Anos Dourados”, o Brasil, finalmente, se tornaria campeão mundial pela primeira vez, em 1958, na Suécia.


Além da inédita conquista, com uma das maiores seleções da história, o futebol brasileiro assombrou o mundo ao apresentar  um menino de 17 anos, que se tornaria o maior jogador de todos os tempos, o rei do futebol,  que seria eleito futuramente o atleta do século XX.

Ao lado do menino Pelé, entre tantos craques consagrados como Didi, Nilton Santos, Zito, Bellini e Gilmar, o mundo do futebol conheceu também Garrincha, “o anjo da pernas tortas”, o maior ponta direita e o maior driblador que já passou pelos gramados.

E a magia daquele time tinha uma incontestável explicação: jamais uma seleção conseguiria escalar no mesmo time dois craques tão espetaculares como Garrincha e Pelé. A prova disso é que sempre que atuaram  juntos, em 40 partidas e sempre pela seleção brasileira, eles nunca foram derrotados.

Os deuses do futebol foram generosos com os gênios da bola.

Naquele tempo era assim…