por Émerson Gáspari
Num dia ignorado de 2001, estava eu entretido com os jornais, revistas e livros daqui de casa, em minhas intermináveis leituras pelo mundo da bola, quando cai em minhas mãos o desempenho de Mané Garrincha com a camisa “amarelinha”.
Algo espantoso, diga-se de passagem, pois foram 60 partidas pela Seleção Brasileira, com 52 vitórias, sete empates e apenas uma derrota, justamente na última delas.
Soube que a mesma ocorrera na Copa de 1966, diante da Hungria e imediatamente lembrei que Pelé não atuara nessa partida, pois o time enfrentou diversos problemas naquele Mundial.
Estava, pois, diante de uma “descoberta futebolística” (vamos assim dizer) por uma simples dedução: se Pelé não jogou na única derrota de Mané Garrincha pelo Brasil, então, isso significava que a dupla “Mané-Pelé” jamais havia sido derrotada.
Justamente os dois, que glorificaram essa camisa tão respeitada pelos quatro cantos do planeta. Expoentes máximos do escrete brasileiros e maiores jogadores da história do nosso futebol. Pela Seleção, Pelé marcou 95 gols. Mané Garrincha, outros 17.
Claro, tivemos a seleção do Tri, de vitórias memoráveis em 70 e belíssima campanha nas Eliminatórias de 69. Mas aí já se tratava de uma camisa consagrada, temida, admirada. E bicampeã mundial. A propósito, a última de maneira consecutiva, em toda a rica história das Copas do Mundo.
Empolgado pelo “achado”, escrevi para uma publicação especializada em futebol, pedindo ajuda para elucidar a questão que agora povoava minha cabeça: se com Pelé e Garrincha, juntos em campo, a Seleção jamais foi derrotada, quantos jogos haviam sido então, de invencibilidade? E com quantas vitórias e empates?
Três semanas depois, recebo uma carta-resposta não muito animadora: não poderiam atender minha solicitação, por algumas normas que aqui não me vem ao caso abordar. Decidi não desistir.
Argumentei que não me enquadrava em nenhuma das tais “normas”, que era leitor assíduo deles havia duas décadas e que a informação poderia ser importante para estudiosos e escritores futebolísticos. Lembrei-os de que nenhuma dupla ficou invicta tantos jogos, por uma seleção. Nem Meazza e Piola, Puskas e Czibor (ou Puskas e Di Stefano), Eusébio e Coluna, Cruyff e Neeskens, Mário Kempes e Maradona.
Não obtive mais respostas.
Quatro longos meses se passaram e um dia, um amigo jornaleiro me chama, dizendo ter lido meu nome na tal publicação, com uma pergunta e a respectiva resposta. Comprei-a e fiquei realmente feliz. Mais que isso: admirado com o tamanho da proeza de Pelé e Mané, pela Seleção: 40 jogos, com 35 vitórias e apenas cinco empates.
Na semana seguinte, um famoso jornalista já utilizava essa informação em sua coluna.
Bingo! Fiquei feliz pela modesta contribuição para a “arqueologia” do futebol nacional.
Resolvi então – por conta própria – pesquisar mais a respeito, na minha incessante tarefa de arqueólogo futebolístico “não remunerado”.
Aos poucos, consegui completar os dados da minha pesquisa e agora, tantos anos depois, finalmente a publico, com exclusividade, aqui no Museu da Pelada!
Vou lhes contar a história do período mais triunfal do futebol brasileiro: os 40 jogos da invencível dupla Pelé-Garrincha, ao longo de mais de oito anos, com 35 vitórias e cinco empates. Neles, Pelé anotou 44 gols e Garrincha, outros 10.
Incrível, não?
Essa epopeia começaria em um amistoso disputado no Pacaembu (no tempo da “concha acústica”) em 18 de maio de 1958, diante da Bulgária. Havíamos vencido os mesmos búlgaros dias antes (mas no Maracanã), porém, naquela partida, o ponta-direita havia sido Joel e o meia-esquerda Dida é que começaria jogando (Pelé entraria no decorrer do jogo). O técnico Vicente Feola ainda buscava a formação ideal para disputar a Copa que se aproximava e fazia testes.
O mais curioso é que Pelé e Mané tenham feito a primeira e a última partida da série de “quarenta” contra a mesma seleção da Bulgária.
Nesse primeiro jogo, a Bulgária até saiu na frente e esteve perto de ampliar, mas o Brasil venceu por 3×1 de virada e Pelé marcou dois gols, o primeiro deles, recebendo a assistência de Garrincha, por meio de um escanteio cobrado. Era o começo da saga!
Em 21 de maio, novo amistoso no Pacaembu: 5×0 no Corinthians, no segundo jogo da dupla. Dessa vez, foi Mané quem marcou duas vezes (os primeiros dele pela Seleção). Mas tomamos um baita susto: o lateral Ditão acertou um pontapé violento em Pelé, que acabou virando dúvida para o Mundial, o qual se iniciaria em quinze dias. A dupla estava momentaneamente desfeita.
Pior: no confronto seguinte, diante da Fiorentina – que vencemos por goleada – Mané inventou de driblar todo mundo até ficar sozinho, diante do gol escancarado, só que, ao invés de chutar, esperou a volta desesperada do zagueiro Roboti para aplicar-lhe mais um drible, vê-lo chocar-se contra a trave e daí sim, mandar para as redes.
A comissão técnica não gostou: e se ele fizesse aquilo na Copa; desperdiçasse a chance e o Brasil perdesse? Garrincha foi “recolhido” ao banco de reservas, enquanto Pelé era avaliado, para decidirem se valeria à pena levar um rapaz de 17 anos contundido, à Suécia. A maior dupla de todos os tempos corria sérios riscos de ser desfeita.
Ainda mais, quando o psicólogo da Seleção Brasileira achou que o Mané não possuía um “perfil” muito confiável. O compadre Nilton Santos procurava fazer os testes psicotécnicos antes, para lhe passar umas dicas. Mas não adiantava: num teste de QI, Garrincha – graças à sua ingenuidade – conseguia fazer apenas 38 pontos, bem abaixo dos companheiros de grupo, o que reforçava a rejeição da comissão com relação a ele.
Mas, “Deus é brasileiro” e ambos entrariam no time, quando a situação apertou lá na Suécia, no jogo da Copa que valia nossa classificação. Surgiu até uma lenda de que um grupo de jogadores teria pressionado Feola a escalar a dupla. Não foi bem assim.
O fato é que o treinador, dois dias antes, já intencionava colocar Pelé na vaga de Dida e, em razão das muitas dores de Dino Sani após o jogo contra os ingleses e o conselho médico de poupá-lo, Zito viraria titular. Com um volante forte na marcação, Feola se decidiu por trocar Joel (que voltava para ajudar o meio-campo, igual a Zagalo) pelo endiabrado Garrincha. Após sua decisão, o chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho, foi conversar com os jogadores mais experientes do grupo a respeito: Nilton Santos, Didi, Bellini e Gylmar, os quais concordaram de imediato, é claro!
Resultado: vitória de 2×0, com um show de Mané e Pelé, os quais “destruíram” a URSS de Yashin em apenas três minutos de partida. Foi no dia 15 de junho, no estádio NyaUllevi. Seria a terceira partida da dupla e a terceira do Brasil naquela Copa, também!
Dali por diante, as coisas se tornariam bem mais tranquilas, para os dois e a quarta partida de ambos ocorreu quatro dias depois, no mesmo estádio, em 19 de junho de 1958, na dramática vitória por 1×0 sobre o retrancado País de Gales, quando Pelé marcou o seu primeiro gol (aço!) em Copas, “chapelando” um zagueiro dentro da área.
O quinto confronto seria o chamado “jogo da Copa”: Brasil 5×2 França, no estádio Rassunda, dia 24 de maio e Pelé novamente foi a “figura do jogo”, fazendo três gols. O Brasil estava classificado para a finalíssima, diante dos donos da casa e Pelé começaria ali, a ser chamado pela imprensa internacional também, de “Rei”. Isso com 17 anos!
A final (apenas o sexto jogo da nossa dupla, junta) teve o mesmo placar: 5×2 em cima da Suécia, também no estádio Rassunda, em Estocolmo. E Pelé “guardou” mais dois gols, na decisão em que o Brasil se sagrou campeão mundial pela primeira vez.
Ou seja: foi este time, impulsionado (e muito!) por sua “dupla dinâmica” que “colocou o Brasil no mapa”, de certa forma.
Somente no ano seguinte, eles se reencontrariam; desta vez no Monumental de Nunez durante o Sul-Americano, realizado na Argentina. Lá, rolou a sétima partida deles (com gol de Pelé) em 21 de março de 1959, na vitória brasileira de 4×2 sobre a Bolívia.
E também a oitava, dia 26 de março, na bela vitória sobre o Uruguai por 3×1, no mesmo estádio. Aliás, todas as partidas brasileiras nessa edição do Sul-Americano aconteceram lá: a nona, dia 29 de março, na goleada de 4×1 em cima do Paraguai (sendo três do “Rei”) e a décima, na última rodada, diante da Argentina, no empate de 1×1, em 04 de abril de 1959, que acabaria dando o título aos portenhos, pela melhor campanha no torneio. Pelé marcou o gol de empate e no último lance, Garrincha driblou até ficar diante do gol. Quando foi concluir, o juiz encerrou a partida, não validando o tento brasileiro.
Notem que somente nesse 10º jogo da dupla é que não conseguimos a vitória e até perdemos o título, numa manobra “escandalosa” da arbitragem para favorecer os argentinos, em Buenos Aires.
Lembrando também, que havia situações em que ambos não jogavam juntos, por razões diversas, como contusões ou testes que o treinador brasileiro resolvia fazer utilizando outros atletas. Por outro lado, a programação de jogos às vezes também não era tão intensa.
Assim, somente em 29 de abril de 1960 eles se reencontrariam, em sua 11ª partida, na goleada do amistoso diante do Egito por 5×0, no estádio Nasser. Mané marcou um gol e desta vez, não houve qualquer interferência da arbitragem.
Mais duas partidas amistosas aconteceram por lá: no 12º jogo da dupla, o Brasil bateu o RAU, por 3×1 (os três, de Pelé), em 1º de maio, no estádio de Alexandria e por fim, novamente no “Nasser”, na 13ª partida, a Seleção Brasileira venceu outra vez o Egito por 3×0, com novo gol de Garrincha, no dia 06 de maio de 1960.
Em algumas das partidas dessa excursão, Julinho substituía Garrincha. A equipe brasileira prosseguiu então, agora pela Europa: na Suécia, o Brasil venceu a equipe do Malmo, no “MalmoStadion” por 7×1, em 08 de maio, com Pelé fazendo mais dois gols, na 14ª partida da dupla. Nessa época, nós é que aplicávamos esse placar nos outros!
A 15ª ocorreria dois dias depois, no estádio Idraetspark, na vitória brasileira diante da Dinamarca, por 4×3, em mais um amistoso. Já na 16ª, foi registrado o segundo empate da dupla: 2×2 no estádio de San Siro, diante da Inter de Milão. Pelé marcou os dois gols
brasileiros.
Fechando a excursão (e a série de amistosos), em 16 de maio, a Seleção “ensacou” por 4×0 o Sporting de Portugal, no Estádio da Luz, no 17º duelo dos dois e agora seria a vez de Garrincha marcar um tento.
Quase dois anos se passaram, até que jogassem juntos novamente – agora sob o comando do novo treinador – Aymoré Moreira. Atuariam diante dos paraguaios, em dois confrontos pela Taça Oswaldo Cruz, sendo o primeiro no Maracanã (em 21/4) e o segundo (em 24/4) no Morumbi, em construção (18ª e 19ª partida, respectivamente). No Rio, deu Brasil 6×0, com um gol de Mané e outro de Pelé. Já em São Paulo, acabou 4×0, com mais dois de Pelé. Que beleza!
Chegando então à metade dos 40 jogos, nossa seleção enfrentaria Portugal, em dois amistosos. No primeiro deles, realizado em 06 de maio de 1962, no Morumbi, o Brasil venceu por 2×1. No amistoso seguinte (21º jogo), em 09 de maio, no Maracanã, nova vitória brasileira, desta feita por 1×0, gol de Pelé.
Às vésperas de mais um Mundial, o país seguiria nova série de amistosos preparatórios (agora para a Copa do Chile) desta vez se confrontando com a Seleção do País de Gales, em duas partidas.
No dia 12 de maio de 1962, no Maracanã, venceu por 3×1, com Garrincha e Pelé deixando um gol cada, no confronto (o 22ª, da dupla). Quatro dias depois, no Morumbi, o placar se repetiu; desta vez com Pelé marcando duas vezes (23º jogo).
Tudo pronto, a expectativa era grande para saber o que a nossa intrépida dupla iria “aprontar” no Chile. Naquele ano, Pelé e Garrincha estavam “tinindo”.
O “Rei” ganhou praticamente tudo o que podia naquela temporada de 1962, sendo campeão estadual, nacional, continental e finalmente mundial com o time do Santos e nessa última conquista, realizou talvez sua maior partida na carreira, diante do poderoso Benfica, em Lisboa.
Já o “Anjo das Pernas Tortas” vivia seu apogeu no Botafogo; com uma vitória e atuação memoráveis em cima do Flamengo na final do Campeonato Carioca daquele ano, o que acabaria por dar o bicampeonato ao alvinegro. Não bastasse, ainda sagrou-se campeão do prestigiado Rio-São Paulo e de outros torneios, inclusive no exterior.
Acontece, entretanto, que nem tudo sempre sai conforme o planejado.
O Brasil até estreou sem problemas, vencendo o México, por 2×0, com Pelé marcando um golaço, após driblar quatro adversários, no estádio Sausalito, no Chile, pela 24ª partida deles juntos, no dia 30 de maio de 1962.
Porém, no confronto seguinte, diante da Tchecoslováquia (o 25º), no mesmo estádio, Pelé sofreu uma contusão que o tiraria da Copa. Foi no dia 02 de junho e dali por diante, Amarildo o substituiu, até a conquista do bicampeonato, sempre com vitórias, pois Mané Garrincha assumiu responsabilidade dobrada, decidindo alguns jogos e marcando gols, inclusive de perna esquerda e de cabeça, o que não era de seu feitio.
Notem que a tal série de 40 jogos invictos juntos, poderia ter sido ainda maior, não fosse a tal contusão.
Mas eles teriam a oportunidade de se reencontrar, tempos depois, já que mais um hiato iria se criar, nessa trajetória.
Isso porque, apesar de Pelé se recuperar da tal contusão sofrida, Mané Garrincha passaria a sofrer problemas crônicos no joelho; em razão das muitas entradas violentas que sofreria na carreira e que acabaram por atrapalhá-lo bastante.
Nesse período, a Seleção andou testando alguns atletas na ponta direita, com Dorval sendo o mais frequente. Só que ninguém agradava tanto como o nosso Garrincha.
Pudera: Mané era considerado a “Alegria do Povo” e o que o torcedor mais queria, era vê-lo driblar, driblar, driblar…e com Pelé à seu lado, fazendo muitos gols.
Por isso, foi uma felicidade quando a dupla finalmente reapareceu na linha de frente brasileira, um ano antes do Mundial de 66 na Inglaterra, para começariam a cumprir os derradeiros 15 jogos juntos pela Seleção.
Até o treinador Vicente Feola – após alguns problemas de saúde que o haviam afastado do comando da equipe – estava de volta, também.
Assim, em mais uma leva de amistosos, o “Torto” e o “Rei” atuariam lado-a-lado, a começar por três partidas no Maracanã: no dia 02 de maio de 1965 (a 26º), na goleada por 5×0 na Bélgica – em que Pelé marcou mais três gols – depois, no dia 06 de maio, na vitória sobre a Alemanha Ocidental por 2×0 (outro gol de Pelé) no 27º compromisso de ambos e por fim, no empate em 0x0 com a Argentina, em 09 de junho (28º jogo).
Na sequência, a Seleção Brasileira pegou um avião e foi disputar mais dois amistosos. Um na Argélia (29º jogo) no estádio 19-Juin, em 17 de junho de 1965, numa goleada de 3×0, com Pelé marcando mais uma vez. E o outro, exatamente uma semana depois (dia 24 de junho) diante de Portugal, no estádio das Antas, quando se registrou um empate de 0x0 com os lusitanos – na 30ª partida de nossa dupla – e o último placar de igualdade na série de partidas dos dois.
Depois disso – e até o encerramento da lista dos 40 jogos invictos – o Brasil engataria um sequência de dez vitórias consecutivas com nossos dois heróis à frente. Então vamos lá (e não percam a conta!).
Ainda pela tal excursão, o Brasil goleou a URSS (em mais um amistoso) no estádio Lênin, por 3×0, com Pelé marcando duas vezes, no dia 04 de julho, na 31ª partida.
Seria a última deles juntos naquele ano, já que o Brasil acabou sendo representado pelo time do Palmeiras “da Academia”, dois meses depois, naquele tal amistoso em que vencemos os uruguaios por 3×0. E próximo do final do ano, Garrincha não atuou em algumas partidas.
Mas em 1966 – ano de Copa do Mundo – a dupla voltou ao seu ritmo costumeiro, realizando todas as nove partidas que fecham essa incrível sequência.
A 32ª deles – um amistoso frente à Seleção Gaúcha, dia 1º de maio, no Maracanã – terminou com vitória canarinha por 2×0.
No mesmo mês, já no dia 19 e também no Maracanã, o Brasil bateu o Chile pela contagem mínima, em novo amistoso (33º jogo).
Em 04 de junho (a 34ª), outra partida amistosa preparatória para a Copa e goleada sobre o Peru, no estádio do Morumbi por 4×0, com mais um tento de Pelé.
Quatro dias se passaram e pelo 35º compromisso dos dois, vitória diante da Polônia no Maracanã por 2×1, com Mané Garrincha anotando outro gol, no amistoso.
A Copa se aproximava velozmente e Feola tinha muitas dúvidas quanto ao time titular que iria pôr em campo: vários jogadores daquela safra bicampeã haviam se despedido da seleção ou estavam se aposentando. Outros viviam com problemas de contusão (como Mané) e havia ainda uma nova “leva” de atletas surgindo, relativamente inexperiente, a qual viria depois a se consagrar no Mundial de 70, no México.
Ou seja: uma “batata quente” nas mãos! E a comissão se perdeu um pouco nessa complicada tarefa, convocando inicialmente 47 atletas, para ir resolvendo (em tempo curto) essa complicada questão. Todavia, se pensarmos por outro lado, foi uma época em que se formavam no país, até quatro seleções praticamente do mesmo nível.
Já hoje em dia…
Mas voltemos a Pelé e Garrincha: o Brasil viajou para disputar o Mundial e antes de chegar à Inglaterra, realizou seus amistosos finais, já em solo europeu.
Dia 21 de junho de 66, a Seleção Brasileira derrotou o Atlético de Madrid, no estádio
Santiago Bernabeu, pelo placar de 5×3, com três gols do “Rei” (36º jogo), em mais um “hat-trick” dele. Em 30 de junho, no estádio NyaUllevi (o mesmo em que a dupla havia estreado em Copas), o Brasil ganhou da Suécia por 3×2, pelo 37º duelo da dupla.
Mais alguns dias e em 04 de julho, nosso selecionado triunfou sobre o AIK da Suécia, no estádio Rassunda, em Estocolmo. Nesse 38º jogo, Pelé marcou dois gols e Garrincha outro, na tranquila vitória brasileira por 4×2.
Já contra a equipe do Malmo (também da Suécia), no “MalmoStadion”, obtivemos uma vitória de 3×1, com Pelé marcando outros dois gols (pra variar!). O jogo aconteceu no dia 06 de julho. Foi a 39ª e penúltima partida da dupla e o último amistoso.
Finalmente, iniciou-se a VIII Copa do Mundo e o Brasil estreou diante da Bulgária, fechando a série de 40 jogos da dupla “Mané-Pelé”, jogando contra a mesma seleção – como eu já havia dito a vocês – com a qual iniciara essa saga, em 1958.
O confronto se deu no estádio Goodison Park, em Liverpool, na Inglaterra, no dia 12 de julho de 1966, diante da Bulgária. Vitória brasileira (e da dupla) que não poderia se despedir de maneira melhor: 2×0, com direito a um gol de cada. E ambos de bola parada, em cobranças de falta.
Primeiro Pelé e depois, Garrincha (aliás, uma verdadeira “pintura” de Mané).
Foi o 40º e último jogo dos dois juntos. Uma parceria que nunca mais seria repetida com tamanha competência, em qualquer época ou parte do mundo.
Depois disso, fomos “caindo na real” aos poucos: na partida seguinte, perderíamos para a Hungria por 3×1 (sem Pelé) e depois, pelo mesmo placar, para Portugal (sem Garrincha). Com o “torto” sendo vítima de um joelho estourado pelos adversários e o “negão” violentamente “caçado” em campo, o Brasil acabou eliminado ainda na primeira fase, naquele Mundial que só serviu para que os ingleses o sediassem e dele se servissem, mesmo. O tempo levaria nosso país a novas conquistas.
Porém nunca mais, em nenhum lugar deste universo, surgiria uma combinação tão vencedora e mágica, como aquela formada por Garrincha e Pelé, a dupla invencível.
E a nós brasileiros, resta apenas agradecer a Deus, pela dádiva concedida e perpetuar esta história tão bonita, pelas próximas gerações.
Em tempo: a dupla Pelé-Garrincha, na verdade, se despediria definitivamente mesmo, na noite de 19 de dezembro de 1973, num amistoso batizado de “Jogo da Gratidão”, realizado no Maracanã.
Foi de fato, uma festa realizada para ajudar financeiramente a Mané Garrincha.
Um encontro beneficente, que reuniu uma espécie de “Seleção Estrangeira” composta por atletas gringos que atuavam no Brasil, contra uma “Seleção Brasileira”, enxertada por Pelé (havia se despedido da Seleção, dois anos antes), além de Garrincha, então já um quarentão e aposentado do futebol profissional.
Por trinta minutos, eles fizeram os mais de 150 mil torcedores relembrarem um pouco da maior dupla de craques que já existiu. Mané deixou o gramado e deu sua volta olímpica. Pelé ainda permaneceu em campo. O Brasil saiu perdendo, mas virou o jogo festivo para 2×1, com Pelé anotando um dos gols. Uma espécie de “última vitória” daquela dupla, mas que não entra nas “estatísticas oficiais”.
E olhem, à bem da verdade, nem precisava entrar mesmo.