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Futebol

RETRANCA SEM FIM

:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::


Pela declaração de dois técnicos, antes de a bola rolar, entende-se perfeitamente porque anda difícil assistirmos bons jogos. Marcão, pressionado pela torcida, disse que estava valendo vencer o Athletico Paranaense até por meio gol de diferença. E foi o que acabou acontecendo. Ganhou por 1×0, gol contra, de nuca, em uma partida horrorosa. Garantiu o emprego e nos presenteou com um espetáculo de quinta categoria. Do outro lado era a estreia do Valentim….prefiro nem comentar.

Antes de Flamengo x Cuiabá começar, o técnico Jorginho, tetracampeão do mundo, ultra ofensivo na época de jogador de Vasco, Flamengo e seleção brasileira, e a quem eu admiro como pessoa, foi objetivo ao repórter: o Flamengo sabe atacar e eu sei defender. Não seria preciso dizer mais nada, mas vou falar. Essa história de os técnicos entrarem em campo com uma estratégia assumidamente defensiva é um outro dano ao futebol.

Alguns entram para garantir o emprego, outros para permanecerem na Primeira ou Segunda divisões e assim caminha o futebol. Outro dia ouvi dizer que a virada de 3×2 da França sobre a Bélgica foi boa. Mas só foi bom porque o técnico Didier Deschamps, retranqueiro famoso, entrou com uma postura covarde, levou dois gols, recorreu aos jogadores ofensivos, que driblam, resolvem, e saiu vitorioso. Tite fez isso contra o Uruguai e o torcedor falou que há tempos não via a seleção atuar bem. Treinadores com esse perfil odeiam renovar, escalar um ensaboado, mas quando o bicho pega é obrigado a engoli-los.

O torcedor está carente e a bola da vez é o jovem Raphinha, que deitou e rolou em uma seleção uruguaia totalmente ultrapassada. Me perdoem, mas vencer o Uruguai atual é como chutar cachorro morto. Mas é óbvio que a seleção precisa mais de jogadores, como Raphinha, Antony e qualquer outro que dê uma arejada nessa mesmice que virou o futebol. Jogadores assim não podem ficar engaiolados e só saírem da gaiola quando o dono percebe que a casa está prestes a cair.

Gostaria de entender porque os analistas de computadores fazem questão de complicar! No último fim de casa ouvi que o time era fora da curva e que jogava por uma bola após entregá-la para o adversário! Não deu nem tempo de absorver essa baboseira e já emendaram que o jogador de beirinha quebra o jogo e atormenta o adversário entrando pela diagonal…

PAVUNENSE COMPLETA 98 ANOS

por André Luiz Pereira Nunes


Time dos anos 70

Time dos anos 70

Tradicional grêmio poliesportivo, localizado na Avenida Sargento de Milícias, na Pavuna, o Pavunense Futebol Clube já prevê a sua breve entrada no seleto rol das agremiações centenárias do país.

Uma das maiores expressões do futebol amador da cidade do Rio de Janeiro, filiou-se ao Departamento Autônomo em 1950. Em 1971, sagrou-se campeão da categoria adultos do D.A, feito que se repetiu em 1982, após ser vice no ano anterior, em antológica decisão, em Moça Bonita, contra o Oriente, transmitida de forma inédita pela Rádio Nacional. Na ocasião o time era dirigido pelo lendário e multicampeão Manoel de Almeida. No ano seguinte venceu a categoria de juniores.

Em 1989, uma nova e importante etapa se abriu, quando o clube resolveu adentrar às fileiras do profissionalismo, participando do Campeonato Estadual da Terceira Divisão.


Time da categoria de base comemora mais um título

Time da categoria de base comemora mais um título

Nos anos seguintes firmou uma parceria vitoriosa com o Bangu. Vários atletas das categorias de base de Moça Bonita foram cedidos, incluindo todo o staff banguense, então dirigido pelo bicheiro Carlinhos Maracanã. Até mesmo o ídolo Marinho, já em fase final de carreira, disputou algumas partidas pelo Pavunense, à época treinado por Gilson Paulino.

Em 1990, apareceu como um dos favoritos ao acesso. Apesar de ter liderado toda a primeira fase, no quadrangular final ficou apenas em último. Conseguiram a promoção à segunda divisão o Tupy, de Paracambi, e o Céres, de Bangu.

Em 1991, a antiga Terceira Divisão tornou-se Segunda por conta da criação do Módulo “B” da Primeira Divisão. Na fase inicial, o Pavunense ficou em primeiro em seu grupo, mas apenas em quarto lugar na classificação final, repetindo a boa campanha do ano anterior.


As atividades profissionais perduraram até 1994, quando a equipe verde e amarela se licenciou definitivamente das competições oficiais, passando a disputar apenas torneios amadores voltados às categorias de base, como a Rio Copa. Coincidentemente, a boa fase do clube padrinho da zona oeste também começou a declinar.

Entre os inúmeros talentos que o Pavunense revelou, cabem citação Osmar Guarnelli, Manguito, Juary, Ney Conceição e João Paulo (ex-Santos Futebol Clube e Clube de Regatas do Flamengo).

Além de uma ótima sede social poliesportiva, a agremiação ainda detém o estádio Arnaldo de Sá Mota, cuja capacidade é, de aproximadamente, 1000 pessoas.

FUTEBOL EM VERSOS

por Rodrigo Melo Silva


Em território brasileiro chama a atenção pela pluralidade da identidade cultural porque em cada canto do país se apresenta em formatos na dança, das artes plásticas, do audiovisual, da fotografia, da natureza e entre outras peculiaridades regionais. Fato que a riqueza e a qualidades das produções musicais é um dos marcos genuínostupiniquim que atravessa por gerações sendo produto tipo exportação.

Funk carioca, frevo nordestino, rock gaúcho ou rap paulistano são alguns exemplos de gêneros de sucesso internacional que coloca os cantores, cantoras e bandas em evidência colocando a cultura brasileira como destaque. Além disso, outro “produto” se destaca pela excelência na qualidade nas terras tupiniquins e chega aos demais países com expectativa elevada são os “pés de obras” dos jogadores formados no Brasil que levam ao delírio os torcedores pela sua habilidade, assistências e gols aos montes.

Por vez ou outra, os caminhos se encontram entre um violão e uma bola de futebol. Ao longo da história, jogadores fora de séries ou atletas carismáticos e além deobjetos ligados ao futebol como o estádio ou a torcida se tornou inspiração para a composição musical nos mais diversos gêneros musicais como, por exemplo, É Uma Partida de Futebol dos mineiros do Skank que gravaram o clip da música em pleno estádio do Mineirão durante clássico mineiro entre Cruzeiro x Atlético Mineiro ou quando o carioca Marcelo D2 homenageou Ronaldo Nazário, o fenômeno, com a canção Sou Ronaldo, os paulistas MC Guimê e Emicida colocando todos os amantes do futebol nas estrofes da canção País do Futebolaté mesmo o resultado de partida mereceu música como caso de Um a Zero pela voz do carioca Pixinguinha.

No final dos anos 90 e início dos anos 2000, podíamos ver os cantores na versão “jogadores” de futebol nas hiláriasedições do Rock & Gol, idealizado pela MTV Brasil quando pertencia ao Grupo Abril, quando foi a oportunidade ver a habilidade de Samuel Rosa do vocalista do Skank, a artilharia de Japinha e Badauí do CPM 22 e quando poderia ver a galera do Ratos do Porão, Sepultura e Angra troca o som pesado dos riffs dasguitarras por uma bola de futebol com narrações de Paulo Bonfá e comentários de Marcos Bianchi que traziam doses de humor para os lances da partida.

O futebol é um território fértil para a música e as canções embalam as quatro linhas que não conseguem ficar longe.

O FUTEBOL E A NEOCOLONIZAÇÃO

por Ivan Gomes


O futebol brasileiro e sul-americano apresenta uma decadência técnica visível há muitos anos, basta puxar a lista de clubes campeões do mundo a partir do início do século 21 e, também, acompanhar as seleções que conquistaram as últimas edições das Copas do Mundo. De 2000 para cá, foram disputadas cinco edições da Copa, apenas em 2002 um sul-americano foi campeão, o Brasil, quando venceu a Copa Japão-Coréia do Sul, ao bater a Alemanha na decisão. Fora isso, nem nas finais nossas seleções conseguiram chegar, exceto a Argentina, que foi derrotada pela Alemanha na decisão da Copa de 2014, disputada no Brasil. Esta foi a primeira vez que uma seleção europeia venceu uma competição em nosso continente. Sem citar que os alemães aplicaram a maior goleada sofrida pelo esquete brasileiro, o famigerado 7 a 1. 

Nas Copas de 2006, 2010 e 2018, só ocorreram finais europeias: França e Itália, 2006, Holanda e Espanha em 2010 e França e Croácia em 2018. Importante destacar que, na última Copa, os sul-americanos nem nas semifinais conseguiram chegar. O Brasil, após ser atropelado pela Alemanha em 2014, conseguiu ser eliminado por uma seleção belga, nas quartas de final, que não apresentava um futebol que enchia os olhos, era somente um time organizado em campo. 

Quando comparamos a disputa no mundial de clubes, disputado desde 1960, aí a distância do início deste século para cá mostra uma ascendência europeia exacerbada e nosso futebol em frangalhos. Até meados dos anos 90 do século passado, a disputa Europa/América, especificamente América do Sul, mostrava certo equilíbrio, mas com ligeira vantagem para nós, os periféricos. Mas de 2001 para cá, quando houve a virada do século, os europeus encostaram, empataram e abriram vantagem considerável. 


Neste século, apenas quatro clubes sul-americanos foram campeões do mundo. Boca Juniors, da Argentina, (2003) e os brasileiros São Paulo (2005), Internacional (2006) e Corinthians (2012). Em 2010, 2013 e 2018, o futebol sul-americano não teve nem representantes na decisão. Com o Mundial de Clubes sendo organizado pela Fifa desde 2005, clubes dos outros continentes também participam. Times como o Internacional, Atlético/MG e River Plate, conseguiram a proeza de perder para clubes de países considerados inexpressivos na história.

Após essas pontuações brevíssimas, fica a pergunta: como chegamos neste ponto? Afinal, Brasil, Argentina e Uruguai, as três maiores potências futebolísticas em nosso continente, juntas venceram nove Copas, só o Brasil cinco. Em termos de mundiais de clubes, essas três potências venceram 26 vezes, se somarmos uma conquista do Olímpia do Paraguai, o número da América do Sul chega a 27.

E é em nossa querida América do Sul que nasceram os maiores nomes. Aqui nós temos Pelé, Maradona, Garrincha, Di Stéfano, entre uma infinidade de outros craques. Podemos dizer que nosso continente é um celeiro de jogadores excepcionais. Aqui os pés de obra nasciam em cada esquina, raios caem a todo momento. Mas por qual motivo, atualmente, com tanta riqueza técnica, vemos um futebol sofrível, campeonatos fracos e clubes endividados?

Uma das respostas pode ser a “neocolonização”. Se à época da invasão europeia, a partir do século 15, os “colonizadores” levavam nosso ouro, prata e árvores, atualmente eles levam nossos craques. E isso não tem sido algo recente, basta fazer uma pesquisa e veremos que sempre houve uma saída ou outra de grandes jogadores, mas após abertura do mercado europeu, em meados dos anos 1990, e a “glamorização” do futebol, com seus belos uniformes, estádios padrões e todo ritual comercial, foi aí que a situação ficou difícil para nós.

Com uma moeda mais valorizada, com as promessas de enriquecimento, milhões gastos em publicidade e clubes que se tornaram empresas e com seus respectivos donos, fomos ultrapassados em tudo e hoje podemos dizer que existe uma exploração de pés de obra em nosso continente. E um grande exemplo desta questão é o argentino Lionel Messi, que foi levado criança para Espanha e até o momento somente jogou no Barcelona. Apesar de ser tido como ídolo em seu país, Messi nunca jogou contra os grandes clubes argentinos e sul-americanos, nunca disputou uma Taça Libertadores.


De alguns anos para cá, jogadores brasileiros, argentinos, uruguaios, sem citar promessas dos outros países, são levados ainda muito jovens e não conseguem desenvolver uma carreira em seus respectivos países e não criam qualquer tipo de vínculo com a torcida local. Isso de alguma maneira afeta o desempenho desses atletas quando defendem suas respectivas seleções. Volto ao exemplo de Messi, que nunca venceu um título com a Argentina.

EXCLUÍDOS

Mas o problema da decadência de nosso futebol não ocorre somente pela escassez de nossas principais estrelas, ocorre também ao padrão imposto pelo colonizador. Eles levam nossas joias e as lapidam à sua maneira. O jogador ágil e autêntico dá espaço para um atleta muito forte fisicamente e com total obediência tática. Ao que é apresentado atualmente, é possível dizer que jogadores com a incrível capacidade de improviso não têm espaço neste futebol de glamour, de aparências e nada mais.

Além deste fato, outro problema é a padronização europeia sobre esquemas táticos, comportamento físico e o pior de todos, a questão das “arenas”. Saudade do tempo em que falávamos Vila Belmiro, Rua Javari, Pacaembu, Olímpico… Atualmente é arena isso, aquilo. Mas o pior é a exclusão social que o padrão europeu trouxe às “arenas”. É incrível como em poucos anos, o torcedor com menos dinheiro, fanático, que ocupava as arquibancadas e fazia de um simples jogo, algo especial para o seu dia e se produzia para o evento, cedeu espaço (ou foi tirado?) para pessoas bem vestidas, com suas camisetas que modelam o corpo e acompanham a disputa em um local sentado.


Se você é jovem e pensa que exagerei, puxe nas plataformas de vídeos e faça você mesmo a comparação. Veja como era o Maracanã, quando existia a geral, e veja como é hoje. Compare o sorriso de parte da torcida atual com os de algumas décadas atrás. Compare o tom de pele… A exclusão social com o fim das “gerais” nos estádios e o padrão Fifa, que não passa de padrão europeu, acabou com toda a alegria das arquibancadas. Hoje é tudo muito bonitinho e arrumadinho para aparecer no vídeo. Onde estão os caras que roíam as unhas e tinham um dos ouvidos colado em seus rádios de pilha? 

E para a América do Sul mostrar-se cada vez mais subserviente e afinada com o colonizador, como se isso fosse algo positivo, os dirigentes sul-americanos conseguiram acabar com a alegria da principal competição que temos em nosso continente, que é a Libertadores da América. Para seguir o padrão europeu, a decisão deste campeonato desde 2019 é realizada em apenas um jogo, em campo neutro. Novamente o torcedor foi excluído, afinal, não são todos que têm condições de comprar uma passagem de avião para ver seu time do coração em uma decisão de Libertadores.

Os colonizadores levam nossos craques, impõem padrão de jogo, de forma física, de estádio e contribuem para que os jovens saibam mais sobre seus “pequenos” clubes endinheirados, do que os grandes times de nosso país e continente. É muito triste conversar com um jovem que acha bacana chamar Cristiano Ronaldo de robô, ou que diz que Chelsea, da Inglaterra, ou PSG, da França, são grandes clubes. Sim, os colonizadores nos enfiam isso goela abaixo e nós, os periféricos, achamos bonito o padrão que vem do centro. 


Saudade dos terrões e das ruas, traves feitas de blocos, chinelas nas mãos com se fossem luvas. Nesse período, as crianças diziam que o sonho seria um dia jogar no Santos, São Paulo, Corinthians, Flamengo… Mas todos sabiam que para isso você precisava se destacar nos clubes do interior. Hoje, a maior parte diz que o “sonho” é ser atleta do PSG, “Barça”, Real, Chelsea. Onde ficam o Timão nesta história, o Porco, o Tricolor? 

O garimpo de pés de obra tem dado muito certo para os clubes europeus que enriquecem cada vez mais, enquanto nossos clubes, com administrações ruins e amadoras acham bonito revelar jogadores para desfilarem nas arenas europeias. Enquanto isso, nós que fiquemos com o resto em nossos estádios, pois nas poucas arenas, não temos condições de ir, afinal, o preço que se paga é caro. 

Às vezes bate aquela saudade de quando tínhamos ouro por aqui e sabíamos. Saudade de um tempo no qual havia jogadores e não atletas. Devolvam nosso futebol!  

NÃO É SÓ FUTEBOL

por Paulo Roberto Melo


Pode parecer chatice, mas nunca gostei de ver jogos de futebol decisivos, pela TV, na companhia de amigos. Sempre achei que esse negócio de fazer festa antes da hora, de ver jogo, enquanto faz churrasco e toma cerveja, não é a melhor escolha em partidas importantes. Acredito que para se ver jogos decisivos há toda uma liturgia, que inclui uma preparação solitária, regada a uma boa dose de nervosismo, que, vai aumentando à medida que o início do jogo se aproxima.

Creio que é justamente esse clima tenso que sempre fez com que preferisse assistir aos jogos recolhido no aconchego da família ou mesmo sozinho. No caso da família, meu pai, meus irmãos e eu, tínhamos uma cumplicidade na hora dos jogos. Fazíamos comentários e usávamos expressões que só nós entendíamos, tais como: “Deixa de ser displicente!”; “Você não está jogando no quintal da tua casa!”; “Não precisa marcar ele não, porque esse a natureza marca!”; “Sai planta!”; “Tá jogando como um autêntico center-half!”

Claro que havia xingamentos e gritos desesperados. Era legal também os apelidos com que chamávamos os jogadores dos dois times e até alguns árbitros. Apelidos que nós mesmos inventávamos, com base nas feições, no porte físico, nos nomes dos atletas ou em alguma situação do próprio jogo. A maioria desses apelidos eram criados pelo meu pai, que era um mestre na arte de perceber certas peculiaridades, certas características e, a partir daí, inventar os epítetos mais cômicos, como se estivesse desenhando uma caricatura.

Outro motivo pelo qual eu sempre evitava sair da minha conveniente concentração e preferia recusar os convites que vez por outra me faziam eram os convidados para esse tipo de evento, partidas decisivas com churrasco e cerveja. Torcedor pé frio, pessimista, imbecis que não gostam de futebol mas apreciam picanha ao ponto e cerveja gelada, torcida neutra, gente que se fantasia para ver jogo, tudo isso, indiscutivelmente, tem um enorme potencial para atrapalhar o bom andamento de uma partida. (Sim, ou vocês acham mesmo que o que determina uma vitória ou um título é só o futebol jogado dentro das quatro linhas?)

Sabe-se lá por que cargas d’água, em 1986, durante a Copa do Mundo disputada no México, acabei aceitando um convite para ver Brasil x França, pelas quartas de final. Era apenas uma reunião de amigos, pelo menos não haveria churrasco.

Que não me acusem de falta de patriotismo, mas confesso que o meu amor pela seleção brasileira não consegue ser maior do que o que sinto pelo Vasco. A perda da Copa de 1982, com uma seleção recheada de craques que jogavam no Brasil, foi determinante para confirmar esse sentimento. Sem contar o posterior êxodo desses mesmos craques. Como se não bastasse, a preparação para a Copa de 86 foi pra lá de turbulenta.

Depois da Tragédia do Sarriá, a seleção brasileira patinou. Após a saída do técnico Telê Santana, o time teve outros três técnicos (Parreira, Edu e Evaristo de Macedo), diversos jogadores foram convocados, uns bons outros nem tanto. Aí, um ano antes da Copa, entregaram novamente o comando ao mesmo Telê, quer dizer, ao invés de uma renovação, tivemos um revival. Tudo isso, fez com que eu e muita gente tratássemos esse jogo de quartas de final, como apenas mais um (talvez por isso eu tenha aceitado aquele malfadado convite).

Eu havia visto todos os jogos do Brasil naquela Copa em casa e as coisas até que caminhavam bem. As duas vitórias, com um magro 1×0, nos dois primeiros jogos, contra Espanha e Argélia, não empolgaram, mas tudo bem. Depois da derrota de 82, havia se instaurado uma questão: jogar a Copa dando show e não ganhar (como a Hungria de 54, a Holanda de 74 e o próprio Brasil de 82) ou jogar mais ou menos, ir crescendo na competição e ganhar a Copa (como a Itália de 1982)? Isso porque o futebol apresentado pela seleção de 70, que deu show e ganhou a Copa, parecia (e creio que até hoje é) algo inatingível.

Fechando a primeira fase da Copa, o Brasil enfrentou a Irlanda do Norte e os 3×0 deram a esperança de que talvez algo pudesse ser diferente. Principalmente, por causa do segundo gol, na verdade, um golaço marcado pelo Josimar. Lateral direito do Botafogo, reserva na seleção (o titular Edson havia se contundido), simbolizava a capacidade incrível do futebol brasileiro de se renovar.

O jogo contra a Polônia pelas oitavas de final, consolidou a esperança do tetra. O Brasil ganhou de 4×0 e,se não deu show, pelo menos convenceu, com um futebol bem envolvente. Aquele jogo confirmou algumas coisas. A primeira: que, com aquele outro golaço marcado nesse dia, Josimar poderia ser considerado ser o craque do time. A segunda: que o Careca estava jogando demais! Com jogadas rápidas, implacável nas finalizações e extremamente perigoso, nosso centroavante nos fazia lamentar a sua ausência na Copa de 82, contundido às vésperas do mundial. E a última confirmação era sobre ele: Zico. Sem ter condições de disputar uma partida inteira, por conta do joelho recém-operado, que inchava depois dos jogos, o craque se tornou uma arma de segundo tempo. Entrou contra a Polônia, sofreu o pênalti que sacramentou os 4×0 e dessa forma alimentou o imaginário do torcedor brasileiro. 


Assim, dezesseis anos após o nosso último título, uma seleção brasileira, envelhecida e traumatizada pela derrota de 82 (com os remanescentes Carlos, Edinho, Júnior, Sócrates, Falcão, Zico) e, com alguns jogadores contundidos (Edson, Zico, Falcão), iria decidir sua caminhada em gramados mexicanos, enfrentando a temida frança nas quartas de final.

 Cheguei ao apartamento da família do Chico faltando quinze minutos para começar o jogo. O quadro era o seguinte: havia bolas de gás penduradas no lustre, duas TVs de 20 polegadas colocadas lado a lado na sala e três amigos, Felipe, Carlinhos, Marcão sentados no chão; no sofá estavam o dono da casa e o pai dele. Timidamente, eu me acomodei entre os dois, no sofá. Estava pouco à vontade com aquilo que, para mim, parecia uma multidão enlouquecida. Por fim, alguns minutos depois, quase na hora de a bola rolar, ainda chegou o Márcio, que também havia sido convidado trouxe com ele – vocês imaginem o sacrilégio, o perigo, o prenúncio de catástrofe… – a namorada…

Eu sei que, hoje, isso soa como um comentário machista, mas, advogado de mim mesmo, eu digo em minha defesa que em 1986 tudo era diferente. Até o início da década de 80, por exemplo, mulheres nos estádios (sobretudo as vestidas com roupas justas ou curtas) ainda eram brindadas nas arquibancadas com corinhos nada gentis a respeito de uma suposta licenciosidade de suas vidas. Então, o fato é que, ao ver a menina, não tive um bom pressentimento. Meu medo era que algum comentário infeliz pudesse influir no resultado do jogo, tipo o Brasil faz gol em qual lado, ou cadê a bola, coisas assim. Porém, como já estávamos todos lá, naquela corrente pra frente, não havia muito o que fazer.

O jogo começou e, como todo mundo sabe, foi terrível. O Brasil abriu o placar (Careca) e jogava a sua melhor partida naquela Copa. No final do primeiro tempo, a França empatou (Platini). Mesmo com as pessoas em volta, eu tentava me isolar, numa tentativa de não deixar que aquele ambiente prematuramente festivo me contagiasse, mas era difícil. Além disso, a França tinha um timaço! Havia feito uma ótima Copa em 82 e sido campeã da Europa em 84. Chegou na Copa do Mundo como uma das favoritas, com um elenco de craques, como Fernandéz, Tigana, Giresse e, o maior deles (senhores, fiquem de pé), Michel Platini.

O segundo tempo foi igual ao primeiro: tenso, com as duas seleções muito cautelosas, afinal, com tantos craques em campo, qualquer descuido poderia ser fatal. Mas se a França tinha sua legião de craques, o Brasil tinha a sua arma de segundo tempo: ele, Zico! Nosso craque entrou e praticamente na primeira bola que pegou, fez um passe perfeito para o lateral esquerdo Branco, que, dentro da área, tentou driblar o goleiro Bats e foi derrubado. Pênalti! Festa no Estádio Jalisco, festa no pequeno apartamento! Numa decisão controvertida, foi decidido que o Zico, frio, sem ritmo, meia-bomba, bateria o pênalti, e, enquanto o nosso camisa 10 se preparava, a tensão no país alcançou níveis estratosféricos.


A cobrança de um pênalti exige um ritual todo especial para quem está assistindo a um jogo pela TV. Unhas roídas, cabelos arrancados e, principalmente, silêncio. Os poucos segundos entre a corrida do cobrador até o chute na bola precisam ser vividos pela assistência no mais absoluto silêncio. Não foi o que aconteceu. Quando o Zico partiu para a bola, uma voz feminina, arauto do desastre, rompeu o silêncio:

– Ai, gente! Eu acho que ele vai perder…

O chute saiu fraco, e todos nós sabemos o que aconteceu

Após aquele breve segundo da dor do golpe, instalou-se o caos na sala do apartamento. O Felipe, sempre grosso e mal educado, virou-se para a garota aos gritos, culpando-a pelo pênalti perdido. Lógico que tinha sido ela, mas não precisava dizer. O namorado da infeliz, não gostou dos impropérios proferidos contra a menina e partiu pra briga. Resumindo, por muito pouco, em vez de o desenrolar de uma partida de futebol, não acabamos todos assistindo a um espetáculo de luta livre. E eu lá, sentado no sofá, cabisbaixo, em meio a ameaças, gritos e palavrões, morrendo de saudade de casa.

Aquele 21 de junho de 1986 já faz parte da história. O jogo e a prorrogação terminaram empatados e o Brasil foi eliminado na disputa dos pênaltis, com um insólito gol contra do goleiro Carlos. Depois que acabou o jogo, eu e o Carlinhos íamos caminhando pelas ruas, ainda desertas e tristes, quando vimos uma senhora chorando.

– O Brasil perdeu, o Brasil perdeu!

O Carlinhos, gentilmente, tentou consolá-la.

– Senhora, não chora! É só futebol!

Hoje, ao relembrar esse fato, tenho dois sentimentos. Um deles é de saudade. Sinto uma saudade imensa de ver jogos com meu pai e meus irmãos, seja pela TV ou no estádio. Os jogos a que assistíamos juntos marcaram a minha vida de tal forma, que nem as mortes do meu pai e do meu irmão mais velho conseguiram apagar as lembranças.

O outro sentimento é uma certeza. Nunca o futebol é só futebol. Seja torcendo pela seleção, seja pelo nosso time, rituais cabalísticos à parte, é por meio das emoções potencializadas na dor das derrotas e na euforia das vitórias, que construímos a consciência de quem somos como pessoas – estejamos em família, com amigos ou sozinhos.