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Futebol e Samba

GRITO DE GOL NO SAMBÓDROMO

por André Felipe de Lima


(Foto: Reprodução)

Tudo (ou quase tudo) começou com aquele célebre desfile do Salgueiro em 1971, com o samba-enredo “Festa para um rei negro”, que levantou o público na Avenida Presidente Vargas, local em que eram realizados os desfiles das escolas de samba antes da transferência da festa de Momo para a antiga Marques de Sapucaí, hoje mais conhecida pela alcunha de “Sambódromo”. O Salgueiro estava verdadeiramente espetacular. Um desfile revolucionário comandado pelo genial Arlindo Rodrigues, com a pincelada memorável de Maria Augusta, que buscou nas histórias de príncipes africanos que chegaram ao Brasil no período escravocrata a essência ideal para um enredo que apresentaria ao Carnaval carioca nomes que se tornariam lendas no universo do samba, como Joãosinho Trinta, Lícia Lacerda e Rosa Magalhães. Uma equipe de craques carnavalescos sob os cuidados do grande Fernando Pamplona.


Desfile do Salgueiro em 1971 (Foto: acervo O Globo)

O refrão salgueirense “O-lê-lê, ô-lá-lá / Pega no ganzê / Pega no ganzá” era entoado em uníssono. Um Carnaval de sonhos em vermelho e branco. Legal. Mas aí vem a pergunta dos leitores: mas o que, afinal, esse samba do Salgueiro tem a ver com futebol? Simplesmente tudo!

A partir daquele Carnaval, a arquibancada do Maracanã incorporou de vez o samba-enredo em dias de jogos. Felizes da vida torcidas do América, Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco cantavam o samba salgueirense após gols ou vitórias de seus times. “Gol do Zico” e da geral e da arquibancada se ouvia imediatamente: “O-lê-lê, ô-lá-lá / Pega no ganzê / Pega no ganzá”. O mesmo se ouvia após os gols do Rivellino, do Jorginho Carvoeiro, do Edu Coimbra, do Paulo Cezar Caju, para sermos democráticos.


Desfile do Salgueiro (Foto: Rubens Seixas/O Globo)

Opa, mas e “Touradas em Madri”, marchinha cantada por Braguinha, que se ouviu durante a Copa do Mundo de 1950? Muitos questionarão, até com alguma dose de razão. Ali não teria sido, talvez, a primeira incursão do samba na arquibancada? Sim, justo. Mas no quesito samba-enredo, a nota “10” original ficou com o Salgueiro, em 1971.

VEJA O VÍDEO COM O SAMBA-ENREDO E IMAGENS DO DESFILE DO SALGUEIRO DE 1971: http://globotv.globo.com/rede-globo/carnaval-historico/v/salgueiro-sagra-se-campea-em-1971-com-festa-para-um-rei-negro/1196532/

Quando o assunto é “torcida”, logo vem à mente as marcas “Flamengo”, no futebol, e “Mangueira”, no samba. Falar em Flamengo é falar em massa. Falar em Mangueira, idem. Mas nem todo rubro-negro é verde e rosa, ou vice-versa. Escolas de samba e times populares nem sempre têm correlação em nossos corações. Eu, por exemplo, sou publicamente vascaíno e portelense, igualzinho ao meu ídolo Paulinho da Viola. Já o meu ídolo no futebol, Ademir Marques de Menezes, o “Queixada”, talvez sequer curtisse escolas de samba. Uma suposição arriscada que somente após uma vigorosa investigação biográfica poderia ser confirmada. Mas arrisco-me nesta pretensiosa tese inicial para o papo poder prosseguir.

No Rio de Janeiro, as escolas de samba — desde que emergiram no final dos anos de 1920 — assumiram um caminho independente ao do futebol, embora, em alguns (poucos) desfiles, reverenciando o esporte bretão ao longo de oito décadas. Ao contrário de São Paulo, que desde o surgimento de suas primeiras agremiações de samba, na década de 1930, viu a popularidade do futebol na cidade como um democrático e inclusivo estimulador carnavalesco.

Em 1933, a Frente Negra Brasileira criou a Taça “Arthur Friendenreich” — maior ídolo do futebol nos primeiros 30 anos do século XX — com o intuito de alavancar os cordões e ranchos de samba da cidade, fundamentalmente os de raízes africanas, que já existiam desde as primeiras décadas. Naqueles primeiros momentos da Taça “Friedenreich”, destacavam-se Vai-Vai, Cordão das Bahianas, Bloco Mocidade, Cordão da Barra Funda e Bloco do Boi.

Uma escola de samba propriamente dita na capital paulista só nasceria em 1935, com o surgimento da Primeira de São Paulo. Somente na década de 1990 o futebol volta a ocupar importante espaço no carnaval paulistano com a Grêmio Recreativo Cultural e Escola de Samba Gaviões da Fiel Torcida, uma agremiação formada por integrantes da maior torcida organizada do Corinthians. Em seguida, o maior rival do alvinegro nos gramados, o Palmeiras, também se viu representado na passarela do samba pela Mancha Verde, a maior facção de torcedores do alviverde. O carnaval de São Paulo não seria o mesmo após o ingresso de torcidas organizadas nos desfiles de escolas de samba. No Rio, como destaquei, ocorre o oposto.

Sempre houve reverência das escolas de samba ao futebol e a algumas de suas principais personagens, sejam clubes ou ídolos. Mas jamais houve uma tentativa franca das torcidas organizadas cariocas de criarem suas versões para a Marquês de Sapucaí, substituindo a bola e as chuteiras por pandeiros, tamborins e lantejoulas. Talvez apenas uma torcida dita organizada tenha cogitado tal possibilidade: a Raça Rubro-Negra. Mas a ideia não passou (literalmente) de um sonho de verão. E por falar em Flamengo, o clube mais popular é o que mais recebeu homenagens dos carnavalescos e sambistas cariocas até aqui.

Como esquecer do grande carnaval da Estácio de Sá em 1995, ano do centenário do Clube de Regatas Flamengo? O refrão impregnou o dia a dia na cidade: “Cobra coral/ Papagaio vintém/ Vesti rubro-negro/ Não tem pra ninguém”.

A escola de samba amargou, no entanto, um frustrante sétimo lugar, mas foi ovacionada pelo público. Nem todos torciam pela Estácio, mas, em comum, a paixão pelo Flamengo. Porém vascaínos, tricolores e botafoguenses também cantarolaram o samba-enredo composto por David Correa, Adilson Torres, Déo e Caruso. Ou seja, o samba estava acima do bem ou do mal. Há, no Rio, uma nítida separação de paixões. A clubística não interfere na sambista e por aí vai.

Semanas antes do desfile, a diretoria da Estácio de Sá aguardava um apoio prometido pelo então presidente do Flamengo, Kleber Leite, que recuou da oferta inicial e preferiu não mais misturar as coisas. Clube de futebol em um canto, escola de samba em outro. Cada um no seu papel social de alegrar as massas. Afinal, o Flamengo, no mês anterior ao Carnaval, investira os tubos para trazer Romário, maior ídolo mundial na ocasião. Desculpa melhor para não liberar a a grana para a Estácio impossível: “cofre liso, completamente vazio”.

Mas haveria uma resposta do maior rival do Flamengo. Em 1998, ano do centenário do Clube de Regatas Vasco da Gama, a escola de samba Unidos da Tijuca, cujo presidente “eterno”, o português e vascaíno Fernando Horta, teve como missão sair-se melhor que a Estácio em 95. Questão de honra que o então mandachuva do Vasco, Eurico Miranda, compartilhou. O Clássico dos Milhões saiu do Maracanã para o Sambódromo. Apesar do bom samba-enredo “De Gama a Vasco, a Epopéia da Tijuca” — até hoje cantado pela torcida nas arquibancadas —, o desfile da Unidos da Tijuca foi um fiasco, com a agremiação carnavalesca sendo rebaixada para o grupo de acesso. As piadas foram intermináveis, e aí incluídos tricolores e alvinegros a engrossarem o coro dos rubro-negros gozadores. De consolo para o Vasco, o título da Taça Libertadores da América e do Campeonato Carioca daquele ano. No gramado o Vasco estava quase imbatível. Já na passarela…

Maior campeã do Carnaval carioca das últimas décadas, a Beija-Flor de Nilópolis também já reverenciou o futebol. Isso aconteceu em 1986, ano em que a Argentina conquistou a segunda Copa do Mundo na história e a azul e branco despontou na avenida com o samba-enredo “O mundo é uma bola”. Foi, sem dúvida, o mais cantado naquele carnaval. Na voz de Neguinho da Beija-Flor, o refrão levantou a moçada na Sapucaí: “É milenar/ a invenção do futebol / fez o artista / ter um sonho triunfal”. Ao contrário da Estácio e da Unidos da Tijuca, a Beija-Flor saiu-se melhor, ficando em segundo lugar no desfile, atrás apenas da Mangueira, que rendeu homenagens ao Dorival Caymmi, com o enredo “Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm”.

Dois anos após o grande carnaval futebolístico da Beija-Flor, foi a vez de a União da Ilha do Governador, reconhecidamente uma das escolas de samba que mais empolgam o público nos desfiles, embarcar na onda da bola.

O enredo em homenagem a Ary Barroso, radialista, compositor e (sobre tudo e todos) rubro-negro desde aquele minuto antes do nada, fez o Sambódromo transformar-se em uma arquibancada do Flamengo, com destaque para a veterana e pioneira da genitália desnuda Enoli Lara como rainha da bateria e Renato Gaúcho no auge (digamos, em vários gramados). Ambos roubaram a cena juntos. Enoli, muito tempo depois, narrou detalhes do casal de foliões na passarela e… na cama. Mas o papo aqui é samba e “Aquarilha do Brasil” reproduziu com extrema competência uma das facetas mais populares de Ary Barroso durante as transmissões de rádio: sua eloqüente paixão pelo clube da Gávea. Quando saía gol do Mengão, o locutor levava à boca a sua famosa gaitinha e a tocava de forma ensurdecedora. O refrão da União da Ilha marcou época: “A gaitinha tocando/ É gol /a galera vibrando, Mengo!”.

O futebol somente voltaria a atrair a atenção de alguma escola de samba do Rio em 2002, quando a Unidos de Vila Isabel levou à passarela o enredo “O glorioso Nilton Santos… sua bola, sua vida, nossa Vila”. A escola pleiteava um retorno à divisão especial, contando com a “Enciclopédia” do futebol. Com o ídolo botafoguense Nilton Santos comandando o time no Sambódromo, a escola de samba ficou apenas um décimo atrás da Acadêmicos de Santa Cruz, a campeã. Por culpa de um jurado trapalhão, a Vila terminou fora da elite do Carnaval carioca no ano seguinte. O refrão do samba levantou, porém, a galera alvinegra: “Bate palma, bate-bola, bate junto bateria / Igualzinho ao Nilton Santos, toca com categoria / É o gingado da baiana, é futebol, samba no pé / A galera já delira, minha Vila ‘dando olé’”.

VEJA A REPORTAGEM DO ESPORTE ESPETACULAR SOBRE O CARNAVAL DO NILTON SANTOS: https://globoplay.globo.com/v/3179468/

O centenário do Fluminense, em 2002, por pouco não passou em branco na Sapucaí. Deixaram para homenagear o clube tricolor somente no carnaval do ano seguinte. Mesmo assim, uma lembrança que coube a Acadêmicos da Rocinha, que disputava o desfile no grupo de acesso A. Sem desmerecer a escola de samba da zona sul, o Fluminense merecia ser tema de enredo no grupo especial, como aconteceu com Flamengo e Vasco. Coube à Rocinha um 10º lugar, na frente apenas das rebaixadas Unidos da Ponte e Boi da Ilha. De bom naquele desfile somente o trepidante puxador Carlinhos de Pilares, morto em julho de 2005, uma das vozes mais empolgantes do carnaval carioca nas décadas de 1980 e de 90.

Dias após o tropeço da Rocinha, mas no desfile do grupo especial, a Tradição pegou carona no pentacampeonato mundial do Brasil, em 2002. A estrela do desfile foi, naturalmente, o atacante Ronaldo, que foi, inclusive, o motivo do enredo “O Brasil é Penta, R é 9 – O Fenômeno Iluminado”. Mas a bola da Tradição sequer bateu na trave. Simplesmente foi zunida para além das arquibancadas do Sambódromo. Na noite do desfile, o próprio Ronaldo fez forfait. Estava doente e deixou a turma da Tradição na mão. A escola de samba teve, porém, alguma dose de sorte. Ficou em 13º lugar e se livrou do rebaixamento, que coube à Acadêmicos de Santa Cruz. Ronaldo, aliás, seria novamente lembrado para um enredo de escola de samba, mas não no carnaval carioca. Sua história foi baixar em outro terreiro… de samba.

Os paulistanos da Gaviões da Fiel levaram para a avenida, em 2014, uma reverência ao ídolo, que encerrara a carreira no Timão, em 2011. Ao contrário do que aconteceu com o desfile da Tradição, Ronaldo prestigiou a Gaviões e foi, com a família a tiracolo, se esbaldar na passarela.


Ronaldo no desfile da Gaviões (Foto: reprodução)

No mesmo ano em que os corintianos saudaram Ronaldo, a Imperatriz Leopoldinense fez o mesmo no carnaval carioca, mas com outro ídolo: Zico.

O enredo “Arthur X: O Reino do Galinho de Ouro na Corte da Imperatriz” levantou a Sapucaí e foi prestigiado por vários craques das antigas e de todos os clubes que foram à passarela do samba dar um forte abraço no Galinho de Quintino. Como esquecer aquela parte do refrão que diz “Zico faz mais um pra gente ver!”? Eu, vascaíno, reconheço, não gosto de lembrar, mas admito: Zico foi um cracaço incomparável! Eis aí o grande barato do universo das escolas de samba, justamente essa harmonia festiva sem as paixões doentias que tomaram conta de nossas arquibancadas.

O futebol e, principalmente, seus torcedores precisam aprender um pouco com o mundo do samba. No mais, Evoé Momo!… e muita bola na rede para a gente soltar o grito gol!

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Os editores tentaram identificar os autores das imagens, mas não obtiveram sucesso. Caso o autor se manifeste, teremos o imenso prazer de citá-lo.

PELÉ GOSTA DE SAMBA; BOM DA CABEÇA AOS PÉS

por André Felipe de Lima


Desde que me conheço como gente, ou seja, lá pelos idos de 1974, embora ainda criança, comecei a gostar (e muito!) de samba. Foi exatamente naquele ano que pela primeira vez ouvi o casamento desta minha paixão lúdica e mirim por outra tão forte quanto: o futebol. Achei o maior barato. E o amoroso preâmbulo musical da minha vida — além, obviamente, do timoneiro Paulinho da Viola — foi registrado pelo samba “Camisa 10”, assinado por Hélio Matheus e pelo gremista Luís Vagner, na voz do santista Luiz Américo, aquele intérprete que ficou famoso na década de 1970 tanto pelo inconfundível bonezinho que usava como pelo molejo dos sambas que cantava.

A letra de “Camisa 10” é crítica e com endereço certo: o ex-técnico da Seleção Brasileira Mario Jorge Lobo Zagallo. Na letra do samba, Luís Vagner deixou público que Zagallo estava pisando na bola e que a Seleção, em preparação para a Copa do Mundo, na Alemanha, permanecia uma grande e incômoda incógnita. Ora, não havia mais Pelé, que três anos antes deu adeus à Seleção e se preparava para deixar o Santos também. A “dez” do escrete tornou-se um verdadeiro ponto de interrogação. Muitos noivos queriam desposá-la, mas apenas dois estavam na crista da onda e jogando muito: Rivellino e Ademir da Guia.

Alguns meses antes da Copa, Vagner finalizou a letra com Matheus e partiu imediatamente para o Rio de Janeiro. Queria mostrá-la ao Luiz Américo, que curtia muito futebol e estava numa fase ótima na carreira, integrando a leva de sambistas bastante populares na ocasião, dentre os quais Luiz Ayrão, Roberto Ribeiro, Os originais do samba, Paulinho da Viola e Martinho da Vila.

Os dois se esbarraram no programa do Chacrinha e ali começou, para valer, “Camisa 10”, um samba cuja letra, por pouco, ficou engavetada. Américo estava com o disco finalizado e pronto para ir ao mercado. Não poderiam ficar em cima do muro, como Zagallo na Seleção, e meteram a música no LP graças, ora veja, aos censores da ditadura militar, que acharam apologia à prostituição a letra de uma faixa do disco que falava em “multiplicação do amor”. Podia até cair o “amor livre”, mas jamais a “Dez”. Durante a Copa na Alemanha (e após ela também devido ao fiasco da Seleção), o disco vendeu mais que água e os caras encheram a burra de dinheiro. Até hoje me pego cantarolando, do nada, o refrão: “É camisa 10 na seleção, laiá, laiá, laiá…(bis)/ Dez é a camisa dele/Quem é que vai no lugar dele (bis)”.

Mas “Camisa 10” não foi a primeira, digamos, incursão da marca “Pelé” no samba. “Camisa 10” foi apenas uma citação ao craque. Pelé sequer sabia da existência da letra antes do estrondoso sucesso que fez nas rádios e em programas de auditório entre 1973 e 74.

No final da década de 1950 e começo da seguinte, Pelé estava estupendo. Era natural, portanto, que seu nome estivesse em pelo menos uma de quatro marchinhas carnavalescas ou ranchos que estourassem no mercado fonográfico. Em 1959, a orquestra e coro da gravadora RGE lançaram a marcha “Pelé, Pelé”, de Alceu Menezes. Sucesso garantido no carnaval de 1960. No ano seguinte, o cantor Luiz Vanderley gravou pela RCA Victor o chá-chá-chá “Rei Pelé”, do próprio Vanderley com os sambistas Wilson Batista e Jorge de Castro. Essa composição foi regravada dois anos depois pelo coro do “Clube do Guri”, programa exibido pela antiga TV Tupi entre 1955 e 1976. Além de “Rei Pelé”, Wilson Batista também compôs, novamente com Jorge de Castro, a marcha carnavalesca “Rei do Futebol”. 

Parece interminável o número de marchinhas rendendo loas ao “Rei do futebol: “Pelé e o Brotinho”, de João Chamo e Souza Cruz, lançada pelo selo “Carnaval” por volta de 1958;  “Pelé”, de Oiram Santos… enfim, a lista vai longe. “Ataca Pelé”, da gravadora Copacabana, foi lançada em 1961 por Tico-Tico, um carioca do Santo Cristo, cujo nome era Jorge Pereira Simas. Há também “Marcha do Pelé”, de Paulo Borges e Magdalena Correia; “Pelé”, de Amasílio Pasquim e Caçulinha; “Coitadinho do Pelé”, de Mariano Nogueira; “Pé de Pelé”, de Cambuí e Nhô Zé, e, por fim, a “Marchinha do Pelé”, de Alvarenga e Ranchinho, cujo áudio pode ser conferido aqui.

Jackson do Pandeiro, em parceria com Edgar Ferreira, é o autor da célebre “Um a um”, música do gênero “embolada” lançada em 1954. “O meu clube tem time de primeira”, reclamava Jackson nunca admitindo empate. É deste gigante da história da MPB a letra de “O Rei Pelé”, um “coco” de 1974, como destaca Paulo Luna, em seu livro “No compasso da bola” (2011): “Quem é aquele moço com a bola no pé?/ (É o Rei Pelé!)/ Eu perguntei quem é o moço com a bola no pé?/ (É o Rei Pelé!)/ A bola lhe deu dinheiro/ Lhe deu nome, lhe deu fama/ A bola lhe colocou/ Entre os maiores dos homens”. A letra composta por Jackson de Pandeiro para “O Rei Pelé” é gostosa de ouvir. Muito divertida mesmo. 

TABELINHA COM COUTINHO? QUE NADA… PELÉ COM ELIS FUNCIONOU MUITO BEM

Já ouviram alguma vez o sensual diálogo a seguir?:

— Pelé, canta um negocinho pra gente, canta.

— Não posso, não tenho voz pra cantar.

— Mas canta, Pelé. Me disseram que você toca violão tão bem…

— Em todo o lugar que chego querem que eu toque violão.

— Mas canta pra mim…

Pois é, Pelé não resistiu ao dengoso pedido da pimentinha Elis Regina e decidiu cantar para ela e com ela. Foi a primeira vez que cantou e gravou um sambinha. Um não, dois sambinhas! Isso aconteceu em 1969, ano em que o maior jogador de todos os tempos arriscou-se no samba ao gravar com Elis o disco compacto “Tabelinha: Elis x Pelé”, pela antiga gravadora Philips, com apenas duas faixas (“Vexamão” e “Perdão não tem vez”) todas de autoria do Pelé. 

Pelé voltou a aventurar-se em um (quase) samba em 1977, quando, em parceria com Sérgio Mendes e a banda Brasil 66, lançou o LP “Pelé”, pela gravadora WEA. O disco, que priorizou o instrumental, contém a trilha sonora do filme que narrou a sua despedida dos gramados. O jogador estava no Cosmos, de Nova Iorque, dando um banho de marketing e atraindo uma legião impressionante de novos adeptos do soccer nos Estados Unidos. No disco, fazendo dueto com Gracinha Leporace, Pelé canta “Meu mundo é uma bola” e “Cidade grande”, que também foi interpretada por Jair Rodrigues, de quem Pelé foi grande amigo. 

Em 1979, Pelé lançou, pela Som Livre, um compacto simples com as músicas “Criança” e “Moleque danado”, de sua autoria. Para ouvir “Moleque danado” e várias outras músicas do Pelé basta acessar o site www.tidido.com e cadastrar-se gratuitamente. No link a seguir você vai direto para as músicas do Pelé: http://tidido.com/pt/a35184372128979/al5601335ae7c622686a871920/t5601335be7c622686a871a0f

JAIR RODRIGUES, AMIGO MAIS DE VIOLA QUE DE SAMBA

O saudoso Jair Rodrigues foi um grande amigo de Pelé. Um visitava o outro com relativa frequência. Jair foi, é verdade, quem mais procurava o Pelé. Ia muito a Santos só para botar o papo em dia com o ídolo e falarem mais de música que propriamente de futebol. “Quando chegava, o Pelé já estava com o violão dele lá me esperando”, disse Jair, em uma entrevista à TV Bandeirantes, contando, também, como o gosto musical de Pelé é versátil: “Esse violão ele acabou me vendendo. Tenho ele até hoje. Chegava na concentração ou na casa dele, o Pelé já vinha me mostrando. E não era só samba, porque ele gostava de todos os ritmos, assim como eu. Além de jogar uma bola finíssima encontrava tempo de compor boas músicas.”

A amizade entre ambos rendeu duetos que fizeram muito sucesso. O samba passou, porém, longe da amizade de Jair com Pelé. O intérprete, que notabilizou-se por muitos sambas de sucesso, gravou três canções assinadas por Pelé. Todas elas longe, contudo, do quesito samba. Enquadram-se no estilo moda de viola. Ei-las, portanto: “Recado à criança”, gravada em 1974; “Cidade grande”, em 1981, e “Violeiro, violeiro”, em 1982. 

COM WILSON SIMONAL OU ‘TODO CANTOR QUER SER JOGADOR’

Em antiga reportagem do SporTV, Benedito Ruy Barbosa afirmou ter sido testemunha da vocação musical de Pelé. Garantiu ter presenciado Tite, um ex-ponta canhoto que jogou pelo Fluminense e pelo Santos, ensinar ao Pelé os primeiros acordes do violão. Pelé conta que nos primeiros momentos de Santos, alguns jogadores pintavam na concentração com uma viola e que ele os acompanhava, timidamente. “Quando eu era garoto, já pegava um violão e ficava dedilhando”, recordou Pelé, que foi intensificando o gosto pela música conforme o Santos ia conquistando tudo e todos. “Muitos compositores e cantores famosos visitavam a gente nas concentrações”, contou Pelé, na mesma reportagem do SporTV. Com o assédio dessa gente famosa, a musicalidade definitivamente o envolveu. Além de Elis Regina e Jair Rodrigues, Wilson Simonal foi uma destas celebridades musicais da época que se aproximaram de Pelé. Em 1967, gravou, inclusive, uma composição do craque santista, a letra de “Gosto tanto de você”, que integra o  LP “Alegria Alegria vol. 2”, lançado pela Odeon. 

Wilson Simonal esteve bem perto de Pelé no momento mais importante da carreira do craque: o “tri” na Copa do Mundo de 1970, no México. Simonal foi convidado pelos cartolas da antiga CBD (Confederação Brasileira de Desportos) para acompanhar a delegação no Mundial. A missão do cantor era entreter a rapaziada com muito samba para que ficassem calmos e tinindo em campo. Missão, pelo visto, devidamente cumprida. O Brasil ganhou todas as pelejas e Pelé se consolidou como o maior atleta do século XX.


No documentário “Ninguém sabe o duro que dei”, de Calvito Leal, do “casseta” Cláudio Manoel e de Micael Langer, Pelé reconheceu em Simonal uma figura ímpar da MPB. Era uma ocasião na qual o cantor rivalizava em popularidade (vejam só…) com Roberto Carlos. “Simonal foi uma espécie de cantor oficial da delegação [do Brasil, na Copa de 70]. Ele fazia um imenso sucesso no México tanto quanto Pelé”, confirmou Nelson Motta, em depoimento para o filme biográfico do cantor.

Wilson Simonal e Pelé eram carne e unha. Juntos promoveram ensaios musicais divertidíssimos para os jogadores. A amizade entre ambos afirmou-se no México. “Pô, eu chegava no aeroporto e todo mundo pedia autógrafo pra ele [Simonal]. Quer dizer, parecia que ele era um jogador de futebol. Aquela coisa que você sabe, né, de boleiro com cantor. Ele dizendo que era bom de bola, que gostava de bater bola. Eu tinha um [campo de futebol] society lá na minha casa, aí nós brincamos lá. Aí começou nossa amizade. Pô, é impressionante. Todo cantor quer ser jogador e todo jogador quer ser cantor”, declarou Pelé também para o filme “Ninguém sabe o duro que dei”.

Simonal acabou se tornando mais que apenas o cantor oficial da delegação. Foi uma mascote, um querido amigo de todo mundo. O clima descontraído permitiu aos jogadores promoverem uma brincadeira com o cantor. Durante um treino, ele deveria jogar para um leve e descompromissado “teste”. Os craques deixavam o cantor se sentir “jogador”. Simonal passava a bola, conduzia a pelota… só dava o “craque” Simona na pelada dos craques. No documentário, Chico Anísio recupera uma história surreal. Zagallo tinha dúvidas se levava para o México o ponta-direita Rogério do Botafogo ou o terceiro goleiro, no caso o Leão, do Palmeiras. Carlos Alberto Torres, o “Capita” de 70, emendou a sugestão, naturalmente na maior galhofa: “Zagallo, pra que levar o Rogério se o Simonal está aqui? O ‘Simona’ entende, joga uma bola redonda”. Zagallo embarcou na piada do Capita e perguntou ao Simonal: “Você joga, Simonal?”. O treinador do escrete ouviu na lata: “Bato uma bola…”. Um todo prosa Simonal mordeu a isca e Zagallo o convidou para uma “preparação física pra valer” na manhã do dia seguinte. Tudo à vera, sem “brinca”. “Se você estiver bem, eu te inscrevo”. Um confiante Simonal acreditou.

“Ele [Simonal] achava que estava bem, que era atleta e ele falou assim: ‘Pô, vou fazer uns dois toques’, porque a gente fazia brincadeira de dois toques, né? Aí, recreação… ele falou: ‘Vou fazer dois toques com vocês aí’. Aí eu falei: ‘Tá legal’, aí arrumamos pra ele fazer o dois toques. Botou o uniforme, botou a chuteira, tudo. Eu me lembro como se fosse hoje. Aí, ele foi fazer o dois toques. Quinze minutos de aquecimento, pô, ele se sentiu mal. Lá no México é alto, pô, deu um piripaque nele. Aí, ficou lá, teve que vir o doutor dar um oxigênio e tudo pra ele”, recordou Pelé, às gargalhadas, para o documentário sobre Simonal.

Simonal desmaiou para valer. Somente quando acordou é que percebeu que tudo não passava de uma gozação. Até ali, o cantor acreditava piamente ser ele o ponta-direita da seleção na Copa de 70.


Claudia Cardinale

A Copa do Mundo de 1970 rendeu muitos sambas, como o “breque” “Moreira da Silva contra 007”, do rubro-negro Moreira da Silva, o grande “Kid Morengueira”, o último malandro de raiz de que se teve notícia. Ele, com o parceiro de composições, o jornalista Miguel Gustavo (autor também da famosa “Pra frente Brasil!”, criaram uma letra tão surreal que nem mesmo o artista surrealista Salvador Dali ousaria pintá-la. A música narrava um hipotético quiproquó de Pelé com James Bond por causa da atriz Claudia Cardinale. O narrador inicia a comédia trágica assim: “Moreira da Silva contra 007. Sexo e violência no mais espetacular filme de espionagem do famoso diretor americano Abelardo ‘Chacrinha’ Barbosa. Com James Bond, Claudia Cardinale e Edson Arantes do Nascimento.”

No final das contas, Claudia Cardinale teve um caso com Pelé, em Santos. “A bonitinha não percebe a tabelinha que ele faz/ Pelé controla a Cardinale, dá-lhe um beijo e avança mais”. Mas Bond flagrou os dois na maior pegação na piscina do hotel/ concentração e partiu para cima do craque empunhando um soco-inglês. E quem surge para salvar nosso ídolo das garras do famoso espião britânico? Ora, ora, ora, meus caros… ele, somente ele, poderia salvar o nosso Pelé: o trepidante agente “Kid Morengueira”, que levou James Bond para o (argh!) Dops e descobriu a “trama sórdida”: queriam sequestrar Pelé para que não jogasse contra a Inglaterra. Malandramente, Moreira da Silva desvenda o “crime” e leva como “brinde” a estonteante Cardinale para jogar um emocionante pif-paf e comer uma pizza no Brás.  

A Copa do Mundo de 70 passou, mas Pelé permaneceu. Jorge Ben Jor, que tantas músicas fez sobre futebol (maciça maioria dirigida ao Flamengo e a Zico), talvez tenha sentido uma certa culpa por jamais ter reverenciado o maior de todos os gênios do futebol. Foi redimido pela “O nome do Rei é Pelé”, do álbum “Reactivus Amor Est (Turba Philosophorum)”, de 2004: “Dondinho e Celeste idealizaram e fizeram o rei chamado Pelé/ O nome do rei é Pelé, o nome do rei é Pelé/ Pelé de todos os tempos/ Incomparável Pelé, Pelé/ Pelé da arte e da magia”. A música, contudo, não foi das mais empolgantes do cracaço da MPB.

Em 1982, com o país em polvorosa por conta da seleção do Mestre Telê Santana, Moraes Moreira, outro craque da MPB, decidiu homenagear aquele inesquecível escrete na música “Sangue, Swing e Cintura”, mas, evidentemente, sem esquecer o maior jogador da história: “O rei aqui é Pelé/ Na terra do futebol/ Olé! É bola no pé/ Redonda assim como o sol/ Seja no Maracanã/ Ou num gramado espanhol”.

Foi a partir daquele ano da frustrante participação do Brasil na Copa do Mundo da Espanha que Pelé foi, aos poucos, sumindo das composições da MPB. Ele, por sua vez, também foi se esquivando do samba e permanecendo mais no gênero sertanejo. Algo mais próximo de samba, com nítida pitada de rap, o ídolo só voltaria a fazer em 2016.

O hit “Esperança” foi uma vã tentativa de manter a imagem de Pelé vinculada a da Olimpíada de 2016. A música não emplacou e Pelé sequer deu pinta na abertura dos Jogos, no Maracanã. Alegou que estava com a saúde frágil. O que é a mais triste verdade. Nosso ídolo maior do futebol vem enfrentando uma barra pesada com as fortes dores no quadril após uma cirurgia malsucedida realizada por médicos americanos.

O tempo passa e nenhum outro jamais superará o “Rei do futebol”, seja nos gramados ou nas letras da MPB. Pelé — perdoem-me o chavão — é único e insuperável. O que mais, afinal, poderia ser dito sobre um dos maiores gênios da humanidade no século XX? Pelé é definitivo. Caetano Veloso estava certo: “Pelé disse love”… e fez isso para o mundo. Pelé, meus caros, é um samba de uma nota só. Inigualável nas partituras do futebol e da vida.

É O ETERNO ‘CAMISA 10’ DA GÁVEA NO SAMBA

por André Felipe de Lima


Jorge Ben, Zico, Júnior e Caetano

O refrão diz tudo: “É falta na entrada da área/ adivinha, quem vai bater/ é o camisa 10 da Gávea…”. Zico, Flamengo e Jorge Ben Jor. Naquela tarde de domingo, dia 7 de março de 1976, o Flamengo sapecava uma goleada de 4 a 1 na então poderosa “Máquina Tricolor”, que contava no gramado com Carlos Alberto e Paulo Cezar Lima a postos, mas sem Rivellino. Não deu para eles, Zico estava infernal. “Violento”, como definiu o jornalista Marcos de Castro, nas páginas do Jornal do Brasil: “Pois o jogo foi Zico, meus amigos. A bola escorreu mansa pela direita, maltratada por um pé meio quadrado, voltou, veio de novo pra cá, pra lá, Renato falhou. Zico, violento, um toque de mestre, gol.”

O que Zico fez ao Fluminense foi uma “Zicovardia” digna de samba e da bossa linguística, como estampou a manchete do Jornal dos Sports no dia seguinte. O placar mais justo foi Zico quatro, Fluminense um. Sim, quatro gols de Zico, que naquela tarde passaria definitivamente da “promessa” à realidade e o seu nome seria protagonista não somente nos gramados de futebol, mas também de muitas letras musicais, sobretudo as de samba. Arrisco-me a dizer que Zico, Garrincha e Pelé sejam os craques brasileiros mais citados na MPB.


Jorge Ben Jor estava no Maracanã naquele domingo. E mais: foi ao vestiário rubro-negro animar a moçada, cantarolando um refrão ainda solto no ar que se tornaria um famoso sambalanço: “Falta na entrada da área, é o número 10 da Gávea”. Com a frase cantada, Jorge Ben Jor mostrou a facilidade de Zico para cobrar faltas. Dali, na arquibancada, começou a brotar a música “Camisa 10 da Gávea”, que integraria meses depois o estupendo e dançante LP “África Brasil”, que contava também com a música “Ponta De Lança Africano/ Umbabarauma”, igualmente associada a Zico por muita gente fã de Ben Jor e, claro, do Galinho de Quintino.

“Foi a falta melhor cobrada até hoje. Creio que dificilmente conseguirei bater outra falta com tanta perfeição. Nos outros gols dei sorte, pois estava acompanhando todos os lances. O último, então, devo destacar o trabalho de Caio, Toninho e o toque genial de Geraldo, que me deixou sozinho contra Renato. As demonstrações de carinho só podem me incentivar para que melhore ainda mais”, disse o Galinho, logo após o Fla-Flu, sem imaginar que ainda cobraria muitas faltas semelhantes àquela, igualmente a outros lances magistrais que o desenhariam como o maior ídolo rubro-negro de todos os tempos.

O 4 a 1 sobre a “Máquina Tricolor”,no jogo em que se disputava a Taça “Nelson Rodrigues”, deixou eufórico um torcedor do Flamengo, que se aproximou de Zico e disse: “Você é tão bom quanto o Pelé”. Humildemente, o Galinho de Quintino rebateu: “Você pode ser muito meu amigo, mas não diz isso não que é pecado. Igual ao Negão nunca vai aparecer. Eu me contentaria em saber que consegui jogar a terça parte do que ele jogou.”

Logo após ter deixado o festejado vestiário do Flamengo, Jorge Ben Jor talvez tenha buscado imediatamente uma caneta e um papel para escrever a letra definitiva de “O camisa 10 da Gávea”. Isso é apenas uma suposição, frise-se. Jamais — creio —perguntaram isso ao Ben Jor, um rubro-negro ferrenho, santificado, que durante entrevistas declarara com inabalável convicção: “Sou brasileiro e meu time é o Flamengo”. E é mesmo, desde pequeno. Chegou a jogar nas divisões de base do clube e, em uma entrevista ao programa Roda Viva (TV Cultura), em 1995, foi categórico: “Quero ser presidente do Flamengo um dia.”

Sobre o Galinho, sem rodeios, externou sua paixão, em outra entrevista, publicada pela revista IstoÉ Gente, de 12 de julho de 2010: “O futebol dele foi surreal. Ele foi um exímio cobrador de faltas na entrada da área”. Precisa mais?

Após aquele Fla-Flu do “4 a 1”, Zico tornou-se mágico. Uma espécie de “Midas da bola” que passou a despertar nos torcedores uma paixão avassaladora. Inclusive em outros fãs ilustres da MPB. Seguindo a trilha de Jorge Ben Jor, o “novo baiano” Moraes Moreira tornou-se grande amigo de Zico e para o ídolo compôs uma música (no melhor estilo arretado de um trio elétrico) “Saudades do Galinho”, lamentando o fim da carreira do craque, no dia 2 de dezembro de 1989, contra o (olhe a “vítima” aí de novo!) Fluminense. E o Placar? Cinco a zero para o Flamengo, em jogo realizado no estádio de Juiz de Fora (MG), que valeu pelo Campeonato Brasileiro. “E agora como é que eu fico nas tardes de domingo sem Zico no Maracanã?”, diz a letra. Surge, portanto, uma breve pergunta: Adivinhem de quem foi, de falta, o primeiro gol do Flamengo naquele Fla-Flu?

Anos depois, o cantor Alexandre Pires, outro rubro-negro sem meio termo, ficou visivelmente nervoso ao cantar, diante do ídolo, a música “Zico é o nosso rei”, cuja letra havia composto no dia anterior ao encontro com o Galinho. Para quem não sabe, Pires, que antes de cantarolar sambas sonhara ser Adílio para tabelar com o Galinho, tem um filho que se chama, ora essa, Arthur.

Só faltava mesmo a Marques de Sapucaí para a reverência definitiva ao Zico. Em 2014, a Imperatriz Leopoldinense cumpriu a missão de homenageá-lo com o enredo “Arthur X – O Reino do Galinho de Ouro na Corte da Imperatriz”. Pronto. Não faltou mais nada para Zico e sua gloriosa carreira também serem eternizados no doce universo do samba.

Os editores tentaram identificar os autores da imagem, mas não obtiveram sucesso. Caso o autor se manifeste, teremos o imenso prazer de citá-lo.