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Futebol arte

Orlando Abrunhosa


Morreu ontem o fotógrafo Orlando Abrunhosa, autor da foto que virou símbolo da conquista da Copa de 70, feita no primeiro jogo do Brasil contra a Tchecoslováquia. O Museu da Pelada agradece a Orlando pelo registro que eternamente ficará na memória dos amantes do futebol arte.

Naná Vasconcelos: ‘Não deixe o futebol perder a dança’

Em homenagem ao grande percussionista pernambucano que morreu hoje, postamos um artigo publicado no site da Veja em junho de 2013

Por Naná Vasconcelos

Sou torcedor “sofredor” do Santa Cruz, o time das multidões, a cobra Coral recifense. Um de seus hinos diz “Eu sou o Santa Cruz de corpo e alma / E serei sempre de coração” – e isso é levado a sério pela torcida, formada por gente de todas as classes sociais, econômicas e políticas. Em sua maioria, porém, são pessoas simples, daí a beleza da paixão sem medo de mostrar sentimentos. O Santinha, como é chamado carinhosamente pelos torcedores, leva cerca de 20 000 pessoas ao estádio, apesar de o time disputar a terceira divisão do campeonato brasileiro.

Não sou fanático, mas adoro o futebol-arte, objetivo, claro. O Brasil exportou esse estilo de jogo, essa maneira de jogar, para a Europa, que aprendeu e usa com muita objetividade, mas sem a dança, que é o ponto forte no nosso futebol, por causa da miscigenação presente na nossa cultura – e aqui futebol é cultura.

“Não deixe o futebol perder a dança”, diz a letra de uma composição minha, pois quando ele perde a dança, ele perde. Aí é triste, é feio, mas poucos dias depois tudo volta ao normal. A esperança, a paixão, o pensamento de que “agora vai” ou “vamos lá”, isso mostra o comportamento de um povo que está sempre pronto para festejar.

A Copa das Confederações chega no momento em que o Brasil vive uma fase de desenvolvimento econômico e cultural bem visível. O Nordeste está a todo o vapor, recebendo importantes investimentos na área industrial. Isso me faz feliz, me alegra e me dá esperança de ver um futuro melhor para nosso povo, que já está em clima de preparação para acolher os ilustres atletas e torcedores vindos de outros países. Não deixem o futebol perder a dança!

O jogador argentino Lionel Messi, que ganhou há alguns meses pela quarta vez consecutiva o prêmio de melhor jogador do mundo, já falou que seu maior sonho ainda é jogar pelo Santa Cruz – é claro que esse é só o sonho de um torcedor. A arte do futebol sempre engrandeceu nosso país.

Eu sou um músico livre, improvisador, solista, mas adoro armar tudo para que outro instrumentista ou cantor possa dar seu recado. Aprendi a ouvir, isso me dá flexibilidade e facilidade de adaptação, em qualquer formação eu encontro meu espaço, gosto de tocar dançando e de dançar tocando. O importante é que a escuta, os reflexos estejam ali vivos, acesos e objetivos, em função do grupo de músicos ou da música que esteja acontecendo no momento, fazendo o melhor para que tudo fique lindo.

Na música, o primeiro instrumento é a voz e o melhor instrumento é o corpo. No futebol, o primeiro instrumento é a bola e o melhor instrumento é o corpo, Creio que, como na música, os reflexos devem estar vivos, prontos para atingir o objetivo final. Das artes, a música é a mais imediata, porque mexe com os sentimentos. No futebol, o sentimento mais almejado é o da alegria do gol, da vitória que sempre engrandece o povo: “Não deixe o futebol perder a dança”.


Parabéns, Zico!!!

No dia do aniversário de Zico vasculhamos o acervo do Museu da Pelada e encontramos fotos preciosas, presente do cracaço Bruno Veiga. Clicadas há alguns anos para a Revista República, mostra o Galinho em seu habita natural, na cara do gol! Também achamos um vídeo produzido pela rapaziada da coluna A Pelada Como Ela É, que mostra o histórico camisa 10 do Mengão desenhando as ruas de Quintino, onde deu os primeiros chutes e nasceu para o futebol. 


JOGO DE ESTREIA

Por Ivonesyo Ramos


Benício posa com uma de suas obras mais famosas

Benício posa com uma de suas obras mais famosas

Você dá uma bola para a criança e ela, feliz da vida, começa a brincar. Assim foi com José Luiz Benício da Fonseca, o Benício, e sua bola favorita: o desenho. Estamos em meados de 1960 e o nosso craque gremista, herança de família e tricolor a primeira vista, já encantava o público com suas pinceladas nas capas de pocketbooks e editoriais. A McCann Erickson, agência de propaganda onde trabalhava, pede duas pranchas para ilustrar a nova campanha para o banco do estado de Minas Gerais. A primeira, uma visão do Maracanã em clima de final de jogo, onde o texto homenageia o cliente numero 500.000 apaixonado por futebol. E a segunda, um mix de imagens onde Garrincha e Pelé disputam a bola. Olhando hoje, a imagem tem um certo tom profético já que Benício viria a ser o Pelé da ilustração.

Perguntei se ele sentiu o famoso frio na barriga da estreia em uma campanha nacional. Com um sorriso gostoso, respondeu que não e acrescentou:

– Já não lembro mais! (e gargalhou)

Sua produção tem uma quantidade e qualidade fenomenais. O artista revelou ainda que, quando vê trabalhos muito antigos de sua autoria, precisa de algum tempo para acessar a memória.

Observar o original ilustrado em “gouache” é uma grande felicidade. Admirar as pinceladas geniais compondo a cena é um privilégio. Ao seu redor, amigos de trabalho e de prancheta. Benício, no centro, veste camisa azul. Sim, a cena é de um tricolor saindo do Maracanã em seus áureos tempos!


Benício, de camisa azul, rodeado por amigos em uma de suas obras

Benício, de camisa azul, rodeado por amigos em uma de suas obras

Da esquerda para direita temos: Roberto, Melo Menezes, Flavio Colin, Joaquim pessego, Coutinho (jogador do Santos) e seu irmão. Além desses, o próprio Benício posou para as figuras na margem do campo à direita.

Mas e o futebol Benício?

– Retratei muito o tema em meus trabalhos é uma paixão nacional, mas confesso não ser meu forte.

No entanto, a rivalidade Fla x Flu é sempre tema de brincadeira com seu assistente, visto que Carlos Henrique não perde oportunidade de gabar-se do Flamengo a ponto de batizar de “Verde rubro negro” a cor verde da natureza carioca. Vale destacar que na ilustração tem duas bandeiras do Flamengo e nenhuma do Fluminense. E a brincadeira segue…


Cartaz do filme Pelé a Marcha

Cartaz do filme Pelé a Marcha

Por serem sempre trabalhadas por referências fotográficas, não havia a necessidade de ir ao Maracanã para fazer as ilustrações. Com treze anos, Renato, um dos quatro filhos de Benício, se encarrega de insistir com o pai, que finalmente o leva a um Flamengo e Vasco. Recheado de aventuras, com direito à falta de luz, o Flamengo ganhou de 1 a 0 e estava ali selado um novo flamenguista doente. Renato tem um filho, Arthur, e adivinhem? Já veio perguntando ao pai como entra para faculdade e se forma jogador do Flamengo. Em uma quarta-feira de cinzas, dia do seu aniversário de seis anos, Arthur pede ao avô Benicio para ir ao jogo do Flamengo com ele. Isso mesmo: Benicio sozinho no meio de rubro-negros!

Há mais de 50 anos na área, Benício já trabalhou com os mais variados temas e clientes, utilizando na maior parte de seu trabalho o “gouache” sobre papel. É reconhecido por colegas e público em geral como um dos ilustradores brasileiros de maior destaque. 

Em sua carreira de ilustrador, Benicio mostra como o futebol despertou paixões. Tudo isso graças a sua capacidade de ilustrar multidões embaladas de alegria, como as torcidas às vésperas do apito inicial. Há quem pergunte qual o segredo, não há segredo. Ele pintou tudo com a alegria e o amor de criança revestido de todas as responsabilidades do mundo adulto. Alegria e amor dão vida a tudo, é o mesmo sentimento estampado no sorriso da criança ao ver uma bola!

CADÊNCIA PRA CRAQUE

Adil de Paula, o “Zuzuca”, é o criador de um dos bordões mais populares do samba.

“Festa para um rei”, mais conhecido como “olêlê, olálá, pega no ganzê, pega no ganzá”, foi o samba do Salgueiro campeão de 1971 e hoje embala craques e torcidas no mundo inteiro.

…………………………………….

Confira a letra original:

Festa Para Um Rei Negro (pega No Ganzê)

Nos anais da nossa história
Vamos encontrar
Personagem de outrora
Que iremos recordar.
Sua vida, sua glória,
Seu passado imortal
Que beleza
A nobreza do tempo colonial.

Ô-lê-lê, ô-lá-lá,
Pega no ganzê,
Pega no ganzá.

Hoje tema festa na aldeia,
Quem quiser pode chegar,
Tem reisado a noite inteira
E fogueira pra queimar.
Nosso rei veio de longe
Pra poder nos visitar,
Que beleza
A nobreza que visita o gongá.

Ô-lê-lê, ô-lá-lá,
Pega no ganzê,
Pega no ganzá.

Senhora dona-de-casa,
Traz seu filho pra cantar
Para o rei que vem de longe
Pra poder nos visitar.
Essa noite ninguém chora,
E ninguém pode chorar
Que beleza
A nobreza que visita o gongá.

Ô-lê-lê, ô-lá-lá,
Pega no ganzê,
Pega no ganzá