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Futebol arte

FUTEBOL ARTE

por Sergio Pugliese


Mesmo com uma perna bem menor do que a outra, o menino Candido se aventurava nos campos de várzea de sua cidade, no interior de São Paulo. Era impossível não tentar. Colado à sua casa havia um campinho e bastava abrir a porta da cozinha para ele quase bater a cabeça numa das balizas. Apesar disso, seus pés descalços nunca criaram jogadas brilhantes. Então, resolveu investir nas mãos. Não virou goleiro como alguns podem imaginar. Fora das quatro linhas, sentado num banquinho, deu seus dribles mais desconcertantes e, tal qual um reserva resignado, criou parte de sua obra prima. Como observador, coloriu os campos a seu modo, vestiu o time preferido com as cores mais vivas da aquarela e, de pincelada em pincelada, conquistou o mundo. O menino ruim de bola cresceu e virou Candido Portinari, maior expoente da pintura modernista brasileira. Em sua monumental história, contabilizou 5 mil obras e nunca esqueceu de retratar os campos de várzea, uma espécie de amor não correspondido.

– Era como se pintasse meninas que nunca deram bola para ele – comparou o filho, esse sim, bom de bola, João Candido Portinari, fundador e diretor do Projeto Portinari, responsável pela catalogação da obra do pai. 


Tímido, o pintor expressava suas paixões com cores e palavras, como no trecho editado de uma de suas poesias publicadas no livro “O menino e o povoado”: “Aos 8 anos tive uma namorada branca branca. Nunca lhe disse uma palavra. Depois nunca mais a vi e não ouvi seu nome. Namorei tantas meninas e ninguém soube”. Foi exatamente assim com os campinhos. Numa rápida navegada no site do projeto, a equipe do A Pelada Como Ela É encontrou 18 pinturas de campos de várzea, quase todos em Brodowsky, terra natal. Numa delas, um autoretrato, “Futebol”, aparece cercado de meninos e o que o diferencia do grupo é a perna menor do que a outra. Só especialistas para atentarem ao detalhe. O filho teve melhor sorte com a bola. Fundador, em 1954, do poderoso time de praia Copaleme, batizado inicialmente de Arizona, na década de 50 travou duelos espetaculares com os rivais Radar, de Copacabana, e Lá Vai Bola, do Leblon.

– A Avenida Atlântica, ainda com uma pista só, ficava apinhada de gente para assistir – recordou o filho.


João Portinari veio jovem para o Rio e, aos 18 anos, era figura conhecida na noite carioca. Saía do Leme com sua turma e três violões – iam parando de bar em bar até Ipanema. Na volta para a casa, às 5h da madrugada, esticavam até a Siqueira Campos, em Copacabana, na Sinuca Balalaika e, depois, na Leiteria Bol, na Lapa, para tomar coalhada e roubar as garrafas de um litro de leite deixadas nas portas das casas. Ele e os amigos eram os reis do Rio. Saiu de Brodowsky sem prestar atenção no talento do pai. Deixou para trás a casa de tijolo, com poço, moinho, fogão de lenha e cadeira de balanço, e caiu na gandaia carioca com seu carraço Buick Dynaflow. Os amigos e companheiros de Copaleme, alguns do Morro da Babilônia, adoravam a farra. O goleiro Maurício, Pedro Paulo, Lelé, Zezinho, Amaury, Pará, Henrique Cabeludo e Flávio, filho de Ary Barroso, comemoravam os títulos em noitadas nas boates Arpege, do pianista Waldir Calmon, Drinks, Little Club, no Beco das Garrafas, e Maloca, em São Conrado.

– Não tinha noção de quem era meu pai e seus amigos – confessou.

As reuniões na casa de Candido Portinari eram frequentes e animadas, entre outros, por Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Jorge Amado e Adalgisa Nery. Certa vez João Portinari chegou em casa e irritou-se quando viu, numa rodinha musical, um homem tocando seu violão. “Vai desafiná-lo”, pensou. Saiu irritado, batendo porta e só anos depois soube tratar-se do maestro Villa-Lobos. No Rio, João sentia-se verdadeiramente feliz e divertia-se com as loucuras do amigão Alcyr, que se enchia de caipirinha nas boates e após o derradeiro gole subia na mesa e gritava “Tequila!!” antes de cair desmaiado. Bons tempos! Mas um dia a ficha caiu e João resolveu olhar para trás. Foi quando aprofundou-se e encantou-se com a história do pai.

Reuniu documentos, fotos, livros, cartas, toda uma vida. A nosso pedido procurou algum registro que ligasse o pai ao futebol e achou uma foto rara, do início dos anos 20, de Portinari no time de pelada da Escola de Belas Artes. Emocionou-se. Na poeira dos arquivos, também achou uma reportagem de O GLOBO, muito antiga, intitulada “Como trabalham e sonham nosso pintores” e leu um trecho em voz alta: “Tenho, também, uma delícia grata e profunda. É quando componho, por exemplo, “Jogo de futebol em Brodowski”, a cidade em que me fiz e onde a minha infância, sob a inspiração do modesto dinamismo do meio, embebeu-se de miragens, impregnou-se de melancolias ou sonhos. As imagens que ali se afirmam, a bola de meia, os pés descalços, os trancos, as caneladas, a cerca de pau, tudo isso são imagens impressas na minha memória, que se reúnem e gritam a um esforço evocador, que cruzam os caminhos do meu mundo secreto”.

No fim do texto, o filho coruja sorriu orgulhoso. Balançou a cabeça como um menino levado assumindo o reconhecimento tardio ao talento do pai e ao mesmo tempo transparecendo uma felicidade gigante por ter despertado a tempo de abraçar todo o seu passado e hoje viajar o mundo de mãos dadas com o seu melhor amigo.

 

Texto publicado originalmente no dia 5 fevereiro de 2011, na coluna “A Pelada Como Ela É”.

DE OLHO NA TELA


O CINEFOOT-FESTIVAL DE CINEMA DE FUTEBOL dá o pontapé inicial da sua oitava edição no Rio de Janeiro apresentando uma programação de 42 filmes, com entrada franca em quatro salas, entre os dias 23 de novembro e 3 de dezembro.

São 17 filmes brasileiros e 22 internacionais oriundos da França, Grécia, Rússia, Islândia, Itália, México, Argentina, Inglaterra, Uruguai, Equador e Alemanha; além de três co-produções: Brasil/Inglaterra, Alemanha/Irã e Líbano/USA.

Em 2017, além das tradicionais mostras competitivas de curtas e longas-metragens que ocorrem no Espaço Itaú de Cinema (Praia de Botafogo), o CINEFOOT chega pela primeira vez em Niterói, no Cine Arte UFF.

O CCBB-Centro Cultural Banco do Brasil recebe a nova mostra especial criada pela organização do CINEFOOT batizada de “GERALDINOS & ARQUIBALDOS“ e a já consagrada MOSTRA DENTE DE LEITE, voltada para o público infantojuvenil.

O CCJF-Centro Cultural Justiça Federal apresenta a “PRORROGAÇÃO“ do CINEFOOT, de 30/11 a 3/12.

AS MOSTRAS COMPETITIVAS DE CURTAS E LONGAS-METRAGENS.

Local: Espaço Itaú de Cinema (Praia de Botafogo).

De: 23 a 28 de Novembro

Para a MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS, o CINEFOOT reúne sete filmes, seis deles inéditos no Brasil.

São eles:

FORA DE CAMPO, Itália, Dir. Collettivo MELKANAA, DOC.

ALEX CAMERA 10 – TURQUIA AO BRASIL – DESPEDIDA DO FUTEBOL, Brasil, Dir. Caue Serur, DOC.

EL ZURDO,  A VINGANÇA DO IGNORADO, Argentina, Dir. Roberto Cox, DOC.

CAMPINHO, Rússia, Dir. Eduard Bordukov, FIC.

YOU’LL NEVER WALK ALONE, Alemanha, Dir. André Schäfer, DOC.

LISTRAS PRETAS E BRANCAS: A HISTÓRIA DA JUVENTUS, Itália, Dir. Marco La Villa, Mauro La Villa, DOC.


1976-O ANO DA INVASÃO CORINTHIANA, Brasil, Dir. Ricardo Aidar e Alexandre Boechat, DOC.

O CINEFOOT premiará o melhor filme de longa-metragem exclusivamente através do voto popular.

Para a MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS, o CINEFOOT selecionou 13 filmes, sendo 12 inéditos no Brasil.

São eles:

PENALTY, Itália, Dir. Aldo Iuliano, FIC.

QUE NEM MEU PAI, Brasil, Dir. Pedro Murad, DOC.

BRAZUCA, Grécia, Dir. Faidon Gkretsikos, FIC.

LÍBANO GANHA A COPA DO MUNDO, Líbano/USA, Dir. Tony ElKhoury, Anthony Lappé, DOC.

INTERVALO, França, Dir. Arnaud Pelca, FIC.

O ROUPEIRO, Equador, Dir. Andres Cornejo, DOC.

MANN OF THE MATCH, Brasil/Inglaterra, Dir. Karin Duarte, DOC.

DOMINGO, México, Dir. Raúl Lopez Echeverría, FIC.

SATURDAY, Inglaterra, Dir. Mike Forshaw, FIC.

MARACANAZO, Argentina, Dir. Alejandro Zambianchi, FIC.

TEERÃ DERBY, Alemanha/Irã, Dir. Simon Ostermann, DOC.

BONIEK & PLATINI, França, Dir. Jérémie Laurent, FIC.

BOCA DE FOGO, Brasil, Dir. Luciano Pérez Fernández, DOC.

O CINEFOOT premiará o melhor filme de curta-metragem exclusivamente através do voto popular.

CINEFOOT EM NITERÓI / ESTREIA NA CIDADE

Local: Cine Arte UFF

De: 24 e 29 de Novembro

 O CINE ARTE UFF recebe o CINEFOOT na sua edição inaugural em Niterói, contribuindo para a ampliação do leque de admiradores do cinema de futebol.

O CINE ARTE UFF é o espaço ideal para a bola rolar, desfilando produções brasileiras e internacionais oriundas da Alemanha, Itália, Inglaterra, Espanha e Uruguai. Um time com 11 filmes de diversos formatos, entre curtas e longas-metragens documentais e ficcionais.

Niterói possui tradição nas cenas futebolística e cinematográfica, sendo palco de momentos marcantes na história. A união destas artes centenárias em torno de um festival de cinema singular e irreverente, gera um ambiente propício para o fortalecimento da identidade e promoção dos valores mais preciosos do futebol e do cinema na cidade.

PARTIDA INTERNACIONAL, Alemanha, Dir. Nadine Schrader, Sven Schrader, FIC.

DEMOCRACIA EM PRETO E BRANCO, Brasil, Dir. Pedro Asbeg, DOC.

DOIS PÉS ESQUERDOS, Itália, Dir. Isabella Salvetti, FIC.

O PRÓXIMO GOL LEVA, Inglaterra, Dir. Mike Brett, Steve Jamison, DOC.

PORQUE HÁ COISAS QUE NUNCA SÃO ESQUECIDAS, Itália, Dir. Lucas Figueroa, DOC.

MARACANÃ, Uruguai, Dir. Sebastián Bednarik e Andrés Varela, DOC.

A CULPA É DO NEYMAR, Brasil, Dir. João Ademir, FIC.

JOÃO SALDANHA, Brasil, Dir. André Iki Siqueira e Beto Macedo, DOC.

BARBA, CABELO & BIGODE, Brasil, Dir. Lucio Branco, DOC.

BOCA DE FOGO, Brasil, Dir. Luciano Pérez Fernández, DOC.


GERALDINOS, Brasil, Dir. Pedro Asbeg, Renato Martins, DOC.

A MOSTRA ESPECIAL “GERALDINOS & ARQUIBALDOS“

Local: CCBB-Centro Cultural Banco do Brasil

De: 24 a 27 de Novembro

Foram selecionados sete filmes que envolvem na sua narrativa identidade, memória e direitos humanos no futebol.

São eles:

PENALTY, Itália, Dir. Aldo Iuliano, FIC. (tema central: refugiados)

FOME DE BOLA, Brasil, Dir. Sidney Garambone, DOC. (tema central: refugiados)

A COPA DOS REFUGIADOS, Brasil, Dir. Luciano Pérez Fernández, DOC. (tema central: refugiados)

SEGUNDA PELE FUTEBOL CLUBE, Brasil, Dir. Filipe Mostaro, DOC. (tema central: identidade/colecionadores de camisas)

BONIEK & PLATINI, França, Dir. Jérémie Laurent, FIC. (tema central: política/democracia)

LÍBANO GANHA A COPA DO MUNDO, Líbano/USA, Dir. Tony ElKhoury, Anthony Lappé, DOC. (tema central: política/conflitos internos)

MAIS TRISTE QUE CHUVA NUM RECREIO DE COLÉGIO, Brasil, Dir. Lobo Mauro, DOC. (tema central: política/democracia)

A MOSTRA ESPECIAL “DENTE DE LEITE“

Local: CCBB-Centro Cultural Banco do Brasil

De: 24 e 27 de Novembro

Realizada pelo oitavo ano consecutivo, a MOSTRA DENTE DE LEITE busca contribuir para o processo de formação de especatdores, apresentando uma rica e variada seleção de curtas-metragens futebolísticos.

A RUA É PÚBLICA, Brasil, Dir. Anderson Lima, FIC.

O PRIMEIRO JOÃO, Brasil, Dir. André Castelão, ANIMA.

GAÚCHOS CANARINHOS, Brasil, Dir. Renê Goya Filho, DOC.

A CULPA É DO NEYMAR, Brasil, Dir. João Ademir, FIC.

TAPETE VERDE, Brasil, Dir. Angelo Martin, DOC.

DOIS PÉS ESQUERDOS, Itália, Dir. Isabella Salvetti, FIC.

A MOSTRA ESPECIAL “PRORROGAÇÃO“

Local: CCJF-Centro Cultural Justiça Federal

De: 30 de Novembro a 3 de Dezembro

Tradicionalmente realizada logo após o encerramento das competições do CINEFOOT, a MOSTRA PRORROGAÇÃO oferece a oportunidade de reprisar alguns filmes, oferecendo uma chance extra para o público.

EL ZURDO,  A VINGANÇA DO IGNORADO, Argentina, Dir. Roberto Cox, DOC.

O PRÓXIMO GOL LEVA, Inglaterra, Dir. Mike Brett, Steve Jamison, DOC.

1976-O ANO DA INVASÃO CORINTHIANA, Brasil, Dir. Ricardo Aidar e Alexandre Boechat, DOC.

DOMINGO, México, Dir. Raúl Lopez Echeverría, FIC.

PENALTY, Itália, Dir. Aldo Iuliano, FIC.

O ROUPEIRO, Equador, Dir. Andres Cornejo, DOC.

CINEFOOT / RIO DE JANEIRO / SESSÃO ESPECIAL DE ABERTURA:

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA

23/11, QUINTA-FEIRA, ÀS 20h30, ENTRADA FRANCA (Sujeita à Lotação da Sala)


A sessão especial de abertura do CINEFOOT no Rio de Janeiro, contará com a première no Brasil do documentário DENTRO DE UM VULCÃO – A ASCENSÃO DO FUTEBOL ISLANDÊS, Direção de Saevar Gudmundsson.

Esta é a incrível história da geração dourada do futebol da Islândia. Uma visão pessoal de uma equipe que fez o mundo virar o olhar em sua direção, quando se tornou o menor país do mundo a alcançar a fase final da EuroCopa.

O Diretor, Saevar Gudmunsson, teve acesso total à equipe e revela a intimidade de um grupo de jovens que cresceu ouvindo que sua paixão, o futebol, nunca alcançaria dias de glória no seu país. E tudo transbordou para as arquibancadas, onde o grito viking dos torcedores marcou a competição.

CINEFOOT / RIO DE JANEIRO / SESSÃO ESPECIAL DE HOMENAGEM: JOÃO SALDANHA.

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA

25/11, SÁBADO, ÀS 21h, ENTRADA FRANCA (Sujeita à Lotação da Sala)

A homenagem central do 8˚CINEFOOT é voltada para o centenário de João Saldanha.

Na sessão das 21h do dia 25/11, será exibido o documentário JOÃO SALDANHA, de André Iki Siqueira e Beto Macedo, que reconstrói a história do jogador, técnico, cronista, imprevisível, polêmico e irreverente João Saldanha (1917-1990), que ficou conhecido como o comentarista que o Brasil inteiro consagrou. O longa traz imagens inéditas da época de ouro do futebol brasileiro, todas registradas em 35mm. São cenas que vão desde um Maracanã enlouquecido em preto-e-branco em 1957 até os preparativos da inesquecível seleção de 70. Curiosidades e casos divertidos da vida do comentarista são revelado através de depoimentos da família Saldanha, de ex-jogadores de futebol, de jornalistas esportivos e de amigos.

Para a homenagem, o CINEFOOT recebe familares e amigos de João Saldanha, além do Co-Diretor do filme, Iki Siqueira.


CINEFOOT / RIO DE JANEIRO / SESSÃO ESPECIAL DE ENCERRAMENTO E PREMIAÇÃO:

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA

28/11, TERÇA-FEIRA, ÀS 20h30, ENTRADA FRANCA

O programa da sessão de encerramento e premiação do CINEFOOT no Rio de Janeiro, apresenta première no Brasil do filme PERGUNTE QUEM ERA FALCÃO, Direção de David Rossi.

10 de agosto de 1980. O dia que muda a história de AS Roma. O dia em que Paulo Roberto Falcão vai para Roma. As Copas italianas, o título. Tudo começa com ele, mudando a mentalidade da AS Roma que começa a pensar grande. Esta é a história do oitavo Rei de Roma, uma viagem de ida e volta da Itália ao Brasil para explicar “Quem era Falcao”.

Nesta sessão está programada a realização da segunda edição do “REDAÇÃO AM NO CINEFOOT“, uma divertida premiação da melhor narração do quadro REDAÇÃO AM do programa REDAÇÃO SPORTV apontada pelo público presente no cinema.

Serão entregues as Taças de Melhor Curta e Melhor Longa do 8˚CINEFOOT, e o Troféu João Saldanha, destinado ao filme que melhor expressar as facetas humanas, democráticas e libertárias do futebol.

O CINEFOOT mantém parceria com a FICTS- Federation Internationale Cinema Television Sportifs. Esta tradicional federação italiana, sediada em Milão, reúne os 16 mais prestigiosos festivais de cinema esportivo do mundo, sendo o CINEFOOT um dos eventos integrantes deste seleto circuito internacional.

DATAS / LOCAIS:

CINEFOOT RIO DE JANEIRO

De: 23 a 28 de Novembro

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA / PRAIA DE BOTAFOGO, 316

De: 24 e 29 de Novembro

CINE ARTE UFF / R. MIGUEL DE FRIAS, 9 – ICARAÍ, NITERÓI

De: 24 a 27 de Novembro

CCBB-CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL / RUA PRIMEIRO DE MARÇO, 66 – CENTRO

De: 30 de Novembro a 3 de Dezembro

CCJF-CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL / AV.RIO BRANCO, 241 – CENTRO

Entrada franca.

www.cinefoot.org

BONITO É VENCER JOGOS (E CAMPEONATOS)

por Mateus Ribeiro

Um dos assuntos mais falados em debates esportivos (seja em qualquer canal esportivo, seja na mesa do bar) é o tal do “jogo bonito”. Comentaristas e palpiteiros vivem discutindo sobre a maneira que os times e seleções mundo afora jogam.


O teor da conversa, geralmente, gira em torno de times que se preocupam “apenas” em vencer, e não em dar espetáculo. Começando pelos que esperam que o mundo do futebol seja um Barcelona gigante, com Messis e Neymares tabelando a todo instante, passando pelo saudosista que exige que todos os jogos tenham 300 oportunidades de gol, chegamos até o mais insuportável de todos: aquele que desmerece toda e qualquer vitória do time que baseia seu esquema de jogo no sistema defensivo.

Como se nas regras do futebol existisse algo que proíba o time de dar chutão, ou de terminar o jogo com menos posse de bola. Como se fosse pecado “jogar por uma bola” (a nova menina dos olhos dos comentaristas charlatões). Como se a FIFA fosse mudar as regras do futebol porque um time foi campeão apenas vencendo por 1 a 0.

A beleza do jogo pode ser vista por várias óticas. Um time não precisa encarnar o Ballet Bolshoi para encher os olhos da torcida. A eficiência também pode encher os olhos. Ainda mais no futebol dos dias atuais, onde talentos são escassos, e o coletivo manda.

É claro, óbvio e evidente que eu gostaria de ver um time que desse espetáculo. Porém, me deixa muito mais feliz uma vitoria simples com o mínimo de posse de bola possível. Afinal, o que ganha campeonatos são vitórias, e não apenas triangulações ou dribles.

Não temos mais tantos talentos surgindo como surgiam em outros tempos. E isso não é saudosismo. É um fato. Pode ser que na base os atletas sejam “podados”, proibidos de exibir seu pseudo talento em nome do “sacrifício” de jogar para o time. Aí, fica a critério do torcedor. Se ele preferir ver seu time perder com 300% de posse de bola do que ganhar dando apenas um chute no gol, azar o dele. Digo isso porque acredite, existe quem pense assim. Graças aos deuses do futebol, conheço poucas pessoas assim. Espero manter minha retranca social para evitar o convívio com quem tem esse pensamento, aliás.


Não, isso não é conversa de saudosista que acha que o futebol só prestava antigamente, antes que a patrulha do lacre futebolístico apareça com pedras coloridas e dando botinadas com chuteiras sem cadarço. O futebol continua legal, apesar de muitos problemas. E posso garantir; o problema não é o Chelsea de 2012, o Corinthians de 2017, o Atlético de Madrid dos últimos anos. O problema não é ganhar retrancado. O problema é achar que existe um Bergkamp em cada esquina e achar que todo time tem a obrigação de dar espetáculo.

Quem quer plástica, que vá para alguma exposição de arte. Por enquanto, a beleza do futebol reside em vitórias e títulos.

Até a próxima, fãs do 4–2–3–1.

FUZARCA

por Gustavo Cascon

“Fuzarca” é um curta-metragem que conta uma das histórias mais bonitas do Clube de Regatas Vasco da Gama: a luta contra os preconceitos.

Desde criança, quando íamos ao Maracanã domingo ver o Vasco jogar, meu pai me conta uma história: a de que o Vasco foi o primeiro time de futebol a aceitar negros. Pensando em transformar esta história em filme, comecei a pesquisar (uma das fontes preciosas foi o livro O Negro no Futebol Brasileiro, de Mário Filho) e descobri que o Vasco não só foi o primeiro time a reconhecer e aceitar os negros como atletas, mas também foi o primeiro a ganhar um campeonato estadual da primeira divisão com um time integralmente formado por negros e brancos pobres, alguns operários, alguns funcionários subalternos.


Passei a conhecer melhor também o futebol carioca do início do século. Trazido ao Rio por um filho de ingleses chamado Oscar Cox (o nome do personagem do filme foi inspirado neste pioneiro, um dos fundadores do Fluminense Football Club), o desporto bretão era um esporte sofisticado, no início praticado apenas por uma elite, depois se popularizando, mas ficando ainda restrito a brancos de “boas” famílias, estudantes de direito ou medicina orientados por mestres vindos diretamente da Inglaterra, a mãe do futebol. Apesar dos negros e mulatos já demonstrarem enorme habilidade, eles só conseguiam lugar nos time da zona norte, como o Andaraí, o Vila Isabel, o Bangu. E estes times não chegavam a ameaçar os grandes Fluminense, Flamengo, Botafogo ou América. Mais aí chega o Vasco. Em 1923, com um time formado por negros e brancos pobres, selecionado pelos portugueses (português nunca teve problema com mistura) em outros times de subúrbio, o Vasco ganha o campeonato estadual vencendo quase todos os jogos (só teve uma derrota, para o Flamengo, mas houve suspeitas de que o juiz tenha favorecido os rubro-negros). Este fato provocou uma revolução no futebol da época. Após uma resistência inicial, com os clubes considerados grandes inventando uma série de impedimentos para afastar os negros e pobres do campeonato, poucos anos depois estes clubes tiveram que se render à realidade e abandonar o racismo e os preconceitos. Graças ao Vasco.

 

Sinopse

No Rio de Janeiro de 1900, nascem dois meninos: Sílvio é negro e pobre e Oscar é branco e rico. Os dois amam o futebol e se tornam jogadores. Sílvio se forma nas peladas de rua, Oscar no Fluminense Football Club. O filme acompanha a trajetória dos dois, em paralelo com a história dos primeiros anos do futebol carioca, quando havia preconceito racial e social no futebol, no início um esporte sofisticado e praticado apenas por uma elite, depois ganhando cada vez mais popularidade. Passando por Carlos Alberto, jogador mulato do Fluminense que passava pó-de-arroz no rosto para ficar mais branco, por Monteiro, craque mulato do Andaraí que morreu tuberculoso em campo, por Marcos Carneiro de Mendonça, goleiro branco do Fluminense, símbolo da “Belle Époque” tricolor com seu estilo elegante que inspirava poetisas, a ação vai até 1923, ano que o Clube de Regatas Vasco da Gama é campeão estadual com um time de negros e brancos humildes, do qual faz parte Sílvio. Ele e Oscar finalmente se encontram, no Vasco X Fluminense de 1923…

Orçamento

“Fuzarca”já tem uma boa parte filmada, faltando algumas cenas que representam mais ou menos 30% do filme. Para isso, serão necessários mais dois dias de filmagem, com o seguinte custo:

elenco e figuração: R$ 8.800,00 

equipe técnica: R$ 6.450,00 

alimentação: 5.270,00

equipamento: 2.500,00

total transporte: 1.200,00 

estúdio de finalização: R$ 8.090,00 

recompensas: R$ 401,25

total: R$32.711,25

 

+13% Catarse: R$ 4.252,47

TOTAL GERAL: R$ 36.963,72

https://www.catarse.me/fuzarca1923?ref=project_link

GOL DE LETRAS

texto: Sergio Pugliese | edição de vídeo: Daniel Planel

De repente, o puxão de orelha. Era o quarto da semana, pelo mesmo motivo. 

– Já para casa treinar caligrafia! 


(Foto: Arquivo)

O menino não era louco e obedecia. Conhecia bem o peso da mão de Odilon, um dos quatro irmãos. Ele sempre chegava de surpresa, dava o bote e com apenas dois dedos capturava a presa. Incontáveis vezes invadiu os rachas da Rua Manoel Leitão, na Tijuca, para aplicar seu radical método de ensino. Nessa época, as orelhas de Arnaldinho cresceram alguns centímetros, mas a técnica do mano surtiu efeito. E que efeito! O fominha de bola, sem abandonar os campos, se tornou o primeiro aluno do Colégio Vera Cruz e da Faculdade de Educação, do Instituto Lafayette. Aos 15 anos, começou a escrever crônicas esportivas no Última Hora e aos 17, talento reconhecido, foi contratado pela Manchete, onde ficou 37 anos. Hoje, o intelectual Arnaldo Niskier é imortal da Academia Brasileira de Letras, presidente do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE) e autor de 60 livros educativos. 

– Nenhum deles incentivando a prática do puxão de orelha – garantiu, às gargalhadas, durante chá na ABL com a orgulhosa equipe do A Pelada Como Ela É. 

Mas Arnaldo reconhece a importância da família em sua formação e apesar das broncas todos sempre o incentivaram a tentar a sorte no futebol. Torcedor apaixonado do América, treinou no clube como ponta-esquerda do infanto-juvenil e ganhou a vaga de titular quando Zagallo, Mariozzi e Manfredo foram para o Flamengo. No início, conseguiu conciliar a paixão com os estudos e os plantões no jornal. Lembrou da primeira matéria, em 1954: Bangu, do goleiro Princesinha, 6, Madureira 1. Também era excelente nadador e ganhou 56 medalhas, mas uma otite o afastou das piscinas. Na Manchete Esportiva, o cenário mudou. O chefe Augusto Rodrigues, irmão de Nelson Rodrigues, o liberou para três treinos, mas no quarto chiou e o jovem Arnaldo optou pelo jornalismo. Só sobraram as peladas na areia da Praia da Barra da Tijuca e os campeonatos de futebol de salão pelo Clube Municipal. 

– Nossa vida era dura e eu pagava meus estudos, precisava trabalhar – contou, enquanto dividia um bolo de aipim com coco, com Reyes de Sá Viana do Castelo, intelectual dos bares e da equipe do A Pelada Como Ela É. 


(Foto: Arquivo)

Mas a história de Arnaldo ganhou corpo e seu nome virou referência na área de Educação. Orgulha-se do currículo e dos altos cargos, mas prazer mesmo foi jogar ao lado do filho Celso Niskier, o Samarone, hoje o reitor bom de bola mais jovem do Brasil. As peladas aconteciam no Teresópolis Country Clube e também participava o goleiro Antonio Nascimento, atual editor do caderno de Esportes de O Globo. Segundo Arnaldo, o uniforme de Toninho era praticamente uma armadura, cheio de parafernálias e cobria quase toda a extensão do gol, sendo impossível penetrá-lo. Arnaldo também lembrou os campeonatos intercolegiais e elegeu o gol de cabeça feito pelo Vera Cruz como o mais lindo de sua carreira. Mas foi obrigado a ouvir uma tirada infame de Reyes de Sá. 

– O gol da vida de um intelectual só podia ser de cabeça. 

Arnaldo se fez de surdo e para o cenário das fotos escolheu a imponente Biblioteca Acadêmico Lúcio de Mendonça, no prédio anexo à ABL. Ali, virou menino, quebrou regras e falou alto. Acabara de receber uma bola de nossa equipe e estava exultante, então encarou Reyes de Sá e devolveu o trocadilho. 

– Me fotografa fazendo um gol de Letras. 

Aos 76 anos, num elegante terno, puxou a bola com o bico do sapato engraxado e arriscou algumas embaixadinhas, mas ela escapou. “Você era bom nisso”, comentou baixinho para ele mesmo, como exercitasse a memória, provocasse o talento guardado desde os 65 anos quando atuou pela última vez, em Barra do Piraí, e foi aposentado por um estiramento. Concentrado, novamente rolou a redonda no assoalho e iniciou o show. Uma, duas, três, agora sim…ela subiu e aterrissou mansa na gravata de seda. Tanta empolgação assustou Luiz Antônio de Souza, há 39 anos dirigindo e zelando pelo nobre espaço abarrotado de livros raros. De sua mesa alertou sobre o perigo de uma porta de vidro das estantes ser quebrada. Não chegou a puxar a orelha do escritor, como Odilon, mas pediu modos. Mergulhado num mar de nostalgia, Arnaldo recordou suas boladas explodindo nas janelas das casas da Rua Filgueiras Lima. Era como se o tempo não tivesse passado e ele ainda fosse o mesmo menino peralta da Tijuca. Emocionado, citou Machado de Assis: “Esta a glória que fica, eleva, honra e consola” e pela primeira vez, desde que assumiu a cadeira 18, da Academia Brasileira de Letras, há 27 anos, entendeu o verdadeiro sentido da palavra imortal.

Texto publicado originalmente na coluna A Pelada Como Ela É, do Jornal O Globo, em 2 de julho de 2011.