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Futebol

MESQUITINHA, NOSSO TIME DE RUA DE PARALELEPÍPEDOS

por Wesley Machado

Assistindo ao excelente vídeo do Museu da Pelada sobre o Onze Rubros de Quintino, lembrei-me do nosso time de rua de paralelepípedos, o Mesquitinha, que também era rubro, vermelho ou grená, como queira. O Mesquitinha foi batizado por mim com este nome porque morávamos na rua Professor Mesquita, no bairro Pecuária, em Campos dos Goytacazes-RJ.

Tínhamos cerca de 10 anos de idade. E, como não tínhamos campo para jogar, jogávamos na rua mesmo. Rua de paralelepípedos. Com as tradicionais lambretas/chinelos servindo de gol. Ou até mesmo uma pedra de paralelepípedo solta. A bola saía no meio-fio. Jogávamos descalços. E tínhamos de parar o jogo quando passava um carro. Esta rua só tinha casas de um lado. Pois do outro lado é o muro do Parque de Exposições Agropecuárias.

Como não tínhamos campo na nossa rua, jogávamos como visitantes no campo da outra rua, contra o time que não tinha nome, chamávamos de “Outra Rua” mesmo. Este era o nosso clássico de maior rivalidade: Mesquitinha x Outra Rua. Denominamos o campo deles de “Chiqueirinho”. Porque quando chovia, o campo – que tinha mais terra do que grama, ficava todo enlameado e cheio de poças d’água.

Uma vez ganhamos deles lá dentro da casa deles. Não lembro detalhes, mas lembro que ganhamos e, se não me falha a memória, eu fiz o gol que definiu a decisão por pênaltis. Saímos de lá comemorando muito! Eu vestia a camisa 8 do Mesquitinha. A camisa era rubro/vermelha/grená com os números verdes, parecendo com a da Portuguesa de Desportos ou a Seleção de Portugual.

Para fazer nosso jogo de camisas, compramos camisas de tecido branco e tingimos de vermelho. A minha saudosa Vó Ezilea, que era costureira, costurou os números em verde. Jogávamos com a camisa sem escudo. Um dos jogos mais prestigiados nos paralelepípedos da Rua Professor Mesquita foi outro clássico, desta vez com o Cajuzinho, do bairro vizinho, Caju.

Se não me falha a memória também ganhamos este jogo, que teve a assistência de muitas pessoas nas calçadas, que receberam convites de papel feitos por mim, como se fossem ingressos de cortesia para um jogo público. Foram bons tempos aqueles na Rua Professor Mesquita, em especial com o Mesquitinha, que vai ficar para sempre guardado nas minhas memórias infantis do início da década de 1990.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA

por Eduardo Lamas Neiva

João Saldanha e Nelson Rodrigues no programa “Grande Resenha Facit”, mesa-redonda
de debate sobre o futebol exibido pela TV Rio e, posteriormente, pela TV Globo, nos anos 60

O pontapé inicial do projeto Jogada de Música, criado pelo jornalista e escritor Eduardo Lamas Neiva no fim de 2015, não foi (ainda) para os palcos, nem para as páginas físicas ou virtuais de um livro, tampouco para o cinema ou para a TV. Estreou no blog de mesmo nome do autor, no início do ano passado, e depois de ser arquivado, entrará em campo com a camisa do Museu da Pelada. “Uma coisa jogada com música”, frase de João Saldanha para definir o nosso futebol-arte, o nosso futebol-raiz, dá título a uma série ficcional em capítulos semanais que reunirá futebol e música, num papo de outro mundo, entre João Sem Medo, apelido que Nelson Rodrigues deu ao grande amigo Saldanha, e três personagens do Anjo Pornográfico: Ceguinho Torcedor, Sobrenatural de Almeida e Idiota da Objetividade. 

Recepcionados pelo garçom Zé Ary no restaurante-bar Além da Imaginação, os quatro amigos vão debater e contar muito da História do futebol brasileiro, sempre em tabelinha com músicas relacionadas ao tema, num bate-papo informal, acalorado muitas vezes e, principalmente, imaginativo. É uma singela homenagem aos dois maiores cronistas esportivos deste país, embora tenham sido muito mais do que isso: João Saldanha e Nelson Rodrigues. 

As homenagens, porém, não se limitam a João e Nelson, é estendida a Mario Filho e também a José Lins do Rêgo, Ary Barroso, Pixinguinha e tantos, tantos, tantos outros craques do nosso futebol (dentro e fora das quatro linhas) e da nossa música popular, estejam eles fisicamente ainda entre nós ou não.

A partir de hoje, todas as sextas-feiras haverá um episódio passado no Além da Imaginação. Não perca, chame amigos e amigas, encha esta arquibancada com muita vibração, emoção, alegria.

Algumas das muitas fontes de pesquisa para a realização desta série (em atualização)

Livros:
“Futebol tem cada uma”, Armando M. Graça
“O berro impresso das manchetes – crônicas completas da Manchete Esportiva 55-59”, Nelson Rodrigues
“A pátria de chuteiras”, de Nelson Rodrigues
“À sombra das chuteiras imortais”, de Nelson Rodrigues
“No compasso da bola”, de Paulo Luna
“Futebol no país da música”, Beto Xavier
“A presença do futebol na Música Popular Brasileira”, Assis Angelo
“O negro no futebol brasileiro”, de Mario Filho
“João Saldanha, uma vida em jogo”, de Andre Iki Siqueira
“Histórias do futebol”, de João Saldanha
“João Saldanha”, de João Máximo
“Inverno em Biquíni”, de Henrique Pongetti
“O Anjo Pornográfico, a vida de Nelson Rodrigues”, de Ruy Castro
“Estrela Solitária, um brasileiro chamado Garrincha”, de Ruy Castro
“Maracanã, a saga do mais famoso templo do futebol mundial” (O Globo)
“João Saldanha & Nelson Rodrigues”, Ivan Cavalcanti Proença
“Diamante negro, biografia de Leônidas da Silva”, André Ribeiro
“Sócrates”, Tom Cardoso
“Maracanã 60 (1950-2010)”, Eduardo Bueno, Fernando Bueno, João Máximo, Roberto Assaf, Rog´rio Reis e Ruy Castro
“Grandes jogos do Maracanã”, Roberto Assaf e Roger Garcia
“A invenção do país do futebol – Mídia, raça e idolatria”, Ronaldo Helal, Antonio Jorge Soares e Hugo Lovisolo

Jornais, revistas, sites e blogs:
Jornal dos Sports
Jornal do Brasil
O Globo
Ultima Hora
Manchete Esportiva
O Globo Sportivo
O Estado de S.Paulo
Folha de S.Paulo
IMMuB
Hemeroteca Digital BNDigital
Wikipédia
Mural de Bugarin
Terceiro Tempo
Globoesporte.com
O Globo Online
Veja Online
G1
ESPN
Placar
Trivela
UOL
Terra
Fla Estatística
Mundo Botafogo
Grêmio 1983
CBF
Fifa
Blog do curioso
Literatura na Arquibancada
YouTube 

Agradecimentos especiais:
– Alexandre Araújo
– Ricardo Mazella
– Sérgio Pugliese
– Francisco Aiello
– Sandro Barbeita
– Vitor Zanon
– Dhaniel Cohen
– Heitor D’Alincourt
– Ricardo Cravo Albin
– Paula Schitine
– Vartan Melikian
– Mário Mendes
– Guido Lima
– Lucas Neiva
– Jonathan Luna
– Marcelo China
– Ilessi
– Gilberto Pereira
– Wallace Perez
– Alexandre de la Peña
– Dalton (Sempre Vila)
– Luiza Carino
– João Carino
– Muriqui Cultural
– Arteira Filmes
– Hajalume Produções
– Cyntia C
– Fernando Gasparini
– Marcelo Caldi
– Edu Krieger
– Nina Wirti
– Grazie Wirti
– Paula Santoro
– Elba Ramalho
– Guillermo Planel
– Daniel Planel
– André Mendonça
– Planel Filmes
– CEDOPE – Sistema Globo de Rádio
– Fluminense Football Club
– Flu Memória
– Restaurante Sempre Vila
– Fundação Cravo Albin
– Arquivo Público do Estado de São Paulo
– Fundação Biblioteca Nacional
– Instituto Moreira Salles
– Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB)
– Museu da Pelada

POPULARIZAÇÃO DA NBA AJUDA RETOMADA DO BASQUETE NO PAÍS DO FUTEBOL

por João Guilherme Palmer, Nathália Caldeira e
Pedro Lissovsky

Flamengo x Franca pela NBB 2022 (Foto: Newton Nogueira)

As despedidas a Pelé lembraram, entre outros feitos, a importância do rei para difundir o futebol nos Estados Unidos. Ao liderar as estrelas internacionais do New York Cosmos, nos anos 1970, o eterno Camisa 10 deu a largada para popularizar o soccer naquele país. Hoje a MLS, principal liga da modalidade, mantém uma média em torno de 21 mil espectadores por partida, equivalente à do Campeonato Brasileiro.

A recíproca revela-se verdadeira, no caso do basquete. O esporte, outrora o segundo mais popular no Brasil, torna a crescer por aqui. É impulsionado, em grande parte, pela ascensão da National Basketball Association (NBA) no mercado nacional.

A quantidade de brasileiros que consomem a NBA tem subido ano a ano. Saltou de 31 milhões em 2019 para 45 milhões em 2021, estima o Ibope Repucom.

O aumento na audiência das partidas é acompanhado pelo crescimento da venda de produtos associados a equipes e jogadores da liga americana e da prática do esporte. A popularização se expressa também na recepção brasileira à NBA Basketball School, que ensina o método do basquete americano em clubes sociais e em escolas, como uma atividade extracurricular. O país já reúne 150 dessas unidades, 70 implantadas entre 2021 e o primeiro semestre de 2022. Em nenhum outro país tal programa é mais desenvolvido.

A NBA começou a se popularizar no Brasil com a projeção global de craques icônicos como Michael Jordan (o Pelé do basquete), Magic Johnson e Larry Bird, a partir dos anos 1980. Formaram o primeiro time dos sonhos (dream team), campeão olímpico nos Jogos de Barcelona, em 1992. Ao inaugurarem a participação de profissionais da NBA em Olimpíadas, eles propagaram o talento e carisma do basquete americano pelo mundo.

As equipes olímpicas dos Estados Unidos eram, até então, formadas por poupavam os jogadores universitários. Mais do que faturar o previsível ouro, o dream team encantou o planeta e ampliou os olhares para a NBA.

Muito antes de a franquia americana tornar-se referência global e atrair milhões de fãs em diversos países, inclusive por aqui, o basquete liderava a corrida por segundo esporte nacional. Era praticado com razoável consistência em praças, escolas, clubes, alguns deles ligados ao futebol. Conquistou três títulos mundiais – em 1959 e 1963, com a seleção masculina, e em 1994, com o time liderado por Hortência, Paula, Janeth, Martha – e cinco medalhas olímpicas.

Por outro lado, o esporte de origem americana esbarra sistematicamente em turbulências políticas, escassez de investimentos e num domínio expressivo do futebol, símbolo de nossa identidade cultural. O ex-jogador e treinador Léo Figueiró, treinador do Corinthians, enxerga um futuro mais estável e animador para o basquete no país. Para ele, a profissionalização crescente de equipes, atletas, competições tende a aumentar a audiência e os investimentos.

Figueiró lembra que começou a carreira ainda numa era semiprofissional, quando a maioria dos jogadores tinha um segundo emprego. Hoje, compara, o profissionalismo melhora o rendimento e deixa os espetáculos mais atraentes para consumidores e investidores. Um caminho já traçado pela NBA há mais de quatro décadas.

– A NBB (liga nacional de basquete) se profissionaliza mais a cada ano. Seus executivos são todos muito capacitados e as decisões são tomadas pelos clubes em assembleias. Sendo assim, a cada ano vemos movimentos sendo feitos para a liga se tornar mais forte e atrativa, com mais investimentos. Resistimos à pandemia e agora estamos crescendo de novo! – anima-se Figueiró.

O treinador ressalta a importância da expansão de investimentos para a qualificação das equipes, dos espetáculos, mas aponta a necessidade de reduzir “o abismo financeiro” entre equipes da NBB. Reduzir essas disparidades é fundamental para equilibrar a competição e, portanto, deixá-la mais atraente. Figueiró também acredita que a ascensão da liga no Brasil ajude a impulsionar a NBB, estimulando mais modelos de negócios e parcerias:

– A NBA é um fenômeno mundial. Está em todo mundo, e no Brasil não seria diferente. O futuro do basquete do Brasil é seguir o exemplo da liga americana, se profissionalizar em todas as ramificações e fazer o produto cada vez mais atrativo, com ações integradas. Isso exige a capacitação dos profissionais fora da quadra e alto rendimento dentro da quadra! – avalia.

O ala-pivô Diego Conceição, do Caxias do Sul, concorda que o basquete nacional volta a crescer com a popularização da NBA, depois das oscilações vivenciadas desde a aposentadoria das gerações simbolizadas por Oscar e Marcel, Hortência e Paula. Ele recorda que, quando começou a jogar, influenciado por esses tempos dourados, o esporte perdeu espaço e audiência para o vôlei, mas tem se recuperado com o avanço da NBB. Ainda assim, ressalva ele, a liga nacional não pode ser comparada à americana:

– O basquete brasileiro ainda enfrenta dificuldades estruturais e financeiras, pois prevalece aqui a cultura do futebol. Para a grande maioria das pessoas que nascem no Brasil, a primeira opção [de prática, audiência, consumo] é sempre o futebol. Precisamos entender que a NBB vive seu processo. Temos grandes talentos, muitos deles estão na NBA, alguns na Europa. São esses atletas que vão nos representar futuramente na NBA, na seleção. Então, é interessante que a gente esteja de olho neles e valorize o trabalho no país, dentro de casa.

Diego, ala-pivô do Caxias do Sul(Foto: Felipe Nyland – Agencia RBS)

O próprio Diego queria ser jogador de futebol. Quando chegou ao Flamengo em busca do sonho, sua altura fez um diretor do clube condicionar os treinos de futebol à entrada na equipe de basquete mirim. Desde então, soma dez anos como profissional. Acompanhou, e viveu, importantes mudanças na liga:

– Acredito que a liga tenha evoluído estruturalmente. Hoje, a gente tem um campeonato um pouco mais organizado. Isso atrai patrocinadores e bons jogadores. O campeonato fica mais disputado, com mais qualidade. No entanto, o esporte ainda passa por dificuldades. Temos que trabalhar para diminuí-las a cada temporada, descobrindo como melhorar cada coisa não só para as instituições, mas também para os jogadores. Afinal de contas, são eles que fazem o show! – pondera Diego.

Ele acrescenta:

– A parceria da NBB com a NBA vai gerar coisas positivas, aumentar o interesse pelas competições nacionais e regionais.
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Esta reportagem foi produzida por estudantes de Jornalismo Esportivo da PUC-Rio, sob a orientação do professor

Alexandre Carauta.

ZEBRA: NOVO MICO-LEÃO-DOURADO DO FUTEBOL?

por Raphael Soledade e Rafael Maia

As zebras não são mais unanimidade no universo do futebol. Há até quem proclame a sua extinção. O ex-jogador Paulo Cézar Caju, tricampeão mundial naquela mágica seleção de 70, defende que “o futebol, hoje em dia, está totalmente parelho e as zebras perderam força. Na verdade, elas viraram o mico-leão-dourado do futebol, ou seja, estão em extinção.”.

Caju acredita em uma nova configuração das zebras. Para ele, devem ser consideradas não só se um time de menor expressão ou investimento leva a melhor sobre um time de maior estatura. Também ocorrem, na opinião do ex-meia ofensivo, quando um time grande numa fase superior perde para um congênere num momento ruim.

Muitos analistas e torcedores concordam – especialmente com a percepção de que as zebras caminham para raridade. Para o tricolor Carlos Eduardo Guimarães, “elas já não podem ser consideradas tão zebras”. Isso porque os clubes menores, argumenta, “estão cada vez mais fortes e empenhados. Através do marketing, conseguem patrocinadores e, consequentemente, capital para contratar bons jogadores, muitas vezes já experientes, tornando o time mais competitivo”.

Até para a frieza dos números, elas se tornam arredias. O matemático Henrique Serra aponta uma dificuldade “em criar amostras estatísticas para esse tema devido às variáveis envolvidas”. Ele pondera:

“Como caracterizar a zebra? A análise é feita sobre um recorte histórico de cada time ou simplesmente baseada na atualidade?”.

Nos debates em torno da caracterização da zebra, tradição, peso histórico – “camisa pesada”, dizem os boleiros – somam-se à performance recente do time e ao seu poder financeiro. Cada vez mais, estreita-se a relação entre a saúde financeira do clube e o rendimento esportivo. Mesmo assim, fracassos de equipes mais poderosas – esportivamente, economicamente, historicamente – não constituem necessariamente uma zebra.

Poderio financeiro afasta o improvável

Um time com maior poder de investimento e com uma melhor administração de recursos terá um caminho mais fácil para o sucesso esportivo, com inclinação mais recorrente ao favoritismo e maiores chances de disputar títulos – em competições mata-mata e, sobretudo, de pontos corridos. Assim, a zebra contemporânea se caracterizaria mais no caso do insucesso de Golias rico contra um Davi pobre ou menos abastado. O jornalista Leandro Dias, do canal no Youtube Netflu, observa:

– Hoje consideramos zebra quando um time com poder de investimento muito menor vence uma equipe de menor investimento. Em geral, esta equipe também tem menos tradição e torcida.

Dias acrescenta que outros aspectos na avaliação de um grande favoritismo – e, consequentemente, de uma zebra – dizem respeito ao nível técnico dos adversários e a um certo estio de craques no mundo:

– Não há mais grandes craques no futebol mundial: Cristiano Ronaldo e Messi já passaram dos 35 anos. Estão no final da carreira. O Neymar, que seria o terceiro, já tem mais de 30 e não se vê uma substituição no mesmo nível. Então, observa-se uma crise técnica que produz um certo nivelamento, em geral, entre as equipes em relação a anos anteriores, quando ficavam mais evidentes os grandes clubes, os clubes médios e os clubes pequenos.

O tipo de competição também conta para a incidência de zebras. Campeonatos mais longos, de pontos corridos, tendem a favorecer times melhores, com estruturas esportivas, administrativas e financeiras superiores.

– Por conta da distância financeira, é muito difícil um clube de menor investimento ganhar um campeonato de pontos corridos. Neste modelo de disputa, é preciso um elenco forte, homogêneo, para um clube brigar pelo título. Já no mata-mata, é um pouco menos difícil! – compara Dias.

Surpresas rondam a Copa do Brasil

​Tradicional competição mata-mata, a Copa do Brasil comprova, de certa forma, essa tese. Acumula algumas das grandes zebras do futebol brasileiro. Como os títulos do Juventude sobre o Botafogo, em 1999; do Santo André sobre o Flamengo, em 2004; e do Paulista sobre o Fluminense, em 2005.

Já nas últimas 20 edições do Campeonato Brasileiro da Série A, as zebras não levantaram caneco. Prevalece a regularidade que normalmente acompanha as equipes tecnicamente e economicamente superiores.

Nem a Alemanha está imune

A Copa do Mundo, torneio curto de caráter eliminatório, é historicamente mais convidativa à zebra. Ela passeou, por exemplo, no Mundial da Rússia, em 2018, com a desclassificação precoce da toda-poderosa Alemanha, campeã em 2014. Para o historiador Iugh Mattar, fundador do canal Futebol Coruja, surpresas deste tipo também se mostram mais comuns em Copas porque as táticas costumam se sobrepor às habilidades individuais. Sem contar que a maioria das seleções apresenta-se menos prodigiosa do que as principais equipes da elite europeia, formadas por craques de vários países.

As Ligas espanhola e, sobretudo, inglesa passaram a concentrar os protagonistas do futebol mundial, desfalcando até campeonatos tradicionais como o italiano. Mattar acredita que tal movimento tenha influenciado, de alguma maneira, aquilo que pode ser considerado uma zebra histórica: a tetracampeã Itália ficar de fora de dois Mundial seguidos (Rússia 2018 e Catar 2022). Ele ressalta:

“A Itália era um país com muitos craques jogando em seu país. Entretanto, eles foram se movendo para outras ligas. Atualmente, os principais estrangeiros são os argentinos Dybala e Lautaro, e eles não pertencem à prateleira dos melhores do mundo. Por isso, são sondados para se transferir para o Tottenham ou o Atlético de Madri, não para o Barcelona ou o Real Madrid”.

Mais uma do Gentil

O icônico Gentil Cardoso, treinador de diversos clubes do Brasil, criou e popularizou expressões marcantes no futebol: “caixinha de surpresas”, “o craque trata a bola de você, não de excelência”, “treino é treino, jogo é jogo”, “quem se desloca recebe, quem pede tem preferência”, “quem não faz, leva”. Também foi o pai da zebra.

Gentil treinava a Portuguesa, do Rio, quando usou pela primeira vez o termo, em 1964, antes de enfrentar o Fluminense pelo Campeonato Carioca. “Vai dar zebra”, profetizou. Imaginava que o destino pudesse trair o favoritismo tricolor.

O técnico fez referência ao jogo do bicho, do qual a zebra não faz parte, para destacar a possibilidade de um resultado improvável. E deu zebra na cabeça: Flu e Portuguesa empataram em 1 a 1. O animal passou a rondar os gramados como sinônimo do inesperado que – ontem, hoje, amanhã – acompanha o futebol.

Algumas zebras históricas:

1- Leicester City – Premier League 2016
O modesto Leicester fez o inimaginável em 2016: conquistou a Premier League com duas rodadas de antecedência.

2-Grécia – Eurocopa 2004
A Grécia chegou à final da Eurocopa 2004, passando pela França, Chéquia e venceu Portugal no último jogo.

3- Once Caldas – Libertadores 2004
Once Caldas foi uma das maiores zebras na Libertadores 2004. Desbancou times como Santos, São Paulo e Boca Juniors.

4- Santo André – Copa do Brasil 2004
Na conquista da Copa do Brasil 2004, o Santo André bateu o Guarani, o Palmeiras e, na final, o Flamengo.

5- Porto- Champions League 2004
O Porto arrematou a Champions League de 2004 passando por Manchester United, La Coruña, Lyon e Mônaco, na final.

PASSADO X PRESENTE

::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Certa vez, eu e Gerson Canhotinha de Ouro resenhávamos com a turma do Museu da Pelada quando Guilherme Careca, ironicamente, nos perguntou se os jogadores de antigamente conseguiriam atuar no futebol atual. Gerson, deu uma cortada radical: “Não jogaríamos de vergonha!”. Essa é uma questão totalmente sem sentido e a grande prova disso são os veteranos que seguem fazendo o seu pé-de-meia a cada rodada. Diego Souza fez um “de bicicleta”, Nenê continua carregando o Vasco nas costas, o Avaí acaba de anunciar Guerrero, Fábio vem salvando o Fluminense, o Corinthians está lotado de jogadores experientes, Miranda segue dominando os velocistas e Ganso vem jogando o fino da bola. E reparem o Ganso jogando, um toque só, parece estar em câmera lenta, como nos bons tempos do Canal 100. Mas alguns especialistas insistem com essa tese. Os jogadores atuais correm sem qualquer propósito, falta inteligência. Já dizia o genial Gentil Cardoso: “Quem se desloca recebe, quem pede tem preferência”. Ou também tem outra expressão famosa: “Quem corre é a bola”. Alguns atletas chegam a perder três quilos em um jogo e se formos avaliar sua atuação ela beirou a zero. Mas a mídia adora aquela chatice de “mapa do calor”. Por que insistem com essa chatice? É GPS, análise de desempenho e um monte de firulas. Tem chip em chuteira, uma penca de equipamentos tecnológicos, mas os jogadores sequer sabem dominar uma bola, fazer um cruzamento, bater uma falta. Os “velhinhos” atuais vão jogar até os 100 anos porque sabem tocar a bola, conhecem os setores do campo. O lateral Fábio Santos fez dois gols para o Corinthians e venceu o Galo, de Hulk. Dois veteranos que se destacam mesmo sem terem essa qualidade toda. Se eles conseguem, imaginem um Marco Antônio, de Vasco e Flu, e um Jairzinho Furacão!!! Meu Deus, o Jairzinho hoje faria 100 gols! A nova geração está lascada! Aprende a correr com os professores de Educação Física e o resto é o que acompanhamos nos estádios, uma lástima. E sabe porque não vai melhorar. Porque no intervalo das partidas, nas entrevistas, os jogadores repetem o discurso: “Agora, vamos para o vestiário ver o que o professor tem para falar”. Esqueçam, os professores não têm absolutamente nada a dizer!

Pérolas da Semana:

“A filosofia vai contra a dinâmica do jogo, tendo terceiro zagueiro jogando profundamente, dando tapa na bola e fazendo ligação direta no último terço do campo. Dessa forma, centraliza por dentro para morar no ataque ou encontrar o losango na frente”.

“Mais consistência na ideia para gostar do jogo e baixar a intensidade de um time reativo, azeitando os alas pelo lado do campo para encontrar o nove raiz. O objetivo é equilibrar a balança entre o emocional e o racional”.

Agora tem até torneio de X1. Nosso futebol está virando um circo mesmo!