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Fred

UM JOGO NUNCA É UM JOGO SÓ

por Paulo-Roberto Andel

Sábado passado, cheguei ao Maracanã com meu amigo Marcelo e fomos para a arquibancada hoje chamada de setor Norte, nem sempre aberta.

Quando me sentei na cadeira, olhei para a frente e me deparei com a massa de gente do Fluminense, por todos os lados. Tudo bem, o Maracanã de agora não é o de antigamente, mas o que importa é que, nas circunstâncias atuais, o que sobrou do velho estádio estava lotado.

Às vezes eu espio as arquibancadas e vejo o que já não existe: a velha arquitetura com cadeiras na parte de baixo e a inesquecível geral. Tudo se mistura. Não é loucura, mas a memória que transborda e que parece tão viva fisicamente, por maior que seja a ilusão.

Cadeiras abaixo, o pai brinca com seu pequeno filho que ainda descobrirá o mundo do futebol, das lágrimas e alegrias às vezes simultaneamente. Outro dia mesmo era eu quem brincava com meu pai, mas acreditem: quarenta anos passam rápido demais. Por um instante, sei que ser órfão é um tiro no peito, não importando a idade, mas a maturidade me regenera em instantes.

Eu estou num jogo e venho para ver a despedida de um ídolo do meu clube, para ver o ballet da vida que a minha torcida vai proporcionar, mas ao mesmo tempo reencontrar meu passado. São muitos e muitos anos, são vitórias inesquecíveis com derrotas idem. A perfeição não existe; a vida, sim.

Perto de mim, garotinhos esbugalham seus olhos antes do jogo porque esperam o último ato de Fred, o maior ídolo de todos eles. Eu era um garotinho quando Rivellino foi embora, depois Wendell, depois Edinho e Cláudio Adão, sei o que é aquilo. Minha única vantagem é ser testemunha de que tudo passa, que a máquina do tempo não para e que os ídolos precisam passar para que venham novas sementes a germinar o futebol.

[Afonsinho, um dos maiores jogadores de seu tempo, encerrou a carreira no Fluminense em 1981. Ainda jogava muito. Ganhou várias notas 10 dos jornais em seus três meses de Laranjeiras. Isso já passou de quarenta anos.

No novo Maracanã, a torcida tricolor poucas vezes encheu o estádio. As campanhas não ajudaram, nem a escassez de títulos, mas alguma coisa mudou. O futebol é outro, o povão está alijado do estádio, as pessoas estão empobrecidas e há muito sofrimento.

O sábado foi mais do que agradecer a Fred ou testemunhar o fim de sua carreira. Para pessoas como eu, que já viram e viveram muita coisa, que estão mais próximas do fim do que do começo, a arquibancada repleta de três cores foi o reencontro com minhas raízes, com o que vivi ali por muitos e muitos anos.

Apesar de todas as dificuldades e dos tempos modernos, o futebol ainda faz com que sessenta mil tricolores compareçam ao Maracanã. Dá a certeza de que ainda estamos muito vivos, tal como em tantas e tantas ocasiões que agora parecem tão distantes.

Meu momento culminante foi com a entrada do time em campo. Os tanques de fumaça criaram uma espessa nuvem branca que aos poucos subiu, cobrindo tudo. A gente sabe que não era, mas parecia demais o velho e bom pó de arroz que cativou milhões de tricolores para sempre. Olhei para baixo e vi a multidão alucinada na geral imaginária. Olhei para o lado e vi meu pai balbuciar alguma coisa enquanto apertava minha mão. Na impossibilidade daquela fantasia, o Marcelo presente também ao lado trouxe o conforto que a gente precisa quando se sente só no meio da multidão.

O Fluminense venceu, Fred se despediu, teve celebração e homenagem, a torcida saiu feliz. Os garotinhos de 2022 já procuram pela próxima partida. Ainda tensos com a saída do ídolo, eles esperam pelos novos jogadores que possam arrebatar os corações em três cores. A fumaça dos tanques não é o pó de arroz, mas aquele momento mágico nos fez sentir como se estivéssemos nas nuvens.

Um jogo nunca é um jogo só. São muitos e muitos jogos. Os corações mais atentos sabem que, num Maracanã lotado, o passado e o presente andam de mãos dadas.

@pauloandel

FRED EXPLICA

por Marcos Eduardo Neves

O nome de Fred é Frederico. E, sim, Fred é rico. Nem digo patrimonialmente, mas rico de espírito. Rico de fãs. Rico de felicidade pessoal. E nacional. Sua felicidade é a mesma dos milhares de tricolores que hoje misturaram orgulho e tristeza para ovacioná-lo de pé no Maracanã.

Fred é um dos principais ídolos do futebol brasileiro. Talvez, o maior do Fluminense. Há tempos se discute quem é o grande nome das Laranjeiras. Castilho? Rivellino? Assis e Washington? Ouso dizer que é Fred.

Sua identificação com o clube foi imediata. Paixão e amor à primeira visita. Mal chegou de volta ao Brasil, após passagem pela França, e se deu tanto, doou-se tanto, que eternizou seu nome em um dos maiores clubes do país, o Fluminense.

Um Fluminense que hoje sorri e chora ao mesmo tempo. De alegria, mas não tristeza. Porém, com um oceano de saudades.

Quis o destino que Fred se despedisse tendo o clube um sucessor à altura. Estrangeiro que nem Romerito, astro da conquista do Brasileiro de 1984; argentino tal qual Darío Conca, protagonista do título de 2010; seu sucessor é Germán Cano – por sinal,  quem abriu o placar e deu o passe para o segundo, nos 2×1 contra o Ceará. No entanto, Cano vai ter que colocar muito pó-de-arroz nas chuteiras para fazer a torcida não se lembrar volta e meia de Fred.

Cano está só começando sua trajetória de sucesso. Ao passo que Romerito saiu do clube querendo “mi dinero”– nossa, como foi feio aquilo. Já Conca, coitado, preferiu retornar ao Brasil direto para o rival Flamengo: traição imperdoável. Fred, não. Mesmo tendo saído, sempre teve as portas abertas.

O centroavante que hoje se aposenta passou por duas vezes pelo Tricolor carioca. No começo, fez fama no América Mineiro, tendo marcado 45 gols em 51 jogos, um assombro. Na temporada seguinte, sua estrela luziu no Cruzeiro: 53 tentos em, pasme, 71 partidas.

Mineiro de Teófilo Otoni, Fred nasceu em 3 de outubro, tal qual meu filho, que é tricolor muito por causa dele. Meu filho é de 2000. Fred, de 1983 – ano em que a saga da verdadeira máquina tricolor, aquela que alcançou o tricampeonato carioca e, junto a isso, o Brasileirão, se iniciou.

No Lyon, Fred assinalara 41 gols em 119 jogos. Até que, de volta à pátria amada, em 2009 encontrou seu grande amor – profissional, diga-se. No Rio, ajudou o Flu a de forma heroica escapar do rebaixamento, quando nem o mais otimista dos torcedores acreditava. Diante do próprio Cruzeiro, jogo perdido por 2×0 e queda praticamente consumada, marcou dois e o time virou o jogo, começando uma arrancada das mais notórias da História do futebol. Líder do “time de guerreiros”, uma pena o capitão Fred não ter erguido a Copa Sul-Americana do mesmo ano. Seria um prêmio. Mas a consagração viria no ano seguinte.

Do fundo do poço ao ápice, em 2010 Fred se tornou, enfim, campeão do país. E dois anos depois, novamente levantou o troféu, sendo também o artilheiro da competição. Em 2013, ganhou a Copa das Confederações detonando a poderosa Espanha, campeã da última Copa, em um dia épico do Maracanã. Depois se arrasou no Mundial disputado no Brasil, é verdade. Passou por uma verdadeira provação, uma espécie de calvário. Chegou a ser chamado de “poste”, ao passo que uns achincalhavam, dizendo que ele “não Fred nem cheira”.

Ah, idiotas da objetividade, havia ainda muito aroma no ar. A pecha do 7 a 1, que dizimou o moral de muitos convocados por Felipão em 2014, não atingiu Fred. Hulk só há pouco conseguiu afastar a urucubaca, exorcizando aquele fantasma. O que David Luiz, por exemplo, luta, até agora em vão, para conseguir.

Fred sempre se sobressaiu, jamais se abateu, continuou sendo Fred. Um Fred que já havia disputado uma Copa, em 2006, e mesmo jogando míseros minutos, deixou sua marca. Aliás, marcas não lhe faltam. E marcar – no caso, gols – jamais também lhe faltou. Como vimos em seu penúltimo jogo.

Entre 2009 e 2016 foram 172 gols em 288 jogos pelo Flu. No Galo Mineiro, vazou por 42 vezes os goleiros nas 83 vezes em que vestiu o uniforme alvinegro. Retornou ao Cruzeiro, mas para talvez perceber que Minas apenas lhe gerou, contudo quem fez dele um cidadão foi mesmo o Rio de Janeiro – mais precisamente, o Fluminense. Apesar de fazer 25 gols em 69 partidas pelo time celeste, voltou para as Laranjeiras e deixou mais 27, em 94 partidas. Ou seja, contando com hoje, foram 382 jogos e 199 gols. Média maravilhosa de um jogador acima da média. Um dos maiores nomes do esporte nacional em todos os tempos.

Pela seleção Fred deixou 18 bolas na rede em 39 apresentações. Mas pergunta se ele trocaria a idolatria alcançada junto aos tricolores por um caneco mundial com a amarelinha. Claro que não. Sempre que Fred aparecer no Maraca, no clube ou em qualquer evento ligado aos tricolores, tanto ele como sua família hão de se orgulhar pelo legado que Frederico Chaves Guedes deixou. Um legado que não terminou hoje, apenas começou. Para o todo e sempre. Fred explica.

F-R-E-D. Quatro letras que emocionaram o país neste sábado. Mais do que cidadão carioca, Fred é unanimidade nacional. Ídolo de verdade. Merece livro, filme, documentário, tudo. Só não merece ser esquecido. Nem vai. Pois Fred não é Pelé mas é eterno. Assim como seus gols, seu empenho, dedicação e sua alma, ele já é História. Com H maiúsculo. De um homem com H igual. Alguém que honra o seu trabalho e assume com galhardia sua condição de ídolo.

Parabéns pela linda festa, Fred. E, saiba, você não se despediu do futebol. Na natureza tudo se transforma, então, acredite, como seu sobrenome aponta, você tem as Chaves e as portas abertas para uma nova etapa que está apenas começando. E o melhor: já inicia já no topo. De onde, por sinal, na verdade você jamais saiu.

O PONTO FINAL

por Mauro Ferreira

Foto: André Durão

Fugiu uma lágrima, Fred. Fugiu, artilheiro. Bem que você tentou esconder a emoção, cumprir a promessa e não chorar. Pra quê? Como? Quem emociona, precisa antes se emocionar. Da cara amarrada ao sorriso largo e à lágrima solitária escorrendo pelo rosto, tudo passou pela bola, pela magia e pela poesia do futebol.

E não há poesia no futebol sem o gol. Talvez por isso, de todos os esportes com bola, seja o que menos vezes arranque da torcida um grito de êxtase durante a disputa. E você escreveu muitas poesias ao longo dos anos. Emocional, precisava arrancar emoções. Pra isso, pouco importou a forma. Deitado ou voando, de cabeça ou de bico, o que valia era a poesia do gol. A poesia do grito explosivo de um gol. Bem como aquele tal 199.

Pois é, não poderia ter o gol 200. Precisava haver a sua marca, o seu “9”. Por duas vezes no Fluminense, ambas com o “9” tatuado nas costas. Os Deuses do futebol sabem o que fazem e colaram dois “noves” na sua marca. 199 gols com a camisa do Fluminense é o presente final. Como diria o ex-presidente tricolor Manuel Schwartz, “Deus escreve certo por linhas certas porque Deus jamais vai escrever torto ou errado”.

E, ao contrário do que você pensa, Deus incumbiu, sim, Nelson Rodrigues de escrever o roteiro final de sua carreira. Pediu ao seu fiel escritor tricolor que lhe entregasse sua obra mais poética e emotiva: o gol 199, o gol dos noves, o gol do nove mais nove de todos os times que habitaram as Laranjeiras.

Fred, uma lágrima fugiu. E tantas outras – tantas – fugiram junto. Você, ainda bem, não cumpriu a promessa de não chorar. E só há um motivo:

O Fluminense te pegou.

TRICOLORES CHORARAM COM O ÍDOLO

por Elso Venâncio

A torcida tricolor chorou junto com Fred. Impressionante a reação da galera, não só no Maracanã, mas em todo o país, após o Ídolo entrar em campo, marcar e se emocionar durante a comemoração de seu gol contra o Corinthians.

É fundamental ter um Ídolo! Fred fez a torcida crescer. Apenas na semana passada, 8 mil associados a mais em apenas três dias. Incrível!

João Saldanha falava que clube grande podia até não conquistar títulos, mas a presença de um ídolo era obrigatória. Citava o Corinthians, ao longo do jejum de 23 anos. A torcida, com grandes contratações, se tornava cada vez mais apaixonada e gigantesca.

No mês em que o Fluminense completa 120 anos de fundação, Fred, aos 38 anos, aproveita o embalo para novas emoções. Ele se despede no próximo sábado, contra o Ceará. Amigos que moram fora do Rio me ligam querendo ir ao jogo, mas os ingressos estão esgotados.

Vamos aproveitar a empolgação da galera e relembrar momentos marcantes do tricolor. Qual o melhor time do Fluminense que você viu jogar? Qual é aquele que te traz as melhores recordações?

A Máquina que mais admirei foi a de 1976, já que houve duas, ambas formadas por Francisco Horta, o ‘Presidente Eterno’. Uma, em 1975; outra, no ano seguinte. Falo dessa: Renato, Carlos Alberto Torres, Miguel, Edinho e Rodrigues Neto; Carlos Alberto Pintinho, Paulo Cezar Caju e Rivellino; Gil, Doval e Dirceu.

Mas, que tal essa formação: Paulo Victor, Aldo, Duílio, Ricardo Gomes e Branco; Jandir, Delei e Assis; Romerito, Washington e Tato.

Em relação à Máquina Tricolor dos anos 70, Rivellino e Paulo Cezar Caju eram os principais craques do Brasil. O primeiro saiu quase expulso pela Fiel, após derrota para o Palmeiras na final do Paulista, em 1974. Já o ‘francês’ PC Caju foi repatriado ao Olimpique de Marselha. O artilheiro argentino Doval e o Capitão do Tri, Carlos Alberto Torres, eram duas outras estrelas de ponta naquela constelação.

O paraguaio Julio Cesar Romero foi um dos grandes ídolos do nosso futebol nos anos 80. Raçudo, rápido e habilidoso, Romerito levou o Fluminense ao tricampeonato carioca em 1985, após ter feito o gol do título do bicampeonato brasileiro, contra o Vasco de Roberto Dinamite, um ano antes. Delei, Ricardo Gomes, Branco… quanta gente boa! Além, claro, do infalível ‘Casal 20’: Washington e Assis faziam um ataque e tanto.

E os campeões cariocas de 1969, com Flávio Minuano e o catimbeiro Samarone? Vitória na final sobre o Flamengo, diante de um público superior a 170 mil pagantes. 3 a 2, o resultado. O time era composto por Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denilson e Lulinha; Wilson, Flávio Minuano, Samarone e Lula. Todos treinados pelo mestre Telê Santana.

Em 1970 veio a conquista da Taça de Prata, o Brasileirão da época, com Mickey sendo decisivo: marcou gol nos quatro últimos jogos. Nessa competição, os tricampeões no México estavam em campo. Nomes como Pelé, Rivellino, Tostão, Carlos Alberto Torres, Gerson e Cia…

O time campeão de 1964 também não deve ser esquecido. Ainda contava com o gigante Castilho no gol. Na decisão, 3 a 1 sobre o Bangu. A equipe? Castilho, Carlos Alberto Torres, Valdez, Procópio e Altair; Denilson e Oldair; Jorginho, Amoroso, Joaquinzinho e Gilson Nunes. Elba de Pádua Lima, o Tim, também conhecido como ‘El Peon’, era o comandante.

O Flu conquistou com brilhantismo os Cariocas de 1971, 73, 75, 76 e 80. Depois foi tri, de forma magistral, na década de 80. Até chegarmos ao histórico ano de 1995. Naquela temporada aconteceu o épico Fla-Flu do gol de barriga do Renato Gaúcho. Romário, o maior jogador do mundo, estava do outro lado e saiu cabisbaixo.

No novo milênio o tricolor levantou outros quatro canecos cariocas: em 2002, 2005, 2012 e este ano. Após a conquista da Copa do Brasil, em 2007, veio o vice da Sul-Americana e Libertadores. Em 2009, Fred liderou uma impressionante sequência de vitórias, evitando a queda para a segunda divisão. Surge, então, o time de Guerreiros. Na sequência, dois novos Brasileiros. Em 2010, após 26 anos, e em 2012.

No primeiro, Muricy Ramalho era o técnico e Emerson Sheik fez o gol do título: 1 x 0 sobre o Guarani, no Estádio Nilton Santos. O time entrou com Ricardo Berna, Mariano, Gum, Leandro Euzébio e Carlinhos; Diguinho, Valencia, Júlio César e Conca; Émerson e Fred. O argentino Conca foi, disparado, o melhor jogador do Campeonato. Participou de todos os jogos da campanha, sendo decisivo na maioria. Um espetáculo!

No tetrabrasileiro, em 2012, Fred se consagrou de vez no coração da torcida. Marcou duas vezes na decisão contra o Palmeiras, uma vitória por 3 a 2, em Presidente Prudente. Acabou sendo o artilheiro do Campeonato, com 20 gols. Hoje, é ídolo eterno das Laranjeiras.

Não podemos esquecer aquela equipe: Diego Cavallieri, Bruno, Gum, Leandro Euzébio e Carlinhos; Edinho, Jean, Deco e Thiago Neves; Wellington Nem e Fred. Abel Braga, o técnico campeão, era o mesmo que esteve também à beira do campo no título estadual deste ano. Aliás, nos três últimos Estaduais conquistados.

Mas, e pra você? Qual o melhor time tricolor, o título inesquecível e seu ídolo preferido?

CORRIDA CONTRA O TEMPO

por Fabio Lacerda


Todo artilheiro carrega consigo um peso às costas. Quando está brigando pela artilharia é natural que o clube que ele defende esteja almejando as primeiras colocações dos certames. Dizem que ser goleiro é a pior posição em campo porque uma falha compromete a performance individual, coletiva e coloca em risco o êxito do time. Mas quem escolhe jogar de centroavante abraça a causa coletiva e individual. 

Fred desencantou no Brasileiro depois de cinco rodadas. Artilheiro solitário na vitória sobre o Avaí, no Independência, jogo válido pela quinta rodada. Artilheiro por três vezes do principal campeonato do país, autor do gol mais rápido do mundo quando ainda era juniores do América-MG, este moço faz valer o jargão das Alterosas: mineirinho come quieto para comer mais! 

Único jogador do país que pode ser artilheiro do Campeonato Brasileiro por quatro vezes, Fred também está na cola de Romário na Copa do Brasil. O Baixinho é o maior artilheiro da segunda competição mais importante do país com apenas três gols à frente do goleador de Teófilo Otoni – 36 contra 33. Fred é o maior artilheiro da Copa do Brasil numa única edição com 14 gols marcados pelo Cruzeiro em 2005.


No seleto e restrito grupo de artilheiros por três vezes do Brasileiro, Fred está lado a lado de Dario “Peito de Aço”, o único jogador que parava no ar como helicóptero e beija-flor, Túlio, o artilheiro irreverente que era frio como um iceberg à frente do gol, e Romário que cravou seu nome no lugar mais alto da tabela de artilheiros já veterano (primeira vez que foi o maior feitor de gols em Brasileiro ele tinha 34 anos em 2000). 


A ida de Fred para a França defender o Lyon em 2005 até 2009 afastou o artilheiro de cinco edições do Campeonato Brasileiro. O que isso quer dizer? Muita coisa! O atacante foi viver numa das cidades mais belas da França, cuja gastronomia é uma referência mundial. Mas o camisa 9 à moda antiga poderia ter comido a bola por aqui. Sua ida ao Lyon traçava uma sequencia de títulos nacionais, porém, a chance de ganhar uma Liga das Campeões ou uma Copa da UEFA, agora chamada de Europa League, era inimaginável diante dos gigantes do Velho Continente. E esse hiato de cinco anos no Brasil o coloca diante de um desafio: fazer mais 63 gols nos próximos três ou quatro anos para tornar-se o maior artilheiro e superar Roberto Dinamite com 190 gols, honraria esta que o “camisa com cheiro de gol” sustenta desde 1989. Provavelmente, o atacante do Atlético-MG tenha se deparado com essa informação após quem vos escreve ter entrado em contato com sua assessoria de imprensa para escrever ao MUSEU DA PELADA. Espero ter aguçado esse desejo e desafio no atacante do Leste de Minas, região esta que carrego no meu coração pelo fato de meu pai ter nascido no Vale do Aço e ter chegado ao Rio de Janeiro aos 14 anos. 


Fred chegou a 128 gols na história dos Campeonatos Brasileiros – 13 gols pelo Atlético-MG, 91 pelo Fluminense e 24 pelo Cruzeiro – deixando Serginho Chulapa para trás. Ainda neste Brasileiro, Túlio com 129 gols, e Zico, com 135, serão superados. Se os próximos quatro anos contando com a competição em andamento o Fred tiver uma média de 15,5 gols por edição de Brasileiro, ele tornar-se-á o maior artilheiro da história dos Campeonatos Brasileiros. Aos 33 anos, somente lesões graves podem desvirtuar o artilheiro do caminho. Em 2012 e 2014 pelo Fluminense, Fred balançou as redes 20 e 18 vezes, respectivamente. Ano passado foram 14 gols dividindo a artilharia com Diego Souza (Sport) e William Pottker (Ponte Preta e atualmente no Internacional). 

A verdade é que, se tivesse rechaçado a ida para a França, hoje, Fred já teria superado Roberto Dinamite e estaria aumentando sua diferença para o ex-camisa 10 do Vasco que atingiu a marca de maior artilheiro jogando pela Portuguesa de Desportos sob o comando de Antônio Lopes, em 1989, quando o seu time de coração sagrou-se campeão brasileiro. Ironia do destino não!? 


Nessa crônica, peço com todo o respeito a opinião de Paulo Cezar Lima, nosso embaixador do Museu da Pelada que também jogou na França entre 1974 e 1975. É possível fazer esse prognóstico, Monsieur Caju? Embora tenha feito o primeiro gol no Campeonato Brasileiro, Fred já foi às redes 19 vezes em 25 partidas em 2017. Será que o jogador sedento por gols vai acelerar a partir de agora para reduzir a diferença para Roberto Dinamite e levar o Galo Doido ao tão sonhado título de campeão brasileiro depois de 46 anos? Apostem suas fichas! Nunca duvidemos de um artilheiro nato!