por Claudio Lovato
Nos sonhos dele sempre há um fosso. O fosso tantas vezes visto no estádio em que vai desde pequeno.
Sempre há um fosso nos sonhos do menino. O mesmo fosso.
E depois, passada a noite e chegado o dia, aquela imagem do concreto opressivo, violento em sua intransigência pétrea, continua a acossá-lo pelo resto do dia.
Por que aquela imagem lhe ficara gravada na memória e na alma daquele jeito? Quando aquilo começara?
Ele não sabe.
O certo é que, em sonhos ou quando está desperto, aquele fosso é o que o separa do lugar sonhado, desejado, perseguido. O lugar de sua alegria completa, de sua satisfação mais absoluta – a única coisa capaz de lhe dar forças para lidar com os tumultos e os medos enfrentados diariamente em casa, no bairro, na vida.
Ele já sabe, apesar da pouca idade, que não existe, para si, outra opção a não ser cumprir aquilo que lhe foi determinado por poderes ancestrais que ele ainda não compreende (mas que ele sente): ser jogador de futebol.
O fosso.
Transpor o fosso.
Transformá-lo (e isto ele só entenderá daqui a algum tempo, quando amadurecer mais) num símbolo tangível de sua capacidade de estipular a medida do que é, para si próprio, realmente intransponível e do que não é.
E então não parar mais de vencer.