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Fluminense

O CRAQUE DO BRASIL EM 1984

por Luis Filipe Chateaubriand


Julio Cesar Romero, o Romerito, chegava ao Fluminense em 1984, vindo diretamente de Nova York, onde jogara anteriormente no Cosmos.

O jovem craque paraguaio viria ao tricolor para fazer a diferença.

Técnico, tratava a bola muito bem, de seus pés saíam passes preciosos, chutes arrebatadores, jogadas absolutamente inventivas.

Dotado de garra, estava constantemente disputando bolas divididas, liderava, apontava caminhos para os companheiros dentro do campo.

Com um preparo físico invejável, era onipresente em campo, se deslocava com extrema facilidade, movimentos ágeis, rápidos, inteligentes.

Tal conjunto de virtudes fez o gringo ser premiado ao fazer o gol do título, no primeiro jogo da final contra o Vasco da Gama, em que chutou, o goleiro Roberto Costa espalmou e a, bola, de volta, caiu novamente nos pés de “Don Romero”, dali saindo para o gol.

O cara veio, viu e venceu!

E ficou para sempre na memória do torcedor tricolor carioca!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

PAI E FILHO, CRAQUES NO FLU E NO GALO

por Irineu Tamanini


Um dos melhores pontas-direita da história do Fluminense, o mineiro de Belo Horizonte Wilton Cezar Xavier se estivesse vivo – morreu em 13 de dezembro de 2009, aos 62 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos, em Volta Redonda (RJ) – estaria hoje com 73 anos. Wilton era viuvo de Violeta com quem teve seus filhos ( Andrea, Paulo Marcelo e Mariana ). O quarto filho, Fernando morreu com 10 anos em uma piscina em Salvador quando Wilton atuava pelo Vitória da Bahia. Os três filhos geraram os três netos de Wilton e Violeta.

Poucos sabem mas Wilton – nascido na capital mineira em 13 de outubro de 1947 – deu segmento à carreira do pai – Eurídice Xavier – que foi centro-avante do Atlético Mineiro na época do ídolo e goleiro Cafunga. Xavier, como era conhecido no meio esportivo o seu pai, foi bicampeão pelo “Galo” e marcou muitos gols com a camisa do clube. Wilton acompanhava o pai nos jogos pelo interior de Minas Gerais e depois em São Paulo. Mas, foi em Volta Redonda (R) onde morou com o pai e mãe, dona Adélia Xavier – que ele deu os primeiros passos no futebol. Na época, o futebol de salão praticado nas escolas era o preferido das crianças.

Segundo seu irmão, que também jogou futebol mas como goleiro em clubes da Bahia e dos Estados Unidos, Paulo Xavier, hoje com com 61 anos e morando em Garopaba (SC), Paulo Xavier a origem no futebol de salão para o desenvolvimento técnico do Wilton.

– O meu irmão tinha muita habilidade e o drible curto em cima dos adversários ele aprendeu no futsal.

Os meninos na escola, os amigos de rua em Volta Redonda vibravam com as jogadas do Wilton nas “peladas” ou nas partidas entre os colégios.

Durante o seu tempo de Fluminense – de 1967 a 1975 – Wilton comentava em casa (ele morava na rua Soares Cabral 26 – edifício Norma, nas Laranjeiras – que adorava jogar o Flamengo x Flu, principalmente quando o lateral-esquerdo era o Paulo Henrique. Dizia ele: “o Paulo Henrique era um lateral que marcava na bola, um duelo de craques, pois não dava porrada e era um exímio jogador”.

Quando morava na rua Soares Cabral, quase em frente à sede do Fluminense, Wilton conheceu uma jovem que residia em um prédio ao lado (Soares Cabral 54) de nome Violeta. Quem conta a história é o brilhante jornalista José Augusto Gayoso que durante a infância residiu na mesma rua mas no número 48.

– “Não precisava nem atravessa a rua para entrar na sede do Fluminense”, disse com orgulho o tricolor Gayoso. Pouco depois, os pais de Gayoso se mudaram para a rua Moura Brasil , paralela a Soares Cabral, quase esquina com Alvaro Chaves, rua onde fica a sede do clube. É a rua que termina em frente à entrada do salão nobre e o restaurante do clube.

Gayoso era amigo de infância da Violeta. Ela e o Wilton -disse – formavam um casal muito apaixonado. Eu acompanhava com frequência os treinos do seu marido no gramado de Alvaro Chaves. Quando mudei do Rio de Janeiro para Brasília acabei perdendo o contato.

Wilton fez o seu primeiro jogo profissional com a camisa do Fluminense no dia 6 de julho de 1967. Ao todo, disputou 195 jogos com 107 vitórias, 45 derrotas e 43 empates. Do total de jogos, atuou como titular em 143 e 52 como reserva. Fez 19 gols, todos com o pé e nenhum de cabeça. Foi expulso de campo em três oportunidades.

Disputou 33 campeonatos sendo campeão Carioca em 1969, 1971, 1973 e 1975. E, ainda, campeão da Taça Guanabara em 1969 e torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1970. O seu último jogo vestindo a camisa do Fluminense foi no dia 29 de julho de 1975. O tricolor das Laranjeiras ganhou do Fluminense de Macaé no estádio Expedicionário em amistoso.

Além do Fluminense, Wilton jogou no São Paulo, Santa Cruz, Coritiba, Vitória (BA), Toronto Blizzard (Canadá), Náutico, Leônico (BA) e Galícia (BA), onde encerrou a brilhante carreira profissional. Sua inscrição na CBF/CBD tinha o número 035997.

Após encerrar a carreira, Wilton voltou a residir em Volta Redonda e treinou o Volta Redonda nos seguintes períodos: de 1988 a 1993; de 1994 a 1996; de 1999 a 2000 e por último de 2002 a 2003.

Vítima de falência múltipla dos órgãos, Wilton teve o corpo enterrado na dia 13 de dezembro de 2009 no cemitério de Volta Redonda.

BRIGAS POLÍTICAS E POR AUDIÊNCIA

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Já falei aqui algumas vezes que sou um consumidor voraz de futebol e se passar Segunda Divisão do campeonato indiano irei conferir. Adoro o futebol alegre dos árabes e africanos, por exemplo. Mas antes que surja alguém falando que nunca venceram nada vou logo avisando que faço parte do time dos que privilegiam o futebol-arte, independentemente de resultado. Mas falo sobre isso porque ontem assisti a liga inglesa, espanhola, italiana, holandesa, mas quando fui conferir o Fla x Flu não encontrei. Só pagando.

Peraí, me explica, os torcedores que estão impossibilitados de irem aos estádios por conta da pandemia nem pela tevê podem assistir??? Nessa briga danosa entre as emissoras pela transmissão dos jogos o torcedor acaba pagando o pato. O Brasil está cansativo demais. É briga por audiência, é briga política. Em todo o mundo os campeonatos não foram suspensos e assisti um jogo de golfe, nos Estados Unidos, já com torcedores. A previsão é que em maio os americanos voltem à rotina, vacinados. No Brasil, São Paulo suspende, os outros estados não acompanham, a CBF garante que seguindo os protocolos não há necessidade da paralisação e a mídia não aponta o melhor caminho, pelo contrário.

Está claro, há algum tempo, que essa pandemia virou uma briga política. Da mesma forma que um clássico tradicionalíssimo, como o Fla x Flu, não passa em canto nenhum e as emissoras só pensam em faturar, os políticos também não pensam em benefício próprio. Se debater futebol já está complicado, imagine acrescentar política, aí vira barril de pólvora. Só sei que não vou pagar para ver jogo ruim e com esses comentaristas falando orelha da bola e centralizado pelo meio, cansei.

Mas os torcedores são incansáveis, irônicos, provocativos e, assim que o Cristiano Ronaldo marcou três vezes e ultrapassou Pelé em gols oficiais, comecei a receber essas enquetes, tipo “PC, só tem uma vaga no seu time, Cristiano Ronaldo, Messi ou Romário?”. Me divirto com isso. São épocas diferentes e só por isso já fica complicado opinar, mas já adianto que jogaria com os três, apesar de Romário ser o melhor definidor do trio. Messi é aquele atacante enjoado que todo marcador sabe o que ele irá fazer, mas não consegue freá-lo. E Cristiano Ronaldo é um atleta, um profissional que treina como um louco e consegue ser um ídolo mundial, um fenômeno, mesmo sem ter suingue e saber driblar. Tem o meu respeito.

Na contramão disso, posso citar o exemplo do Gabigol, que foi flagrado em um cassino clandestino. Ouvi a versão dele e a do delegado, sendo a segunda mais convincente. No mais, sigo torcendo para Guardiola, tenho visto um Mourinho mais ofensivo e fiquei feliz com a ida de Jorge Sampaoli para o meu querido Olympique de Marseille. E no campeonato paulista vou torcer para o Bragantino, o único que gosto de ver jogar. “Mas, PC, nunca ganhou nada…”. Continuem torcendo por seus robôs velocistas e me deixem em paz!

A TARDE DOS VENCEDORES

por Zé Roberto Padilha


Tem tardes, raras na vida da gente que é treinador de futebol, em que vamos para casa feliz toda vida independente do resultado. Como no Fla x Flu de ontem, no Maracanã.

Um, Roger, porque venceu a partida, outro, Mauricio Souza, porque venceu no futebol.

Há muito não assistia, durante os 90 minutos, uma aplicação tática, cheia de entrega e qualidade técnica para trocar passes e penetrar pelos flancos, como a do Flamengo. Talvez tenha faltado o Nunes, Gaúcho, Romário, Fio, Silva, Obina, Vinicius e Claudio Adão para confirmar a superioridade.

Há tempos, desde que era jogador do Fluminense, já sabia que a nossa camisa detém uma cumplicidade com títulos e vitórias que transcende a imaginação.

Quantas vezes levei uma faixa para casa que não era destinada a nossa casa. Jogamos menos, mas jogávamos no Fluminense. E ganhamos 71, 73, 75…

Tita, meu amigo e comentarista da partida, quanto maior era a posse de bola do Flamengo, recebeu um Zap meu que dizia: Fluminense 1×0.

Ele devolveu: “Caramba. Vai ser uma surpresa!”.

Sobrenatural de Almeida, o personagem de Nelson Rodrigues, adora surpresas. Incorporou em Lula, 1971, Manfrine, 1973, Assis duas vezes nos anos 80, Renato Gaúcho, em 1995, e ontem levou Igor Julião a acertar um lindo chute de fora da área.

Sabemos que no esporte, como na vida, só sobrevivem os vencedores. Ontem, foi uma exceção. Um Fla x Flu, na sua mais pura concepção, em que os dois venceram.

Mais do que eles, o futebol.

Parabéns aos dois treinadores.

ESCURINHO, O QUE BRILHAVA COMO UMA SARAH BERNHARDT EM PRIMEIRA AUDIÇÃO

Nelson Rodrigues estava certo, Escurinho foi um grande ponta-esquerda e tornou-se merecidamente ídolo histórico do Fluminense. Após deixar os gramados. o craque passou a dirigir um táxi. Escurinho morreu ontem, no Rio de Janeiro, aos 90 anos.

por André Felipe de Lima


Não foi somente o torcedor do Fluminense a perder seu ídolo ontem [12]. Escurinho era querido também por torcedores do Villa Nova, de Minas Gerais, pelo qual foi, inclusive, campeão mineiro pouco antes de migrar para as Laranjeiras. Benedito Custódio Ferreira [seu nome de batismo] nasceu no dia 3 de julho de 1930, em Nova Lima, interior de Minas Gerais. Começou no Olaria, de sua cidade natal. Depois, foi para o juvenil de Morro Velho e mais tarde transferiu-se para Itabira, atuando no elenco do Valeriodoce, ficando na cidade por cinco anos.

Em 1951, Escurinho foi levado por Americo de Souza para o Villa Nova, time que dirigia e que foi campeão mineiro no mesmo ano, permanecendo no clube até 1953. Foi convocado por Martin Francisco para defender a seleção de Minas Gerais. Seu primeiro contrato no Villa Nova foi de 500 cruzeiros mensais, passando depois para 1.200. Recebeu 10.000 cruzeiros de prêmio pela conquista do título de campeão mineiro, além de um emprego de motorista de caminhão e 2.000 mensais.

No Villa Nova. Escurinho jogava com o meia Gato, jogador vindo do Triângulo Mineiro. Ambos eram considerados “almas gêmeas”. Com os dois tocando a bola, era gol na certa. Escurinho ganhou o apelido de “Homem-gol” e Gato o de “garçom”.

Defendendo o Villa Nova, Escurinho conquistou a torcida. Logo aquele rapazola extremamente simpático começou a se destacar pela velocidade e habilidade, despertando o interesse do Tricolor carioca.

Em 1951, disputavam a “melhor de três” pelo título mineiro o Atlético e o Villa Nova. Os olheiros do Rio de Janeiro voltaram-se para Minas, principalmente para o quadro do Villa Nova, com craques que já demonstravam futuro. Ondino Vieira, então técnico do Bangu, viajou para ver, especialmente, Escurinho. Ao final da partida, Vieira confessou não ter visto nada de mais no atacante, que só chutava com o pé esquerdo. Levou para “Moça Bonita” o arqueiro Arizona e o centromédio Lito. Em 1956, Escurinho já fazia parte da seleção brasileira.

Escurinho vinha se destacando tanto que Zezé Moreira mandou chamá-lo para treinamento nos meses que antecederam a Copa do Mundo de 1954, na Suíça. Apesar de seu bom desempenho, Escurinho foi dispensado por condições físicas desfavoráveis. O extrema-esquerda acabou chamando a atenção do Fluminense, que o contratou por um valor inicial de 12 mil cruzeiros, mais os prêmios e “bichos” pelas vitórias. Chegou às Laranjeiras em 1954. Gato, a “alma gêmea” de Escurinho também ganhou um lugar ao sol e seguiu para o Botafogo.


Quando saiu do Villa Nova para o clube das Laranjeiras, Escurinho recebeu como prêmio pelos serviços prestados ao clube mineiro além de profissional correto e exemplo de disciplina, 100 mil cruzeiros.

Não demorou para que Escurinho se transformasse em ídolo tricolor. Nelson Rodrigues, ilustre torcedor do Flu, definiu o atacante em uma de suas antológicas crônicas: “Escurinho não foi um jogador de duas ou três jogadas. Absolutamente. De fio a pavio das batalhas, ele brilhava como uma Sarah Bernhardt em primeira audição […] os mesmos que xingavam Escurinho já começam a chamá-lo de “o maior”. Eu próprio já me incluo entre os seus entusiastas mais recentes e mais apopléticos.”

Escurinho envergou a camisa verde, branca e grená durante 10 anos. Atuou ao lado de ícones da história do clube, como Castilho, Pinheiro e Telê Santana e ajudou o clube a conquistar os campeonatos cariocas de 1959 e 1964, além de dois torneios Rio-São Paulo, em 1957 e 1960. Escurinho disputou 490 partidas e marcou 111 gols. Está entre os cinco jogadores que mais vestiram a camisa do Fluminense.

O ponta-esquerda esteve em campo em um dos maiores Fla-Flus de todos os tempos. Era a final do campeonato carioca de 1963 e — como diria Nelson Rodrigues — o “profeta tricolor” já cantava a vitória do Fluminense. No dia do jogo, 178 mil pessoas… isso mesmo, o maior público já registrado em uma partida entre clubes em todo o mundo, se acotovelavam nas arquibancadas do estádio para ver um encontro épico entre os dois eternos rivais. No fim do jogo, Escurinho teve a oportunidade de marcar o gol do título para o Flu. Errou a conclusão e o goleiro rubro-negro fez a defesa que garantiu o 0 a 0 e o título foi para a Gávea. No dia seguinte, a emblemática crônica de Nelson Rodrigues: “Amigos, eu sei que os fatos não confirmaram a profecia. Ao que o profeta só pode responder: — Pior para os fatos! E só.”

Escurinho também defendeu o Atlético Júnior Barranquilla, da Colômbia, a Portuguesa da Ilha do Governador — com a qual bateu o poderoso Real Madrid dentro do estádio Santiago Bernabéu, em 1969 — e o Bonsucesso, em 1970, onde encerrara a carreira.

O ex-ponteiro, diziam, fazia muito sucesso também com as mulheres, inclusive, a ponto de a imprensa vasculhar cada passo do jogador, como o noivado com Dalita, que se dizia encantada com Escurinho. A reportagem abordava, no entanto, de forma preconceituosa o que teria levado a jovem a enamorar-se de Escurinho. O título evidencia isso: “Quem ama o preto, branco lhe parece”. Mas o craque estava cima de qualquer deslize editorial. Nelson Rodrigues incumbiu-se de colocá-lo em um patamar bem mais elevado no altar dos ídolos tricolores. Mas de nada adiantou tanta badalação se apenas histórias o craque guardou daqueles tempos.

Escurinho não enriqueceu com o futebol. Logo após deixar a bola, em 1970, passou a dirigir um táxi na cidade do Rio de Janeiro. Esteve como quando começou a trabalhar ainda garoto, ou seja, na época em que dividia o futebol do Villa Nova, Escurinho dirigia caminhões. Poucos conheciam essa história, a do Escurinho caminhoneiro antes de chegar ao Fluminense.

Mito ou verdade, não se sabe, mas há uma história cômica contada por Gerson Soares — filho da intérprete e ex-companheira de Garrincha — da qual os personagens são Sabará, ex-ponta-direita do Vasco, Garrincha e Escurinho. Logo após a Copa de 1958, na Suécia, todos da comissão técnica e jogadores brasileiros ganharam um Renault Dauphine, um carro, notoriamente reconhecido, minúsculo. Mal cabem nele duas pessoas. Quiçá, quatro.


O roupeiro e massagista Assis, na lista dos felizardos. Mas o camarada não sabia dirigir o carango. Vendeu-o a Sabará, que por sua vez também desconhecia o ofício do volante. Como a amizade entre craques adversários estava acima dos embates campais, Sabará pediu a Escurinho que assumisse o volante. O roteiro diário era este: Escurinho deixava Sabará em São Januário; Quarentinha e Garrincha em General Severiano e Clóvis, nas Laranjeiras. Mas antes do despejo de craques em seus clubes, fazia o caminho inverso. Uma hora ou outra, o dono do carro teria que aprender a dirigir. E Escurinho, toda vez que passava por uma rua deserta na Ilha do Governador, ensinava Sabará os macetes do volante. O ponta vascaíno ouvia, às gargalhadas, as chacotas dos amigos. Garrincha, então, se esbaldava. O Mané era quem mais insistia que estava na hora de Sabará dirigir logo aquele carro. Passou um mês, lá foi Sabará, com a coragem que exibia nos gramados, fazer o mesmo no seu Renault. Quarentinha e Clóvis, aflitos. Garrincha, como sempre, sorrindo. Na Avenida Brasil, só barbeiragem. Quarentinha e Clóvis — espremidos no banco traseiro — pediam a Escurinho que os salvassem do “piloto” Sabará.

Ao chegarem a São Cristóvão, o inverossímil, vá lá, “acontece”. Escurinho pediu ao Sabará que entrasse na segunda rua à direita. Entrou na primeira. Uma carreta estava atravessada na pista. Sabará acelerou ao invés de frear. Já pensou, no mesmo carro, mortos, aquela leva de craques? Deus nos livre. E só poderia ter sido Ele mesmo para livrá-los do desatinado Sabará. O carro — de tão pequeno, mais parecia um brinquedo — passou por debaixo da carreta. Apenas, milagrosamente, um arranhão no teto do automóvel. Um guarda viu a cena. Ligou a sirene da moto, seguiu-os e emparelhou com o carro de Sabará, que estava sem habilitação e acelerou ainda mais. Imagine o desespero dos “caronas”? Garrincha, aliás, o único que se divertia com a situação, pediu a Quarentinha para pôr a cabeça para fora do carro, somente assim, o guarda o reconheceria. Obviamente, o “Quarenta” mandou Mané para aquele lugar…

Sabará, enfim, parou o carro. O guarda, com a arma em punho, disparou: “Amigo, você é um ás do volante…”. Mas o guarda austero, não deu cancha para os craques e intimou todos a descerem do carro. Logo, reconheceu todos. Pediu que Escurinho assumisse o volante e fez questão de dar uma carona, na garupa da moto, a Garrincha até o treino do Botafogo. Uma época de lendas saudáveis sobre os nossos craques que não volta mais.