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Fluminense

DIA DE CLÁSSICOS

Dois clássicos prometem agitar a 13ª rodada do Campeonato Brasileiro. Enquanto Fluminense e Botafogo se enfrentam no Maracanã, em confronto direto para se aproximar da zona de classificação para a Libertadores, o Palmeiras recebe o líder Corinthians. Por conta disso, a equipe do Museu da Pelada recorda hoje dois clássicos sob as lentes do saudoso Canal 100!

PARABÉNS AO ÍDOLO

por André Felipe de Lima


(Foto: Reprodução)

Ivã seria um grande jogador. Isso por volta de 1953. Estrearia no time de cima do Botafogo, como quarto-zagueiro. No dia do tão esperado jogo, recebeu a trágica notícia da morte do pai. O baque foi intenso e Ivã desistiu de entrar em campo. Perdera, portanto, a vaga para Pampolini, companheiro no time de aspirantes. Enquanto Pampolini tocou a carreira e ficou famoso, Ivã recolheu-se e decidiu arrumar um emprego fora do futebol para ajudar a família. O amor pela bola jamais foi deixado de lado. Transmitiu-o ao filho Roberto, que sempre foi carinhosamente chamado pelo diminutivo. Era Robertinho e assim permaneceria.

Com 10 anos de idade, Ivã carregou o filho para o Fluminense. “Fui eu quem o ensinou a não pipocar”. Robertinho compreendeu o recado do pai e tornou-se um dos mais badalados ídolos do Fluminense na virada da década de 1970 para a de 80. Um ponta-direita empolgante. Partia para cima do marcador e, na corrida, raramente era alcançado. Bola na linha de fundo e lá ia Robertinho, um azougue.


(Foto: Reprodução)

A fama de exímio ponteiro convenceu os principais treinadores do país. Um deles foi Mário Travaglini, que, em janeiro de 1979, comandava a seleção brasileira de juniores, que se preparava para a disputa do sul-americano da categoria, na Colômbia. O titular do ataque do escrete juvenil seria Careca, do poderoso Guarani campeão brasileiro no ano anterior. Mas o atacante bugrino se machucou antes da competição e a vaga ficou com Robertinho. Foi naquela competição (e isso é sempre bom lembrar!) que o mundo conheceu um baixinho fenomenal chamado Diego Armando Maradona.

A seleção de juniores fracassou na competição, mas a carreira de Robertinho decolara. Foi ídolo das torcidas do Fluminense e do Sport. Um legítimo campeão.

Roberto Oliveira Gonçalves do Carmo, que (poucos sabem) é um exímio baterista desde criança, faz anos nesta quinta-feira, 22. Parabéns ao grande ponta-direita, um dos últimos craques a brilharem na extinta posição de ponta. Bons tempos em que a alegria reinava nos gramados e quando, definitivamente, podíamos definir o futebol como uma arte.

#Ídolos #DicionáriodosCraques #Robertinho #FluminenseFC #SportClubRecife

CACÁ, UM ÍDOLO BOTAFOGUENSE, PARTIU

por André Felipe de Lima


(Foto: Reprodução)

Carlos de Castro Borges, o lateral-direito Cacá, esteve próximo de realizar um sonho para qualquer jogador de futebol: defender a seleção brasileira em uma Copa do Mundo. Em abril de 1958, o técnico Vicente Feola preparava a lista que de craques que iriam à Suécia para defender o escrete. Cacá era nome certo, mas, na última hora, Feola desistiu de levá-lo e convocou De Sordi e Djalma Santos. Até hoje o motivo para corte de Cacá não ficou muito claro. João Havelange, que à época era o mandachuva da seleção, mostrou-se surpreso com a saída de Cacá e acreditava, num primeiro momento, que o jogador é quem pedira para sair: “Todo atleta deve se sentir honrado em vestir a camisa da entidade que representa a sua pátria. Eu, quando fui convocado para as seleções de natação e water-polo, sempre me senti orgulhoso de ver o meu nome dentre os convocados. É estranho que um jogador de futebol procure fugir a um chamado para o qual ele, mais do que nunca, devia estar disposto a dar o máximo de sua capacidade física, técnica e mental.”

A pinimba de Havelange com Cacá pode ter origem no fato de o craque ter sido o precursor da luta pelo “passe livre” no futebol brasileiro. Bem antes do grande Afonsinho, com a sua luta pelo passe livre no começo dos anos de 1970, Cacá já peitava a cartolagem para ter os seus direitos preservados. Exigia sempre cláusulas que lhe garantissem o passe livre após o término dos contratos. Isso aconteceu com o América, seu primeiro clube, e de forma traumática. Cacá incomodou [e muito!] os cartolas de sua época ao se recusar a voltar ao América, em setembro de 1955, mesmo com o clube exigindo juridicamente seu passe e ignorando a cláusula contratual que facultava ao atleta o passe livre.

De 1950 a 1954, Cacá permaneceu como amador do América, que defendia desde os juvenis, no final dos anos de 1940. Tentara ingressar nas divisões de base do Botafogo, clube que ficava próximo de sua casa e da praia, onde também jogava bola. Mas o Botafogo não o quis. “Eu sempre fui torcedor do Botafogo e, por isso, frequentava o Clube com o meu pai, antes mesmo de começar a minha carreira de jogador. Como eu conhecia o Octávio Morais, ex-jogador, eu tinha contato com alguns jogadores do Botafogo da época, entre eles o Nilton Santos”. No América, pelo menos, conseguia conciliar os jogos do time amador e com os da praia, dos quais não abria mão de jeito algum.

Em 1952, Cacá vivenciou uma fase muito boa no América sendo, inclusive, convocado para compor a seleção brasileira que se preparava para disputar os Jogos Olímpicos, em Helsinque. Mas, surpreendentemente, Cacá pediu dispensa da seleção. Não teve culpa alguma no imbróglio. Se houve culpada, foi a diretoria do América que o requisitou, agora como profissional, para um jogo — o primeiro jogo oficial da carreira de Cacá — contra a toda poderosa seleção do Uruguai, bicampeão mundial, em Montevidéu. 

Cacá era vítima das manobras dos dirigentes, que fazem o que bem entendem com os jogadores. Ali, o jogador começou a ficar mais atento com os cartolas. Afinal, ele era um exemplo de jogador e, mais: um jovem craque, com um potencial para ser ídolo da torcida. Mal iniciara sua carreira profissional no América do Rio, em outubro 1954, quando assinou seu primeiro contrato, Cacá foi agraciado com o prêmio Belfort Duarte pela sua desportividade em campo.

Mesmo sendo exemplo dentro e fora dos gramados, Cacá não foi respeitado pela diretoria do América. Em setembro de 1955, após uma renhida negociação com os cartolas para que liberassem o seu passe para o Fluminense, que sinalizara querer contratá-lo, Cacá vencera, enfim, uma guerra jurídica contra o América. Não foi fácil. A diretoria do América recorreu de todas as formas para mantê-lo no clube. O Ministério do Trabalho chegou a intimar a antiga Confederação Brasileira de Desportos [CBD] e a antiga Federação Metropolitana de Futebol [FMF], em vão, para que decidissem sobre o caso “Cacá”, mas ninguém quis interferir para não melindrar a cartolagem. Cacá estava prestes a perder a causa de forma injusta e lastimável.

Naquele período conturbado de sua vida profissional, Cacá, que era o capitão do time, cursava o segundo ano da faculdade de engenharia na antiga Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica, na qual se formaria em dezembro de 1958. Teve de, provisoriamente, trancar a matrícula para tentar resolver a situação com o América. “Eu não podia mais permanecer no clube. Depois de combinar um encontro com os diretores para reformar o contrato, e eles faltarem sem uma palavra de justificativa, vi que estava sobrando e que o melhor seria procurar outro ambiente. Na verdade, o América nunca mostrou interesse por mim. Do contrário teria concordado em procurar-me […] Não estou lutando por dinheiro, mas por convicção”, disse ao jornal O Globo, no auge da tensão com os cartolas, que tentaram de todas as formas prejudicar a imagem de Cacá para forçá-lo a permanecer no clube.

Cacá tinha direito ao passe livre por acordo e cláusula assinada logo expirasse o contrato. Além do passe livre, outro fator garantia a ele defender outro clube em 1955: Cacá, até outubro, não havia disputado uma única partida pelo América por conta de uma cirurgia de apêndice. Mas ele estava decidido e, desiludido, não mais desejava defender o América: “Juro por minha fé de ofício, pelo prêmio de disciplina que me foi conferido — o prêmio ‘Belfort Duarte’ — que jamais tive intenção de fugir aos meus compromissos legais, como algumas pessoas do América pretendem insinuar, alegando até, o que é inteiramente absurdo, que forcei a operação do apêndice só para ganhar tempo e não jogar mais este ano, de maneira que ficasse livre para me transferir… É falso. Vou contar o que houve. Tenho um músculo distendido desde o dia 9 de julho. Machuquei-me em S.Paulo, ao enfrentar o Corinthians pelo Torneio Charles MIler. Nesse ínterim, fui operado. A 5 de agosto, deixei a Casa de Saúde e retornei aos treinos. Somente depois que o médico declarou que eu não estava restabelecido da distensão e que precisava continuar o tratamento, foi que comecei a faltar aos exercícios. Mas ainda não estou bom. Tanto que continuo tomando aplicações no Fluminense. Por causa da operação, permaneci apenas vinte dias inativo. No entanto, os que me acusam em Juízo, falam em dois meses de ‘ausência premeditada’.”

A indignação de Cacá com o América por pouco não o fez abandonar a carreira de jogador. O craque ameaçou pendurar as chuteiras caso os órgãos esportivos competentes ou mesmo a Justiça do Trabalho proferissem decisão favorável ao América.


(Foto: Reprodução)

No fim de outubro, a pendenga foi resolvida e Cacá estava livre para defender o novo clube, que tinha no comando o treinador Gradim. Foi o técnico, aliás, quem sugeriu aos diretores do Fluminense que o contratassem após descobrir, durante um almoço informal, que Cacá estava com o passe livre. Gradim procurou Augusto Borges, pai de Cacá, e disse estar interessado em levá-lo para as Laranjeiras. O pai de Cacá conversou com o filho e expôs a situação. Cacá, já bastante indignado com a desgastante relação com o América, aceitou desde que as cláusulas que lhe garantissem ser dono do próprio passe e o de poder estudar mesmo em dias de jogos, se assim fosse exigido pela Universidade. Os diretores do Fluminense aceitaram as condições impostas por Cacá talvez para evitar briga futura com um jogador bem informado e convicto dos seus direitos profissionais. Começava a mudar, ali, com Cacá, a relação dos clubes com seus atletas.

No Fluminense, Cacá jogou como zagueiro, substituindo Píndaro, que formava a zaga com o goleiro Castilho e o zagueiro Pinheiro, este último um dos grandes amigos que Cacá teve após abandonar o futebol. Foram 123 jogos e o título de campeão do Torneio Rio-São Paulo, em 1957, com o Fluminense. Um período em que conquistou muito prestígio. Mas o melhor estava por vir, no Botafogo, onde aportou em março de 1958, no auge e convocado para a seleção brasileira que se preparava para a Copa do Mundo. Foi, infelizmente, cortado, mas a trajetória que construiria no Alvinegro, que um dia o rejeitou, seria a mais auspiciosa de sua carreira.

Em General Severiano, Cacá brilhou ao lado do centromédio Pampolini, goleiro Manga, do lateral-esquerdo e grande amigo Nilton Santos, do lateral Rildo, do magistral Garrincha, do mestre Didi, do artilheiro Quarentinha, do “formiguinha” Zagalo, do “possesso” Amarildo e do “trombador” Paulo Valentim. Dois destes craques foram grandes amigos de Cacá: Pampolini e Nilton Santos, este último, uma amizade que começou em 1955, quando ambos defendiam um selecionado carioca. Ademir de Menezes, ídolo vascaíno, também foi amigo de Cacá, que era o titular absoluto da lateral direita do Botafogo até 1961, quando uma insistente contusão na coxa o tirou do time na campanha do título carioca daquele ano. Abriu-se, portanto, a vaga para o jovem Rildo, mas Cacá, enfim, conquistara seu primeiro campeonato. Em 1957, perdera a final para o mesmo Botafogo, quando defendia o Fluminense, após a acachapante goleada de 6 a 2.

Em 1964, Cacá foi contratado pela Portuguesa de Desportos em um período de êxodo de cariocas para o Canindé. Muitos craques seguiram para lá, como o lateral Jair Marinho [ex-Fluminense], o grande amigo de Cacá, o meia Pampolini, o centroavante Henrique Frade [ex-Flamengo] e o extraordinário Dida [ex-Flamengo]. Dois anos depois, Cacá decidiu pendurar as chuteiras.

Carioca, de Botafogo, bairro da zona sul, Cacá nasceu no dia 31 de agosto de 1932. Sua fama de líder dentro e fora dos campos sempre foi notada e devidamente reconhecida pelas torcidas do Fluminense e do Botafogo. Muitas décadas após deixar os gramados, tornou-se amigo inseparável de Nilton Santos. Quando este foi internado em 2007, Cacá o visitava todos os sábados, o que se sucedeu até o dia da morte de Nilton Santos, em 27 de novembro de 2013.


Cacá não fez fortuna com o futebol, mas não teve do que se queixar com o que o esporte lhe proporcionou. Tornou-se um bem sucedido engenheiro civil e manteve uma vida tranquila. Foi um dos poucos craques de sua época que não insistiram com o futebol, mas como treinador: “O futebol foi o trampolim que eu soube explorar para ter sucesso na vida”. E a sua primeira obra como engenheiro foi a construção da casa do amigo Didi, na Ilha do Governador, em 1959, um ano após se formar. Da engenharia da bola para a dos prédios, Cacá foi um craque que deu certo.

Na quarta-feira, dia 7 de junho de 2017, vítima de câncer, Cacá partiu, e deixou tristes os botafoguenses e, sobretudo, nós, que amamos o futebol de verdade.

#Ídolos #DicionáriodosCraques #BotafogoFR

DÊ-LHE O BANCO E LHES DIREI QUEM É

por Zé Roberto Padilha


por Zé Roberto Padilha

As câmeras do Globo Esporte, durante o jogo do Vasco contra o Bahia, se revezaram entre o gramado e o banco de reservas de São Januário. Pela primeira desde que chegou como solução no segundo semestre do Campeonato Brasileiro de 2015, Nenê ficava entre os reservas. E poucos cumpriram seu papel como ele: mesmo com o péssimo primeiro turno, fez do segundo uma emocionante escalada de recuperação que durou até a última rodada. Ano seguinte, trouxe o seu time de volta a primeira divisão e ainda ajudou o clube a ser bi-campeão carioca. E jogando todas as partidas.

Mas na medida em que encarava com naturalidade sua estada no banco, torcendo e comentando normalmente os lances com seus companheiros, vibrando com o gol da sua equipe, a reportagem, que virou seu foco para lá atrás de revolta e inconformismo, foi deixando de lado suas tomadas. Foram atrás de audiência, não de anuência.


Nenê no banco de reservas

Aí vem o clássico com o Fluminense, dentro de São Januário, e novamente Nenê é escalado para o banco de reservas. Durante a semana, Rodrigo, dispensado e contratado pela Ponte Preta, joga o veneno no ar de Campinas:

– O próximo a ser dispensado será o Nenê!

Mas o Nenê não é o Rodrigo, joga pela arte, não pela violência. E a arte é um produto da paz, do amor, já a violência é o desaguar da revolta, da insatisfação, do futebol ruim que andam praticando. Sem lhe dar o troco, os repórteres nem se aproximaram dele para dar entrevistas, aí o meio da bola, que é cruel, joga no ar pelas resenhas: “Deve estar acomodado. Nem reclamou do treinador!”.

Mas se o futebol não é justo, os deuses que o amparam são. No ultimo sábado, entrou quando o time estava perdendo por 2×1, ajudou a organizar o meio-campo para alcançar o empate e se colocou no lugar certo para definir, com um chute forte e cruzado, a vitória. Nenê foi, mais uma vez, o herói vascaíno. E quanto tempo o Vasco não sabe o poder e o carisma de um deles.


Se já nutria admiração pelo seu futebol, depois da partida contra o Fluminense passo a admirá-lo como homem. Na política há uma máxima: “Dê-lhe o poder e saberemos o homem que é!”. No futebol, a partir de sábado, a máxima passa a ser: “Dê-lhe o banco. E conhecerás de perto a grandeza de um jogador!”. Mesmo chateado como tricolor, um apaixonado pelo futebol como eu não poderia deixar de reconhecer: Parabéns, Nenê! Agora, com o seu exemplo, sua humildade, muitos jogadores passarão a encarar o banco de reservas como ele foi concebido, um trunfo, uma banco de dados, não uma reunião de cacos. Uma estratégia para o treinador e não uma tragédia na vida de cada um jogador.

COMO UM TORCEDOR DE JANELA DE APARTAMENTO FOI PARAR NAS PÁGINAS DO JORNAL DO BRASIL

por Cesar Oliveira

Para Guy Câmara e Nelson Lima, tricolores de coração.


Estádio das Laranjeiras

Neeeeeeeeeeeense!… Neeeeeeeeeeeense!…

O grito apaixonado ecoava pelos ares da Rua Álvaro Chaves, no bairro das Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro, bem em frente à sede do aristocrático Fluminense Football Club, a ponto de chamar a atenção das pessoas que estavam nas lotadas arquibancadas do estádio, e olhavam para cima.

Afinal, era um Fluminense x Grêmio, pela primeira fase do Campeonato Brasileiro de 1991. E a torcida lotava o velho estadinho naquele dia 3 de março para ver o Fluminense derrotar os gaúchos pelo placar de 2×0, com dois gols do Super Ézio e belos passes do baiano Bobô.

Sentado na tribuna de imprensa do Estádio Manoel Schwarz, o veterano repórter do Jornal do Brasil, Oldemário Touguinhó (1935-2003), um dos mais importantes e respeitados de sua época, não entendia de onde vinham aqueles desbragados berros de torcedor. Por que as pessoas estavam olhando para cima?


Super Ézio comandou o Fluminense naquele jogo

Mas por que o Fluminense jogava nas Laranjeiras, depois de tanto tempo? É que o falecido Maracanã estava interditado para uma daquelas “obras” que, agora, a gente sabe para que serviam… Mas isso é papo para uma futura coluna (mas apenas se o Museu da Pelada me garantir um advogado pra me defender dos processos…).

 

 

A HISTÓRIA DO CAMPO DO FLUMINENSE

O campo fora inaugurado oficialmente em 1904, na então Rua Guanabara, com o campo no sentido longitudinal à rua que hoje se chama Pinheiro Machado. Foi mandada construir uma pequena arquibancada de madeira e, então, cobrados os primeiros ingressos de uma partida de futebol.


Em 1905, Eduardo Guinle – de tradicional família da elite financeira e social carioca desde a primeira década do século XX, fundadora da Docas de Santos e dona do Copacabana Palace Hotel – construiu, por sua conta, a primeira arquibancada de concreto em campos de futebol do Rio de Janeiro.

O estádio foi ampliado para o Sul-Americano daquele ano, vencido pelo Brasil, com o histórico gol de Arthur Friedenreich (1892-1969) que motivou a criação do chorinho “1×0”, de “Pixinguinha” (Alfredo da Rocha Viana Filho – 1897-1973) e do macaense Benedito Lacerda (1903-1958). No jogo da reinauguração, pelo Sul-Americano de 1919, o Brasil venceu o Chile por 6×0, sendo de Fried o primeiro gol do novo estádio.

A configuração do campo mudou em 1961, quando todo um anel, em uma faixa de terreno situada na Pinheiro Machado, foi demolido para a construção do sistema de tráfego do Túnel Santa Bárbara e duplicação da Rua Pinheiro Machado.

Isso aconteceu, depois de dois anos de entendimentos, iniciados com a Prefeitura do antigo Distrito Federal, e foram concluídos com o Governo do então Estado da Guanabara. O Fluminense teve então parte de seu terreno desapropriado, recebendo quase Cr$50 milhões e mais as áreas remanescentes dos terrenos da esquina das ruas Álvaro Chaves e Pinheiro Machado, no valor de Cr$31 milhões.

A IMPORTÂNCIA DAS LARANJEIRAS

Antes da existência de São Januário, o campo do CR Vasco da Gama (inaugurado em abril de 1927) e do Maracanã (construído para a Copa de 1950), o Estádio do Fluminense era o campo de futebol do Rio de Janeiro.

Nele, foram decididos 14 títulos de Campeonatos Cariocas, e dois títulos da Copa América, entre outros títulos importantes. Lá foram realizados também os Jogos Olímpicos Latino-Americanos em 1922. Foi o primeiro estádio do Brasil especialmente construído para grandes espetáculos.

No primeiro jogo ali, o Fluminense goleou o Paysandu Cricket por 7 a 1, no dia 3 de maio de 1906. Desse jogo, registra-se o primeiro gol contra de um Campeonato Carioca, marcado por W. Murray (do Paysandu), contra as suas próprias redes.

O Jornal do Brasil registrou:

“Inaugurou-se hontem como o grande meeting, a estação de football. A concurrência de circunstantes foi numerosa, podendo-se calcular em 1.000 pessoas. As amplas e elegantes archibancadas encheram-se au grand complet, e em todos notava-se muito interesse pelo match. O Fluminense fez-se representar por um team de respeito. Foi elle o vencedor do primeiro match, por sete golos a um”.

Hoje, o estádio do Fluminense abriga alguns treinamentos do time profissional, e comporta apenas oito mil pessoas. Em 1919, comportava 18 mil pessoas; em 1922, 25 mil. O recorde de público — 25.718 pessoas — é do Fla-Flu do primeiro turno do Carioca de 1925, com vitória do Fluminense por 3 a 1.

MAS… E O TORCEDOR QUE INCOMODAVA OLDEMÁRIO TOUGUINHÓ?


Tio Guy e Tia Sonia com a neta Melina, filha de Cláudia Naíra, em 1987

Eu lhes conto agora, senhoras e senhores: era meu tio Guy Câmara (1931-2002), desbragado torcedor do Fluminense, carioca do bairro da Saúde, casado com tia Sonia, irmã de minha mãe.

Tio Guy era um tremendo sacana, gostava de goró e crianças, e – quando eu era criança – se juntava aos meus outros tios, já marmanjos e até casados, na casa da vovó Hilda e vovô Nelson (outro tricolor…) para soltar pipa e cruzar à vera.

Meus avós maternos moravam numa vila que costeia uma colina na Rua Caminho do Mateus, no bairro da Abolição, subúrbio do Rio de Janeiro, o que lhes permitia ter uma visão da “baixada” lá embaixo (onde havia um campo de pelada, que lotava nos finais de semana) e passar o rodo nas pipas dos incautos, debicando de repente, com velocidade.

Impressionava que eles passavam cerol em um carretel “dos grandes” de linha 10 – já com a pipa no ar, em trabalho colaborativo – e, só depois, emendavam outro carretel. Era quase um quilômetro de linha, e iam cruzar em lugares que a nós, crianças, era impossível ver, tamanha a distância.

UM ACIDENTE DE CARRO MUDA NOSSAS VIDAS

Em 1964, Tio Guy dirigia um Gordini que foi fechado numa curva perigosa da Avenida Edson Passos, no Alto da Boa Vista, na Zona Norte do Rio de Janeiro, sofrendo grave acidente que vitimou fatalmente três membros de nossa família: meu tio Nelson Lima Jr. (fanático rubro-negro, casado com Marily, irmã de Guy) e minhas primas Márcia Maria (8 anos, filha dele) e Kátia Regina (4 anos, filha de Nelson e Marily). Depois disso, ele nunca mais foi o mesmo. Sempre teve, contudo, o desejo de “ficar perto” do seu Tricolor.

Então, um dia, com a aposentadoria pelo Banco do Brasil, onde fora funcionário por décadas, realizou o acalentado desejo: comprou um apartamento na Rua Álvaro Chaves, 44, bem em frente à portaria do Clube. Antes, morava num apê na mesma rua, mas de fundos. Ele não descansou enquanto não arrumou um bem de frente pro lendário gramado.

Por conta das dificuldades de locomoção, uma das sequelas o acidente, Tio Guy ficava na janela do apartamento 902, vendo treinos e jogos do seu tricolor. Sempre com uma bandeirinha tricolor, e sempre se manifestando – aos berros! – lá de cima.

E foi isso que chamou a atenção do Oldemário que, seguindo o faro que o fez lendário na profissão, fotografou o “maluco tricolor” daqui de baixo e foi atrás da história: tocou o interfone, se identificou e subiu para conhecer a história daquele fanático torcedor.

Vibrando com a vitória do Tricolor, Tio Guy e, com ele, num programa familiar de domingo, meu primo Márcio Marcio, engenheiro, que morava no Largo do Machado, mas fazia questão de ir até a casa do “velho” para, com ele, assistir os jogos.  

Hoje, meu Tio Guy vibra com o Fluminense ao lado do meu avô Nelson Lima, do Nelson Rodrigues, do Sobrenatural de Almeida e do Benício. E Mário Márcio, casado com Laura Regina e pai de Michel, preserva as lembranças tricolores do pai, que “contaminaram” a banda tricolor da família.

VEJA OS GOLS DA VITÓRIA TRICOLOR EM 1991 SOBRE O GRÊMIO

UM LIVRO DIFERENTE SOBRE O ESTÁDIO

Existe um ótimo livro online sobre o estádio, chamado “Estádio das Laranjeiras – Monumento Nacional”, que é “um projeto cultural de acesso livre e sem fins lucrativos” de Eduardo Coelho. O conteúdo e o design editorial são de autoria de Nelson Moreira e Luiza Silva.

Veja em https://pt.slideshare.net/luizasilva/estadio-laranjeiras-monumento-nacional

ALDEIA GLOBAL DO FUTEBOL

Buscava informações sobre esse encontro do Tio Guy com o Oldemário, e falei com minha prima Claudia Naíra, filha dele.

Ao mesmo tempo, pedi que o meu amigo Alexandre Mesquita, pesquisador vascaíno e fuçador de papeladas futebolísticas, também me ajudasse. Acabamos descobrindo que um tio do Alexandre – de nome Camillo – foi um dos maiores amigos do Tio Guy, era igualmente tricolor e foi várias vezes à “Arena Guy Câmara” ver o Fluminense de cima… Mundo pequeno!…

E quem me proporcionou recuperar no acervo do velho e bom Jornal do Brasil, a matéria e as informações para este texto, foi o professor e pesquisador tricolor Sergio Trigo, 44 anos, servidor público federal, autor de importantes livros sobre o seu Fluminense: “A verdadeira máquina tricolor” (iVentura, 2011) e “Bíblia do Fluminense” (Prime Books, 2014).

Por incrível que pareça, Sergio é amigo do meu primo Márcio Marcio…

Mundo pequeno é pouco!

AUXÍLIO LUXUOSO

“História dos Campeonatos Cariocas de Futebol –1906/2010”, de Roberto Assaf e Clovis Martins (Maquinaria, 2010)

“O livro das datas do futebol”, de Rodolfo M. Rodrigues (Panda Books, 2004)

Árvore Genealógica da “Família Lima Oliveira”, hospedada no site My Heritage