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Fluminense

DA GRATIDÃO, GUSTAVO, NINGUÉM SCARPA

por Zé Roberto Padilha


Uma pena, Gustavo Scarpa, você ter trilhado o nosso mesmo caminho, porém, ter sido levado por mãos e conceitos tão desprovidos de reconhecimento. E de gratidão. Eu, Gilson Gênio, Mário Marques, Zezé, Paulinho, Wallace, Joaquinzinho e Escurinho, só para falar dos canhotinhos revelados como você pela base, crescemos aprendendo a cultuar a instituição Fluminense FC.

Antigamente, pelas mãos de Roberto e Paulo Alvarenga, Pindaro, Pinheiro e Sebastião Araújo, entre tantos, ela formava atletas e cidadãos. Poderíamos até defender outras camisas, como o fizemos posteriormente, mas jamais deixamos de levar com a gente o respeito e a admiração pelo tricolor das Laranjeiras.


Quando soube que fui trocado pelo Doval, sem consulta naquele troca-troca do Presidente Horta, declarei ao Jornal do Brasil que não queria ir para o Flamengo. Não era verdade, me expressei mal. Eu não sabia era como deixar o Fluminense após o tanto que ele fez por mim. E agora, depois que vários profissionais do clube transformaram uma promessa como a sua em realidade, o colocaram na vitrine, na seleção brasileira sub-20, em 2015, e na principal ano passado, por causa de quatro míseros meses de salários atrasados você vira às costas para quatro anos de ajuda de custos, luvas, prêmios, salários em dia que lhes possibilitaram crescer.

E, sem se despedir da gente, como uma mercadoria que ganha um novo rótulo, sem conteúdo ou coração, desembarca no Parque Antárctica como se as cores tricolores, que o formaram, fossem uma mancha. Não um certificado ISO de qualidade e tradição. Como torcedor, fiquei desapontado. Nem apareceu por lá para se despedir da Young Flu, agradecer as massagens do Gerônimo, os sucos que tomou no Bar do Fidélis após cada treinamento.


Mas não se iluda. Independente dos novos rumos que tomastes, um dia a ficha vai cair, o tempo, senhor da razão, vai lhe mostrar cenas de um retrovisor com uma bela história. E você irá retornar às Laranjeiras para agradecer. Dar um abraço no Abel, um aceno para a gente nas arquibancadas ou na TV.  Porque da gratidão, Gustavo, ninguém Scarpa

QUERO MEUS FONES!

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


“Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudade, Rio teu mar, praias sem fim, Rio você foi feito pra mim, Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara, este samba é só porque Rio eu gosto de você….”.

Sempre que o Botafogo voltava ao Rio, após suas longas excursões pela Europa, os comandantes dos voos costumavam colocar “Samba do Avião” quando estávamos próximos ao pouso. Muitos jogadores choravam. Saudade de casa, da família, das namoradas, da praia e do Maracanã, nosso palco principal.

Hoje, moro em Florianópolis e sempre que retorno ao Rio essa canção embala meus pensamentos. Vocês entendem por que é tão difícil não comparar futuro e passado? Manga, Gerson, Jairzinho, Roberto Miranda, Carlos Roberto….hoje, não sei escalar o Botafogo.

Passei alguns dias aqui na Cidade Maravilhosa e preparo minha volta para Santa Catarina. A cidade está sem brilho, reclamação geral das administrações de governo e prefeitura. No táxi, o programa esportivo exalta Tite, nosso novo herói.


Olho para o lado e vejo os campos do Aterro, agora com grama sintética, vazios. Vários mendigos dormem no parque. “Essa cidade está abandonada”, reclama o taxista.

Estou indo almoçar com Francisco Horta, o homem que me convenceu a trocar a França pelo Fluminense. Aceitei muito por causa do calor e da magia dessa cidade. Na estreia, 1 x 0 contra o poderoso Bayern, no Maracanã. Só o Horta conseguia essas proezas.O Rio é outro, o futebol é outro. “Aceita, PC!!!!”, grito comigo mesmo em meus atormentados pensamentos. 

Encontro Horta e nos abraçamos longamente. Na sala, alguém lembra que os estaduais começam em alguns dias. Nos entreolhamos e mudamos o rumo da prosa. O Horta revolucionou o Campeonato Carioca! Qual jogador não queria disputar o nosso estadual? Hoje eles fazem o sinal da cruz, só querem saber de seus fones de ouvido. Investiram pesado para o Pelé ser o garoto-propaganda do Carioca, prometem mudar as regras.


Chega a ser constrangedor.Preços caríssimos para assistir quem? Qual é o craque do Carioca? Luiz Fabiano novamente machucado? GuM? Diego? Pimpão? O Flamengo promete jogar com os reservas. Será que a torcida vai notar a diferença?

Federação, presidentes, conselheiros deveriam se mobilizar para montar bons times. Ah, estão com dificuldades em encontrar craques? Basta assistir a Copinha e confirmarão que as bases estão estraçalhadas.

Virem-se, vocês estragaram, vocês consertem!!!!  Fim do almoço, entro no táxi e peço “aeroporto”. O motorista me reconhece e logo pergunta: “E aí, PC, e o nosso Fogão?”. Ah, como eu queria ter esses fones de ouvido.     

FELIZ ANO VELHO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


O tempo passa, o tempo voa e o futebol carioca continua numa boa!!!! Se os torcedores de Botafogo, Fluminense, Vasco e Flamengo acordaram otimistas no primeiro dia de janeiro bastaram poucas horas para confirmarem que vem mais um ano complicado pela frente.

O Botafogo perdeu Jair Ventura, sua maior estrela, para o Santos, o Flamengo perdeu Rueda, seu elegante líder internacional, para a seleção chilena, o Fluminense deve perder seu principal astro, Gustavo Scarpa, e ainda dispensou Torres, o filho do Capita, para trazer os executivos Marcus Vinicius Freire, ex-COB, e Paulo Autuori. Autuori não é mais técnico, agora é executivo!

Agora todos querem ser supervisores, diretores, gerentes, coordenadores, chefões, algum cargo que seja mais pomposo do que o de técnico. Qual é o resultado disso? A parte administrativa está ficando tão catastrófica quanto dentro de campo. Os clubes dispensam jogadores com a desculpa de reduzir a folha salarial, mas contratam dirigentes ganhando os tubos.


Claro que causa incômodo entre os atletas. Fora isso, muitas contratações são feitas sem o aval do treinador, o que causa mais irritação ainda. Os professores estão em baixa. Abram o olho ou serão reduzidos a pó pelos gerentes de futebol. O Vasco segue com a briga na justiça para saber se Eurico sai ou fica. O noticiário prefere esse tema.

“PC, mas não sobra nada no futebol carioca?”, costumam me perguntar nas ruas. Devolvo a pergunta “Sobra?”.

Qual foi a melhor notícia de 2018 para os cariocas? Falando sobre a qualidade de jogadores me lembro da dupla de zaga do Vasco, Anderson e Breno. Acho boa! No Flamengo, não aguento mais esses Traucos e Mancuellos da vida.


O Scarpa é muito bom de bola, mas deve sair do Rio. Ah, uma boa notícia! O Phillippe Coutinho trocou o Liverpool pelo Barcelona e o Vasco deve ganhar um bom troco pela transação.

Esse, sim, é craque, esse, sim, dá gosto de ver, esse, sim, joga futebol!!! Suárez deve estar comemorando! E o estilo de jogo do Coutinho tem tudo a ver com o Barça, uma cidade linda, ensolarada e com um povo acolhedor.

Me desculpem, mas enquanto ainda houver poetas em campo estarei sintonizado neles! E só neles!

OBRIGADO, ÍDOLO!

por Ricardo Dias


Não gostava de futebol quando era criança. Assisti mais ou menos à Copa de 70, onde foi inaugurada a repetição da jogada. Aparecia uma mensagem na tela: Repet-Replay, e ocorria o milagre tecnológico.

Meu pai me levou ao Maracanã, sentei na arquibancada e prestei o máximo de atenção possível ao vendedor de cachorro quente. Tanto que perdi um gol do Fluminense. Meu pai reclamou, e respondi, com a graça e a leveza de quem entendeu tudo:

– Não faz mal, eu vejo o réptirreplêi.

Mas, em 74, a Copa do Mundo me pegou, e fui à rua jogar pelada. Éramos seleções, times de 3, e a mim coube ser o Cruyff; Caolha era o Neskens e não lembro quem era o kickoff, uma mistura de um termo antigo com os gêmeos Willy e René van der Kerkhof. Éramos a Holanda, pois num acordo tácito, ninguém seria o Brasil.

Um primo de São Paulo estava aqui, e queria ser goleiro. Alemanha, Mayer, pronunciado Méier. Portanto, a Alemanha da Tijuca daqueles tempos virou Méier, Cascadura e Irajá. Bola Dente de Leite, perfeita para esse nobre esporte, pesada e macia.

No ano seguinte, voltei minhas antenas para o meu Fluminense. Francisco Horta revolucionava o futebol brasileiro e montava o time mais repleto de estrelas que jamais vi jogar, começando por Rivellino. Paulo César Caju, na ponta dos pés, era um bailarino, a maior elegância no campo; Mario Sergio, a bola colada nos pés, genial. Cafuringa, o maior driblador que vi jogar (e a pior mira, sejamos justos). Um time inesquecível. E aí sim, passei a frequentar o Maracanã com gosto e atenção (embora ainda gostasse do cachorro quente da Geneal vendido lá).


Isso tudo para dizer que ali tive minha primeira lição de tática. Meu pai, que não liga a mínima para essas coisas (se limita a xingar a defesa, qualquer que seja ela), um dia observou:

– É um timaço, mas quem carrega o time nas costas é o Zé Roberto.

Ali comecei a prestar atenção e concordei com ele: aquele cara suava pelo time todo. Talvez fosse um dos poucos da época que teria vaga direto num time de hoje, tamanha sua disposição e velocidade (claro que todos eles, craques, jogariam, mas teriam que correr mais. Ele, não! Já corria o suficiente). Não tivesse arrebentado o joelho poderia ter sido o polivalente que Coutinho procurava em 78.

Mas voltando ao Zé, ele conquistou a maior honra que um atleta poderia almejar naquela época: jogou no meu time de botão. Pois recebi hoje seu livro, “Memórias de um Ponta Esquerda” (que atrapalhou TODO o meu trabalho, mal recebi e já estou na metade!), e ainda estou no espanto de ver as voltas que o mundo dá.


Aquele garoto gordinho tarado por cachorro quente de 75 está lendo um livro escrito por aquele cara que primeiro o fez pensar que futebol era conjunto, não se resolvia na base do eu sozinho. E que escreve tão bem quanto jogava. Obrigado, Zé!

PS: A capa é que podia ser melhorzinha; a contracapa é muito melhor.

PS2: Na foto, Zé Roberto original e o botão homônimo.

CASTILHO, O MAIOR ÍDOLO TRICOLOR, FARIA 90 ANOS

por Suellen Napoleão


São interessantes os desejos que temos ao longo da vida. Ademir de Menezes pedia insistentemente ao seu técnico do clube do colégio, em Recife, que o colocasse no gol. Queria agarrar de qualquer jeito, talvez para forçar o aumento na estatura a que tanto desejava. Carlos José Castilho, goleiro carioca de qualidade performática e técnica exímia, atuava como ponta-esquerda no Rivoli, em Olaria, e o destino de defender as redes de seu clube veio com uma vontade arrebatadora de, um dia, tornar-se um grande “goalkeeper”.

O pai de Ademir, seu Menezes, foi quem levou Castilho, em 1949, ao Fluminense. Era o “Leiteria” prestes a fazer história.

Família Marques de Menezes e família Castilho. Uma união que originou dois dos maiores e inesquecíveis ídolos do futebol brasileiro e, sobretudo, do Maracanã.

Castilho passou no teste de resistência emocional ao defender, num amistoso, a baliza do Rivoli, que foi alcançada nada mais nada menos que meia dúzia de vezes. Para uma estreia, nada mais frustrante. Mas há pessoas, com qualidades dignas dos deuses, que não desanimam diante dos embates e transformam os percalços em oportunidades de vitórias.


O carioca nascido no dia 27 de novembro de 1927 seguiu para os juvenis do Olaria, em 1945, embolsando um ordenado de 400 cruzeiros entre 1 de setembro de 1946 e 30 de setembro de 1947. Não tardou a proposta de negociação com o Fluminense e os cartolas tricolores pagaram 2 mil cruzeiros ao clube da Rua Bariri para contar com o jogador que valeria por um time inteiro.

Estreou no time de aspirantes das Laranjeiras contra o Fluminense, de Pouso Alegre (MG). Ainda em 1947, assumiu a titularidade no lugar de Robertinho.

Em sua primeira Copa do Mundo, em 1950, no gramado do Maracanã, Castilho foi reserva do goleiro vascaíno Barbosa. No Mundial de 1954, na Suíça, foi titular, mas em 1958, na Suécia, e em 1962, no Chile, foi reserva de Gilmar dos Santos.

Ao goleiro tricolor foram atribuídos apelidos alusivos à boa sorte (“Leiteria”, “Leiteiro”) e para os torcedores que vibravam com suas defesas ele era o ” São Castilho”. Colega de concentração da seleção brasileira na Suécia, em 1958, Garrincha desvirtuou a série de apelidos sortudos e, bem-humorado, apelidou Castilho de “Boris Karloff”, ator famoso que protagonizou inúmeros filmes de terror em Hollywood.


Castilho foi o primeiro a estudar como os cobradores batiam pênaltis. A sorte dele, aliada à capacidade técnica e ao aperfeiçoamento profissional constante, rendeu-lhe, como titular, a conquista do Pan-Americano de Santiago, contra o Uruguai, em 1952. Sofreu 28 gols em 29 partidas pela seleção.

A sina de contundir pela quinta vez o dedo mindinho da mão esquerda, em 1957, não abalou o goleiro. Ao saber que o tratamento o deixaria dois meses “de molho”, Castilho não pensou duas vezes. Optou pela alternativa que o permitiria voltar aos gramados em apenas duas semanas: a amputação do dedo. “Estudaram o caso e resolveram que um enxerto ou correção do eixo seriam medidas aconselháveis. O fato concreto é que, no meu entendimento, meu dedo continuaria imóvel, e isso me roubava a autoconfiança”, disparou o “Leiteria”.

Contrariando o médico das Laranjeiras que o operou e que o chamou de louco pela decisão, Newton Paes Barreto, e a própria esposa, Castilho comprovou que a sorte andava mesmo ao seu lado. A operação deu certo e, depois disso, conquistou o Bicampeonato Mundial.


As inúmeras contusões no dedo, no nariz, no maxilar e no joelho nunca fizeram de Castilho um derrotado. Isso sem falar no daltonismo que o fazia enxergar as bolas sempre com a cor vermelha. Para o próprio Castilho, o daltonismo seria decisivo (sic) para que fosse tão bom embaixo das traves, embora o problema se acentuasse em jogos noturnos.

Treinava incansavelmente e deu a maior prova de amor que um jogador pode dar a seu clube. Dedicou-se ao Fluminense de corpo, alma e sangue, e no dia 20 de outubro de 2006, ano em que o jogador completaria 60 anos de sua estreia, recebeu da diretoria tricolor um presente digno de sua grandeza de espírito. Um busto de Castilho foi erguido na sede do Clube, com uma placa que diz o seguinte: “Suar a camisa, derramar lágrimas e dar o sangue pelo Fluminense, muitos já fizeram. Sacrificar um pedaço do próprio corpo por amor ao Tricolor, somente um: Castilho.”

Arrebatou os campeonatos cariocas de 1951, 59 e 64 e o torneio Rio-São Paulo de 1957 e 60. Em 1952, conquistou a Taça Rio, organizada no Rio de Janeiro, mas sem o reconhecimento oficial da Fifa. Castilho defendeu ainda o Paysandu, em 1965, quando consagrou-se campeão estadual.

Seguiu em sua trajetória no futebol, treinando o próprio Paysandu, onde conquistou o campeonato paraense em 1967 e 69. Comandou também o Operário do Mato Grosso do Sul e à frente do Santos foi campeão paulista, em 1984. O mesmo Santos que um dia o quis goleiro na Vila Belmiro. Mas não teve conversa. O cartola tricolor Dilson Guedes encerrou: “Castilho é absolutamente inegociável”.

O hércules dos campos não mostrou-se tão forte diante de uma depressão que o levou ao suicídio, quando pulou da cobertura do prédio de sua esposa, em Bonsucesso, no Rio, em 2 de fevereiro de 1987. Nessa época, Castilho comandava a seleção da Arábia Saudita.

Uma frase do filósofo Friedrich Nietzsche define a vida de Castilho, que superou a amputação de uma parte do corpo em prol de seu trabalho digno e fiel: “O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte”.

***

Esta linda narrativa sobre Castilho, que faria 90 anos nesta segunda-feira (27), foi escrita pela jornalista e atriz Suellen Napoleão, minha companheira de jornada e meu grande amor. Tricolor desde tempos imemoriais, Suellen tem Castilho como seu grande ídolo e se dispôs a ajudar-me em um antigo projeto editorial, que não foi publicado, mas que está pronto desde 2010, quando o Estádio do Maracanã completou 60 anos. A obra contaria a vida dos maiores monstros sagrados que pisaram no gramado do “maior estádio do mundo” desde a Copa do Mundo de 1950 e citaria os jogos em que os craques brilharam mais intensamente.

Suellen Napoleão é autora do livro “O JORNALISTA GILBERTO FREYRE: A FUSÃO ENTRE A LITERATURA E A IMPRENSA”, Editora Luminária Academia, de 2015.