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Fluminense

A GOMALINA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Dá para medir bem a qualidade do Carioca quando os dois favoritos jogando pelo empate conseguem perder para os azarões Botafogo e Vasco. O Carpegiani, por quem tenho muito carinho, derrapou feio ao escalar Aarão e Jonas no meio e Everton, o melhor do time, na lateral. O Botafogo entrou com um time bem armado e Luiz Fernando, o homem do gol, pode vir a ser um bom jogador. Fez um gol que causou um estrago tremendo no milionário time do Mengão, que ao invés de demitir apenas Rodrigo Caetano, o gerente de futebol que vem contratando errado há anos, mandou junto o técnico e o Jayme, sempre o Jayme!

O Flamengo gastou milhões para trazer um goleiro com fama de pegador de pênaltis, um centroavante com fama de batedor de pênaltis, e um meio-campo que não se despenteia nunca e só bate faltas e escanteios. Pelo menos, a gomalina é boa, Kkkkkk!!!! É muito pouco e a torcida não atura. Que a administração continue saneando as dívidas do clube, mas contratar errado é uma aula de jogar dinheiro fora.

No Vasco, o Zé Ricardo mesmo precisando da vitória entrou com um time defensivo. Paulinho entrou e resolveu. Ou seja, quem é bom de bola tem que sair jogando.


Sobre a decisão não arrisco palpite porque esse título pode iludir muita gente. O Brasileiro vem aí e os clubes cariocas com esses elencos vão penar. Ainda mais se os torcedores continuarem longe dos estádios. Essa é a resposta deles por anos de descaso, times de quinta categoria, ingressos caros e regulamentos esdrúxulos. Se o produto for bom, a casa enche.

Dirigentes, esqueçam, o torcedor está ligado, cansou de maquiagem e pirataria. Os tempos mudaram e o produto pode até vir com tatuagem, brinco e brilhantina, mas que traga junto o futebol. 

LENDAS DE UM VESTIÁRIO

por Zé Roberto Padilha


Delei foi um daqueles raros gênios a habitar nosso meio de campo que não precisava correr com a bola. Tinha como marca registrada uma cavadinha que a levava com precisão, como naquela configuração gráfica do Messenger, dos seus pés até o espaço em que o Aldo de um lado, e o Branco do outro, ocupariam nas costas dos laterais para colocar a bola à feição das cabeçadas do Washington. E do Assis. Mas após o tricampeonato de 1985, dizem pelos vestiários, que ficam impregnados de histórias e estórias, nosso craque deu uma relaxada. E a noite, implacável, superou o treinamento do dia e aí as pernas não aguentavam mais enviar precisos Messenger para ninguém.

E o supervisor do Fluminense, Roberto Alvarenga, sempre muito correto e profissional, passou a cobrar dele uma dedicação maior. Primeiro com o atleta, depois com o grupo e mais tarde junto à imprensa. E Delei acabou barrado e saiu do time contrariado. E prometeu vingança. Passou a se cuidar e ele, hoje, Deputado Federal, quando aliava condição física ao seu natural talento, não tinha para nenhum Leomir, Renê, ou quem mais rondasse aquela faixa intermediária de campo disputando uma vaga. Em duas semanas, recuperou a camisa 5 e, contra o Botafogo, foi o melhor em campo. Antes, armara na concentração uma pegadinha, tudo combinado com seus colegas de trabalho..


Após a partida, atrasou um pouco seu banho e circulou de toalha pelo vestiário, com seu Motoradio em punho, a amealhar afagos e elogios em meio a festa pela vitória. De soslaio, mantinha o Roberto sob controle, e calculando seu inevitável assédio se posicionou no centro do vestiário. E quando o Roberto lhe alcançou e lhe abraçou, soltou um grito: “Socorro! Me acudam, fui esfaqueado!”. E simulou um gesto a tentar retirar um suposto punhal encravado às suas costas. E se jogou ao chão. Os jogadores, já sabendo da trama, correram a ajudá-lo com toalhas e até o massagista foi em sua direção com sua maleta de primeiros socorros.

Diz a lenda, implacável grudada aos azulejos, sem direito à defesa dos que precocemente nos deixaram cheios de saudades, estejam no céu ou em seu gabinete em Brasília, que Roberto Alvarenga deixou o Maracanã todo sem graça. E nunca mais se meteu com “esta raça” que um dia fiz parte. Que tanta vezes levantava um brinde à mais, chegava em casa um pouco mais tarde, e ao treino da manhã também, como a prever, ao estender seus momentos de glória, a quantidade de dias que passariam esquecidos. A tal facada, do ostracismo, da falta de reconhecimento dos clubes e dos torcedores quando paramos de jogar, esta vai continuar doendo pro resto da vida.
 

CORDAS VOCAIS, PERNAS MORTAIS

por Zé Roberto Padilha


Há três décadas, Zico era a principal atração do Maracanã. E Phil Collins, a grande atração do Rock in Rio. No último fim de semana, o Fla-Flu foi jogado no Pantanal para 15 mil pessoas, sem o Zico, e Phill Collins ocupou o Maracanã, cantou ao vivo para 40 mil pessoas. Melhor para a música, pior para o futebol.

Quem foi ao maior estádio do mundo pode ouvir, outra vez, a melhor música do mundo. Um dos gigantes do pop mundial relembrou suas canções do Genesis, acompanhados do naipe de sopros à lá Earth, Wind & Fire, enfileirou hits e levantou o público com sua inesquecível “Easy Lover”. Prova que o tempo, se passou, poupou aquelas cordas vocais para que jamais nos deixassem esquecer do talento de Phil Collins.


Já quem foi ao Pantanal sentiu a falta de quem compôs, com a camisa rubro negra, as melhores jogadas do mundo. Clássico das tabelas com Adílio, ultrapassagens com Leandro, sinfonias que acabavam nas redes em parceria com o Nunes. E com o Cláudio Adão. Fora os solos precisos cobrando, como, ninguém uma falta. O som da bola se alinhando nas redes do Santa Cruz, ao contrapé do seu goleiro, ainda ecoam nos ouvidos dos amantes do futebol-arte.

Mas o tempo, a violência do futebol e o Márcio, do Bangu, machucaram suas pernas mortais, provocaram artroses em suas articulações, e de lá, do Pantanal de Cuiabá, torcedores, goleados e humilhados, só sentiram saudades. O que mais sentiriam, senão pena, do que entoam vestindo suas vestes Rômulo, Ronaldo e Marlos Moreno?

Daí você me lembra, e o Jogo das Estrelas? Já fui a um, é um programa parecido com praia em dias de mormaço. Você sai de casa contando com um resquício do sol, e quando ele aparece em uma caneta, um lançamento, ah! você volta imaginando o bronzeado que teria caso seus ídolos tivessem forças para afastar aquelas nuvens dali.


Os músicos pelo mundo tentam, sem sucesso, a inspiração de Phil Collins. E os limitados reservas do Flamengo tentam, sem inspirações, alcançar a genialidade do Zico. Claro, podemos pegar um DVD destes dois gênios e rever suas obras de arte a qualquer tempo. Mas ao vivo, há uma troca de energia, uma cumplicidade, que nem jogadores, músicos, fãs e torcedores sabem explicar. E por tal, a boa musica continuou a reinar neste final de semana, a soar por sobre a histórica grama, coberta e complacente do maior estádio do mundo. E a bola, coitada, ficou a tropeçar por pântanos distantes, conduzidas por notas dissonantes, por atores confusos, que o futebol brasileiro, e a nação rubro-negra, não merecem mais ouvir e assistir.

MARINHO CHAGAS, MENINO GRANDE

por Rubens Lemos


Marinho nasceu para o futebol quando cheguei ao berçário, em 1970. Formou, com o Rei provincial Alberi, o duo de extraclasses cintilantes no ABC a quebrar um jejum de três anos para iniciar a jornada do inesquecível tetracampeonato. O ABC de Marinho com Caiçara de técnico: Erivan; Preta, Edson Capitão, Josemar e Marinho Chagas; William e Correia; Zezé, Alberi, Petinha e Burunga. Era o time de 1970, o time da redenção.

Marinho, o meteoro radioso, iluminou a Frasqueira (torcida do ABC) com seu jogo liberto e ofensivo, moderno e revolucionário em tempos de chumbo. Marinho nasceu para ser cometa da bola e no ano seguinte, no Náutico, tornou-se o melhor de sua posição para sempre em Pernambuco.

Nascia a nova e definitiva versão de Nilton Santos, o lateral jogando para o ataque, subvertendo as ordens táticas, reescrevendo a história no campo, que transformou em floresta para as suas elegantes passadas de gazela.


Do Náutico ao Botafogo em 1972. Primeiro ano, primeira Bola de Prata da Revista Placar, menino de sorriso remanescente das peladas de terra batida, ao lado de craques consagrados como Figueroa, Piazza, Ademir da Guia, Paulo Cézar Caju e Alberi, o seu igual em grandeza e exclusividade dos vesperais potiguares.

Marinho foi para a Copa do Mundo em 1974 e brilhou tal holandês de carrossel vestindo a camisa da retrancada e fracassada seleção do quarto lugar na Alemanha. O mundo o considerou o melhor, em sua posição. Júnior, do Flamengo, declarou e declara que gostava de imitá-lo.

O esporte em Natal é dividido em antes e depois de Marinho. Sempre afirmei com ele vivo, confirmo agora e não discuto mais. Do Botafogo, a estrela loira do ex-Maracanã, a “bruxa” alegre, tornou-se obsessão do cartola tricolor Francisco Horta, da famosa Máquina do Fluminense que deu ao alvinegro três craques de seleção só para ficar com Marinho: Rodrigues Neto, Gil e Paulo Cézar Caju.


Quando Pelé seguiu para o Cosmos de Nova Iorque, para ensinar futebol a ianque apaixonado por basquete e beisebol, 150 entre 100 boleiros sonhavam vestir a camisa branca do clube mais rico do planeta. Depois de Pelé, por lá desfilaram Cruyff, Beckenbauer, Chinaglia e Marinho.

Entre 1981 e 1982, Marinho conquistou sua terceira Bola de Prata e o Campeonato Paulista pelo São Paulo de Oscar, Dario Pereyra, Everton, Renato, Mário Sérgio, Serginho e Zé Sergio.

Já estava na fase do prazer. Suas incursões pelo meio-campo rendiam passes precisos, arrancadas em direção ao gol e patadas que sacudiam o Morumbi inteiro. A biografia de Marinho é universal. Ele, adorado pelo mundo afora.

Nos últimos dias de vida, em julho de 2014, estava mais criança e feliz, pelas proximidades da Copa do Mundo em sua terra. Se dizia embaixador de uma função que não lhe rendia um mísero centavo.

Marinho participava de eventos bem menos condizentes com sua história. Lançava camisas, frequentava troca de figurinhas onde era o centro das discussões e apresentava uma lucidez luminosa.

O destino, meia-armador malandro, levou Marinho para João Pessoa. Cercado de carinho paraibano, teve uma crise, sangrou e morreu. Seu organismo de touro já não resistia.


Marinho faz parte de um escrete incompatível com caixões. Marinho é desse time. Não quis vê-lo morto. Ele está vivo em fotos, gols memoriais e no sorriso triste e maroto de quando nos víamos.

Marinho Chagas, anarquista das nuvens é embalado por Clara Nunes e Paulo Gracindo em Brasileiro, Profissão, Esperança, espetáculo baseado em crônicas de Antônio Maria e canções compostas com Dolores Duran Marinho, brasileiro, profissão e esperança (perdida). “Dorme, Menino Grande”, é o poema de Antônio Maria ao descanso e paz de Marinho Chagas. É  epitáfio no seu túmulo, chão do esquecimento. Marinho Chagas, 66 anos faria neste 8 de fevereiro. Para mim, ele sempre será festa.

LOS LARIOS

por Zé Roberto Padilha


O nome que melhor traduz a triste Taça Guanabara, um fracasso de público e de bom futebol, chama-se Los Larios. Com tanta vergonha do que tem para mostrar a sua torcida, o Fluminense foi se esconder atrás de uma moita em Xerém, distrito de Duque de Caxias. Para jogar daquele jeito, seria melhor que o gandula e sua lanterna não devolvessem a bola. Ou mesmo ela, cansada de maus tratos, caneladas e chutões, tenha se escondido, mesmo correndo os riscos de pegar uma febre amarela. Ao final da competição, pouco adiantou se esconder: ele mesmo, seu time, tratou de desaparecer das semifinais.

Sou ponta esquerda do tempo em que o Fluminense disputava, e ganhava, a Taça Guanabara jogando no Maracanã e na Rua Bariri. Tinha clássico suburbano também em Ítalo Del Cima e na Rua Teixeira der Castro.


Identificados com a equipe que representava seu bairro, enchiam o seu alçapão, formavam a zaga com Renê, Moisés, Alfinete e Paulo Lumumba e tome gente xingando a gente colada no alambrado a cada escanteio. E aí ajeitávamos a bola, caprichávamos na cobrança, para mostrar o nosso valor. Havia desafios, embates, juízes acossados, torcedores saindo para o ladrão e quem ganhava sempre era o futebol e suas paixões coladas aos ouvidos da gente.

Já Los Larios, é terra de ninguém. Ninguém torce por ninguém em Xerém. Tigres? Só um foi visto naquela mata atrás do gol. Sábado passado, contra o Macaé, apenas 654 torcedores tricolores levaram uma renda de R$ 12.420,00 para os cofres do clube. Quantia que nem paga o salário do massagista, embora o Gerônimo merecesse mais. Mas e o Maracanã, por que não jogamos por lá?


(Foto: Hector Werlang)

A FIFA ofereceu ao futebol brasileiro um presente de grego. Ainda com sua maioria habitante abastecida pelo Bolsa Família, vivendo no Minha Casa, Minha Vida e se equilibrando com um salário mínimo, a entidade maior do futebol mundial reformou nossos barracos com piscina, salão de festas, lounge e ar condicionado central. Que poucos conseguem quitar sequer a primeira parcela do condomínio.

Melhor, então, deixar o barraco trancado, ligar o rádio porque o Canal Premiére é mais caro que o ingresso, e torcer para que na Taça Rio Los Larios seja, enfim, um pesadelo tão distante quanto sua distância das Laranjeiras. Distância do que jogavam Pedro e Washington, Sornoza e Rivelino, Ibanez e Edinho. Dos números de torcedores que acompanhavam nosso time, pagavam nossos salários e eram recompensados com um futebol à altura das tradições do Fluminense FC.