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Flamengoi

CALMA, GENTE!

por Zé Roberto Padilha

A final do estadual carioca de 1973 também foi entre Flamengo x Fluminense. No dia 22 de agosto, quarta-feira à noite, com 74 mil pagantes e arbitragem de José Faville Neto, chovia muito. Havia disputado a Taça Guanabara ao lado do Rubens Galaxe, Abel, Marinho, Nielsen Elias e Marco Aurélio porque naquele tempo o Fluminense cedia jogadores à seleção brasileira, como Lula e Marco Antonio. O jogo foi 4×2 para o Fluminense e o Manfrini marcou dois gols e foi o destaque daquela decisão.


Zico

Estava no banco de reservas quando o treinador rubro-negro, Zagallo, lançou o Zico no meio campo ao lado do Paulo César e do Liminha. Aos 42 do segundo tempo, descobri que poderia ser tudo na vida, menos profeta. Porque o galinho foi tentar buscar no desespero uma bola que saíra pela lateral, escorregou na poça, caiu perto do nosso banco e a massa rubro-negra, impaciente e já derrotada, não perdoou sua queda. E lhe deu uma tremenda vaia. Quando levantou, ainda magro e sem o trabalho de reforço da massa muscular que José Roberto Francalazzi lhe faria mais tarde, virei para o lado e comentei com o Rubens:

– Coitado deste menino. Não deve ir muito longe!

Zico tinha apenas 20 anos. Não era fácil, nem mesmo para quem despontava Zico, ser titular com esta idade em qualquer grande time do Brasil. Tanto que ele só foi convocado para a seleção brasileira três anos depois e se tornou campeão mundial de clubes aos 29 anos. Havia ciclos, do Zizinho, do Dida, Silva, o Batuta, e eles duravam alguns anos, nada deste troca troca intermitente que mal dá tempo para a Panini organizar seu álbum de figurinhas. Quando ela tira a foto e o jogador vai para o pacotinho, há um grande risco do garoto comprar a figurinha nas bancas e o atleta já estar em outro clube.


Agora, no afã de vender sua maior promessa das divisões de base, porque Vinícius Júnior é apenas uma promessa (quantos não ficaram presos no elevador da subida com síndrome de pânico diante das responsabilidades e contusões?), Zé Ricardo abre mão de tentar ganhar do Atlético Mineiro, no ultimo sábado, e deixa de colocar em campo um jogador com mais bagagem, entrosado com o elenco e que fez parte do grupo que vencera o estadual, para antecipar seu ciclo. A ordem que veio de cima pouco combina com a maturidade administrativa da gestão Bandeira de Melo:

– Precisamos logo colocar este menino na vitrine!

Só que a roupa que vai vestir o modelo a ser exposto no Santiago Bernabeu para o mundo da bola deve ser moda de hoje. A que está sendo exposta é a do futuro, e para alcançá-lo este menino precisará de uma carteira de motorista para dirigir o seu destino – e sua idade só permite que conduza uma moto de 125cc de casa até o Ninho do Urubu. Jogar após às 22 no horário global? Melhor esquecer, menores de 18 anos são proibidos de trabalhar no horário noturno e a legislação brasileira os proíbe de serem expostos em condições perigosas e insalubres como, por exemplo, enfrentar o Rodrigo, do Vasco.

Para fechar, tem coisa pior e mais constrangedora: se quiser viajar para Madrid com sua Marquezine vai precisar de autorização do papai e da mamãe. Que tal esperar madurar este menino? E chamar o Professor Francalazzi para encorpar?