Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Flamengo

O DIA EM QUE TOCAMOS O TOPO DO MUNDO

por Serginho 5Bocas


Sem dúvida nenhuma, 1981 havia sido um ano e tanto para a galera rubro-negra, vencemos torneios na Itália, uma disputada e sofrida Copa Libertadores, o Carioca que foi uma verdadeira guerra, e que ao conquista-lo, homenageamos o falecido Cláudio Coutinho, que teve grande participação na montagem do esquadrão. Enfim, estávamos quase de alma lavada, mas faltava uma “coisinha”, um título que mudaria nossas vidas e que nós queríamos muito, ser campeões do mundo.

O Flamengo montou seu esquadrão e se preparou como nunca para vencer, tinhamos que ganhar de qualquer maneira em Tóquio. Aqui no Rio não se falava em outra coisa nos bares e esquinas. Nosso time era fantástico e fomos encarar os ingleses do Liverpool, campeões europeus em cima do Real Madrid, os diabos vermelhos. No time deles jogavam dois craques da seleção escocesa, o atacante Kenny Dalglish e o meia Sounness.

Enfim chegou o grande dia, o jogo foi 13 de dezembro à meia noite de Brasília. Todo mundo acordado só para ver aquele time, e ele não decepcionou, pois em apenas 45 minutos fez 3×0 com Adílio e Nunes duas vezes. Pronto, o jogo já tinha um vencedor. No segundo tempo só tocamos a bola, num jogo em que Zico esteve inspirado e além de ter feito uma bela partida, deu os dois passes para Nunes e bateu a falta que gerou o rebote do gol de Adílio. No fim, foi coroado como o melhor em campo, dividindo o prêmio com o artilheiro Nunes, cada um levando um carro Toyota para casa. 


Para se ter ideia daquele feito, até aquele momento, somente o Santos de Pelé nos anos de 1961 e 1962, havia conquistado aquela glória. Palmeiras com sua academia não chegou, o Botafogo de Garrincha e da turma de 68 não conseguiu, o Cruzeiro até fez uma final, mas parou no Bayern de Munique. Daí toda a importância da conquista. 

Ali foi um divisor de águas, pois os clubes brasileiros passaram a dar mais importância e a se preparar para vencê-la, pois logo em seguida o Grêmio também venceu e no início da década de 90 o São Paulo de Telê ganhou outras duas. Lá pelos anos 2000 conseguimos vencer em mais quatro ocasiões com o Corinthians (duas), Inter e São Paulo novamente. Hoje o Brasil tem dez conquistas e só perde para a Espanha que detém onze, muito por conta dos clubes milionários que deixaram a competição desequilibrada, mas isso é historia para outra crônica.

Levamos incríveis 38 anos para retornar aquele lugar, a participar novamente de uma final de mundial de clubes e perdemos para o Liverpool, numa grande ironia do destino, pois acredito que tenha sido a única vez que a final se repetiu. Apesar do orgulho de chegar ali depois de tanto tempo e de perder em um jogo muito igual, foi frustrante ser vice mesmo sabendo do tamanho de cada clube naquele momento.  

Por isso e mais do que nunca, devemos sempre reverenciar aquela turma “feita em casa” de 1981, pois não foi só uma vitória, foi a vitória da qualidade sobre a arrogância inglesa, do futebol brasileiro se impondo e nos colocando no nosso devido lugar.


Nunca mais tivemos um Flamengo de sonhos como aquele e não era preciso, pois no fundo de cada antigo coração rubro-negro, todos sabíamos que aquele time marcaria uma época, uma geração que se acostumou a vencer tudo, e que naquele dia tocou o topo do mundo.

Parabéns, Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Junior, Andrade, Adílio, Zico, Tita, Nunes, Lico, Cantarele, Nei Dias, Figueiredo, Vitor, Baroninho, Anselmo, Carpegiane, Domingos Bosco e é claro a magnética… 

Forte abraço

Serginho5Bocas

OS CINCO PERSONAGENS DE FLAMENGO 2 X 1 VASCO

por Zé Roberto Padilha


1) Fernando Miguel. No meu tempo de jogador tinha um goleiro, no Fluminense, Jorge Vitório, que era dono de um vigor físico impressionante. Mora, hoje, em Volta Redonda, é amigo da gente e passa bem, obrigado. Mas quando a bola era alçada sobre sua área, mostrava que não era por acaso que, ao contrário de todos nós, só a ele era permitido usar as mãos. Saia socando a bola e quem mais ousasse se aproximar dos seus voos. Uma pena que o goleiro vascaíno não o tenha visto jogar, sabe quando ele perderia uma dividida na sua área com o Bruno Henrique, que só tinha a ponta da chuteira, e ele todos os braços e mãos? Daí perguntam ao Petkovic se ele falhou. E no lugar da verdade, o corporativismo, o receio de um profissional julgar um companheiro de profissão: “Acho que ele não falhou na jogada!”. Pet foi outro que não viu João Saldanha comentar um partida com a coragem e tesão que faltaram a ele e ao goleiro vascaíno. Tão cuidadoso na dividida do gol que decidiu a partida, Fernando Miguel parecia que ia devolver uma peteca.

2) Thiago Maia. Quando inventaram a lei do impedimento, a melhor de todas porque até nas peladas tinha um gordinho que não voltava para marcar e ficava colado aos goleiros, os grandes jogadores inventaram a vacina contra ela. Num simples olhar, Gérson para Pelé, Rivelino para o Gil, para superá-la o lançamento partia no exato momento em que o atacante se lançava. Numa sincronia perfeita que não há VAR que consiga impedir a beleza do lance. Ontem, Thiago Maia e Bruno Henrique redescobriram o movimento perfeito entre o arco e a flecha rumo ao alvo. Parabéns, que jogador esse Thiago Maia. Parece que na Vila Belmiro, de Robinho, Diego, Neymar, sobrou um resquício de sua majestade que se incorpora no futebol desses diferenciados meninos que revela.

3) Gerson. Nem Jesus, carregando sua cruz rumo ao calvário, muito menos Jorge Jesus, cujo calvário são os jogos do Benfica, escalariam o Gerson na única posição em que ele teria dificuldade para jogar. Exímio organizador de jogadas, dono de uma visão global da partida, escalá-lo no lado direito, todo torto, sem velocidade exigida para a função, foi uma aberração. Até ele brigou consigo mesmo ao tentar fazer o que não poderia. Aí quando entra o Michael, que tem as características ideais para jogar por ali, o treinador tira o Gerson. Das duas uma: ou o treinador faz um curso de português intensivo, ou os atletas rubro-negros aprendem espanhol. Não estão se entendendo.

4) Lincoln. Não há, na história do futebol brasileiro, quem sabe do futebol mundial, um jogador que tenha tido tantas chances em um grande clube como ele. E não há precedentes de alguém que tenha desperdiçado todas elas. Sai técnico, entra técnico, este menino, que deve ter o maior dos empresários, está sempre entrando mal no segundo tempo. Já que no primeiro tempo já provou sua dificuldade em começar jogando. Ou quem comprou seu passe espera uma mágica, do Arrascaeta, por exemplo, deixando-o livre debaixo do gol com o goleiro batido, para poder revende-lo e recuperar um erro de avaliação.

5) O time do Vasco é limitado, porém, muito esforçado. Há de ser respeitada a luta incansável e o oportunismo de dois argentinos, mas o Ramonismo foi tirado da cartola de um grande profissional que os maus amadores, os eternos cartolas, tiraram do comando antes da hora para se eximirem de tanta bobagem.

O QUE NOS CUSTOU SER VICE DO VASCO

por Zé Roberto Padilha


A final da Taça GB 1976, entre Flamengo x Vasco, com 1×1 no tempo normal, gols de Roberto Dinamite e Geraldo Assobiador, foi decidida nos pênaltis.

Quando Zico foi bater o ultimo e fechar o caixão, enfiei a cabeça na grama e trocamos, eu e o Rondinelli, um diálogo digno de um jogador de futebol. Daqueles que vivem seus 15 minutos de glória fora da realidade econômica do seu país.

Ele perguntou, já que o bicho da conquista, 100 mil reais, três vezes o nosso salário porque 134 mil pessoas pagaram ingressos, o que iria fazer com essa pequena fortuna.

Respondi: trocar meu Puma Spyder, comprado há um ano na Lemos & Brentar, no Jardim Botânico, por uma Puma GTB (foto), motor Chevrolet, que acabara de chegar ao mercado.

Mazaroppi defendeu o pênalti, eu perdi o emprego porque havia sido trocado pelo Doval, e o Flu foi bicampeão carioca e Rondinelli o caminho de casa.


Conseguimos, com todo respeito a minha nora, Simone, a proeza de ser vice do Vasco e nunca mais ter tido a oportunidade de dirigir uma maravilha dessas.

Coisas do futebol. Mas que o carro era bonito…

EM 1986, ANTÔNIO LOPES ENTREGA O TÍTULO DE BANDEJA AO FLAMENGO

por Luis Filipe Chateaubriand 


Em 1986, o jogo que decidiu o Campeonato Carioca foi disputado entre Flamengo e Vasco da Gama. Quem vencesse seria campeão, sendo que o Flamengo também seria favorecido pelo empate. 

O Flamengo jogou com: Zé Carlos; Jorginho, Leandro, Guto e Aldair; Andrade, Aílton e Adílio; Bebeto, Vinícius (Julio Cesar) e Marquinho. 

O Vasco da Gama formou com: Acácio; Paulo Roberto, Donato, Moroni e Heitor; Vitor, Mazinho e Geovani (Claudinho); Mauricinho, Roberto e Romário (Santos). 

O domínio vascaíno na primeira etapa foi total. Comandado por Geovani, o Pequeno Príncipe, o time buscou incessantemente o gol, que não saiu. 

Dois lances, a favor dos cruz maltinos, foram marcantes no primeiro tempo. 

O primeiro, um voleio de Geovani da entrada da grande área, que raspou o travessão. 

No segundo, Romário recebe lançamento esplêndido de Geovani, desde o meio de campo, e, na entrada da grande área e de frente para o gol, adianta demais a bola e perde a chance.

No segundo tempo, o técnico vascaíno Antônio Lopes faz a bobagem que tiraria o título de seu clube: substitui o cerebral Geovani pelo inexpressivo atacante Claudinho. 

Ao fazer a infeliz substituição, enfraquece seu meio campo, faz o time perder potencial criativo e cria uma situação de excesso de atacantes, um tirando o espaço do outro. 

Perante a nova situação, o Flamengo se agiganta. Time com jogadores nervosos no primeiro tempo, estes se tranquilizam no segundo. 

O rubro negro passa a jogar de forma inteligente, aproveitando-se do erro estratégico do rival. 

E, com gols de Bebeto, em explosão de alívio da massa rubro negra, e Julio Cesar, este em “frangaço” de Acácio, vence o jogo por 2 x 0 e fatura o título. 

Como em um jogo de xadrez, no futebol há que se ter sabedoria para mover as peças ou… xeque mate!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

QUANDO OS TÍTULOS BLINDAM DIRIGENTES

por Wilker Bento


Em entrevista ao blog Ser Flamengo, o vice-presidente de relações externas do rubro-negro, Luiz Eduardo Baptista (Bap), fez críticas severas ao trabalho de Abel Braga no clube durante o primeiro semestre de 2019. Responsável por trazer e manter o treinador, o dirigente afirmou que sua percepção sobre o trabalho de Abel não era boa, e que seu tempo no cargo chegaria ao fim em breve. E usou frases polêmicas: “Houve um momento em que a gente achava, e que a gente discutia internamente, que ele devia estar de sacanagem. A gente olhava ele dando entrevista e a gente falava ‘cara, tem alguma coisa que a gente não está entendendo. Ou ele bebeu ou ele está drogado’, disse Bap, se referindo às declarações controversas dadas pelo técnico em entrevistas coletivas, como “perder para o Inter é normal” e elogios ao Estádio Beira-Rio.

A crítica à postura de Abel Braga é válida, principalmente porque, ao assumir posteriormente o Vasco da Gama, o treinador seguiu dando declarações que viraram chacota nas redes sociais – como ao dizer “hoje foi lindo” após derrota para o Flamengo. No entanto, há uma fronteira entre crítica e ofensa, que precisa ser respeitada por ambas as partes. Vale tanto para o profissional que não aceita ser contestado quanto para o crítico que recorre a insultos pessoais. É o limite entre a liberdade de expressão e a difamação.


Bap ultrapassou esse limite quando se referiu ao treinador daquela forma. Obviamente, o dirigente não usou a frase de forma literal. Sua intenção não foi sugerir que Abel tivesse, literalmente, comandado a equipe sob uso de álcool ou entorpecentes. Trata-se de uma maneira de se expressar que muitas pessoas têm no cotidiano, em conversas informais, mas que jamais poderia ter sido utilizada por um dirigente de um clube profissional em uma entrevista pública. Quem exerce uma liderança desse porte deve ter um comportamento exemplar. Se age como um torcedor comum, corre o risco de desmoralizar sua imagem.

Apesar da fala inapropriada, muitos saíram em defesa do vice-presidente, alegando um suposto “mimimi” no meio futebolístico. De fato, o torcedor em geral sente falta de entrevistas mais sinceras, provocações entre jogadores, enfim, da “zoeira” característica do futebol brasileiro. Reclama da chamada “geração Nutella”. Nesse sentido, realmente retrocedemos, ficamos mais azedos.

Porém, é preciso fazer contrapontos. Para o bem ou para o mal, a sociedade mudou. Não estamos mais nos anos 1980 ou 1990. Antes era comum, por exemplo, fumar em ambientes fechados, propagandas de cigarro e comerciais de cerveja com mulheres seminuas. Hoje, isso não é mais aceito. Precisamos acompanhar a evolução da sociedade.


Mesmo naquela época, dirigentes de futebol não podiam falar e fazer o que bem quisessem. Um caso emblemático foi o desentendimento entre Eurico Miranda e Milton Neves, em 1999. Após o primeiro jogo da final do Torneio Rio-São Paulo, entre Vasco e Santos, Eurico se recusou a responder as perguntas de Milton e ameaçou bater nele, além de proferir insultos. O jornalista acusou o então vice-presidente do cruzmaltino de se proteger na imunidade parlamentar: “Ele é deputado federal e se esconde na covardia desse mandato”, disse Milton Neves que, no entanto, chegou a processá-lo.

É uma prática que pode acabar se tornando comum no contexto atual do Flamengo. Com bons resultados dentro de campo, os dirigentes ficam blindados e podem agir da forma como querem, acima do bem e do mal. A exemplo da gestão Ricardo Teixeira na CBF, ou como Andrés Sanchez no Corinthians e, mais recentemente, o Palmeiras na Era Crefisa. Situações diferentes em que o desempenho dos times acobertaram os problemas nos bastidores.

Assim, o rubro-negro, que jogou um futebol que encantou o país em 2019, caminha para se tornar, fora das quatro linhas, o time mais antipático do Brasil.