Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Flamengo

BOMBA QUE SACUDIU O MUNDO FOI ROMÁRIO NO FLAMENGO

por Elso Venâncio


Messi? Cristiano Ronaldo? Nada disso. A bomba que sacudiu o futebol mundial foi a contratação do centroavante Romário, em 1995, pelo Flamengo.

Tudo bem, o português Cristiano Ronaldo veste de novo a camisa do Manchester United, da Inglaterra. E o argentino Messi agora é ídolo francês no PSG. Mas esse burburinho todo no mercado da bola só me fez lembrar a volta do Romário ao Brasil. Aquela repatriação, sim, foi uma bomba. Sacudiu por completo o mundo do futebol. Nenhuma das transferências das superestrelas atuais chega perto, em repercussão, ao retorno do Baixinho ao futebol brasileiro.

A razão é simples. Romário tinha acabado de conquistar uma Copa do Mundo para o Brasil, que não levantava o caneco havia 24 anos. E mais: era o maior, o melhor jogador do mundo. Romário estava com 28 anos e só veio porque forçou a barra.

O mundo quebrava a cabeça tentando entender o que houve. Por que o “Número 1” optou por largar os milhões de dólares e fãs na Europa para, no auge, voltar à terra natal? Romário, como diz o grande biógrafo Marcos Eduardo Neves, retornou a seu país para ser tipo Chatô: o Rei do Brasil.

Incrédulos, os gringos em massa vieram para o Rio. Havia mais jornalistas estrangeiros no dia a dia da Gávea do que repórteres tupiniquins. Não à toa, foi preciso instituir o sistema de entrevista coletiva, com direito a background para expor o pool de empresas que somaram forças para viabilizar a estrondosa contratação.

O planeta havia se rendido ao Brasil. O tenor Luciano Pavarotti, por exemplo, veio cantar em um evento no Morro da Urca e acabou dando um pulo na Gávea só para ter o prazer de bater bola com a maior personalidade do país. Sim, Romário não era o maior nome do futebol brasileiro, nem a maior estrela. Era muito mais do que isso. Respondia como a figura de maior destaque do Brasil.

E os valores da época, você lembra? 4.5 milhões de dólares, mais 25 % de tributos. Quando valeria o passe dele hoje? O Barcelona não acreditou quando Kleber Leite, então presidente do Flamengo, garantiu ter em conta o dinheiro para honrar o depósito.

O Baixinho chegou a ligar para Gilmar Ferreira, que na época estava no Jornal do Brasil. O jornalista lhe aconselhou a se transferir para o campeoníssimo São Paulo, do mestre Telê Santana, clube que pagava em dia. A resposta do camisa 11 foi fulminante:

– Lá não tem praia, eu quero o Flamengo.

Você, torcedor, já imaginou, com todo respeito ao Gabigol, que é ídolo e fera bravíssima, se Romário jogasse nesse time atual do Mengão? Será que Romário passaria Pelé em número de gols?

O FUTEBOL DE ZICO É UM AMOR QUE NUNCA MORRE

por Marcos Vinicius Cabral


Os olhos de Zico buscavam o vazio de cada metro quadrado naquele vestiário. O gesto de envolver as canelas com ataduras, e prendê-las com esparadrapos ao colocar os meiões, vestir o short, a camisa e calçar as chuteiras, tudo era diferente naquele domingo ensolarado de abertura do Campeonato Carioca no dia 16 de fevereiro de 1986.

No alongamento, mascando chiclete, o semblante de Zico era sério. Sua fisionomia passava a imagem de quem se negaria, naquela tarde, a jogar com os pés como fariam Cantareli, Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto, Andrade, Sócrates, Bebeto, Chiquinho e Adílio. Preferiu jogar com o coração.

Naqueles 90 minutos vigiados pelos dígitos do relógio britânico de Luís Carlos Félix, árbitro da partida, Zico seria diferente de tudo o que os rubro-negros e tricolores já haviam vistos em todos os clássicos disputados entre Flamengo e Fluminense. Foi ali, naquele lugar tão ou mais sagrado de tudo que existe no futebol, que o camisa 10 rubro-negro puxou a fila e subiu pela primeira vez com um médico no time formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em São Paulo, chamado Sócrates, que vestia a camisa 8 no lugar do jaleco e usava com desenvoltura o calcanhar no lugar do estetoscópio.

O desejo de Zico, ora, vejam vocês, era mostrar quem era o maior artilheiro da história do Maracanã que envergava a camisa 10 do Flamengo desde o final da década de 1970. Cerca de 84 mil pagantes sentaram-se nas arquibancadas, cadeiras, e muitos destes mil torcedores, fazendo a festa cultural na geral do estádio.

Nos últimos ajustes, a preleção dada por Sebastião Lazaroni, técnico à época, o círculo com os companheiros e o momento íntimo com Deus, ficaram no passado.


No campo bélico de grama esverdeada, o Fluminense se aquecia, e com o uniforme todo branco, vinha de um tricampeonato carioca, dois títulos sobre o Flamengo com o carrasco Assis (in memorian). À procura da felicidade, Nelsinho Rosa, treinador do Fluminense, e seus comandados, entraram naquele quadrado de 105 metros de comprimento por 68 de largura com o pensamento em lutar pelo tetra com seu tradicional pó de arroz e com sua bandeira que era tremulada por Paulo Vítor, Alexandre Torres, Vica, Ricardo Gomes, Branco, Jandir, Leomir, Renê, Romerito, Gallo e Tato.

Apito inicial dado, a cada toque na bola, Zico engolia a seco o grito de “Bichado! Bichado! Bichado!”, vindo do lado direito das cabines de rádio, onde a torcida tricolor fazia sua festa em três cores. A bem da verdade, o termo ‘bichado’ já havia sido proferido no ano anterior pelo ex-presidente rubro-negro Antônio Augusto Dunshee de Abranches, numa tentativa de justificar a venda do jogador para o futebol italiano concretizada em maio de 1983: “Zico estava bichado, a verdade é essa. Ele jamais será o mesmo. Se antes era o arco e a flecha, que armava e voava para finalizar, agora, no máximo, poderá apenas armar”, filosofou o dirigente rubro-negro para dar uma desculpa na negociação do Galinho de Quintino para a Udinese-ITA que valeu uma música de Moraes Moreira em homenagem ‘Às tardes de domingo sem Zico no Maracanã’.

Culpado pela venda do maior jogador da história do clube, Dunshee, insensível, tinha um coração duro e não se preocupou com todo esforço realizado pelo ídolo rubro-negro para voltar a jogar futebol, pelas horas de exercícios físicos e pelas horas de fortalecimento dos ligamentos do joelho direito em que se submeteu no departamento médico do clube. Aos olhos do dirigente, todo aquele empenho, todo aquele esforço, seriam em vão.

Mas do pontapé inicial ao primeiro gol feito numa bela trama, se passaram dez minutos em que Zico, camisa 10, de cabeça, saiu comemorando com o punho direito cerrado e sorriso de quem começava a fazer daquele Fla-Flu um jogo eternizado para os flamenguistas e que os tricolores preferem esquecer.


Mas, aos 43 minutos da primeira etapa, quando Leomir empatou em cobrança de pênalti, Zico olhou para o passado e com as mãos na cintura, estático, na entrada da área, olhou para a imensidão do céu e lembrou dos conselhos de ‘Seu’ Antunes (1901-1986), o pai, de ‘Dona’ Mathilde (1919-2002), a mãe, de Sandra, a esposa, com quem se casou em dezembro de 1975 na Igreja de São José, na Lagoa, Zona Sul do Rio e de tudo o que passou após a entrada criminosa do lateral Márcio Nunes naquele Flamengo x Bangu, em 29 de agosto de 1985, no Maracanã.

Fim dos 45 minutos iniciais. Vestiário é feito para esfriar a cabeça e recompor as energias. Mas Zico não aceitaria algo diferente que não fosse uma vitória para lavar a alma, uma atuação para ser lembrada e uma resposta à altura para quem o considerava acabado para o futebol: “Sem dúvida, eu queria provar a eles que aquilo tinha sido uma grande covardia de um ex-presidente que tinha me vendido para a Itália três anos antes. Para justificar a negociação, ele falou à imprensa que o Zico estava bichado e foi manchete nos jornais. Mas Deus me ajudou porque tudo que tentei naquele Fla-Flu deu certo. Minha bronca não era com a torcida do Fluminense e, sim, com quem falou besteira”, diria à época o maior camisa 10 da história centenária do Flamengo.

A virada veio em uma bela cobrança de falta no ângulo de Paulo Victor, aos 27 minutos. Bebeto fez o terceiro, aos 29, e Zico, mais uma vez, aos 34, desta vez de pênalti, fechando a goleada.

Três gols, atuação estupenda, jogadas inesquecíveis, alma lavada e a certeza que ele não estava acabado para o futebol.

Zico foi gênio. Foi um dos mais completos camisas 10 do futebol mundial de todos os tempos. Não ganhou uma Copa do Mundo, é verdade, da mesma forma em que outros 39 foras de série também não ganharam como escrevi em 27 de junho de 2018 no https://www.museudapelada.com/resenha/40-genios-sem-copas.


Passados 35 anos daquele confronto, o camisa 3, Leandro, que estava em campo naqueles 90 minutos, falou da atmosfera do clássico: “Havia uma expectativa enorme na volta do Zico ao Flamengo, e da estreia do Sócrates naquele jogo. A torcida do Fluminense começou a gritar nas arquibancadas Bichado! Bichado! Bichado! Aquilo ganhou uma proporção enorme dentro de campo, e, aí, já viu, né? Um gênio como o Zico, sendo instigado é pior. O melhor é ficar quieto. Mas os tricolores não pensaram assim e sofreram com a goleada e uma das melhores atuações do Galo, sem dúvida alguma. Foi uma volta espetacular e eu, como companheiro de clube e que estive em campo nesse Fla-Flu, só fico feliz por ter visto como testemunho ocular tudo aquilo de perto”, contou ao Museu da Pelada o zagueiro central Leandro que naquela época já havia deixado a lateral-direita, posição que o consagrou e o colocou entre os melhores de todos os tempos do futebol brasileiro.

Quando resolveu pendurar as chuteiras, Zico marcou, segundo o www.zico.com.br, 508 gols no Flamengo em 730 partidas disputadas entre 1972 e 1989. Mas no total, fez os adversários buscarem a bola no fundo das redes 826 vezes.

Como atleta profissional, Zico conviveu toda a sua carreira com um diabinho que vivia sussurrando em um de seus ouvidos: “Você não vai conseguir, você já era!”.

Enquanto um anjinho, de fala mansa, rebatia: “Você conseguiu. Obrigado por tudo que você foi como jogador de futebol, pelas alegrias dadas aos torcedores rubro-negros!”.

OBRIGADO, DIEGO

por Zé Roberto Padilha


Em nome de todos os jogadores de futebol, gostaria de lhe agradecer por ser responsável, ao lado do Nenê, pelo recente aumento da expectativa de vida de um atleta profissional.

Quando completei 34 anos, então jogador do Bonsucesso FC, disputando o estadual da primeira divisão carioca e literalmente “voando”, não havia um só comentarista que não depreciasse nossa apresentação.

– Mas ainda é aquele Zé Roberto, do Fluminense e do Flamengo? Veterano, hein! Ou seria seu filho? – ironizava.

Aí vinha o redator do caderno de esporte e, mesmo com o Motoradio nas mãos após empatarmos com o Fluminense, e abria os comentários assim:

– Apesar da idade, esteve bem…

34 anos. Em qualquer profissão, um estagiário. Na nossa, veterano.

Tudo porque os craques que nos precederam não tiveram uma nutricionista em seu clube. Um psicólogo para amenizar conflitos internos pós derrotas, e consciência profissional para evitar ir para o “bagaço”.

O campo era ruim, bola pesada, chuteira com travas que furava a sola dos pés, uniformes que pesavam 100 kg quando chovia. Pouca coisa contribuía para ir um pouco além.

Fisioterapeuta não existia, fisiatra só nos sonhos e artroscopia nenhum médico de clube dominava sua execução. E os joelhos eram operados a céu aberto.

Chegar jogando em alto nível após os trinta anos era tarefa para poucos. E como você precisa dos 35 anos para se aposentar, como toda profissão, mais cedo era jogado no mercado de trabalho em busca de algum ofício que ninguém se preocupou em lhe preparar.

Aí surge você, no Flamengo, contrariando todos os prognósticos e aos 36 anos realiza, contra o Corinthians, uma exibição de almanaque.

Como segundo homem do meio campo, deu o equilíbrio que toda equipe precisa quando não se erram passes e a bola gruda na chuteira.

Uma atuação impecável que mostra o quanto você se cuida e dá exemplos para as novas gerações.

Como toda profissão, quanto mais você pratica, mais aprende. No futebol não é diferente.

O que sobrava era preconceito. O que faltava eram Diegos.

Parabéns!

O SÃO PEDRO DO FLA

por Marcos Eduardo Neves


Renato era camisa 7. Assim como Bruno Henrique. Assim como Michael. Assim como Vitinho. Em uma semana, três jogos, três vitórias, 10 gols marcados e um único sofrido – e, detalhe: não por mérito do ataque adversário, mas por falha bizarra de um grande goleiro de corte de cabelo bizarro.

O Flamengo começou o jogo irresistível, como desde Jorge Jesus não se via. Bruno Henrique lembrava o Renato de 1987. Um autêntico cavalo de raça, com sua vistosa crina e tudo. Um tanque. Talento e força física.

Tudo ia bem na equipe até Diego Alves entregar. Fiquei com saudade dos goleiros-raiz, que não sabiam jogar com os pés. Por essas e outras Hugo se queimou. E complicar um jogo fácil, em plena Libertadores, decididamente, não vale a pena.

Após o tenso intervalo, tudo mudou. Se Bruno Henrique é o seu Renato, o Portaluppi resolveu mandar a campo seu Alcindo, o Michael. Que é outro com ele. Autoconfiante e aliando objetividade a seu estilo agressivo. Depois, tirou da cartola Vitinho, que seria o artilheiro do jogo, mesmo jogando menos tempo. Nas apostas de Renato, o jogo que, se não fosse a falha de Diego Alves, acabaria uns seis ou sete a zero pôde terminar, sem defesa mas com justiça, 4 a 1 para o Flamengo – outra vez e cada vez mais temido.

Óbvio que Renato não é Jorge Jesus, nem vai ser. Mas é Renato, e continuará sendo. Jorge Jesus montou o grupo, desenvolveu o estilo de jogo e embutiu na galera o espírito vencedor. Parafraseando a Bíblia, Jorge Jesus é um Jesus Cristo para os fiéis rubro-negros. Mas, segundo a Bíblia, vale lembrar que Jesus deu ordem a seu apóstolo Pedro para, após sua morte, fundar a igreja e propagar sua mensagem. Sendo assim, Jorge Jesus é Jesus, mas São Pedro tá com toda pinta de ser não Pedro, o queixudo atacante reserva do Gabigol barba de carranca, mas São Pedro tem tudo para ser Renato.

Que se cumpram as escrituras!

Avante, Flamengo!

#RenatoGaúcho #RenatoPortaluppi #Flamengo #Maisquerido #Rubronegro #Raçaamorepaixão #umavezflamengosempreflamengo #CRFlamengo #Mantosagrado #camisa7

O CRAQUE DO BRASIL EM 1987

por Luis Filipe Chateaubriand


Depois de cinco anos jogando no Grêmio de Porto Alegre, em 1987 Renato Gaúcho desembarcava no Rio de Janeiro, para jogar no Flamengo.

O início, na disputa do Campeonato Carioca, foi difícil.

Fora de forma, apresentou um futebol apenas mediano.

Um jogador com porte físico avantajado, como Renato, tem mais dificuldades de entrar em forma do que jogadores mais leves, naturalmente mais afeitos a adquirirem condicionamento físico.

No entanto, veio o Campeonato Brasileiro.

E, aí, a história foi outra.

Vimos um jogador que, em forma, corria o campo inteiro, fazia cruzamentos certeiros, lutava pela bola, e a recuperava muitas vezes, tinha uma raça incomum, entortava marcadores, fazia gols e sofria faltas, para Zico bater.

O homem parecia estar possesso!

A cara de Renato Gaúcho naquele campeonato foi o lance do jogo da semifinal contra o Atlético Mineiro, em Belo Horizonte em que, com o jogo empatado em 2 x 2 e já quase aos 40 minutos do segundo tempo, Renato arranca quase do meio campo, dribla o goleiro João Leite e toca a bola para o fundo do gol.

Quase no fim do jogo, o cara ainda foi arrumar fôlego para fazer isso…

Por essas e outras, Renato ganhou a Bola de Ouro da Revista Placar daquele ano.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!