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Flamengo

relembrando gaúcho

texto: André Mendonça | vídeo: Daniel Perpétuo

Um dia triste para o futebol brasileiro, especialmente para a torcida do Flamengo. Apesar de ser aniversário de dois craques que fizeram história com a camisa do clube (Leandro e Jayme de Almeida), o dia 17 de março ficou marcado pela morte do centroavante Luis Carlos Tóffoli, o Gaúcho. Aos 52 anos, o artilheiro foi vítima de um câncer de próstata.

Revelado nas categorias de base do Flamengo, Gaúcho teve passagens por XV de Piracicaba, Grêmio, Verdy Kawasaki, Santo André e Palmeiras antes de retornar ao clube carioca e ser um dos grandes responsáveis pela conquista do Campeonato Brasileiro de 1992. No Palmeiras, ganhou destaque de forma inusitada. Acostumado a marcar gols, Gaúcho precisou substituir o goleiro Zetti, lesionado, em um duelo contra o Flamengo pelo Brasileiro de 1988. Curiosamente, a partida foi para os pênaltis e o artilheiro defendeu as cobranças de Zinho e Aldair, garantindo a vitória do Palmeiras.


Sergio Pugliese teve a honra de entrevistar Gaúcho em 2015. Em um bate-papo descontraído, o artilheiro contou um pouco da sua carreira, revelou tristeza por não ter atuado com Zico, mas comemorou o fato de ter sido companheiro de equipe de Júnior. A dupla, inclusive, infernizava os adversários. Com os cruzamentos do lateral, o artilheiro, que era um exímio cabeceador, deitava e rolava!

– Cheguei ao Flamengo em uma quarta-feira e o Zico havia feito sua despedida alguns dias antes. Mas tive a oportunidade de jogar com o Júnior. Fiz muitos gols com passe dele! – lembrou

Após penduras as chuteiras, Gaúcho adotou o vício de quase todos os boleiros: o futevôlei. Ao ser perguntado sobre quem era o maior rival no esporte, o centroavante não precisou pensar duas vezes e ainda tirou onda com seu amigo e parceiro do futevôlei.

– Renato Gaúcho é meu pato. Todo fim de semana eu ganho um chopp dele!

Apesar de não ter negado a declaração de Gaúcho, Renato não se mostrou muito convencido.

– Ele falou isso? Então deve ser verdade – comentou sob risadas.

VALEU, GAÚCHO!

O SAMBA DA NAÇÃO

texto: André Mendonça | vídeo: Rodrigo Cabral

Na última terça-feira, a equipe do Museu tirou onda!!!! Fomos convidados pelo craque Adílio, o camisa 8 da Nação, para acompanhar, com exclusividade, a gravação do samba de estreia do bloco Fla Máster, num estúdio da Rua Teodoro da Silva, em Vila Isabel. Isso mesmo, o time formado por grandes estrelas do passado virou bloco!!!! E Adílio, agora, além do time, também preside o grupo de foliões!!! E uma equipe, com Zico, Adílio, Andrade, Julio César Uri Geller e Nunes, que já fez tanto adversário “dançar”, sonhava em presentear o carinho da torcida durante todos esses anos de glória. O Fla Máster selou esse pacto com a felicidade, agora fora dos estádios. Sendo assim, Adílio convocou os bambas Fred Camacho, Francisco Aquino e Dudu Nobre, que compuseram a belíssima canção “Delírio da Nação”, que vai tirar do chão a massa rubro-negra. E se nossa equipe já estava vibrando de felicidade no estúdio, eu, André Mendonça, sambista nato, precisei conter minha conhecida marra quando me vi, numa resenha, para escolher o título da música. Vale destacar que Camacho e Aquino, em parceria com Marcelo Motta, que também participou da gravação, em Vila Isabel, ganharam o samba do Salgueiro deste ano, com outros três compositores, e ainda concorrem ao prêmio “Serpentina de Ouro”, do Jornal O Globo, na categoria melhor samba. Além de Camacho, Aquino e Marcelo, a animada gravação ainda contou com Vinícius Vian e as vozes femininas de Ângela Sol e Deborah Vasconcellos. O desfile do Fla Máster acontece amanhã, dia 30, às 14h, em frente à Barraca do Lelê, no Posto 5, Barra da Tijuca, e reunirá grandes craques do passado! Se você for rubro-negro…

……………

Delírio da Nação

O grito da arquibancada é campeão;

Explode a alegria da massa, que emoção;

Vestindo vermelho e preto;

O manto sagrado em meu peito;

Flamengo eterno no meu coração;

 

Se você for rubro-negro;

Vem pra cá;

Tengo, tengo sou Flamengo;

O Fla Máster vai passar;

Um punhado de estrelas;

Na história do Mengão;

Rola bola, rola samba;

Pra delírio da Nação.

Uri Geller, o inferno de Nicanor

por João Carlos Pedroso
Jornalista, fã de carteirinha de Uri Geller e filho de zagueiro do Flamengo


Charge de Marcos Vinícius Cabral

Charge de Marcos Vinícius Cabral

Na segunda metade da década de 70, a Cidade Alta, em Cordovil, era limpa, pacífica, divertida e boa de bola. Era feliz, apesar de boa parte dos seus moradores viver ali uma espécie de exílio, banidos que foram do Leblon e adjacências (Praia do Pinto, Parque Proletário da Gávea etc) para um até então desconhecido subúrbio carioca.

E a Cidade Alta tinha Nicanor. Negro retinto, forte como um touro, bravo (e bota bravo nisso) lateral da Portuguesa da Ilha. Nicanor tinha tudo para ser um ídolo local e todo dia sair de casa a cada manhã sorrindo e com o peito mais estufado ainda do que o normal – ele tinha peito de pombo.

Mas Nicanor não sorria. Ao menos não em público. Ele devia rir até pegar na maçaneta, talvez. Mas ao abrir a porta, dava de cara com seu vizinho e algoz, seu inferno na terra, o escolhido dos deuses: Júlio César Uri Geller, um gênio da bola em flor.

Julinho, como era chamado na Alta, ainda estava longe de ser titular do Flamengo. Mas já jogava nas seleções de base, era adorado pela vizinhança e vivia sorrindo. Em especial na peladas disputadas no finais de semana livres…

Não havia gramado, nem mesmo um terrão. O campo era o ponto final do 334, que ligava (e liga, até hoje) o conjunto habitacional até a Praça Tiradentes. Asfalto cascudo, irregular, que arrancava a pele e tirava o sangue dos aspirantes a craques. E mesmo dos craques. No caso, de Uri Geller.

Nicanor nunca saiu da Portuguesa e nunca foi um primor dentro das quatro linhas. Resolvia praticamente tudo na base da ignorância, quando estava em campo. Mas ali, numa pelada de bairro, ele se destacava, como qualquer “federado”, quando cercado de amadores. Batia na bola diferente de todos, sabia marcar melhor que os outros, tinha mais visão de jogo que qualquer um. Seria fácil o craque da área. Seria, se não existisse um demônio chamado Julinho.

Era sempre um de cada lado. Jamais parceiros, sempre inimigos. Julinho já humilhava no visual: calção oficial da Seleção Olímpica (ele disputou os Jogos de Montreal, em 1976), pisante invocado… Mas eram apenas as preliminares. E sim, a imagem sexual faz todo o sentido, porque o que ele fazia com o Nicanor quando a bola rolava…

É verdade que Uri Geller narrava as próprias jogadas. “Lá vai Julinho pelo meio, dribla um, passa pelo segundo, caneta no terceiro! Mas o que que é isso, minha gente!”. Agora imagina o Nicanor ouvindo isso, vendo seu time armado com tanto carinho sendo desmontado, peça após peça, e só esperando pela sua vez… a angústia, a dor.

Julinho narrava e sorria, sorria e avançava. E ai chegava na frente do Nicanor. Não, ele não passava TODAS as vezes pelo colosso de ébano. Nicanor nunca teve aspirações de Nilton Santos e odiava o oponente com todas as forças. Assim sendo, não tinha o menor pudor de finalizar o futuro Uri Geller sempre que possível. “Tá lá o corpo estendido no chão”. Um chão duro e áspero que nem ralador de coco. Sangue, lógico. E Julinho sorria.

Em volta, casa cheia. E, acreditem, torcida dividida, já que muita gente achava que o pobre Nicanor era mais “raiz”. Tinha uns rádios portáteis daqueles grandões. Samba. Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, cujo sucesso do ano, “O Surdo”, era principal fonte de inspiração para Nicanor: “Eu bato forte em você/ E aqui dentro do peito uma dor/ Me destrói”… Não existia funk, ainda. Julinho sorria. Nicanor, não. E tinha um adolescente de óculos que via aquilo tudo e jurava que iria fazer igual ao maior jogador que viu de tão perto. Bem que tentei…

RUBRO-NEGROS SEM ÍDOLOS

por Luiz Carlos Cascon


Desconheço se há estudo a respeito, mas tenho a impressão que um ídolo se forma e se consolida na nossa cabeça na fase de transição entre a infância e a adolescência.

Se essa tese tem algum fundamento, posso concluir que os rubro-negros da minha geração não tiveram muita sorte para eleger um craque para idolatrar.

Comecei a acompanhar futebol no início dos anos 1960. Nos primeiros anos da década, o Mengo, como era mais chamado, tinha um time bom, mas os  jogadores com potencial de ídolo, como Dida e Joel,  já estavam em fim de carreira. Atletas talentosos surgiram, como Gérson, mas os dirigentes do clube na época, amadores e incompetentes, deixaram escapar.

Seria possível contar nos dedos jogadores de qualidade que vestiram por várias temporadas o manto sagrado naquele período –  o meia-atacante Silva, os laterais Murilo e Paulo Henrique, o volante Carlinhos Violino e, no finalzinho daqueles anos, o argentino Doval. Em suma, foi muito pouco para formar equipes de qualidade e promover ídolos de verdade.

Como todo flamenguista, era teimoso e não deixava de ir ao Maraca. Íamos ao estádio em grupo e não havia discriminação – faziam parte da “turma do Ingá” (bairro de Niterói) torcedores de todos os times. Tinha até um americano. Os botafoguenses deitavam e rolavam. E não era para menos: Manga, Leônidas, Carlos Roberto, Rogério, Roberto, Gérson, Jairzinho e Paulo César formavam um timaço. Era duro voltar para casa de cabeça inchada, enfrentando uma barca da STBG lotada e aturando um bando de botafoguenses irritantes.

Aliás, “Cri-Cri” (sinônimo de chato) era o personagem do Botafogo criado por Henfil. O genial cartunista publicava tirinhas de humor nos jornais esportivos naqueles anos sobre o comportamento dos torcedores. Tinha um representante para cada time carioca: o vascaíno “Bacalhau”, o “Pó-de-arroz” tricolor, o “Gato Pingado” americano, e o “Urubu” flamenguista. Rubro-Negro declarado, Henfil conseguiu, com fino humor, instituir a ave urubu como símbolo da nação, transformando em orgulho toda a carga pejorativa e preconceituosa que a palavra carregava – sinônimo de negro, favelado, comedor de carniça.

A partir de meados dos anos 70, os ventos começaram a soprar a nosso favor. Surgiram jogadores de altíssima qualidade, formou-se a Frente Ampla pelo Flamengo, liderada por Márcio Braga, que passou a gerir o clube com um pouco mais de profissionalismo. Mais tarde, como todos sabem, seríamos campeões do mundo.

Era (e sou) um grande admirador da geração de Zico e Cia. Durante muitos anos, aquela equipe espetacular, de toque rápido e refinado, deixava os flamenguistas em estado de êxtase e os torcedores adversários atônitos. Mas nessa altura da vida, o futebol já não era a prioridade absoluta entre as minhas preocupações. Por isso, costumo dizer que faço parte da geração rubro-negra dos sem-ídolos.