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Flamengo

O GÊNIO MUSICAL

por Serginho 5Bocas


Duvido alguém me apontar um jogador de futebol ou se preferir um esportista no planeta terra, que tenha sido homenageado com tantas músicas quanto Zico, o “Galinho de Quintino”.

Além de craque com a bola nos pés, ele possuía um enorme talento e uma luz que arrastava multidões aos estádios e inspirava cantores e compositores a criarem músicas que homenageavam a fera.

Zico ainda jovem conheceu Jouber, ex-zagueiro do clube e treinador da base. Ele foi o cara que revelou Zico para o futebol e o maior incentivador do galinho a treinar cobranças de faltas, que acabou se tornando a especialidade da casa.

♫♫ é falta na entrada da área, advinha quem vai bater, ê, ê, ê….é o camisa 10 da Gávea, é o camisa 10 da Gávea….♫♫

Jorge Ben Jor deu a primeira cartada. Ele que já havia composto o hino “Fio Maravilha”, não deixou passar em branco o sucesso do galinho e fez um “Hit” que entrou para a história, uma linda homenagem para o craque que estreou tarde na seleção brasileira. Em 1976, há poucos dias de completar 23 anos, em jogo da seleção contra o Uruguai em Montevidéu, Zico fez o gol da vitória de 2×1 no Estádio Centenário, de falta, é claro, a especialidade da casa.

Alguns anos depois, veio o tricampeonato carioca de 1979, com o último título invicto, e João Nogueira não teve dúvidas em regravar o grande sucesso de Wilson Batista, “samba rubro-negro”, com uma pequena mudança na escalação. Saem Rubens, Dequinha e Pavão e entram os craques do tri daquele ano:

♫♫O mais querido, tem Zico, Adílio e Adão, eu já rezei pra São Jorge, pro Mengo ser tricampeão….♫♫

Época prospera na Gávea, tempos de recorde de invencibilidade de jogos no Brasil, 52 partidas, que desde 1979, divide até hoje com o Botafogo. Época do assédio incansável dos times europeus para levar o Galinho sem sucesso. Deu no JS (Jornal dos Sports) que Zico assinara um contrato de CR$ 100.000.000,00, um absurdo para a época. Tudo por conta de uma engenharia financeira, um “pool” de empresas, coisa moderna para aqueles dias. Coca-Cola, Caixa Econômica Federal, entre outros se uniram para manter o patrimônio nacional jogando nos gramados brasileiros, uma coisa impensável e impossível para os dias de hoje.

Como nem tudo foram flores na vida do Galinho: corte da seleção pré-olímpica, demora em se tornar titular do Flamengo, morte do amigo Geraldo, derrota na final do Carioca de 1977, banco na Copa de 1978, até mesmo a sua excelente relação com a torcida do Mengão, deu uma forte estremecida, quando no dia seguinte a final do tri Brasileiro de 1983, frente ao Santos em pleno Maracanã, foi anunciado que Zico estava vendido para o pequeno Udinese da Itália. Aquilo desceu “quadrado”, mas Moraes Moreira fez uma música que resumiu precisamente aquele momento indigesto, prevendo o vazio que nós rubro-negros vivenciaríamos a partir dali:

♫♫E agora como é que eu fico, nas tardes de domingo, sem Zico no Maracanã….♫♫

Lembro bem que a partir daquele marco, passei a torcer pelo Udinese sem o menor pudor. Lia tudo que podia sobre o campeonato italiano e me deliciava com os jogos ao vivo do “Cálcio” que passava pela Rede Bandeirantes do visionário Luciano do Valle. Para se ter uma ideia do que foi Zico na Itália, os torcedores da Udinese diziam que Zico era um motor de Ferrari num fusquinha, tamanha musculatura que ele dera ao pequeno time naquela temporada. Hoje posso confessar que a vida não ficou nada fácil naquele “hiato” proporcionado pela ausência de Zico no Flamengo.

Depois da volta do Galo, da volta dos títulos e da despedida do Galinho em Udine pela seleção e do Flamengo no Maracanã, veio centenário do Flamengo em 1995 e a Escola de Samba Estácio de Sá, homenageou o clube da Gávea e por tabela o Galinho Quintino:

♫♫Será que você lembra, como eu lembro o mundial, que o Zico foi buscar….♫♫

O tempo passou e seu nome ficou gravado nos corações e imortalizado na retina dos torcedores rubro-negros e de tantas outras torcidas que sempre o admiraram, independente das cores dos seus clubes. Zico fez 60 anos e aí choveram homenagens. Arlindo Cruz, o sambista carioca e compositor genial, escreveu algumas linhas magistrais sobre o Rei do Maracanã:

♫♫Vi o gênio jogar, e ao balançar as redes, correr pra geral, ai o Zico….♫♫

Um misto de humildade e de reverência a sua própria torcida. Zico fez história porque não corria para provocar o adversário no lado contrário, fazia exatamente o oposto, corria para comemorar junto a sua torcida, demonstrando respeito e uma postura singular.

♫♫Zico é o rei dos humildes, glória do manto sagrado, Deus do povo rubro-negro, luz que brilhou nos gramados….♫♫

A escola de samba carioca, Imperatriz Leopoldinense também reverenciou Zico, comparando-o ao mítico Rei Artur da távola redonda medieval, com seus cavalheiros Adílio, Tita, Raul, Junior, Leandro, já que na companhia desses fiéis escudeiros iniciava as grandes conquistas aos domingos, no grande templo do Maracanã:

♫♫Com seus cavalheiros. Artur se tornava, o rei do templo sagrado….♫♫

♫♫Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe , ô, o show começou. Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, ô, Um canto de amor

Imperatriz, ô, me faz reviver, Zico faz mais um pra gente ver….♫♫

Alexandre Pires, o mineirinho, ex vocalista do grupo “Só Pra Contrariar”, também fez uma emocionante homenagem, cantando sua relação com o ídolo rubro-negro para o seu filho, que carrega o mesmo nome do gênio:

♫♫Fazia mágica com os seus pés, num tempo em que os jogadores por seus clubes eram fieis…

…A galera explode de emoção Garotinho narra mais um gol, Partiu Galinho de Quintino, atirou , entrou….♫♫

Nesta música, ele conta a relação de fidelidade que havia naquela época entre os ídolos e suas equipes e a emoção de escutar no rádio, um gol do ídolo, narrado pelo trepidante José Carlos Araújo, o garotinho. Alexandre fez Zico disfarçar o choro quando ouviu a música, mas quem viu o vídeo não conseguiu.

Por último, a homenagem séria do humorista Marcelo Marrom, no programa “Altas Horas”, que deixou Zico sem palavras, ao descrever o gênio, que por mais incrível que pareça, mantém a humildade dos sábios, mesmo diante de toda a fama e popularidade:

♫♫Para nós galinho de Quintino, para os japoneses, deus menino. No campo uma lenda e fora dele, um cara normal….♫♫

Não sei se existem mais músicas para homenageá-lo ou tentar descreve-lo, mas sei que para mim, ele nunca precisou de homenagens, Zico foi um divisor de águas rubro-negras em minha vida:

“Nunca fui tão feliz antes, nem depois de Zico jogar”

Parabéns ao Messias Rubro-negro!

E quanto a vocês? Conhecem algum craque que tenha sido tão musical quanto o Galinho? Conta pra nós!

CORDAS VOCAIS, PERNAS MORTAIS

por Zé Roberto Padilha


Há três décadas, Zico era a principal atração do Maracanã. E Phil Collins, a grande atração do Rock in Rio. No último fim de semana, o Fla-Flu foi jogado no Pantanal para 15 mil pessoas, sem o Zico, e Phill Collins ocupou o Maracanã, cantou ao vivo para 40 mil pessoas. Melhor para a música, pior para o futebol.

Quem foi ao maior estádio do mundo pode ouvir, outra vez, a melhor música do mundo. Um dos gigantes do pop mundial relembrou suas canções do Genesis, acompanhados do naipe de sopros à lá Earth, Wind & Fire, enfileirou hits e levantou o público com sua inesquecível “Easy Lover”. Prova que o tempo, se passou, poupou aquelas cordas vocais para que jamais nos deixassem esquecer do talento de Phil Collins.


Já quem foi ao Pantanal sentiu a falta de quem compôs, com a camisa rubro negra, as melhores jogadas do mundo. Clássico das tabelas com Adílio, ultrapassagens com Leandro, sinfonias que acabavam nas redes em parceria com o Nunes. E com o Cláudio Adão. Fora os solos precisos cobrando, como, ninguém uma falta. O som da bola se alinhando nas redes do Santa Cruz, ao contrapé do seu goleiro, ainda ecoam nos ouvidos dos amantes do futebol-arte.

Mas o tempo, a violência do futebol e o Márcio, do Bangu, machucaram suas pernas mortais, provocaram artroses em suas articulações, e de lá, do Pantanal de Cuiabá, torcedores, goleados e humilhados, só sentiram saudades. O que mais sentiriam, senão pena, do que entoam vestindo suas vestes Rômulo, Ronaldo e Marlos Moreno?

Daí você me lembra, e o Jogo das Estrelas? Já fui a um, é um programa parecido com praia em dias de mormaço. Você sai de casa contando com um resquício do sol, e quando ele aparece em uma caneta, um lançamento, ah! você volta imaginando o bronzeado que teria caso seus ídolos tivessem forças para afastar aquelas nuvens dali.


Os músicos pelo mundo tentam, sem sucesso, a inspiração de Phil Collins. E os limitados reservas do Flamengo tentam, sem inspirações, alcançar a genialidade do Zico. Claro, podemos pegar um DVD destes dois gênios e rever suas obras de arte a qualquer tempo. Mas ao vivo, há uma troca de energia, uma cumplicidade, que nem jogadores, músicos, fãs e torcedores sabem explicar. E por tal, a boa musica continuou a reinar neste final de semana, a soar por sobre a histórica grama, coberta e complacente do maior estádio do mundo. E a bola, coitada, ficou a tropeçar por pântanos distantes, conduzidas por notas dissonantes, por atores confusos, que o futebol brasileiro, e a nação rubro-negra, não merecem mais ouvir e assistir.

BEBETO, O ETERNO MENINO PRODÍGIO

‘O Flamengo fez o maior negócio da década. Acabou de comprar o Dida ou o Zico do futuro’. Foi assim que Aymoré Moreira, técnico da seleção bicampeã mundial, em 1962, referiu-se a Bebeto, que hoje faz anos. A seguir, a íntegra da biografia do craque do “Tetra”, que publicaríamos no extinto projeto da enciclopédia “Ídolos-Dicionário dos craques”

por André Felipe de Lima


O primeiro campeonato mundial de futebol de juniores conquistado pelo Brasil, em 1983, revelou uma geração extraordinária de jogadores, que tinha como destaques o volante Dunga (ex-Internacional e Vasco da Gama e capitão do tetra mundial, em 1984), o meia Geovani (ex-Vasco da Gama), o ponta-direita Mauricinho (ex-Comercial-SP e Vasco da Gama), o lateral-direito Jorginho (ex-América e Flamengo) e o meia-atacante José Roberto Gama de Oliveira, o Bebeto, que, nas divisões de base do Vitória, mostrava um futebol incomparável. A saída de Salvador seria uma questão de tempo.

O curioso é que um ano antes do título mundial, o Vasco da Gama, que já contratara Geovani, foi o primeiro clube a almejar o passe de Bebeto. O Vitória botou preço: 20 milhões de cruzeiros; mas o destino do craque magrinho, porém, seria outro.

Com o título mundial de 1983, o passe do jovem atleta era disputado por alguns dos principais clubes do País. O Palmeiras, que ofereceu 80 milhões de cruzeiros, e o Flamengo, que ofereceu quantia menor (56,8 milhões), deixaram o Vasco da Gama para trás.


Pai de Bebeto, o corretor de imóveis Wilson de Oliveira, não pensou na maior cifra e optou pelo clube da Gávea. Afinal, naquela época, o rubro-negro era insuperável: campeão mundial em 1981 e tricampeão brasileiro (1980 e 1982–1983), com Zico, Junior, Leandro, Tita, Nunes…

“O garoto tem de ir para lá mesmo”, concluíra o pai, torcedor do Flamengo, como toda a família Gama, exceto o menino Bebeto, que desde pequeno gostava do Vasco da Gama por conta do avô materno, que se chamava Vasco da Gama Nogueira da Gama. Mas o cruz-maltino perdeu espaço no coração de Bebeto, logo que o jogador pisou na sede da Gávea. E, no dia 23 de março de 1983, sob o comando do treinador Paulo César Carpegiani, Bebeto estreava no poderoso Flamengo durante a vitória por 2 a 0 contra o Tiradentes-PI.

Famoso pelo olhar aguçado para gênios da bola, o treinador Aymoré Moreira, técnico da seleção bicampeã mundial, em 1962, foi categórico: “O Flamengo fez o maior negócio da década. Acabou de comprar o Dida ou o Zico do futuro”. Humilde, o garoto respondia às comparações, afirmando que jamais outro craque teria o mesmo nível de Pelé ou Zico.

Foi nas peladas do Colégio Estadual da Bahia, em Salvador, que descobriam o futebol incomum de Bebeto. Não tardou para que olheiros o levassem para um grande time da cidade. O Bahia largou na frente. E lá estava Bebeto no infanto-juvenil do tricolor baiano. A cada jogo preliminar dos profissionais do Bahia, os jogadores mais velhos chegavam cedo ao estádio para vê-lo jogar. O garoto era indiscutivelmente um espetáculo que, por incompetência dos cartolas do Bahia, acabou migrando para o rival. Tudo porque a política do clube não permitia ajuda de custo a jogadores de divisões inferiores. Bebeto arrumou as malas e partiu para o Vitória, levado pelo amigo Edi, um ex-meia direita. O treinador Pinguela olhou o adolescente muito magrinho e quase o dispensou, mas Edi insistiu para que desse uma oportunidade para Bebeto mostrar o que sabia. E, em dez minutos, Pinguela decidiu que o garoto já era do Vitória, e mais: titular absoluto do time de juniores. “Fiz um gol e já saí de campo com um papel cor-de-rosa para meu pai assinar”.


Mas algo precisava ser feito para que o menino ganhasse mais corpo. Magrinho, daquele jeito, não daria pé. Sendo assim, os cartolas levaram-no, em 1981, a Belo Horizonte, para uma consulta com o doutor Neylor Lasmar, médico do Atlético Mineiro e da Seleção Brasileira. Lasmar foi enfático: talvez não precisasse submeter Bebeto a rigoroso tratamento idêntico ao de Zico. Bastaria muito exercício físico para que o garoto explodisse em vigor. O médico estava certo. Quando já se era jogador do Flamengo,, entre 1981 e 83, Bebeto crescera cerca de sete centímetros e aumentara o peso em mais 13 quilos.

O menino que nascera em Salvador, no dia 16 de fevereiro de 1964, não tivera uma infância abastada. Viera de uma família com nove irmãos. Jamais teve bicicleta, nem bola, como ele mesmo chegou a declarar à imprensa quando chegou ao Flamengo. Presente de Natal? Segundo ele, ganhou um bonequinho do Topo Gigio, quando tinha sete anos. Era o que lembrava. “Meu pai passava um cortado para nos sustentar”.

Embora franzino – quando aportou na Gávea, em 1983, pesava apenas 55 quilos –, Bebeto encantava pelo futebol de dribles precisos e passes rápidos. Os cartolas rubro-negros, a torcida e a imprensa viam-no como substituto de Zico. Afinal, ambos foram submetidos a um intenso trabalho de preparação física e se tornaram ídolos. Logo após o Galinho de Quintino passar o cetro a Bebeto, uma tragédia abalou o jovem ídolo, cujo passe saltou, em um ano, de 56 milhões de cruzeiros para 400 milhões. No dia 20 de dezembro de 1984, Nilton, seu irmão e com quem morava no Rio de Janeiro, e Figueiredo, zagueiro do Flamengo, morreram em um acidente aéreo, em Nova Friburgo.

REBELDE

Após o Flamengo ficar à sombra do Fluminense, entre 1983 e 85, Bebeto superou o drama pessoal e o estilo rebelde sem causa, que tanto incomodava José Roberto Francalacci, preparador físico do clube e responsável direto pela evolução física dele e, no passado, de Zico.


Certa vez, em 1984, Bebeto foi afastado do time pelo técnico Cláudio Garcia. Deveria ficar no Rio de Janeiro treinando, enquanto o time viajava para Campo Grande (MS). Mas Bebeto não obedeceu às ordens do treinador. Seguiu para Salvador e, quando retornou à Gávea, alegou ter ido ver a mãe, que estaria doente. Foi Francalacci que livrou a barra de Bebeto com a diretoria do Flamengo. “Sei que ele fez aquilo em represália por não estar jogando, mas nós precisamos ganhar sua confiança e não é com castigo que se consegue isso”.

Amenizar o perfil rebelde – e até indolente nos exercícios físicos – de Bebeto não foi fácil. Em meados de 1984, o Flamengo enfrentava o Botafogo, quando Zagallo decidiu tirá-lo de campo para que desse lugar a Nunes. Bebeto deixou o gramado correndo e desviando dos microfones dos repórteres. Fosse pouco o gesto, tratou de piorá-lo ao empurrar o supervisor Américo Faria e chutar a porta do vestiário. “É uma injustiça. Zagallo está querendo me queimar com a torcida” – esbravejou. No dia seguinte, o pai o acordou com uma sonora bronca pelo telefone, cobrando-lhe que lesse novamente a carta que lhe dera quando trocou Salvador pelo Rio de Janeiro. Na missiva, constava: “Quando estiver com 30 anos, quero que você seja o maior do mundo, embora pense que eu não chegarei até lá. Quero que você siga o exemplo do Pelé e do Zico, que nunca entram nessa de amigos falsos, de noites perdidas e, hoje, sem problemas financeiros, podem ir para onde quiser, pois não precisam de mais ninguém”.

Zagallo, apesar de tudo, foi paciente com o garoto. Chamou-o para um papo e aconselhou: “Menino, fui campeão do mundo em 1958 e, no mesmo ano, fui escalado num time de aspirantes do Botafogo. Não reclamei e acabei campeão da categoria, antes de recuperar a posição de titular. Voltei a ganhar a Copa do Mundo em 1962. Seja paciente e espere a sua hora”.

Mas o que Bebeto não tinha era paciência. Até que o irmão Nilton viesse morar com ele no Rio de Janeiro, o jovem craque alojara-se na concentração dos amadores, que ficava em Jacarepaguá. De lá até a Gávea, demorava uma hora e meia, invariavelmente de pé em um ônibus. Com dificuldades de engrenar no time, por ser sacado na maioria dos jogos, passou a temer pelo futuro da carreira. Foi nesse período que o zeloso Nilton chegou para orientá-lo e encorajá-lo. Bebeto transformara-se. O menino recordou a carta do pai e passou a agir como homem. Mas quando começou efetivamente a crescer, perdeu o irmão, morto num acidente aéreo, como dito anteriormente. Deprimido, Bebeto perdeu cerca de seis quilos; e uma instabilidade emocional afetou seu desempenho nos gramados. “Bebeto ficou desesperado, inconsolável”, testemunhou Vilma Gomes Pedro de Andrade, mãe de Denise, com quem Bebeto namorava, na época da tragédia.


Quando conseguia marcar um gol, a comemoração era contida. Ajoelhava-se, olhava para o alto e abria os braços. Fez isso algumas vezes, como em um gol que marcou contra o Santa Cruz, em jogo que terminou 4 a 1 para o Flamengo.

Com a família numerosa amparando-o em sua casa na Barra da Tijuca, e distraindo-se com o pequeno zoológico que mantinha no quintal, bem mais maduro e resignado com a perda de Nilton, Bebeto finalmente cresceu e pôde sentir o gosto de ser campeão com a camisa do Flamengo. E logo contra o Vasco da Gama, que àquela altura já havia pescado Mauricinho, tinha Roberto Dinamite em forma estupenda e lançava um promissor garoto: Romário, com quem Bebeto formaria anos mais tarde uma das maiores duplas de ataque da Seleção Brasileira em todos os tempos.

Para cima do Vasco da Gama, o baianinho levantou o seu primeiro troféu. Era campeão carioca de 1986, com jogadas e gols inesquecíveis. Firmara-se o ídolo no panteão de heróis rubro-negros. “Assistir a uma partida de Bebeto vale qualquer esforço”, revelou o ator Francisco Cuoco que, de chapéu e óculos escuros, disfarçava-se para ir ao Maracanã em dias de jogos do Mengão.

O final daquele ano lhe reservou, contudo, uma surpresa desagradável. Em jogo contra o Atlético Goianiense, Bebeto chocou-se com o lateral Dick. O craque rubro-negro levou a pior, quebrando o braço.

No ano seguinte, a glória maior com a camisa vermelha e preta: o tetracampeonato brasileiro, com um time que já passava por profundas transformações. Nas semifinais e na final da competição, o baiano deixou sua marca de goleador: marcou contra o Atlético MG, na semifinal, e contra o Internacional, na finalíssima.

Aliás, um dos gols mais importantes de sua carreira. Um gol que garantiu o placar de 1 a 0, o gol do título do Flamengo. Do Flamengo novamente o melhor do Brasil. Após o apito do árbitro, o jovem ídolo chorou. Chorou muito. Enfim, podiam chamá-lo de “chorão” que ele nem ligava. O ano era seu. Enfim, o desfecho de 1987 foi de muita festa para Bebeto, que, além de campeão brasileiro, casou-se com Denise, no dia 13 de novembro de 1987. E à amada dedicou a grande conquista nacional e o gol do título.

Em 1989, quase foi para a Europa. O Bayern de Munique desembolsaria impressionantes US$ 2 milhões para tê-lo. Roma, Juventus de Turim e Olympique de Marselha também correram por fora no páreo por Bebeto, que àquela altura já era o melhor jogador brasileiro, ao lado de Romário.

A trajetória na Gávea se aproximava do fim. O saldo foi, porém, extraordinário. Participou de 310 jogos, venceu 170 e empatou 78. Tornou-se o sexto maior artilheiro do Flamengo em todos os tempos, com 151 gols. Foi artilheiro do Campeonato Carioca em duas ocasiões: 1988 e 1989, marcando 17 e 18 gols, respectivamente.

HOMENAGEM AO VOVÔ VASCAÍNO?

Diante de um futebol tão loquaz como o de Bebeto, seria difícil mantê-lo no Brasil. Naturalmente que o futebol europeu seria o destino mais provável naquela situação. Mas, por incrível que pareça, os cartolas do Flamengo brigaram com ele e se recusaram a renovar seu contrato, nas bases que Bebeto desejava. Em julho de 1989, o passe do atacante foi parar na Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. Quem depositasse mais, levaria o craque. E não foi nenhum clube europeu o autor da milionária proeza. Foi o Vasco da Gama, por meio de um grupo de empresários e de uma vultosa quantia oriunda das vendas dos passes de Romário, ao PSV Eindhoven, e de Geovani, ao Bolonha. Bebeto trocou a Gávea por São Januário. Uma ousadia que implicou, no passado, em alguns transtornos a jogadores como Jair Rosa Pinto. Situações muito parecidas a dos dois ex-craques.


A torcida rubro-negra, obviamente, definiu Bebeto como um “traidor”. O que nunca foi esquecido por torcedores, digamos, mais passionais. Bebeto entristeceu-se. A situação era constrangedora. E ficou ainda mais quando ele revelou que durante a infância era um apaixonado torcedor do Vasco da Gama e que o seu avô se chamava Vasco da Gama. Polêmica, portanto, instaurada.

O craque alegava à imprensa que jamais desejou abandonar o Flamengo e que o clube não lhe dera o valor necessário, já que o definiam como o sucessor de Zico: “Todo mundo falava nisso, mas nunca me deram valor. Na hora de renovação de contrato era uma briga pra renovar. Passei seis anos no Flamengo e nunca fiz um contrato à minha altura”, declarou o craque, na época, para quem o único culpado por deixar o Flamengo foi o presidente do clube, Gilberto Cardoso Filho.

A operação que o levou do Flamengo para o Vasco da Gama só foi possível porque, em primeiro lugar, o Rubro-Negro dificultava a renovação do contrato do craque, em segundo lugar, Antonio Soares Calçada, então presidente do Vasco da Gama, sabendo da situação, começou, no dia 1º. de julho, a assediar José Moraes, procurador de Bebeto. No dia 4, Gilberto Cardoso, George Helal (vice de futebol do Flamengo) e Josef Berensztein (vice de finanças) oferecem US$ 150 mil para a renovação de contrato. E, enfaticamente, nenhum centavo a mais.

No dia 9, José Moraes procura Antonio Soares Calçada, que pede para ele entrar em contato com Eurico Miranda. “Agora é com ele que você negociará”.

Três dias depois, em Lisboa, Gilberto e Calçada almoçam juntos. O cartola vascaíno nega qualquer interesse por Bebeto. Mas, no Hotel Intercontinental, no Rio de Janeiro, onde a Seleção Brasileira estava concentrada, Eurico e Bebeto acertam os detalhes do contrato. 
No dia 14, Moraes afirma a Helal que há um grupo de empresários querendo levar o passe de Bebeto e que, depois do negócio fechado, emprestaria o craque para um grande clube brasileiro. A intransigência dos cartolas do Flamengo chegou ao ápice, com o passe de Bebeto fixado na Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro em 7,5 milhões de cruzados novos, moeda da época. Enquanto isso, Calçada continuava negando interesse por Bebeto e Gilberto, insistindo nos US$ 115 mil anuais para Bebeto. No dia 19, Bebeto e o Vasco da Gama já haviam acertado as bases do milionário contrato. A única condição é que a contratação só fosse anunciada no dia 27, após o depósito do dinheiro na conta da Federação. 
Os desesperados cartolas do Flamengo trataram de arrumar um “judas” para o imbróglio: José Moraes. Até boneco com o nome do procurador foi queimado na Gávea, por indignados torcedores, durante um jogo do Flamengo contra Paysandu, pela Copa do Brasil.
Só no dia 24 é que a turma da Gávea se deu conta de que quem estava por trás de toda a operação era o Vasco da Gama. Diante de muita pressão da torcida do Flamengo, a cúpula do clube jantou com Moraes e igualou a proposta do rival. No dia seguinte, Michel Assef (advogado do Flamengo), Josef e Márcio Braga (no papel de conselheiro do clube), encontraram Moraes e Bebeto em Teresópolis, na concentração da Seleção.

Bebeto diz a eles que já firmou acordo com o Vasco da Gama e que nada mais poderia fazer pelo Flamengo. No dia 26, os dirigentes do Flamengo tentam falar novamente com Bebeto, em Teresópolis, mas nada conseguem. O contrato com o Vasco da Gama já estava assinado. À noite, o Flamengo consegue uma liminar na 27ª. Vara Cível para impedir o depósito do dinheiro na Federação. No dia 27, os desesperados cartolas rubro-negros conseguem falar com Bebeto. Ouviram dele o que não queriam: “Não quer mais ficar na Gávea. Ele (Gilberto Cardoso) disse que eu não estava com essa bola toda”.


No dia 28, enfim, o Vasco da Gama derruba a liminar do Flamengo e deposita do dinheiro na Federação. Bebeto vestiria, dali em diante, a camisa cruz-maltina.

Bebeto foi, lógico, bem recebido no Vasco da Gama. E logo no primeiro ano, em 1989, ao lado de craques como Mazinho, Bismark, William e Luís Carlos Winck, conquistou o segundo título brasileiro para o clube da cruz-de-malta. Saiu-se tão bem no Vasco da Gama que recebeu da crônica esportiva sul-americana o título de melhor jogador do continente.

Embora tivesse uma trajetória feliz nos gramados, vestindo a camisa do Vasco da Gama – 60 gols em 116 jogos –, chegara a hora de respirar ares europeus. Mais uma vez, Bebeto surpreenderia ao se transferir para um clube espanhol sem nenhuma tradição. Em 1992, vestia a blusa azul e branca do Deportivo de La Coruña, da Espanha. O craque se tornou o maior nome do futebol espanhol, junto com Romário, que estava no Barcelona. O Deportivo, de Bebeto, disputou os títulos de 1993 e 1994. Por muito pouco, não levantou o caneco espanhol. Bebeto se tornou recordista de gols do Deportivo em uma temporada (29 gols) e foi decisivo para a conquista da Copa da Espanha de 1995.

Bebeto é, sem dúvida, um dos maiores ídolos da história do La Coruña. Sua grande frustração na Espanha foi não conseguir o título espanhol para o clube, na temporada de 1993/94. O La Coruña liderara a competição até a última rodada, mas, no fatídico dia 14 de maio de 1994, quando se realizara a última rodada, o clube precisava de uma simples vitória sobre o Valência para levantar a taça. Aos 44 da segunda etapa, quando o placar estava 0 a 0, o árbitro marcou penalty para o La Coruña. Bebeto, que era o cobrador oficial junto com outro brasileiro, o Donato – que já havia sido substituído, não quis cobrar e deixou o “abacaxi” para o zagueiro Djukic, que bateu mal à beça. Bebeto esquivou-se do penalty porque alegara estar sentindo dores na coxa. O jogo terminou sem gols e o Barça, que foi alcançando o time do Bebeto rodada a rodada, acabou campeão por ter vencido sua peleja derradeira na tabela.

Bebeto estava em ótima fase. Do Japão, veio uma proposta milionária (US$ 7,5 milhões) do Yomiuri Verdy (Tokyo Verdy desde 2001). Recusou; queria retornar ao Brasil. O jogo de despedida do “Deus-Bebeto” – como estampavam faixas na arquibancada de La Coruña – foi emocionante. Aclamado como o maior herói do clube galego em todos os tempos.

A epopeia de Bebeto na Seleção Brasileira não foi menos gloriosa. Um dos ícones de uma das gerações mais vitoriosas do futebol brasileiro, que já erguia taças internacionais ainda nos juniores, como o Mundial de 1983, teve sua primeira oportunidade com a “Amarelinha” pelas mãos de Evaristo de Macedo, que o colocou lado a lado de Sócrates e Zico.


Mas a grande fase começou em 1989, na Copa América de 1989, no Maracanã. Ele e Romário, em uma das mais brilhantes atuações de uma dupla de ataque da Seleção Brasileira durante uma decisão, destruíram o Uruguai e conquistaram o Campeonato Sul-Americano, de cujo troféu o futebol brasileiro não via há muitos anos. Inesquecível!

De Bebeto e Romário, se esperava tudo. Foram novamente convocados por Sebastião Lazaroni (que dirigira Bebeto no título carioca de 1986, pelo Flamengo) para a Copa do Mundo na Itália.
Infelizmente, um fiasco! O time que tinha Branco (Fluminense), Ricardo Rocha (São Paulo), Ricardo Gomes (Fluminense), Muller (São Paulo) e Alemão (Botafogo) fez feio e foi eliminado pela Argentina de Maradona e Caniggia. Indispôs-se publicamente com Lazaroni. Não seria diferente a relação com Falcão, que entrara no lugar de Lazaroni, no comando da Seleção.

Teve todas as chances para se firmar, no lugar de Careca, no escrete dirigido por Paulo Roberto Falcão. Mas reclamava do técnico, embora tenha se curado de um desequilíbrio muscular na coxa direita graças à comissão técnica liderada pelo gaúcho. Insatisfeito, apesar de curado, pediu para deixar a Seleção três dias antes do embarque da delegação ao Chile para a Copa América, em 1991. 
Mas o tempo moldaria Bebeto, um craque indiscutível.


Nos Estados Unidos, em 1994, aquela geração liderada por ele e Romário redimiria o futebol brasileiro. Enfim, após mais de 20 anos no estaleiro, o tetra veio em cima da Itália, em uma das finais mais dramáticas da história do futebol, marcada por uma longa cobrança de pênaltis.

“Depois do tetra, talvez eu pare. A certeza é que não vou ser pentacampeão”, disse Bebeto, com um ar profético.

Teve uma chance para derrubar a profecia: fez parte do grupo de 1998, agora sem Romário, cortado por Zagallo e Zico. Sem o parceiro de 1994, formou dupla com o garoto Ronaldinho (Fenômeno).

Tudo foi complicado naquela Copa francesa. Teve uma áspera discussão com o capitão Dunga durante o jogo contra a Dinamarca e viu o penta ir pelos ares após a acachapante vitória da França por 3 a 0 na final. Balançou, contudo, a rede três vezes: contra Marrocos (3×0), Noruega (1×2) e Dinamarca (3×2).

Mas o saldo foi positivo: no Escrete, três Copas, um título, um vice e uma medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, em 1987, nos Estados Unidos. Na Seleção Olímpica, a medalha de ouro não veio. Contentou-se com a prata em Seul (1988), participando de um time formado por um misto das seleções campeãs mundiais de juniores em 1983 e 1985, com Taffarell, Muller, Dunga e Geovani. Deu União Soviética.

Aquela promissora Seleção teve o comando do técnico Carlos Alberto Silva, com quem Bebeto havia se desentendido durante o torneio pré-olímpico, em 1987, após perder um pênalti contra a Colômbia. Bebeto teria sido empurrado pelo treinador – há quem diga que até um tapa foi desferido –após reclamar de sua substituição e começar a chorar. Veio deste episódio a incômoda fama de “chorão”, que serviu de chacota para as torcidas adversárias e de muita aporrinhação para Bebeto, dentro e fora dos gramados.

A violência era mais moral que física. Evitava ler jornais e revistas para não se aborrecer. Mesmo assim, ao espiar algumas folhas, rasgava-as irritadíssimo. A torcida do Flamengo tratou de apoiá-lo: se recebia 200 cartas por mês, esse número subiu para 300. Bebeto elevou o moral. “Choro, e daí? A torcida entende que sou um homem de verdade, mesmo chorando quando tenho vontade”.

Menino prodígio, desde cedo Bebeto foi cercado de extremos cuidados pelo Flamengo. Especulava-se que o jovem ídolo rubro-negro dormia mal e sofria com diarreias em véspera de jogo decisivo. Incomodava-o também uma impertinente gastrite. Tanto esmero do pessoal da Gávea e insistentes especulações sobre o perfil do craque renderam comentários da imprensa de que o craque era “mimado” a ponto de não aceitar realizar um tratamento de hidromassagem no Flamengo por conta de um, no mínimo, curioso motivo: ficara traumatizado na infância após levar um choque elétrico durante um banho.

O ESPÍRITO É FORTE, MAS O CORPO…

Já campeão mundial em 1994, um amadurecido Bebeto voltaria aos Jogos Olímpicos, em 1996, na cidade norte-americana de Atlanta, tentando novamente o ouro. Mas a Seleção tombou nas semifinais diante dos velozes nigerianos. Bebeto fez seis gols na competição, terminou com a medalha de bronze e retornou ao Flamengo para formar o “ataque dos sonhos” ao lado de Sávio e Romário. Não deu certo.

O então presidente do Flamengo, Kleber Leite, vendeu o passe de Bebeto ao Sevilla, o que o deixou muito desapontado. Ficou pouco tempo na Espanha e regressou em 1997 a Salvador para defender o Vitória. Foi campeão baiano e da Copa Nordeste no mesmo ano em que chegou ao clube. Transferiu-se para o Botafogo, em 1998, e conquistou o Torneio Rio–São Paulo. Deixou o alvinegro carioca em 1999 para fazer dólares no exterior. Jogou pelo Toros Neza FC (1999), uma tentativa frustrada de repetir o feito do La Coruña mas, sem receber salários, ameaçou o clube com uma greve particular. Virou ídolo dos companheiros, que entraram em campo com a seguinte frase na camisa: “Bebeto, estamos com você”. O craque jogou apenas oito partidas e marcou um gol. Do México saiu sem receber cerca de dois milhões dólares.

Da aventura mexicana para aventura britânica. Bebeto submeteu-se a um estranho teste no Sunderland Association FC, mas o que ofereceram era muito pouco para seu perfil de craque campeão mundial.

Sem negócio na Inglaterra, partiu, após ouvir atentamente o conselho do ídolo Zico, para o japonês Kashima Antlers, em março de 2000, antes de retornar novamente ao Vitória, em agosto do mesmo ano, onde repetiu o pífio desempenho do Toros, disputando somente oito jogos oficiais pelo Kashima e marcando apenas um gol.

Bebeto não estava bem. Custou a se recuperar de um estresse no joelho direito, que motivou o fim do contrato com os japoneses e a perda de parte do salário anual de um milhão de dólares. Era nítido o declínio da carreira. Com o Vitória, onde esperava dar a volta por cima, entrou em campo apenas três vezes. Bateu no Flamengo, pedindo uma oportunidade. Fecharam-lhe a porta.

Mesmo assim, sob a influência do eterno parceiro de ataque, Romário, Bebeto ressurgiu no Vasco da Gama, em agosto de 2001, para a disputa do Campeonato Brasileiro. Estava há oito meses sem participar de um jogo oficial, mas o cartola Eurico Miranda, que não o queria mais vestindo a camisa cruz-maltina, cedeu ao apelo de Romário e aceitou Bebeto de volta a São Januário. “Digo uma coisa hoje e amanhã falo outra, sem problemas”, assinalou Eurico.

O “Baixinho” convencera o cartola de desistir da promessa de nunca mais deixar Bebeto jogar no Vasco da Gama, desde que ele deixara o Deportivo para atuar pelo Flamengo, em 1986.

De nada adiantou. Bebeto estava fora de forma e passou a maior parte do tempo no banco de reservas. Deixou o clube, mas tentou uma nova investida, em 2002. Em vão. Se, no Brasil, não havia mais espaço para Bebeto, tentar o exterior novamente era o único recurso. Sendo assim, arriscou-se no futebol árabe. Deu-se mal. Jogou apenas cinco vezes, com um gol marcado, e teve o contrato rescindido por deficiência técnica, como alegaram os árabes. Para piorar a situação, tal como os mexicanos do Toros, o Al-Ittihad ficou devendo ao craque uma parruda grana.


Cansado da rinha com os matreiros cartolas estrangeiros, com a idade pesando e lhe impedindo as memoráveis arrancadas e dribles de outrora, Bebeto decidira colocar um ponto final na carreira, a vitoriosa trajetória de um dos maiores atacantes da história do futebol brasileiro.

Com Jorginho, companheiro do mundial de juniores de 83 e do tetra de 94, Bebeto tornou-se empresário de jogadores e oferece assistência social a crianças carentes.

Divide a paixão entre as cidades do Rio de Janeiro e de Salvador, onde tem residências. Com Denise, a companheira de sempre, tem três filhos, um deles, Mattheus, uma grande revelação das divisões de base do Flamengo. Não abandonou, porém, o futebol.

Em dezembro de 2009, Romário, então gestor do América RJ, convidou o antigo parceiro do ataque canarinho para assumir o cargo de técnico do Alvirrubro carioca para o retorno do clube à primeira divisão do campeonato do Rio de Janeiro. Bebeto iniciaria, ali, sua carreira de treinador. Mas em 2010 decidiu aventurar-se na política. Elegeu-se deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Bebeto sempre foi surpreendente.

A MAGNÉTICA

por Serginho 5Bocas


Jorge Ben (ou Benjor) soube definir com precisão cirúrgica o apelido da torcida do Flamengo. O maior e mais carismático clube do Brasil tinha que ter uma torcida à altura, com vontade própria, com magnetismo, que fosse capaz de magnetizar os jogadores dentro do campo, empurrando-os para as vitórias, um décimo-segundo jogador.

A torcida do Flamengo sempre lançou moda e tendências no futebol brasileiro, ou algum flamenguista de carteirinha já se esqueceu quem foi a primeira torcida organizada deste país? Isso mesmo, a Charanga de Jayme de Carvalho, criada em 1942 e que animava os jogos com sua famosa bandinha.


Depois, em 1978, esta torcida maravilhosa criou uma versão de uma marcha ufanista do governo militar que caiu nas graças da galera e é repetida até hoje: “Conte comigo Mengão, acima de tudo rubro-negro, Oh meu Mengão, eu gosto de você…”.


E quando se ouviu pela primeira vez a torcida gritando o nome de cada jogador da escalação, do goleiro ao ponta-esquerda, com uma pequena alteração na ordem numérica, é que nesta homenagem o 10 sempre vinha depois do 11. Aquele era um momento solene, era a hora de enchermos os pulmões e gritarmos o quanto amávamos o nosso deus: “Zico, Zico, Zico…”.

Depois veio a década de 90 e trouxemos da Argentina, de um jogo contra o Boca Juniors, a batida de palma de mão espalmada, que na versão rubro-negra foi um espetáculo em preto e vermelho, principalmente na trajetória do “penta” comandado pelo maestro Junior, o famoso “chama o velho”.

E mais recentemente teve o grito de “poeira, poeira, levantou poeira…”, a música de Ivete Sangalo embalou os dribles de Felipe na condução de mais um carioca para a Gávea, e ainda sobrou espaço para homenagear Ayrton Senna com o “tema da vitória” adaptado para o universo rubro-negro.

Realmente esta torcida é um capítulo à parte na história deste clube e do futebol brasileiro, e eu teria um desgosto profundo se faltasse o Flamengo e a torcida do Flamengo no mundo.

 

 

QUERO MEUS FONES!

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


“Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudade, Rio teu mar, praias sem fim, Rio você foi feito pra mim, Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara, este samba é só porque Rio eu gosto de você….”.

Sempre que o Botafogo voltava ao Rio, após suas longas excursões pela Europa, os comandantes dos voos costumavam colocar “Samba do Avião” quando estávamos próximos ao pouso. Muitos jogadores choravam. Saudade de casa, da família, das namoradas, da praia e do Maracanã, nosso palco principal.

Hoje, moro em Florianópolis e sempre que retorno ao Rio essa canção embala meus pensamentos. Vocês entendem por que é tão difícil não comparar futuro e passado? Manga, Gerson, Jairzinho, Roberto Miranda, Carlos Roberto….hoje, não sei escalar o Botafogo.

Passei alguns dias aqui na Cidade Maravilhosa e preparo minha volta para Santa Catarina. A cidade está sem brilho, reclamação geral das administrações de governo e prefeitura. No táxi, o programa esportivo exalta Tite, nosso novo herói.


Olho para o lado e vejo os campos do Aterro, agora com grama sintética, vazios. Vários mendigos dormem no parque. “Essa cidade está abandonada”, reclama o taxista.

Estou indo almoçar com Francisco Horta, o homem que me convenceu a trocar a França pelo Fluminense. Aceitei muito por causa do calor e da magia dessa cidade. Na estreia, 1 x 0 contra o poderoso Bayern, no Maracanã. Só o Horta conseguia essas proezas.O Rio é outro, o futebol é outro. “Aceita, PC!!!!”, grito comigo mesmo em meus atormentados pensamentos. 

Encontro Horta e nos abraçamos longamente. Na sala, alguém lembra que os estaduais começam em alguns dias. Nos entreolhamos e mudamos o rumo da prosa. O Horta revolucionou o Campeonato Carioca! Qual jogador não queria disputar o nosso estadual? Hoje eles fazem o sinal da cruz, só querem saber de seus fones de ouvido. Investiram pesado para o Pelé ser o garoto-propaganda do Carioca, prometem mudar as regras.


Chega a ser constrangedor.Preços caríssimos para assistir quem? Qual é o craque do Carioca? Luiz Fabiano novamente machucado? GuM? Diego? Pimpão? O Flamengo promete jogar com os reservas. Será que a torcida vai notar a diferença?

Federação, presidentes, conselheiros deveriam se mobilizar para montar bons times. Ah, estão com dificuldades em encontrar craques? Basta assistir a Copinha e confirmarão que as bases estão estraçalhadas.

Virem-se, vocês estragaram, vocês consertem!!!!  Fim do almoço, entro no táxi e peço “aeroporto”. O motorista me reconhece e logo pergunta: “E aí, PC, e o nosso Fogão?”. Ah, como eu queria ter esses fones de ouvido.