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Flamengo

A GOMALINA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Dá para medir bem a qualidade do Carioca quando os dois favoritos jogando pelo empate conseguem perder para os azarões Botafogo e Vasco. O Carpegiani, por quem tenho muito carinho, derrapou feio ao escalar Aarão e Jonas no meio e Everton, o melhor do time, na lateral. O Botafogo entrou com um time bem armado e Luiz Fernando, o homem do gol, pode vir a ser um bom jogador. Fez um gol que causou um estrago tremendo no milionário time do Mengão, que ao invés de demitir apenas Rodrigo Caetano, o gerente de futebol que vem contratando errado há anos, mandou junto o técnico e o Jayme, sempre o Jayme!

O Flamengo gastou milhões para trazer um goleiro com fama de pegador de pênaltis, um centroavante com fama de batedor de pênaltis, e um meio-campo que não se despenteia nunca e só bate faltas e escanteios. Pelo menos, a gomalina é boa, Kkkkkk!!!! É muito pouco e a torcida não atura. Que a administração continue saneando as dívidas do clube, mas contratar errado é uma aula de jogar dinheiro fora.

No Vasco, o Zé Ricardo mesmo precisando da vitória entrou com um time defensivo. Paulinho entrou e resolveu. Ou seja, quem é bom de bola tem que sair jogando.


Sobre a decisão não arrisco palpite porque esse título pode iludir muita gente. O Brasileiro vem aí e os clubes cariocas com esses elencos vão penar. Ainda mais se os torcedores continuarem longe dos estádios. Essa é a resposta deles por anos de descaso, times de quinta categoria, ingressos caros e regulamentos esdrúxulos. Se o produto for bom, a casa enche.

Dirigentes, esqueçam, o torcedor está ligado, cansou de maquiagem e pirataria. Os tempos mudaram e o produto pode até vir com tatuagem, brinco e brilhantina, mas que traga junto o futebol. 

O VERDADEIRO CAMPEÃO AINDA NÃO NASCEU

por Iran Damasceno


Em tempos de transformações sociais, devemos entender que o ato de pensar sobre o bem comum deveria ser uma tarefa coletiva de gestação, onde cada um e cada segmento teriam que fazer a sua parte, porém e infelizmente não temos esta veia coletiva de construção, principalmente quanto ao que podemos, ainda, considerar “tabu”. O futebol é um segmento que sofre com a falta de profissionalismo e comprometimento, pois ele é bastante parecido com a política. Me refiro à administração dos clubes brasileiros e, especificamente falando, ao grande Flamengo.

Temos visto a Europa avançar vertiginosamente nos campos da tecnologia, o que pra nós não é novidade e estamos em níveis de comparação dentro do futebol, entretanto o que joga tudo isso por terra é a falta de profissionalismo e capacidade administrativa, passando pela gestão de pessoas, de nós brasileiros. Explicando: Como funciona um organograma funcional num clube de futebol? Ele apenas identifica as funções? Até onde vai a liberdade de atuação dos seus dirigentes, quanto à manutenção de uma comissão técnica, por exemplo?

Estamos pegando como exemplo a demissão do Carpegiani, acompanhada das saídas de Mozer, Jayme, Rodrigo Caetano e cia. Onde o Flamengo está se especializando em gafes e derrocadas administrativas na gestão do Bandeira de Melo, que em princípio estaria “sanando as dívidas” do clube, valendo ressaltar que na gestão Dilma, aliada ao Congresso Nacional, preparando-se para a “Copa da corrupção”, abonaram aos clubes de futebol, perante as suas dividas, assim e amparados a parcerias invisíveis (?), quase nenhum de nós, simples mortais, sabemos como e de que forma ele conseguiu esta “mágica”.


Vale lembrar que o Flamengo vive de tradições, o que é salutar e meritório, mas, atentemos ao fato de o clube ser sempre submisso (?) a sua torcida quanto as ações administrativas, ao ponto de colocar no comando do seu futebol, um torcedor. Está errado? Para muitos sim, pois um clube de massa que quer atingir patamares superiores reais, pois “vive” de um título mundial de 1981, deveria pensar em gestão profissional e, finalmente, aprender a usar em seu favor, algo que NUNCA soube: Comunicação e Marketing.  É isso mesmo, o Flamengo sofre com a arcaica maneira de se comunicar com seu torcedor, assim, achando que deve “dar satisfação” sobre tudo que faz, aceita imposições e se ressente sempre que perde um jogo e é recebido nos aeroportos da vida com gritos, agressões e quebradeiras dos ônibus.

Está na hora disso acabar, pois um clube que quer e precisa se modernizar, não pode ser refém da sua própria inconsistência administrativa e, principalmente, submissão.


Nos parece, aos mais atentos, se tratar de uma simbiose aceita e consciente para que todos fiquem “felizes” e possam bradar que o Maracanã é a nossa casa, quando na verdade é preciso se pensar bem mais a frente e com uma visão, realmente, profissional.

Agora, vem a pergunta: Como romper este cordão umbilical, de um parto que já deveria ter sido feito?

MALDITOS JOELHOS

por Marcos Vinicius Cabral


Nascido em 17 de março de 1959 em Cabo Frio, na Região dos Lagos, o menino de olhos esverdeados José Leandro de Souza Ferreira não imaginaria o que o futuro lhe reservava.

A paixão pelo clube da Gávea começou em 1969, na decisão do Carioca entre Flamengo e Fluminense.

No quarto, Leandro em companhia do pai, seu Eliziário, ouvia o jogo ao som do radinho de pilha.

– Vi meu pai muito triste, porque o Flamengo perdia para o Fluminense por 2 a 1. Depois do segundo gol tricolor, eu disse que iria ao banheiro, mas fui à sala ajoelhar e rezar pelo empate. Quando voltei, saiu o gol. Foi uma alegria imensa. Depois perdemos o titulo, mas me senti realizado por papai do céu atender ao meu pedido! – conta.

Depois disso a paixão foi crescendo, crescendo e crescendo.

E cresceu tanto a ponto de voltando da Praia do Leblon – no período de férias escolares – ir à contragosto com o primo Nonato à sede do clube marcar um teste.

Com um par de chuteiras maiores que seu número habitual, meiões enlarguecidos e desbotados pelo tempo e um short desproporcional ao seu corpo, se candidatou à vaga de lateral esquerdo.

Passou com sobras nos dois treinos que fez no campo da Base de Fuzileiros Navais da Ilha do Governador e ao lado de Vitor – cabeça de área que jogou nos quatro grandes clubes do Rio – foi selecionado por Américo Faria para treinar na Gávea.


– Ele costumava fazer as jogadas dentro de campo e olhar para o banco de reservas para ver se eu estava olhando. E como eu fingia que não via, sempre que terminava o jogo ele vinha me perguntar se eu havia gostado daquilo. Eu dizia que estava indo bem! – diz o ex-supervisor da seleção brasileira Américo Faria, de 73 anos.

E completa:

– Na minha longa carreira no futebol, foi, sem dúvida alguma, o jogador de maior talento com quem trabalhei.

Já como juvenil do Clube de Regatas do Flamengo, começou a despontar nas preliminares.

– Certa vez, finzinho da década de 70, fui ao estádio Caio Martins em Niterói, ver os dois jogos da decisão juvenil entre Flamengo e Botafogo. Mesmo tendo perdido as duas partidas e visto o alvinegro sagrar-se campeão, fiquei feliz com a atuação de um jogador. Seu nome? Um certo Leandro! –  relembra o metalúrgico Luiz Antonio Lorosa de 52 anos.

E foi aos poucos que Leandro foi conquistando seu espaço na equipe rubro-negra.

Apesar de quase ter ido para o Internacional no começo da carreira – foi reprovado pelo Departamento Médico do clube gaúcho por causa dos joelhos – se firmou na posição no qual é até hoje lembrado.


(Foto: Marcelo Tabach)

Com uma trajetória marcada por glórias nos inúmeros títulos conquistados na carreira, como os Brasileiros, Libertadores e Mundial na prolifera década de 80, era frequentador assíduo do Departamento Médico e da sala de musculação do clube.

Se ganhou o apelido de “peixe-frito” no mundo da bola, poucas não foram as vezes que fez trabalhos específicos na piscina.

Era muito sacrifício que a lateral direita lhe exigia.

Quando Júnior foi vendido ao Torino, em 1984, o Flamengo tratou logo de contratar um substituto para disputar com Adalberto a posição.

– Fui para disputar a titularidade com Adalberto na lateral esquerda e acabou o Mozer se machucando e ele (Leandro) pediu para ir para a zaga. Agradeci muito por ele ter feito isso e tenho a certeza que não entraria tão cedo na equipe, pois na direita era quase que impossível de eu entrar! – diz Jorginho, tetracampeão mundial em 1994.

E completa:

– Pra mim foi o melhor lateral direito que eu vi jogar do mundo. Eu o considero fora de série, um craque em quem sempre me espelhei.

E foi dessa forma que Leandro passou da lateral à zaga e continuou mostrando todo seu repertório de grande jogador.

Onde fosse colocado, o “peixe” jogava.

Trocou a camisa 2 – que passou a ser vestida por Jorginho – pela 3 em homenagem ao zagueiro Figueiredo – falecido em um acidente aéreo em Nova Friburgo – que era seu companheiro no Flamengo.

Com o novo número às costas, fez partidas épicas pelo rubro-negro, como o Fla-Flu do Leandro, em 1985, quando marcou um golaço.


– O que me impressionava no Leandro era sua elegância em campo. A mim parecia que ele flutuava sobre o gramado, com a bola docilmente subjugada junto aos seus pés. Vendo-o jogar, parecia que tudo era fácil! O drible, a condução da bola, o lançamento. Leandro executava cada um dos fundamentos com uma maestria que encantava a todos. O overlapping e o ponto futuro, inovações de Cláudio Coutinho, pareciam ter sido criadas para ele. Era fantástico ver que, de repente, do nada, o lateral aparecia na linha de fundo e num lançamento preciso deixava Nunes ou Zico na cara do gol. Se Zico foi o rei, Leandro era o príncipe! Quando Leandro parou de jogar, um bocado da magia do futebol se foi com ele. Mas é reconfortante saber que a admiração pelo ídolo persiste em todo rubro-negro que um dia teve o privilégio de tê-lo visto jogar! – frisa o professor universitário Maurício Vasquez de 57 anos e fã do jogador.

Mas se não fossem os malditos joelhos, teria ido mais longe na carreira.

Teria, por exemplo, disputado a Copa do Mundo no México, em 1986, já que era nome certo para ocupar a lateral direita como Telê Santana queria.

Porém, se negou a ir por achar que não seria útil naquela posição, embora muitos achem que foi por solidariedade ao corte de Renato Gaúcho.

Não tinha o vigor e nem os joelhos da Copa passada, a de 1982, na Espanha – já que aquele Brasil de Zico, talvez tenha sido ao lado da Hungria de Puskas em 1954 e da Holanda de Cruyff em 1974, as seleções mais injustiçadas no mundo ingrato da bola – mesmo com sua qualidade inquestionável.

Ainda teve fôlego para conquistar o Campeonato Brasileiro de 1987 e numa carreira vitoriosa, abandonou o futebol.

Em pouco mais de 10 anos como jogador (1978-1990), foi expulso uma única vez contra o Bangu, exatamente na sua última partida como profissional.

Leandro deixou saudades.

Deixou um legado no futebol inestimável e foi um divisor de águas naquela lateral direita.

Até hoje, passados 28 anos que pendurou as chuteiras, resiste ao tempo a genialidade de quem é considerado por muitos como o maior lateral direito de todos os tempos.

Hoje, 17 de março, o “Cavalo Manco” – como Carpegiani o chamava – faz 59 anos.

Vida longa e feliz aniversário!

LEANDRO, O ESTETA DA BOLA

É bem provável que jamais apareça um lateral-direito como Leandro no Flamengo. Foi estupendo, um ídolo. Neste sábado, 17, o craque faz anos. Nas linhas abaixo, uma crônica sobre a trajetória do Leandro.

por André Felipe de Lima


— Olhe, primo, acho que você não vem treinar no Flamengo porque tem medo.

— Medo?! — indagou, contrariado, o outro primo, que completou a resposta com uma altivez comum aos que nasceram para brilhar:

— Se você for lá comigo perguntar a hora e o local do treino, venho hoje mesmo.

O garoto não se intimidou. Entrou no clube, com o primo a tiracolo, e realizou o primeiro treino com a camisa que jamais deixaria de vestir ao longo da carreira. O menino, hoje um ídolo inquestionável, chama-se José Leandro de Souza Ferreira e se tornaria uma espécie de Nilton Santos rubro-negro. Tanto ele quanto o “Enciclopédia” do Botafogo jamais vestiram outra camisa que não fosse a do clube do coração. No peito de Leandro bate o escudo do Flamengo, no de Nilton Santos, o do Botafogo. Nenhum outro brasão rouba-lhes o amor.

Foi assim, em 1977, com essa compreensível empáfia juvenil, que Leandro ingressou no clube da Gávea para tornar-se o melhor lateral-direito da história do Flamengo, superando na mesma posição outro “imortal” rubro-negro, o grande Biguá, mítico craque dos anos de 1940 e de 50.

Neste sábado, dia 17, Leandro, um dos mais extraordinários jogadores que o futebol brasileiro já produziu, comemora mais um ano de vida.

Escrevo sobre Leandro porque o que vi jogar e posso afirmar sem pestanejar, meus amigos: era um assombro com a bola nos pés. Polivalente, jogava na lateral, na zaga, no meio-campo e até mesmo no ataque, lá na ponta-esquerda, se assim preciso fosse. Era um jogador completo. Verdadeiramente incomparável. Fez parte da maior geração de craques que o Flamengo já teve, com Zico, Adílio, Júnior, Andrade, Tita, Mozer, Marinho, Lico, Raul, Nunes. Um timaço campeão mundial em 1981. Um time que mais se parecia com uma galeria de arte. Cada craque, uma genuína obra-prima. Naquele mesmo ano, o das maiores glórias do Flamengo em todos os tempos, Leandro declarou: “Até hoje ainda sou um torcedor. Não me importo com o número, com a posição. Minha alegria é entrar e sentir a força dessa torcida”.


O que faziam aquelas pernas arqueadas, meus amigos, era algo fora do comum. Leandro driblava com estilo, técnica, maestria. Sim, Leandro foi um esteta da bola. Uma espécie rara de se ver nos gramados de hoje em dia. Sejam os daqui como os lá de fora. Na arquibancada, em jogos do Flamengo contra seus principais rivais, era comum ouvir o seguinte quando Leandro tocava na bola: “Vai jogar bem assim lá no cacete!”. Eu mesmo ouvi isso várias vezes no Maracanã ou em um bar debatendo sobre a rodada do fim de semana.

Leandro parecia deslizar sobre a grama tal a capacidade que ostentava para dominar a bola com os dois pés. Um ambidestro que Zico (sim, o Zico, um dos seus mais ardorosos fãs) definia como fora de série. Olhá-lo com a pelota de pé em pé nos iludia. Vê-lo jogar bola fazia com que acreditássemos ser o futebol a coisa mais fácil de fazer no mundo. Bola e Leandro eram, definitivamente, irmãos siameses, simplesmente indissociáveis.

Quando Leandro estreou pelos profissionais do Flamengo, em fevereiro de 1979, não imaginava que chegaria ao topo tão rapidamente e de forma fulgurante a ponto de muitos (este jornalista, inclusive) achá-lo o “melhor lateral-direito” da história do futebol brasileiro. Superior, sobretudo, a dois monstros sagrados da posição: Djalma Santos e Carlos Alberto Torres, que conquistaram, contudo, o que ele jamais conquistou: Copa do Mundo. Será que os dois “cobras” eram tão (ou mais) completos que Leandro? A polêmica é a alma da paixão futebolística. Solte-se, portanto, no ar o saudável debate.

O caminho de Leandro a partir de 1979 não foi moleza. Além de disputar a posição com Toninho, sofrera com várias contusões em 1980, ano do primeiro título nacional do Flamengo. No seguinte, durante o carnaval, seu Puma capotou, e por muito pouco não o matou. Mas as suas inconfundíveis pernas arqueadas, que tantas alegrias proporcionaram, pareciam ser as algozes do craque.


Pernas que representavam um manancial de felicidade pareciam escravizá-lo. Por causa delas (ou das dores que elas provocavam), Leandro por pouco não teve o passe negociado ao Internacional de Porto Alegre, em 1980. O negócio só não foi concretizado porque os médicos do clube gaúcho alegaram que Leandro sofria de uma calcificação incurável no joelho, uma sequela de uma operação de meniscos. Vaticinaram os “doutores” do Beira-Rio: “Esse aí vai ter vida curta no futebol”. Erraram, e feio, para a sorte do Flamengo.

Embora com muito futebol para dar e vender, Leandro sofria dores homéricas. Sempre as sentiu. Desde que começara no Flamengo. Disputou a Copa do Mundo de 1982, jogando naquela que está entre as quatro maiores Seleções Brasileiras da história, ao lado das de 1950, de 58 e de 70. Como nós todos, sofreu com a derrota para os italianos, mas também sofreu com as dores nos joelhos, das quais jamais se livrou. Não me recordo de um jogador de futebol sofrer longos e tortuosos anos com dor. O pior dos convívios, diria. Reinaldo, do Atlético Mineiro, talvez sejam um exemplo igual ao do Leandro. Mas, mesmo assim, não é comum.

Na Copa seguinte, em 1986, Leandro pediu ao treinador Telê Santana para jogar na zaga. Os joelhos já não mais aguentavam. O tal “Mal de Cowboy” estava liquidando-o. O futebol de Leandro estava lamentavelmente acabando. “Cada partida que Leandro disputa é uma obra de arte do departamento médico do Flamengo”, dizia Giuseppe Taranto, médico do clube em 1987. Segundo Taranto, só havia, segundo os conceitos da Ortopedia da época, duas maneiras para corrigir pernas arqueadas como as de Leandro: a primeira opção seria entre dois e cinco anos, ou seja, usar gesso ou dormir com aparelho ortopédico nesta faixa etária; o segundo recurso, bem mais penoso, consistiria em, até os dez anos, submeter-se a uma cirurgia que quebraria as pernas e as engessaria para corrigi-las. Leandro perdera as duas possibilidades. Talvez, não tenha se arrependido de perdê-las.

Em 1983, o craque dava sinais de que o esgotamento físico também o atingira mentalmente. Leandro dizia em entrevistas que desejava abandonar a carreira em 1986, logo o ano da Copa. Nem chegaria, portanto, aos 30 anos.

A vida pessoal vinha sendo inadvertidamente invadida por parte da imprensa. Prato cheio para torcedores de clubes rivais, que o perseguiam insistentemente, com gritos e até faixas ofensivas contra a honra de Leandro. Isso o deixava muito triste.


Após um jogo contra o Bangu, vencido pelo Flamengo, no final de 1983, torcedores do alvirrubro suburbano xingaram Leandro, que, no vestiário, apenas chorou. Afinal, era um ídolo do futebol nacional e não apenas do Flamengo. O mínimo que exigia dos torcedores era respeito.

Famoso, bom de bola e boa pinta, Leandro despertava a inveja alheia com muita facilidade e o suspiro de muitas moças de boas (e famosas) famílias. Neuzinha Brizola, por exemplo, filha do político Leonel Brizola, foi mais famosa pelo estilo, digamos, extrovertido que propriamente por ser filha do ex-governador do Rio. Foi ela também uma “fã” do Leandro a ponto de falar publicamente que esperava um filho dele. As filhas de políticos pareciam se alvoroçar por ele. Andréa Neves, irmã de Aécio Neves e, portanto, neta do ex-presidente Tancredo, foi outra figura pública que teve, em 1985, o nome proximamente associado ao do ídolo rubro-negro. Tornou-se corriqueiro falarem bem ou mal do Leandro, que era uma figura para lá de popular. Especulação com o seu nome era um dos esportes preferidos nos tempos em que brilhou com a camisa do Flamengo. Da arquibancada ou das páginas dos jornais, forjou-se o impoluto ídolo, mas poucos quiseram compreender ou mesmo conhecer o homem Leandro e, sobretudo, os ditames que o guiava em meio ao turbilhão do sucesso.

Semanas antes de a Copa do Mundo de 1986 começar no México, Leandro e Renato Gaúcho tomaram um chá de sumiço e voltaram de madrugada para a concentração da Seleção. Estavam em uma discoteca. O técnico Telê Santana, por mais que gostasse dos dois, não teve escolha e os cortou do escrete. Cortaria (é verdade…) apenas Renato, mas Leandro, demonstrando um senso de solidariedade e justiça, pediu a Telê que o cortasse também. Telê resistiu, afinal era fã incondicional de Leandro, como jogador e, sobretudo, como um homem com caráter irrepreensível.


Telê admirava o espírito amigo que Leandro sempre externou aos companheiros. Fosse no Flamengo ou na Seleção, o craque, embora muito tímido, era bacana com todos. Tele se preocupava com ele como se fosse seu próprio filho, mas não abria mão de tê-lo, como na Copa de 82, na lateral-direita. Mas Leandro não queria mais jogar ali por conta das intensas dores no joelho, especialmente o da perna direita. Preferia manter-se na zaga, na qual o jogo era mais lento e menos penoso para suas combalidas pernas. Introvertido, Leandro raramente (ou nunca, segundo a imprensa) tocava no assunto com Telê. Sem o diálogo, preferiu deixar a Seleção. “Não estávamos de porre, embora houvéssemos bebido. Se o corte era necessário, os dois deveriam ter sido cortados”, ponderara Leandro em uma das diversas entrevistas que concedeu após o episódio com Renato.

Bem antes de Telê saber, o desejo de Leandro em não mais ser lateral foi dito, em primeira mão, ao repórter Ronaldo Castro, que trabalhava na Rádio Tupi: “Não estou resistindo jogar na lateral. Já não tenho pique suficiente para ir e vir, meu joelho dói muito e não aguenta o esforço dos treinos físicos. Não posso ser lateral. Acho que vou embora porque Telê não me aceitará como zagueiro-central.”

Na noite do dia 8 de maio de 1986, Leandro estava devidamente vestido com o uniforme formal da CBF e com as malas prontas para viajar com a delegação da Seleção rumo à Toluca, no México. Na porta do apartamento em que morava com o primo Raimundo Nonato, que era contabilista da Varig, e o amigo José Marcos, o “Babau”, que era dono de uma loja de fotocópias, virou-se para Nonato e o amigo Vaguinho, presente no local, e exclamou: “Não vou mais!”. Vaguinho, sem entender patavina do que dissera o jogador, questionou: “Não vai para onde, Leandro?”. O craque foi pontual: “Para o México”.

Zico e Júnior, que já estavam no aeroporto, foram ao encontro de Leandro levados por um atônito Nonato. Zico argumentara com Leandro que ele próprio também representava uma inquietante incerteza na Copa. Estava mal fisicamente, mas que mesmo assim desejava estar no México. Leandro não coadunou com a tese do Zico. Os dois teriam se emocionado durante a conversa, mas Leandro mostrava-se inflexível. “Respeitem a minha decisão. Não posso ser lateral, não suportei o que foi feito com Renato e não me sinto em condições de falar com Telê”. Júnior esboçou uma última tentativa para que Leandro mudasse de opinião: “E seus companheiros de 1982? Temos tudo para conquistar a Copa, mas sem você fica bem mais difícil”. Não houve discurso que fizesse Leandro mudar de ideia. Naquela noite, o vôo 1046 da Varig decolaria com uma poltrona vazia.

Que pena Leandro não ter conversado abertamente com Telê sobre a possibilidade de jogar como beque na Copa de 86. Pena, sim, porque, caso ambos, ele e Renato, estivessem no México, o Brasil dificilmente deixaria de ir, pelo menos, à final.

Ao saudoso Tim Lopes e a José Antônio Gerheim, ambos, na ocasião, repórteres da revista Placar, Leandro desabafou: “Olha, sou muito fechado. Sofro, guardo tudo para mim, mas tem uma hora que não dá para segurar. Fui o culpado pelo que aconteceu naquele dia em que chegamos de madrugada à Toca da Raposa. Havíamos saído e, num determinado momento, Renato queria ir embora. Eu insisti para que ficássemos. Quando chegamos na Toca, havia três guardinha na porta e entramos. Ninguém pulou o muro, nem nada, ao contrário do que disseram. E evidentemente senti muito o corte de Renato. Senti e fiquei magoado com Telê.”

O episódio com Telê seria superado anos depois, com os dois, inclusive, trabalhando juntos novamente, no Flamengo. “Criado na Gávea, Leandro desenvolveu uma técnica refinada e, mesmo mudando de posição por questões físicas, marcou sua passagem pelo Flamengo como um dos grandes craques que passaram pelo clube”, assim declarou Flávio Costa, outro grande treinador da história do futebol brasileiro, em junho de 1989, quando Leandro se preparava para retornar ao time após mais uma penosa recuperação cirúrgica em um dos joelhos.


(Foto: Marcelo Tabach)

Leandro, o herdeiro de Biguá e muito superior a Jadir, Toninho ou Léo Moura, outros que trilharam (com maestria) a lateral-direita rubro-negra, foi excepcional. Sequer recordo de alguma pixotada em campo protagonizada por ele. Talvez a única falha gritante de Leandro foi, como o próprio confessou em entrevistas, um gol contra, na final do Campeonato Carioca de juvenis, em 1978. Mas o que representa um gol contra diante de tudo o que Leandro fez em campo e o representa para a memória do futebol nacional?

Leandro sempre soube o que fazer com uma bola de futebol. Por isso, raramente errava: “Fui um moleque fissurado em bola. Joguei até de pé gessado em peladas. Quando não tinha com quem brincar, ficava treinando na parede, aprendendo a matar no peito, dominar. E joguei oito anos de futebol de salão, em Cabo Frio (no litoral do Estado do Rio, para onde foi morar com apenas um mês de idade). Isso tinha de funcionar”. Ora, e como funcionou!

Devemos agradecer, porém, ao modesto clube Tamoio, de Cabo Frio, por revelar o gênio Leandro, o querido “Peixe-frito”, como o chamava o locutor Waldyr Amaral. Agradecer por apresentar ao futebol o Leandrinho da dona Cleuza e do rubro-negro Elisário. O Leandro, ídolo eterno da torcida do Mengão. Leandro… o esteta da bola.

MODESTO BRIA, O ÍDOLO QUE FEZ DO FLAMENGO SUA VIDA

O grande Bria, pai do querido Antonio Henrique Bria Bria, faria anos nesta quinta-feira (8). Foi um dos maiores jogadores da história do Flamengo e até hoje é lembrado pelos torcedores, sobretudo os mais antigos. A seguir, uma breve biografia do grande craque do passado

por André Felipe de Lima


O repórter perguntou: “Que conseguiu você do futebol, Bria?”. Modesto Bria, centromédio extraordinário e ídolo do Flamengo nos anos de 1940, onde formou uma das mais famosas linhas médias da história ao lado de Biguá e Jayme de Almeida, respondeu com a humildade digna de um sábio tibetano e do próprio nome que assina: “Materialmente, quase nada. Apenas um terreninho em Teresópolis. Mas no Brasil obtive muita coisa: amigos que dinheiro algum no mundo pode comprar, um bom clube para trabalhar e um ótimo filho, Antônio Henrique, de 11 anos, que é brasileiro”.

Se os almanaques e pesquisas sobre a história do Flamengo estiverem corretos, Modesto Bria foi o primeiro craque paraguaio a vestir o manto rubro-negro.

Embora dissesse em entrevistas ser apenas “regular”, era um volante clássico, de toque refinado, que ligava a defesa ao ataque com passes precisos, a maioria deles nos pés de Zizinho, meia mais avançado daquele sensacional time tricampeão do Flamengo de 1942 a 44. Bria era peça-chave naquela engrenagem campeã. “Sempre fui centromédio. Não sabia jogar em outra posição”. Foi o jogo da final do campeonato de 1944, o que garantiu o “tri” sobre o Vasco, que mais emocionou Bria. “Vencemos o Vasco por 1 a 0, gol de Valido. Fiz a maior partida da minha vida”.

Aquele Flamengo era ofensivo à beça. Derrubara até mitos de que zagueiro não passava da linha do meio de campo para atacar o adversário. Balela, diria Bria. Domingos da Guia — talvez o maior de todos os beques que já produzimos no Brasil — subia bastante ao ataque. Era o Bria quem dava a cobertura, permanecendo na zaga. Deu tão certo a jogada que o Flamengo foi tricampeão do Rio, sem rivais à altura.

Nascido na paraguaia Encarnación, no dia 8 de março de 1922, Modesto Bria começou a jogar futebol em 1938, com 16 anos, no time amador do Nacional, na capital paraguaia, seu time do coração na infância. No ano seguinte, tornou-se profissional. Órfão de pai e arrimo da mãe, da irmã e do irmão, estudava para trabalhar no comércio. Não tinha muitas pretensões com o futebol. Isso, na adolescência. Mas o rapaz cresceu e mostrou a que veio. Era bom de bola. Defendeu a Seleção do Paraguai duas vezes. Permaneceu no Nacional até 1943, até o compositor e locutor esportivo Ary Barroso o descobrir durante uma viagem ao Paraguai. “Um dia [bendito dia!] Ary Barroso foi a Assunção. Viu-me jogar e ficou tão entusiasmado comigo que não teve dúvidas”.


Quem apresentou Bria ao Ary Barroso foi o tenente-coronel Sylvio Santa Rosa, adido militar no Paraguai e dirigente do Conselho Nacional de Educação Física local. Ary, que fazia um show no Teatro Nacional de Assunção, deu uma escapa durante a folga do palco e foi ver Modesto Bria jogar [e bem à beça!] pelo Paraguai contra a Argentina. O placar terminou 2 a 1 para o escrete de Bria. Ary encantou-se, invadiu o vestiário e o intimou a substituir o argentino Volante, que estava se aposentando no Flamengo. Pegaram um pequeno avião e chegaram ao Rio no dia 27 de agosto de 1943, uma sexta-feira.

Ao descer no Aeroporto Santos Dumont, Bria foi surpreendido por um mar de torcedores. Abraçaram o craque, beijaram e tiraram fotos ao lado dele. Bria já era ídolo mesmo sem entrar em campo. “Cheguei ao Rio e fiquei maravilhado com as belezas da cidade. Estou encantado com o pessoal do Flamengo. Estava cansado sexta-feira e apenas tomei meio litro de leite e dormi. Ontem [sábado], percorri toda a praia do Flamengo e vim à cidade [Centro do Rio] e à redação de A Noite”, disse Bria ao repórter do jornal, no dia seguinte a chegada ao Rio.

Mas o que poucos sabem é que a espetacular chegada de Bria ao Rio não foi mérito do Ary Barroso, como até hoje muitos acreditam. Antes mesmo de o compositor e flamenguista de quatro costados conhecer o craque, o Flamengo já nutria interesse por Bria, como revelou reportagem do jornal A Noite, de 31 de agosto de 1943, na qual um outro Ary [Fogaça], alto funcionário dos Correios e torcedor fanático do Flamengo, recebeu de um amigo de Assunção recortes de jornal que exaltavam o jogador. Ele não pestanejou, falou com o técnico Flávio Costa e enviou os recortes de jornais a Alfredo Curvelo, cartola do Flamengo. Um repórter do jornal A Noite acompanhou o caso e chegou a redigir o texto de um telegrama de Ary Fogaça a Santa Rosa, de quem o funcionário dos Correios era muito amigo. Santa Rosa veio ao Rio e foi apresentado a Curvelo.

Encantado com o que lera e ouvira sobre Bria, Curvelo e o presidente do Flamengo, Dario Melo Pinto, autorizaram Santa Rosa a iniciar as negociações com o Nacional. Ou seja, a vinda de Bria com Ary Barroso foi apenas fruto de uma reportagem sensacionalista do matutino O Jornal, cuja seção de esportes estava sob o comando do compositor e locutor esportivo. O espetáculo marqueteiro promovido por Ary Barroso deu certo. Centenas de torcedores foram ao aeroporto receber o jogador e a versão falaciosa de que Ary Barroso trouxera Bria “no grito” prevalece até hoje. “Foi o que de mais emocionante poderia ter havido. O Flamengo teria que enfrentar o Fluminense, nessa semana. O jogo era no domingo e praticamente estávamos em cima da hora. Viemos de teco-teco, um aviãozinho de apenas três lugares, eu, Ary Barroso e, obviamente, o piloto”.


Biguá, Bria e Jayme de Almeida

O craque custou ao rubro-negro noventa mil cruzeiros entre passe e luvas. Dinheiro pra chuchu naquela época, que obrigou ao Flamengo recorrer a um empréstimo do Banco do Brasil, cuja última parcela foi paga somente em janeiro de 1944.

O passe de Bria estava bastante concorrido. Além do Flamengo, o Gimnasia y Esgrima, da Argentina, queria o centromédio. O Nacional recusou a oferta por considerá-la baixa. Mas outro argentino quase atropelou o clube brasileiro. O River Plate oferecera 150 mil cruzeiros. Mas como a remessa do sinal demorava a chegar por conta de entraves burocráticos, o Nacional optou pela oferta do Flamengo.

No dia 12, Bria estreou contra o Fluminense, em jogo que terminou empatado em 2 a 2, Perácio marcou os dois gols do rubro-negro, com Invernizzi e Carreiro descontaram para o tricolor. A crônica esportiva escreveu que Bria jogou bem, com passes precisos, ótimo posicionamento, mas com muito trabalho para marcar o meia Tim. Não era para menos. Tim foi um jogador mágico.

Outra informação pouco conhecida é que o coronel Santa Rosa tinha outro endereço programado para Bria no Rio de Janeiro: as Laranjeiras. A sorte ajudou, emperrando a ambição milionária do River Plate e o ligeiro Ary Barroso tratou logo de embarcar o craque em um teco-teco rumo à Gávea.

Bria pensara jogar apenas dois ou três anos pelo Flamengo. Mudara radicalmente de ideia. Descobria ser a Gávea o seu segundo lar. Construíra em seguida uma linda família. Por dez anos defendeu o Flamengo. O amor pelo clube preto e vermelho o completava na alma. Foram registrados 360 jogos pelo rubro-negro e oito gols contabilizados. Chegou a ter o passe emprestado ao Santa Cruz de Recife, em 1952, mas a paixão pelo Flamengo era mais forte. Voltou à Gávea no mesmo ano para encerrar a carreira, cedendo a posição para outro magnífico volante da história do Flamengo: Dequinha. “Era um tempo bom. A vida era mais tranquila e o jogador vivia mais. Nas vésperas dos jogos recebíamos a visita de amigos cantores que apareciam espontaneamente para nos ajudar a superar a expectativa. Orlando Silva, Ciro Monteiro e muitos outros cantores rubro-negros da época ficavam conosco até tarde. Eu, Biguá, Zizinho e Pirilo praticamente morávamos na concentração”.

Atendendo ao pedido do então presidente do Flamengo Gilberto Cardoso, Bria, que estava distante do futebol após pendurar as chuteiras, tornou-se treinador dos juvenis em 1955 após uma breve passagem pelo Cerro Porteño. Conquistou um tricampeonato carioca da categoria dirigindo a garotada. Em seguida, foi auxiliar do patrício Fleitas Solich e de Flávio Costa no time principal. Treinou o Ipiranga, de Salvador, mas foi uma página decepcionante para ele. “Fizeram-me pedir um ano de licença ao Flamengo e no fim de dois meses puseram-me no olho da rua, sem respeitar nenhum dos compromissos assumidos. Sorte que imediatamente o Botafogo de lá mesmo da Bahia contratou os meus serviços e não precisei voltar correndo e pedir para o Flamengo interromper a licença já concedida. E estou certo de que os dirigentes do Botafogo baiano não se arrependeram do apoio que me deram, em momento tão difícil”.

Tempos depois, foi um dos responsáveis pela formação de Zico, o maior ídolo do Flamengo em todos os tempos. “Fui eu que busquei o Solich no Paraguai. Busquei também o Benítez, Garcia e Reyes, outros paraguaios que se deram bem na Gávea”. Dizia ter sido Zizinho o melhor jogador que viu jogar pelo Flamengo. Abaixo dele Gérson e Zico. “Na minha posição, o que mais me agradou foi Dequinha, exatamente meu substituto quando parei de jogar”.


Após a morte da esposa Ivone, Bria casou-se novamente. Antônio Henrique é o único filho do primeiro casamento. “Meu filho é técnico em computação eletrônica e trabalha para uma das grandes organizações bancárias do Brasil. Ele e minha nora me deram uma segunda Ivone, a minha netinha. E olhe que podem me chamar de vovô babão como quiserem, mas duvido que exista uma menininha tão linda em todo o universo como a minha netinha”, contou Bria, em entrevista concedida em 1971 para a revista especial “Grandes Clubes Brasileiros/ Flamengo”.

Teve mais dois filhos. Morava em Copacabana e mantinha um sítio em Bananal, no interior paulista. Foi um dos funcionários mais antigos do Flamengo. Trabalhou no clube por mais de 50 anos. Seu prazer era passar o dia na Gávea. Quando podia, ia ao consulado do Paraguai saber das notícias da terra natal. Ao repórter Cláudio Arreguy, confessou em 1992: “Sou meio brasileiro e meio paraguaio. Se as duas seleções se enfrentam, fico dividido. Acabo torcendo só um pouco para o Paraguai. Sou primo-irmão do presidente do Paraguai [general Andrés Rodriguez, que se manteve no poder entre 1989 e 1993]. Nossas mães eram irmãs. Foi minha mãe quem o colocou no quartel. Mas não temos mais contato nenhum. Aliás, há seis anos não vou lá”.

Sentia saudade dos tempos de jogador. Confessava isso aos repórteres e aos mais próximos. “Muitas, mas muitas saudades mesmo. Gostaria de poder retornar à idade que tinha para poder jogar futebol”. Assim Bria resumia sua maior paixão: “O Flamengo é uma vida. Ser Flamengo é um nó na garganta, e nada mais”.