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Flamengo

PÁGINA EM BRANCO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

Os torcedores, como sabemos, perdem o amigo, mas não a piada. Um grupo assistia ao Flamengo x Vasco em uma mesa ao lado da minha. “A cada passe errado o Roni vai pagar um chope!”, sugeriu Porquinho. Se Roni aceitasse teria que pedir um empréstimo para não ficar com fama de caloteiro.

O vascaíno Porquinho se lembrava dos tempos de Romário, Edmundo, Mauro Galvão e quase chorava. Roni nem citava Zico. Se contentava com Obina e Brocador: “Pelo menos sabiam fazer gol”.

O jogo estava tão ruim, mas tão ruim que volta e meia Porquinho dava uma saída do bar para refrescar a cuca. Em uma das vezes, quando voltou, viu os jogadores empurrando a ambulância e perguntou: “Para aonde estão levando a bola?”. Os amigos morreram de rir, mas a verdade é que a bola tem apanhado demais. E para piorar leio que os clubes estão deixando de investir na base para comprarem “jogadores prontos”.

Lembro de uma propaganda que perguntava ‘‘Tostines é fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?”. Peraí, como teremos jogadores prontos sem investir na base? É impossível!!! Basta os estatísticos de plantão contabilizarem o número de passes errados a cada partida. O número de faltas, de chutes longe do gol. Quantos gols de falta foram marcados no Brasileiro? Quantos gols de cabeça? Quantos gols nasceram após uma tabelinha bem construída? Quem é o melhor 10 do campeonato?

Essa tecla já está mais do que batida e fica até chato ficar repetindo, mas essa notícia foi publicada ontem, anteontem, sei lá. O número de faltas deve ter quadruplicado porque hoje cada time quer ter seu Felipe Melo de estimação. Se for falar das reclamações com o árbitro e simulações aí esse número dobra. Está chato, só isso, chato.


Me diga o que podemos esperar de um clássico Palmeiras x Cruzeiro, com Mano de um lado e Felipão do outro? Absolutamente nada. Mas os dois se acham os maiores estrategistas do planeta. Colocam 50 na zaga, um poste na frente e pronto. O time do poste com mais sorte vai ganhar o jogo. E assim caminha o nosso futebol.

Hoje cada time tem pelo menos cinco jogadores chilenos, venezuelanos, equatorianos. O Vasco trouxe um centroavante argentino de quase 40 anos. Quem é o centroavante da base do Vasco? Não saberemos nunca. São emprestados para “pegar experiência” e nunca mais retornam. Se esses sul americanos pelo menos fossem bons de bola, seria maravilhoso, mas, sinceramente, não tem sido o caso. Apoio o intercâmbio.


Só uma boa base nos salvará! Mas não me venham colocar professores de Educação Física para formar essas bases porque o resultado já sabemos: novos robozinhos. A escolinha do Fluminense se chama Guerreirinhos, não é preciso dizer mais nada. Essa filosofia de Hulks, Gladiadores, Ceifadores e He-Mans precisa acabar.

Necessitamos de super-heróis com outra mentalidade, que saibam, pintar, cantar, bailar. Precisamos de campos, não de arenas. O saudoso Armando Nogueira misturava futebol e poesia em suas crônicas. Hoje somos uma página em branco.

O FLAMENGO QUE IRRITA O TORCEDOR

por Vinicius Vieira


Há algum tempo, vemos em campo um Flamengo que domina e tem bastante posse de bola, porém sem poder de fogo e quando isso acontece, nas arquibancadas os torcedores começam a caçar as bruxas, quase sempre de maneira injusta.

Faz tempo que acho que o maior problema do Flamengo não está nas laterais (que não são boas) ou em atuações abaixo do esperado de alguns jogadores. O problema do Flamengo é exclusivamente tático! Não faz o menor sentido jogar com um único e ótimo volante e obrigar dois jogadores como o Diego e Everton Ribeiro a marcarem desesperadamente o tempo todo.

Alguns podem achar “defensivismo”, mas é justamente o inverso. Se ao lado do Cuellar, tivesse alguém para ajudar na função de proteção da zaga, Diego e Everton poderiam jogar um pouco mais adiantados e já pegarem a bola numa faixa de campo onde poderiam ser mais incisivos e terem mais liberdade para arremates ou uma assistência.


Reparem que os laterais do Flamengo, 90% das vezes que recebem bolas no ataque, não têm com quem jogar, o que acaba forçando o erro ou um recuo da jogada (o que irrita). Reparem que sempre que o adversário está com a bola, tanto Everton, quanto Diego ou Paquetá, estão ajudando na cobertura dos laterais. Quando o Flamengo retoma a bola, estão à milhas de distância do campo e ataque, resultado: o adversário se recompõe, se fecha e tudo fica mais difícil (vide o jogo contra o Corinthians pela Copa do Brasil).

Vejam vocês o paradoxo, mais um volante pode tornar o time mais agressivo e ofensivo e não mais defensivo como a maioria acha. O que me impressiona, é que nenhum teste é feito nessa linha, que além de prováveis benefícios ofensivos, também desgastaria menos alguns jogadores.

FUTEBOL TRANSPORTADO EM AMBULÂNCIA SEM BATERIA

por Marcos Vinicius Cabral


O encontro entre os defensores vascaínos Bruno Silva e Luiz Gustavo, aos 27 minutos do segundo tempo, no clássico carioca Vasco x Flamengo, mostrou o choque de realidade de duas das principais equipes do futebol brasileiro.

Se por um lado, vascaínos e rubro-negros fizeram um jogo ruim tecnicamente, o empate em si mostrou aos 54.288 pagantes que estiveram nas arquibancadas do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, que as próximas partidas da competição serão de emoções e decepções cada vez maiores.

O Flamengo, que ocupa a 4° colocação neste campeonato brasileiro com 45 pontos, está longe de ser o protagonista que a mídia esportiva quer que ele seja.

Já o Vasco, que amarga 25 pontos, tem a luta real e imediata contra o rebaixamento, que – se ocorrer – será o quarto de sua história.

Mas algumas peculiaridades transformam o Flamengo – imortalizado por Zico, Júnior e Leandro – e o Vasco – respeitado com Roberto Dinamite, Edmundo e Romário – em motivos de chacotas.


O Flamengo, há quase uma década sem o titulo de campeão brasileiro, comemora como título uma mera classificação à Libertadores, para mais uma vez, participando, fazer vergonha.

O Vasco, que deixou há tempos de ser o “Gigante da Colina” ou o “Time da Virada” – para ser exato desde 2000, quando foi campeão brasileiro pela última vez contra o São Caetano – viveu uma entressafra nefasta com Roberto e Eurico à frente do clube de 120 anos, com dívidas megalômanas.

Enquanto o Flamengo de hoje tem Eduardo Bandeira de Mello, que tira selfie com torcedores (as) sem representatividade alguma com as tradições rubro-negras e faz do clube trampolim para ser eleito Deputado Federal pelo Rede – pelo amor de Deus, não votem no número 1818 – se contenta com conquistas regionais e acha o máximo ter colocado as contas em dia.

É como se fosse um favor ao clube, e não uma obrigação, equacionar dívidas.

Já pelo lado da Nau Vascaína, o ditadorismo de um Eurico Miranda, que por anos, soube apenas jogar no ar fumaças carregadas de prepotência nas baforadas dadas em seus charutos, disputas internas e medindo forças com Roberto Dinamite – a estátua do Romário em São Januário foi em retaliação ao eterno camisa 10 – marcado suas passagens em campanhas esdrúxulas.


Portanto, queridos vascaínos e rubro-negras de verdade, devemos agradecer ao Flamengo de 81, por ter nos permitido bater no peito e gritar a plenos pulmões: “Sou campeão da Libertadores e Mundial”; ao Vasco de 97, por ter permitido a cada torcedor a satisfação em dizer que tem uma Libertadores.

E por fim, não esquecer de enaltecer grandes jogadores como Raul, Acácio, Zico, Roberto Dinamite, Júnior, Edmundo, Nunes, Felipe, Leandro, Jorginho, Mozer, Mauro Galvão, Angelim, Mazinho, Tita, Geovani, Pet, Juninho, Adriano e tantos outros que conquistaram títulos, e sendo assim, souberam extrair de nós, torcedores, um sentimento que há tempos perdemos: a alegria de torcer!

LEMBRA-SE DO MERICA? POIS É, BATIA UMA BOLINHA RESPONSA

por André Felipe de Lima


Sempre que alguém citava o Merica, comentava-se — antes de mencionar o futebol que ele jogava — a notória “beleza” do volante. Liminha, que o antecedeu na meia cancha do Flamengo e estava prestes a pendurar as chuteiras, chamou Júnior em um canto, e confidenciou: “O Flamengo encontrou finalmente o jogador para me substituir: é esse Merica. E ele apresenta uma grande vantagem em relação a mim: sabe dar passes longos, que nunca foram o meu forte”.

Viu? Merica era bom de bola, sim. Não era um craque. Fama de ídolo? Sucesso entre as torcedoras? Aí é que não rolava mesmo. Mas era xodó da torcida, sim. Quem torcia pelo Flamengo por voltar de 1976 e 77 teve a mesma impressão do Liminha. O tal Merica, aquele baixinho feio pra burro, que jogava no modesto Atlético de Alagoinhas, na Bahia, era mesmo bom volante. Marcava bem, desarmava e saía para o jogo. Estava longe de ser um Carpegiani ou Andrade, que o sucederam por ali, mas dava (e muito!) para o gasto.

Valdemiro Lima da Silva, o intrépido Merica, nasceu no dia 13 de setembro de 1953, em Acupe, cidadezinha pacata do distrito Santo Amaro da Purificação, do interior baiano. Entre 1975 e 1978, foram 175 jogos com camisa do Flamengo, oito gols marcados, 105 vitórias e somente 24 derrotadas. Com Merica em campo, ficava mais difícil para os atacantes adversários chegarem à defesa rubro-negra. Mas o bom baiano baixinho, e para lá de porreta!, era arretado, e ia para o ataque, quase sempre caindo pela lateral direita. Levava porradas à vera, mas não se intimidava.

Uma vez, em um Fla-Flu de 1976, lá pelos 20 minutos do primeiro tempo, Doval, o gringo, teve a bola “roubada” por Merica, que foi, como de costume, pela direita, avançando sem parar. Deixou Paulinho para trás, porém viu pela frente um menino alto e parrudo. Era o zagueiro Carlinhos. Os dois trombaram. Desabaram. Carlinhos ficou mal. Falta de ar. O médico tricolor Durval Valente ficou sem saber o que fazer, porque o craque Doval também se queixava com ele de dores no tornozelo. Meia completamente rasgada. Foi rescaldo da dividida segundos antes com Merica. O médico do Flamengo Célio Cottechia quis entrar em campo para socorrer Merica, que sob o indefectível sotaque do interior baiano, disse: “Tô bem, dotô, num precisa entrá não”.


No banco de reservas, a rapaziada do Flamengo caiu na gargalhada. O técnico Carlos Froner, todo prosa, vira-se para o massagista, e emenda: “Não disse que ele é dos bons? É de jogador assim que eu gosto”. Hoje em dia, jogador assim, como foi Merica, que recolhia a dor, levantava e jogava, é artigo de luxo. Cai-cai não fazia parte do seu estilo. Aquele Fla-Flu em que jogou à beça foi o vigésimo jogo seguido pelo Flamengo. Liminha ficara mesmo no banco, de onde não sairia mais.

Merica era somente um rapaz. Tinha 22 anos. É o caçula de oito irmãos criados na pequena Acupe, uma comunidade de origens indígena e africana muito famosa na Bahia pelo legado cultural deixado por escravos. Não se constituiu em um quilombo, mas em uma terra para onde iam alguns escravos fugitivos das fazendas e mesmo alforriados, que, enfim, gozavam a justa e necessária liberdade. Eram eles homens e mulheres; crianças e velhos. Todos bravos e aguerridos negros na carne e na identidade. Assim eram os ancestrais do grande Merica, que, acreditem, foi um jovem barbeiro em Acupe, quando começou a jogar bola no time de peladas do Ideal (de Santo Amaro) e, levando mais a sério, no Atlético de Alagoinhas.

Merica sabe que aquele Fla-Flu em que arrebentou em campo jamais saiu de sua mente. Foi a primeira vez que ele se viu cercado de microfones. Se Zico era a estrela, Merica era o reluzente cometa naquela tarde de arquibancada magnificamente colorida de vermelho e preto e de branco, grená e verde.

Mas como o jovem Merica, de uma cidadezinha tão enfronhada no miolo baiano, chegou ao Sul Maravilha, e logo à Gávea? Acerto de contas do Céu com o jovem? Pode ser. Pura sorte? Também. Mas Merica tinha muito mais que apenas estrela. Tinha competência. Jamais se soube o que fez o Flamengo fazer uma excursão pelo interior da Bahia. Mas suspeitava-se que o motivo tinha sido “Merica”. A renda não compensaria o esforço, mas diziam que era vontade de mostrar o time ao povo, que tem direito de ficar bem perto dos seus ídolos. Foi num desses rompantes de alteridade da diretoria do Flamengo que Merica cruzou seu destino com as cores preta e vermelha. O caminho estava aberto para o garoto barbeiro brilhar. Mas quem o viu jogar primeiro e o havia indicado ao Vasco e ao próprio Flamengo foi o comentarista Carlos Marcondes, que trabalhava na Rádio Tupi, do Rio. O Vasco ignorou, mas o Flamengo foi lá conferir se o que Marcondes falava era mesmo verdade.


Dos módicos 300 cruzeiros que recebia do Atlético de Alagoinhas passou a receber 5 mil cruzeiros em agosto de 1975, quando chegou ao Rio de Janeiro. Vieram ele e, de contrapeso, o amigo Dendê. Merica deu certo, Dendê apenas curtiu um pouco as belezas do Rio, mesmo assim, entrou em campo 50 vezes pelo Flamengo.

Junior “Capacete”, um dos melhores amigos do Merica na Gávea, lembra que a chegada do baianinho foi cercada de preconceito: “Merica foi alvo de uma campanha nada simpática, parecia mesmo que tinha mesmo o objetivo de ridicularizar o rapaz. Ora porque é feio, ora porque chegou de um time modesto como o Atlético de Alagoinhas. Na verdade, o problema era outro: o Flamengo não estava bem e a diretoria do clube tinha acenado à torcida com contratações. Os nomes de Merica e Dendê, que vieram juntos, não eram bem aqueles que a torcida e os jornalistas queriam ouvir. Só para dar uma ideia disso, basta dizer que houve um momento em que diziam que o Merica, só porque tinha vindo da Bahia, estava fazendo macumba para o Liminha sair do time”.

Rondinelli foi outro craque que deu muita força ao Merica no começo. O baiano encabulado sentia-se solitário no Rio. Só conversava com Dendê. Os jogadores tentavam enturmá-lo, mas o que único que obteve sucesso foi Geraldo, que morreria prematuramente logo após a chegada de Merica. “Só para você ver como era o Geraldo, foi ele o primeiro de nós a ter a sensibilidade para a situação do Merica, a solidão em que vivia. E Geraldo passou a encarnar nele, gozá-lo com brincadeiras. E assim se quebrou aquele gelo. Aí a intimidade foi aumentando, eu e os outros passamos a compreender Merica, um cara apegado demais à família, à sua terra. Hoje ele é um dos caras mais queridos por todos os companheiros”, contou Rondinelli, em 1977, aos repórteres Maurício Azedo e Aristélio Andrade.

Mas tudo aquilo passou. A fase bacana do Merica no gramado superara qualquer dificuldade inicial. Ele voltou à Santo Amaro e casou-se com a namorada Maria Raimunda. Voltou ao Rio e alugou um apartamento em Copacabana. Que fase! Até aquele Fla-Flu fizera 20 jogos pelo Flamengo. Não perdera nenhum. Zico o adorava: “Na cabeça de área é um leão, destruindo com vigor e dando total cobertura aos zagueiros. E não é só isso: é um cara que sabe avançar, ajudar o meio de campo e, se for preciso, fazer lançamentos para os companheiros”.


Merica não fugia do pau. Era valente como seus ancestrais escravos. Não tolerava mimi. E durante outro Fla-Flu, Rivellino deu-lhe um safanão, sem bola, mas quem caiu no chão foi o “Bigode” e não o Merica. Rivellino rolava no gramado, uivando de uma dor inexistente. Puro teatro. Merica, a verdadeira vítima, acabou expulso pelo juiz. Ficou injuriado e partiu para cima do Rivellino, que se esquivou do baixinho. Em Fla-Flu, Merica não dava sopa. Foi expulso algumas vezes.

Era matuto, sem dúvida. Uma vez — contou Júnior — entrou na sauna de camisa, calça comprida e chinelo. Saiu de lá para lá de encharcado de suor. De sacanagem, os companheiros de time, entre eles o próprio Júnior, ficaram do lado de fora esperando a saída do Merica. Dá para imaginar as sonoras gargalhadas dos caras ao se depararem com Merica naquele estado. Mas a emenda saiu pior que o soneto quando Merica, inocentemente, veio com o seguinte: “Puxa, como é que uma sala dessas, danada de quente, não tem ar condicionado?”.

A história de Merica com o Flamengo começou antes da Gávea. Muito antes do carinho e alegria que os companheiros sempre tiveram com ele no clube carioca. Houve outro Flamengo antes, o da rua do Prédio, em Acupe. Foi ali, nas peladas do Mengo de Acupe, que o vermelho e o preto começaram a tomar conta da alma arretada do querido Merica, que recentemente foi homenageado em um torneio intermunicipal de futebol na Bahia. A Taça Valdemiro Lima da Silva. Ficaria mais charmoso e original chamá-la de Taça Merica. Os rubro-negros concordariam, afinal, que se esquece do Merica na Gávea?

​​​​​​​EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

por Walter Duarte


Uma data distante: 21/02/1979, uma vaga lembrança, um gol indesejado. Grandes momentos que instintivamente revisitamos em nossas memórias. Nas minhas pesquisas das campanhas do Goytacaz nos campeonatos estaduais lembrei-me de jogo muito marcante contra o Flamengo. 

Foi um jogo de expectativas para mim que evidentemente tinha esperança de uma vitória do Goytacaz, “OSSO DURO DE ROER” em seus domínios, em boa fase naquele ano, tendo vencido inclusive o Vasco de 3×2 em um jogo eletrizante. Apesar da insistência, não fui liberado desta vez pelos meus pais para ir ao jogo com os amigos, na maioria garotos com idade da faixa dos 12 anos, motivo de grande decepção para mim.

Restava então a companhia do velho e bom radinho de pilha e torcer imaginando estar ali, à beira do gramado. Confesso também que a presença de grandes craques na partida como: Zico, Adílio, Cláudio Adão, Carpegiani e cia. era um motivador a mais e uma certeza de muitas emoções e jogo bonito.

O Flamengo defendia uma invencibilidade de 25 jogos e encaminhava uma trajetória vitoriosa de títulos, porém sabia das dificuldades do jogo. Logo cedo, já se percebia grande aglomeração nos bairros centrais da Cidade e nos arredores do estádio Arizão. Uma festa bonita das torcidas se iniciava, com suas bandeiras sendo agitadas, um espetáculo à parte com grande cobertura da imprensa local e da Capital.


Revista Placar (Editora Abril)

Muitos torcedores vinham de cidades vizinhas e até de outros estados para presenciar estes jogos. Podia imaginar toda aquela atmosfera do estádio e o colorido das torcidas. Os times entram em campo aquele barulho ensurdecedor dos fogos e os gritos ensandecidos dos torcedores são fielmente reproduzidos.

Lembro-me de um jogo muito disputado no primeiro tempo com um certo domínio do Flamengo, porém sem encaixar uma jogada efetiva de gol. O Goytacaz defendia-se bem e arriscava-se perigosamente nos contra-ataques e aquela tensão tomava conta de mim esperando o locutor soltar aquele grito de gol.

Na defesa do Goyta jogava um zagueiro chamado Orlando Fumaça que tinha fama de violento, e chegou a ter uma passagem pelo Vasco no início da década de 80. O jogo segue no seu segundo tempo e, logo aos 7 minutos, Zico (sempre ele) faz o gol único da partida. Aguardava confiante uma reação do Goyta, quem sabe com um gol salvador do nosso artilheiro, o saudoso Zé Neto, porém nada mais ocorreu. Querendo absorver o resultado vou para a rua “arrastando” as correntes da frustração e reclamando mais do que um “cachorro atropelado”.


Revista Placar (Editora Abril)

Pois bem, tomado pela curiosidade dos detalhes desta partida surge um fato novo para mim. Este gol do Zico não foi mais um da sua gloriosa carreira. Naquele instante após uma “TRAMA DIABÓLICA” com Claudio Adão e Adílio o Galinho fez seu gol 245 na carreira vencendo a cidadela do goleiro Augusto, suplantando o seu ídolo Dida, tornando-se assim o maior artilheiro da história do Flamengo. Detalhes de uma época de ouro do Campeonato Carioca, e das artimanhas do destino.

Sem saber, estava acompanhando um jogo histórico que teve cobertura diferenciada da mídia, inclusive reportagem especial da Revista Placar. Um jogo que parecia ser mais um nas nossas vidas e que tempos depois se tornou diferente para mim, mesmo sem o desfecho desejado.


Revista Placar (Editora Abril)

Sigo procurando trazer à tona minhas recordações e este saudosismo insistente, exorcizando meus “fantasmas” futebolísticos. Certamente outras lembranças surgirão do nosso alegre futebol e ficarei feliz em contá-las para vocês. Eventos particulares de grandes jogos e personagens que ficaram adormecidos em algum lugar do passado.

Súmula do jogo

Goytacaz 0 x 1 Flamengo

-Local: Estádio Ary de Oliveira e Souza – Campos RJ

Juiz: Moacir Miguel dos Santos (RJ);

Renda: Cr$ 522.620,00;

Público (PAGANTE): 13.066;

– Gol: Zico aos 7 min do segundo tempo;

Cartão Amarelo: Zé Neto e Marquinho (Goyta), e Cláudio Adão (FLA);

– Goytacaz: Augusto, Totonho, Fumaça, Eurico Souza e Serginho. Marquinho, Manuel “Português” e Ronaldo, Piscina, Zé Neto e Zé Roberto.

– Flamengo: Cantarele, Toninho, Rondineli, Manguito e Júnior. PC Carpegiani, Adílio e Zico, Reinaldo, Cláudio Adão e Júlio Cesar “Uri Gueller”.