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Flamengo

O INESQUECÍVEL FLAMENGO DE 1981

por Luis Filipe Chateaubriand


O Flamengo de 1981 é, possivelmente, o melhor time que este escriba viu jogar.

Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Eis o time que, na opinião deste signatário, deveria ter sido a base da Seleção Brasileira de 1982.

Era um time perfeito, tecnicamente, taticamente e em termos de conjunto. Uma máquina de jogar futebol!

Eis os segredos do escrete:

·         O experiente goleiro Raul transmitia segurança à defesa.

·         O polivalente Leandro, com sua técnica apuradíssima, aparecia como elemento surpresa no ataque, deixando confusos os defensores adversários.

·         Os defensores Marinho e Mozer constituíam uma zaga composta de técnica e de vigor, o que inspirava excessivo respeito aos adversários.


·         Júnior era o lateral que se tornava atacante constantemente.

·         Andrade e Adílio se revezavam nas posições de volante e meia, confundindo os marcadores.

·         Tita, o ponteiro direito, e Lico, o ponteiro esquerdo, trocavam de posição constantemente, levando à loucura os oponentes. Além disso, com a bola atacavam como pontas, mas, sem ela, defendiam como meias. Pareciam fazer o time se multiplicar em campo.

·         Nunes, o artilheiro, não só fazia pilhas de gols, mas se movimentava ininterruptamente, de um lado a outro da área de ataque, levando consigo os marcadores. Com isso, abria espaço para a entrada dos companheiros, pelo meio.

·         Finalmente, Zico. Como diria Armando Nogueira, arco e flecha, tanto criava no meio para os atacantes, como chegava na área, se fazendo um deles. Técnica apuradíssima, inteligência ímpar, antevidência das jogadas, exemplo para o time, a estrela da companhia decidia quase sempre.

No banco de reserva, os bons Vítor, Figueiredo e Carlos Alberto também davam conta do recado, quando solicitados. O craque aposentado Paulo Cesar Carpegiani dirigia o time, que foi concebido pelo legendário Cláudio Coutinho – o mago da estratégia.

Tenho pena da garotada rubro negra, que se encontra toda ouriçada com as presenças de Arrascaeta e Gabigol: tivessem visto este timaço em ação, saberiam o que é se ouriçar de verdade!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra "O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro". 

NOS TEMPO DO ONÇA

por Victor Kingma 


Nos anos 60, os campeonatos estaduais viviam o seu auge e os estádios estavam sempre lotados. No Rio, o Flamengo, que na primeira metade tinha sido campeão em 1963 e 1965, passou todo restante da década sem conquistar um título sequer.

O jejum de conquistas começou em 1966, ao perder por 3 x 0 a célebre decisão contra o Bangu, jogo que acabou em pancadaria, protagonizada pelo lendário Almir, o pernambuquinho.

Nos anos de 1967 e 1968, sua torcida teve que conviver com a impressionante hegemonia do Botafogo, que montou um dos maiores times de sua história, com quase todos os jogadores oriundos da sua base.  Realmente era difícil conter o ataque formado por Rogério, Gerson, Roberto, Jairzinho e Paulo César, comandados pelo novato técnico Zagalo, ainda com um “L” só no nome. Nesses dois anos o Flamengo sequer chegou à decisão, vencidas pelo alvinegro contra Bangu (2 x 1) e Vasco (4 x 0).

Em 1969 a seca de títulos continuou, quando os rubro-negros perderam por 3 x 2 a decisão para o Fluminense, cujo grande destaque era o centroavante gaúcho Flávio, o Minuano, o artilheiro do campeonato.

Naqueles sombrios anos sem conquistas para o futebol rubro-negro, as alegrias vinham de esporádicas e emocionantes vitórias.


A torcida vivia à procura de um ídolo, quando, no início de 1968, vindo da Bahia, aportou na Gávea um raçudo quarto zagueiro,  de nome Onça, que, vencida a desconfiança inicial pelo estranho apelido, logo foi alçado a essa condição.

E o bravo Onça, teve mesmo os seus dias de glória:

Numa partida contra o arquirrival Vasco, invicto há 10 partidas, pelo segundo turno do campeonato de 1968, o Flamengo perdia por 1 x 0 quando o zagueiro marcou um golaço de falta, da intermediária, empatando a partida e caindo de vez nas graças da torcida. Até porque, Dionísio, “o Bode Atômico”, e ainda, de letra, marcaria o gol da sensacional vitória, comemorada com euforia pelos rubro-negros, em tempos de vacas magras.  Isso diante de 134.185 mil pagantes, recorde nacional de público naquele ano.

As manchetes dos jornais do dia seguinte deram grande destaque, não só à vitória rubro-negra mas ao golaço de falta marcado pelo novo xodó da torcida.

Sem ser um craque consagrado, como tantos que vestiram a camisa rubro-negra, Onça era daqueles jogadores respeitados pela torcida do Flamengo, pela raça com que defendia as cores do clube.


Além do Flamengo, onde jogou 164 partidas e marcou 7 gols, de 1968 até 1971,  atuou ainda pelo Fluminense-BA, Sport de Recife, Bahia e Sergipe, onde encerrou a carreira, em 1978.

Mario Filipe Pedreira, o Onça, nasceu em 13 de julho de 1943, na cidade de Santaluz, Bahia, e faleceu em 7 de setembro de 2017, em Salvador, aos 74 anos de idade.

Sua raça e determinação o fez entrar para a história do clube e nas resenhas diárias com os amigos se vangloriava muito disso, antes de ser acometido pelo mal de Alzheimer, nos últimos anos de vida.

FLAMENGO 1981

por Marcelo Mendez


Foi uma tarde dos anos 80…

Um presente do Pai daqueles que a gente não esquece; Aos 11 anos de idade, conhecer o Maracanã lotado de 160 mil vozes, apaixonadas, munidas de um sentimento que só o futebol pode propiciar e nem sempre explicar.

Lá dentro do Maraca lotado, ainda com o som do Bob Dylan cantando “Homesick Subterranean Blues”, no carro que nos trouxe pela Dutra afora, até a Cidade mais linda do mundo, tudo era “normal” até a hora do placar eletrônico do Maracanã começar escalar o time do Flamengo, número por número, junto com a torcida rubro-negra; 5 – Júnior (EEEEEE!!! Júnior, Júnior, Júnior…) 8 – Adílio (EEEEEE Adílio, Adílio, Adílio) 9 – Nunes (Nunes, Nunes, Nunes) Aí veio a catarse…

De repente, a massa rubro-negra se levantou do concreto do Gigante. Todo mundo de pé, bandeiras tremulando, fogos espocando e o placar eletrônico parado, não punha mais nenhum nome. Apenas o número 10 apareceu no placar. Aí o 10 piscava e o povão entrava em transe. Então veio, letra por letra; Z-I-C-O.

!!!!!


O Maraca veio abaixo! A massa explodiu num coro lindo… “EI, EI EI O GALINHO É NOSSO REI… ZICOOOOO, ZICOOOOO, ZICOOOOOO”

Naquela tarde eu, um menino Paulista com 11 anos de idade, tive a certeza que não tinha errado no ídolo que escolhi. E agora, em Esquadrões do Futebol Brasileiro, vamos contar a história de um time que marcou a vida deste que vos fala, de tantos outros que assim como eu, escolheram o camisa 10 da Gávea como herói:

É a hora do Flamengo de 1981!

O PACTO DO BARRIL 

Dudu Monsanto é Jornalista, Escritor, bom em tudo que faz. Entre todas as ótimas coisas que fez, Dudu escreveu “1981 – Ano Rubro-Negro”, falei com ele para saber de suas impressões sobre um episódio que ajudaria a formar esse time. Antes, uma apresentação:

Tita era um jovem talentoso vindo da base do Flamengo.

Cheio de personalidade, ótimo jogador, na disputa de pênaltis não se fez de rogado; Foi lá bateu e como conseqüência, o barulho seco da luva de Mazzaropi ecoou por todo Maracanã rubro-negro daquela noite de 1977. O Vasco foi campeão após Dinamite converter a última cobrança. Mas o Flamengo tomou uma atitude totalmente diferente.


– Barril 1800 era um bar/churrascaria na praia de Ipanema. Preocupados em consolar o Tita que havia perdido o pênalti na decisão, a galera foi pra se fechar pra conversar, para lavar a roupa suja, para tentar entender como havia se perdido duas vezes nos pênaltis. Foi algo que mudou todo o rumo do clube!. – Dudu está certo:

Ali se formava um dos maiores times de todos os tempos.

1978, 1980 O BRASIL É RUBRO-NEGRO

A equipe toma corpo.

Com Claudio Coutinho no Banco, Zico, Adílio, Carpegiani, Julio César, Claudio Adão, Rondinelli na zaga, Toninho Baiano e Junior nas laterais, mais a chegada do goleiro Raul, o Flamengo vence o Carioca de 1978 e vai para uma final épica contra o Atlético Mineiro no Maracanã.


No que pese todas as controvérsias daquela decisão, o Flamengo vence por 3×2 com um gol de Nunes na segunda etapa e marca seu nome em nível Nacional pela primeira vez.

Mais do que a Festa, o título inédito credencia o Flamengo para algo grande, algo inédito até então. O Rubro-Negro iria tentar conquistar a América. 

VEM PRO BANCO, PC!

O ano de 1981 não começou fácil para o Flamengo.

Teve eliminação do Campeonato Brasileiro, desconfiança e uma mudança de técnico pouco usual para a época:

Paulo César Carpegiani sai do meio campo para o banco de reservas. Ele foi o escolhido para substituir Dino Sani, que já havia substituído o Capitão Coutinho. Uma nova fase se inicia na Gávea e a Libertadores da América é a meta.

RUBRO-AMÉRICA!

 – O Flamengo passou até que de maneira tranquila na primeira fase. Após a batalha do Serra Dourada, pegou um grupo com Deportivo Cali e Jorge Wilsterman, evitando os confrontos com os Argentinos. Dalí saiu para a final” – relembra Dudu Monsanto

Dudu lembra dos jogos chatos em Cochabamba, em Cali, mas ressalta que os problemas do Flamengo não estavam ali. Viria pela frente em seguida, vestido de laranja e com ares desérticos…

COBRELOA

Aos 11 anos de idade eu não fazia a menor ideia do que se tratava a coisa.

Muito menos havia ouvido falar de Calama, deserto de sei lá o que, minas, todas as essas coisas. Mas o time do Cobreloa vinha de lá e para chegar até a decisão fez grandes estragos pela Copa. Dessa forma, chegava ao Maracanã credenciadíssimos:

– Não chegaram à toa não. Era um time bastante interessante com bons jogadores, como o goleiro  Óscar Wirth, titular do Chile na Copa de 1982, o zagueiro Mario Soto. Fizeram muito boa campanha e daria trabalho ao Flamengo – conta, Dudu Monsanto. De fato era um time interessante. Mas que ficou conhecido por outras características, bem menos nobres.


A BATALHA DE SANTIAGO E A GLÓRIA EM MONTEVIDEO

A segunda partida seria no Estádio Nacional de Santiago e da ditadura de Pinochet que o fez de masmorra oito anos antes. O clima não poderia ser pior.

– Chegamos e vimos um corredor polonês formado por guardas de escudos e cassetetes. Ao entrarmos, eles estreitaram o corredor e ali mesmo já tomamos uns dois ou três pescoções cada um – relataria Adílio, em entrevista para o Globo Esporte, anos depois.

A partida em Santiago foi um inferno de pancadaria, pressão e o escambau. O placar final de 1×0 fez com que a decisão fosse para o terceiro jogo em campo neutro e ali não teve jeito, porrada nenhuma parou o Flamengo.

Em uma das melhores partidas da vida de Zico, o Flamengo mete 2×0 no Cobreloa, volta com o título, mas não tem muito tempo de comemorar. Faz as malas e vai embora atravessar céus e mares.

Faltava o Mundo…

ESSE TAL DE LIVERPOOL

É preciso que se entenda o mundo em 1981.

Para um moleque de 11 anos do ABC Paulista, Palmeirense, sofredor pra danar, ver um time Brasileiro ir até o Japão enfrentar um outro time, mas europeu, era algo pomposo demais.

E que time!


O Liverpool de 1981 era um timaço, que tinha em suas linhas jogadores como Kenny Dauglish, Ian Rush, o goleiro Ray Clemence e toda a pompa de ser o campeão da Europa. Chegou no Japão todo montado em ternos, gravatas, narizes em pé e outras coisas muito comuns para uma época em que o intercâmbio era nenhum.

O Flamengo foi a campo com a sua formação clássica: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Junior/ Andrade, Adílio e Zico/ Tita, Nunes e Lico.

Foi um baile de bola!

Com dois gols de Nunes e um de Adílio, o Flamengo mete 3×0 no Liverpool em 20 minutos de jogo. O segundo tempo, foi só pra rolar a bola, meter na roda e já pensar na festa. Flamengo, Campeão do Mundo!

Mas ainda num ia dar pra fazer a festa.


O Flamengo precisava resolver um problema em casa.

O RIO TAMBÉM É FLAMENGO

Entretido em meio a tantas decisões, o Flamengo que precisava de um empate em três partidas com o Vasco, perdeu as suas primeiras partidas. Mas na terceira a coisa foi diferente.

Com o 2×1 no placar, um show de Adílio, o Flamengo termina o ano de 1981 com três títulos enormes e uma página maravilhosa em sua história. O time do Flamengo era o maior time do mundo e hoje, fica fácil apontá-lo como o maior time da história do clube, um dos maiores do futebol mundial. Mas tudo isso, se resume em uma frase do amigo Dudu Monsanto, quando ele comenta a motivação de fazer o livro sobre esses anos:

– Sabe aquele seu avô, que todo mundo fala muito bem dele, mas que você não pode conviver? Pois bem, pesquisar, estudar e falar desse Flamengo foi isso. Eu consegui viver uma época que não vivi, que não pude acompanhar. O Flamengo de 1981 foi como resgatar o meu avô!

E sem mais, depois de Dudu, me despeço com todas as odes a esse time.

Flamengo de 1981, um dos maiores Esquadrões do Futebol Brasileiro

DE ENGRAXATE A CAMPEÃO DO MUNDO

por Marcos Vinicius Cabral


Seu Bidinho e dona Veriana

Bastante apreensivos, seu Abel e dona Veriana – grávida e prestes a dar à luz – chegavam ao Hospital São Camilo, situado na Avenida Brasil, n° 938, Paes Leme, Centro de Imbituba, em Santa Catarina.

Ao chegar naquele lugar foram logo encaminhados à emergência, dando um basta numa espera angustiante de nove meses: enfim, o pequeno Antônio nascia.

Era o nono dia do mês de agosto de uma quinta-feira de 1951, quando o quinto filho de um total de nove chorou pela primeira vez.

Conhecido por todos em Imbituba como seu Bidinho, seu Abel era um português esbelto – trabalhava como estivador na EFDTC (Estrada de Ferro Dona Thereza Christina), que na época do início da exploração do carvão, tornou-se atividade principal nos serviços de transporte ferroviário – que adorava futebol.

Assim como todo brasileiro apaixonado pelo esporte – criado pelos chineses há 2 mil anos e aperfeiçoado em 1863 pelos ingleses – sofrera na derrota do Brasil para o Uruguai por 2 a 1, na final da Copa do Mundo de 1950, em pleno Maracanã.

Afinal de contas, tanto sofrimento tinha lá seus motivos, já que alguns jogadores do poderoso “Expresso da Vitória” (um dos maiores times do Club de Regatas do Vasco da Gama de todos os tempos) serviam à seleção, como o goleiro Barbosa, o zagueiro Augusto, os volantes Eli e Danilo, os atacantes, Alfredo II, Maneca, Ademir Menezes (inclusive artilheiro da Copa com nove gols) e Chico, todos craques em suas respectivas posições.


Naquela fatídica partida disputada em 16 de julho de 1950, os olhos de seu Bidinho – torcedor vascaíno como Imbituba jamais conhecera – resignaram-se assim como os outros 173.850 mil pagantes naquela tarde triste de arquibancadas lotadas.

Já dona Veriana aos 31 anos, mulher exemplar e muito bonita por sinal, compreendia essa outra paixão na vida do marido.

Mulher prendada que não se limitava apenas em cuidar da família Nunes, mas desempenhava bem as funções de esposa e mãe.

Mesmo com toda dificuldade de criar os cinco meninos e as três meninas, o casal – que havia perdido um filho no parto – distribuía amor, carinho e mesmo com uma rigídez portuguesa e uma pontualidade britânica, educou toda prole na humilde casa onde residiam na Rua Otacílio de Carvalho, n° 298, no Centro da cidade.

Se a matriarca nunca deixou faltar bonecas para Alair, Abegail e Adelir brincarem, o patriarca arrancava sorrisos de Avanir, Antônio, Ademilson, Abenicius e José, com carrinhos de cores diferentes, que dava para os filhos, propositalmente, para não gerar brigas entre eles.

Já o pequeno Antônio, porém, deixava o seu brinquedo jogado em um canto qualquer da casa ou no quintal e aguardava ansioso a chegada do Natal para ganhar o seu tão desejado presente: uma bola de futebol!

A convivência com o tão aguardado brinquedo faria deles inseparáveis e com ele debaixo do braço após chegar do colégio – estudava no Grupo Escolar Henrique Lage, onde fez todo o primário – ia almoçar rapidamente para em seguida caminhar por cerca de 4 quilômetros a pé (ida e volta), até o serviço do pai, para levar o almoço numa marmitex sob sol ou chuva.

Depois passava direto na casa do amigo Serginho – seu colega de turma no colégio e filho de seu Lico, amigo de seu pai – para apanhá-lo para jogar futebol.

Era comum naquelas tardes passar mais tempo na casa de seu Lico do que em casa e por tal motivo, começou a ser chamado de Lico por todos da cidade, pegando de vez o apelido .

Em janeiro e fevereiro, meses em que os navios desembarcavam no Porto de Imbituba trazendo os marinheiros que procuravam aos berros por ele, que com apenas 7 anos era exímio engraxate.

– Aprendi a engraxar sapatos, pois na época dava uns bons trocados, principalmente quando os navios que traziam os marinheiros ancoravam – conta ao Museu da Pelada.

Poucas não foram as vezes que enquanto os soldados da Marinha do Brasil não chegavam, ensaiava dribles no irmão Ademilson no acimentado rachado em que as sandálias com as tiras presas com prego nas solas serviam de traves em um campo improvisado.

Embora tivesse habilidade para engraxar sapatos para ajudar os pais na criação dos irmãos nas noites frias de Imbituba, ainda sobrava fôlego para competir com o mesmo Ademilson na venda de amendoins torrados e bananas recheadas.

Ora vencia e ora era vencido!

Nas bancas montadas em frente ao Cine Marabá, viu a infância passar tão rápido como num estalar de dedos.

– Fui o quinto filho de nove irmãos. Meus pais foram meus grandes heróis. Às vezes penso e começo a imaginar como eles conseguiram criar tantos filhos, com tanto amor e com tanta disposição. Acho que foi pela fé, sabe? -, diz emocionado.

E foi ali, em frente ao único cinema da cidade – inaugurado em 03 de fevereiro de 1965 pelo então empresário Abady Rufino de Sousa – que sua vida mudou.

Por muitas vezes assistiu matinês de Django, Zorro, Capitão América e (o seu preferido) Rin Tin Tin – série esta produzida entre 1954 e 1959, em que um cachorro acompanhava uma cavalaria nos EUA. No Brasil, já teve a voz do então dublador mirim Reginaldo Faria, dublando o Cabo Rusty.

Mas nada, absolutamente nada, fazia seus olhos brilharem tanto como os filmes exibidos pelo Canal 100.

Ali, naquela projeção em preto e branco ele se imaginava dando os dribles desconcertantes de Garrincha nos “Joões” que insistiam em marcá-lo ou sendo Didi com sua habitual elegância no fino trato à bola ou ainda fazendo os lançamentos milimétricos como os de Gérson para os peitos dos atacantes.

Sim, ele estava disposto a mudar de vida e ser jogador de futebol!


E com esse pensamento aos 8 anos de idade, quando não estava engraxando sapatos dos marinheiros que procuravam por moças de família para namorar ou vendendo amendoins torrados e bananas recheadas, ficava até tarde da noite com Abenicius – seu irmão mais velho e um dos mais habilidosos que teve a oportunidade de conhecer na vida – aprendendo fundamentos do futebol.

Era passe, domínio de bola no peito, na coxa, na parte interna e externa do pé, cabeceadas, chutes à médias e longas distâncias, dribles em alta e baixa velocidades, deslocamentos, além dos exercícios físicos e alongamentos.

Aos 16 anos de idade, já era aspirante da equipe do Imbituba Atlético Clube – que foi fundado em 1924 e que encerrou suas atividades em 1990, após ter disputado suas últimas competições oficiais.

Não demoraria muito e nem causaria estranheza tamanha evolução aos que acompanharam de perto todo esse processo de aprendizagem do então jovem promissor Lico, que chegava ao América Futebol Clube em 1970, após pedido do amigo Paulo Roberto – ponta-direita daqueles que aliavam velocidade e habilidade – ao seu Lauro Búrigo, então treinador da equipe americana, exigindo que fosse contratado com seu amigo inseparável da camisa 11.

– Eu havia acertado tudo com o pai do Paulo Roberto, que se apresentaria no início da temporada. Aí ele exigiu que eu contratasse o Lico, que eu nem sabia quem era. Mas como estava desejoso em levar o craque da cidade para o meu time, aceitei, mas já pensando em dois ou três treinos depois, mandá-lo embora -, diz o “Velho Bruxo”, como é chamado pela mídia catarinense e que teve sua trajetória contada nas 328 páginas do livro “Lauro Búrigo – Segredos do Bruxo”, relançada ano passado pelo jornalista Paulo Brito.


América/SC em 1972

Ironias da bola, isso acabou não acontecendo pois o indesejado Lico que receberia um pé na bunda se firmou e foi o grande nome no time do América, comandado por seu Búrigo.

Se pela equipe americana nos gramados catarinenses o promissor camisa 11 magrelo e pernas compridas ia destronando laterais com dribles desconcertantes, rompendo por entre zagueiros viris com velocidade e desqualificando esquemas táticos com uma habilidade sobrenatural, sua permanência no clube em que se profissionalizou seria curta, para desespero do “Velho Bruxo”.

Para fazer caixa, o modesto América não resistiria as investidas do extremo Sul do país e emprestaria sua joia rara de 22 anos, para jogar no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense em 1973.

Apesar da expectativa da exigente torcida gremista, que ostenta ídolos até hoje – como o goleiro Eurico Lara (jogador que defendeu o gol do tricolor por mais tempo, de 1920 a 1935), o meia Tarciso (que vestiu mais vezes a camisa do clube, em 721 partidas), o atacante Alcindo (que de 1963 a 1971 e de 1977 a 1979, comemorou 264 gols) e Renato Gaúcho (bicampeão da Libertadores como jogador em 1983 e como técnico em 2017) – Lico não foi tão produtivo como de costume e amargou seis meses sem jogar.

– Eu vi do banco de reservas, dois gols de Pelé, um de Nenê e outro de Brecha e aquele fantástico Santos nos golear no Pacaembu no Campeonato Brasileiro – confidencia sem esconder o desejo de ter enfrentado o Rei naquele Brasileiro de 73.


Figueirense em 1975

Depois de um ano e de ter dado um passo maior que as pernas – em questão da ida precipitada para o Grêmio -, regressou às origens e com o passe livre nas mãos – o América enfrentava uma crise financeira e não havia condições de pagar seu salário – negociou com o Figueirense.

Nos dois anos em que esteve no Orlando Scarpelli, vestiu a camisa 7 e teve a oportunidade de conhecer o habilidoso meia-esquerda Luiz Éverton, que além de ter se tornado seu grande amigo (ainda são até hoje), o ensinou a dirigir.

– Eu precisava convencê-lo em comprar um carro e assim que adquiriu um, não foi difícil. Ele estava se destacando nos jogos e precisava – como dizíamos na época – se motorizar. E foi bem rápido -, diz aos risos o ex-camisa 10 do Figueirense, hoje com 68 anos.

Em 1976, disputado pelos clubes de Santa Catarina, acertava com o Avaí Futebol Clube para ser o camisa 11, vestindo as cores azul e branco.


No Adolfo Konder, apelidado de “Pasto de Bode” ou “Majestoso” (estádio demolido em 1982 para construção do Beira Mar Shopping, que serviu de casa do Avaí antes da Ressacada ser utilizado em definitivo a partir de 1983), permaneceu até 1978, mas fez em 1977, um campeonato impecável em todos os aspectos, ganhando um Fusca como premiação por ter sido eleito o melhor jogador do Campeonato Catarinense, mesmo sendo vice-campeão após perder o título para a Chapecoense.

Depois disso, dois acontecimentos mudariam sua vida peremptoriamente, em 1978: o casamento com Simone Silva Nunes, na Igreja Matriz Imaculada Conceição, em 18 de março e a assinatura de contrato com o Joinville Esporte Clube, em 04 de dezembro.

Enquanto o coração transbordava em amor pela sua dona foi na Arena Joinville que se transformou em ídolo, vestindo pela primeira vez a camisa 10, apesar da preferência pela 8.

– Certa vez, quando criança, assisti Imbituba x Metropol, em que vi um (camisa) 8 chamado Madureira, jogar tanta bola que passei a gostar desse número por causa dele -, confessa.


E foi com a 10 que foi derrotado por 3 a 2 para o Corinthians de Sócrates e Cia, no Morumbi, válido pela primeira fase do Campeonato Brasileiro de 1980, que o “jogador magro de pernas longas mas extremamente habilidosas”, como era chamado na cidade pelo jornalista Maceió, tenha feito sua melhor partida como profissional, naquela tarde de 23 de fevereiro.

Depois dessa atuação de gala, alguns clubes despertariam interesse em sua aquisição, entre eles o Flamengo que para desgosto de seu Bidinho, o pai vascaíno, o contratou.

– Na transação entrou Cr$ 6.000,00 (seis milhões de cruzeiros) e mais os passes de Valdo, Lima e Hélio dos Anjos -, cita Waldomiro Shutzler, presidente do Joinville que negociou o craque com o Flamengo à época.

Nômade nos campos catarinenses à procura de uma boa pastagem para alimentar seu futebol, chegou ao Rio de Janeiro com a difícil missão de ser o reserva imediato do Galinho de Quintino.

Porém, como o camisa 10 rubro-negro dificilmente ficava fora das partidas, Lico quase não jogou e voltou ao Joinville, dessa vez emprestado para jogar o Brasileiro daquele ano.

Em três meses, atuou apenas em oito partidas e voltou ao time carioca.


Preterido pelos treinadores Cláudio Coutinho e Dino Sani, que não lhe deram oportunidade em sua primeira passagem pela Gávea, Carpegiani, recém efetivado no cargo, não queria cometer o mesmo erro de seus antecessores.

Dessa vez parecia que Lico daria um salto na carreira ao desembarcar pela segunda vez na Cidade Maravilhosa para vestir o manto rubro-negro, com as orações de dona Veriana, sua mãe, de Simone, sua esposa, e a bênção de São Judas Tadeu, padroeiro do clube.

Na chegada ao Flamengo no segundo semestre de 1980, já amadurecido pelas cicatrizes da bola, não demorou para mostrar seu verdadeiro futebol.

Numa tarde aprazível, no esburacado Estádio Ítalo del Cima, contra o modesto Campo Grande, no 3° turno do Campeonato Carioca, Carpegiani lançou no segundo tempo o ponteiro técnico e veloz, quando o time de Zico e Cia perdia por 1 a 0.

Ali, os 6.588 pagantes presenciaram o surgimento do mais novo camisa 11 do Flamengo, que ao dar um passe para o gol de Tita – pouco antes do camisa 7 ser expulso – e fazer o outro de bicicleta, chamou a atenção da imprensa esportiva.

Mas foi no mítico Estádio do Maracanã, no dia 08 de novembro de 1981, contra o clube da Estrela Solitária, que o endiabrado ponta-esquerda “comeu a bola” literalmente.


– Foi nesse jogo que o futebol dele se cristalizou de tal maneira que eu não tinha mais como tirá-lo do time -, diz Paulo Cézar Carpegiani, lembrando da atuação dele na goleada de 6 a 0 contra o Botafogo, no Carioca daquele ano.

Mas se nove anos antes, numa quarta-feira 15 de novembro de 1972, em seu 77° aniversário, o clube da beira da Lagoa recebia como presente no Maracanã, a acachapante goleada de 6 a 0 imposta pelos “Gloriosos” Cao, Mauro, Valtencir, Osmar e Marinho; Nei e Carlos Roberto; Zequinha, Fisher, (Ferreti), Jairzinho e Ademir, (Marco Aurélio), válida pelo Campeonato Brasileiro, quis o destino que o troco viesse à altura.

Demorou mas a faixa “Nós gostamos de vo6!”, estendida ironicamente nos clássicos entre as duas equipes, numa mais foi vista nas arquibancadas.

– Este foi um jogo especial. Era um placar que estava entalado na garganta dos torcedores. Mas eu só fiquei sabendo da história no intervalo da partida. Tinha que ser naquele dia -, diz “Bigode”, chamado carinhosamente pelos companheiros de time.

Companheiros estes, que se renderiam ao seu talento e importância para o sucesso da equipe.

– Lembro quando ele veio de Santa Catarina, já com 29 anos, considerada uma idade avançada para se integrar em um clube como o Flamengo. Chegou com o aval do nosso treinador Cláudio Coutinho, caindo como uma luva naquela equipe – diria o imortal ex-lateral Leandro.

Se os 90 minutos do jogo da vingança seriam relevantes, o que dizer da maratona de competições?

E convenhamos, naquela temporada seria desgastante: seis meses antes, em maio, disputa o Brasileiro, em julho conquista a Taça Guanabara por pontos corridos, em novembro é campeão da Libertadores e em dezembro conquista o Carioca e o Mundial Interclubes.

Alguns jogos tão intensos e disputados, principalmente na Libertadores, onde hematomas, suor e sangue, fizeram parte do nacionalismo radical e da ditadura do general Augusto Pinochet (1915-2006), seguidos à risca pelo Cobreloa, no gramado de Santiago.

– Nessa competição tem que se usar todos os recursos. Contra a gente foi dessa forma, mas nosso time tinha um equilíbrio emocional muito grande -, contemporiza Adílio, uma das vítimas dos “Pinochetianos” jogadores do time chileno.

Lico, outra vítima, vai além:

– A agressão que sofri foi covarde, já que esse tipo de coisa não condiz com o futebol e muito menos com profissionais que decidem uma competição tão importante.

Naquele solo infértil de grama verde em que o árbitro uruguaio Roque Cerullo fez vista grossa para o supercílio cortado de Adílio, o olho inchado de Lico, ocasionado pelo soco desferido por Mário Soto e o corte na orelha de Tita – sabe se lá como – a decisão se tornaria um barril de pólvoras.

E se tornou uma das mais violentas da história quando no finalzinho do jogo, o jovem atacante Anselmo, de 22 anos, entrou aos 40 minutos do segundo tempo e acertou um soco em Mário Soto, explodindo de vez na briga generalizada após o apito do árbitro encerrando a partida.

Entre vencedores e derrotados nesta batalha em que se transformou a decisão, coube aos soldados rubro-negros hastearem a bandeira nas cores vermelho e preto e fazer desta conquista da Libertadores um juramento: “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo, Flamengo eu sempre hei de ser…”

Ainda impactados com a difícil conquista das Américas, quis o destino que quatro dias depois uma notícia pegasse todos de surpresa na véspera da decisão do Campeonato Carioca: a morte de Cláudio Coutinho!

– Havia entre nós jogadores um carinho e admiração enormes pelo Coutinho e foi um choque muito grande a notícia de sua morte. Demoramos a assimilar o duro golpe e perdemos os dois primeiros jogos para o Vasco (2 a 0 e 1 a 0) mas no terceiro, superamos e tivemos força para vencer (2 a 1) – diz recordando seu primeiro título Carioca.

Se lamentavelmente faltou ar para o brilhante treinador nas águas profundas na Ilha Cagarras – arquipélago próximo à praia de Ipanema – naquele trágico 27 de novembro de 1981, quando o mesmo praticava pesca submarina, não se pode dizer o mesmo do Flamengo na decisão do Mundial Interclubes contra os ingleses do Liverpool, em Tóquio, duas semanas depois.


Com um Zico inspirado e com participações especiais nos dois gols de Nunes e no de Adílio, o Flamengo vencia o jogo mais importante da sua história para deleite dos 62 mil pagantes.

Na Terra do sol nascente, o que se viu foi uma verdadeira aula de futebol em que onze jogadores de camisas brancas com mangas rubro-negras ensinaram aos de camisas vermelhas, o objetivo do esporte: vencer!

Não bastaria apenas vencer mas a busca incessante pela perfeição estava no equilíbrio.

– O Lico foi na verdade o grande ponto de equilíbrio do nosso time.

Primeiramente com sua experiência, pois era um jogador com uma estrada muito grande já percorrida, depois a sua técnica e sobretudo a sua inteligência tática, fizeram com que a nossa equipe conseguisse atingir o maior equilíbrio para atacar e defender da mesma forma – frisa o ex-lateral Júnior, recordista de partidas com a camisa do Flamengo.

E reitera:

– O Lico foi uma das principais peças na engrenagem tática vencedora do Flamengo.

Um ano após o Mundial, em 1982, após um 1 a 1 no Maracanã e um 0 a 0 no Olímpico, a equipe do Flamengo, sob o comando de Carpegiani, vence o bom time do Grêmio, treinado pelo eficiente Ênio Andrade, na terceira partida que decidiu o campeonato.

O gol do “João Danado” Nunes aos 10 minutos do primeiro tempo, em passe açucarado de Zico, proporcionou ao Flamengo comemorar seu segundo título brasileiro e o primeiro em nível nacional de Lico.

– Não foi uma vingança. Até porque eles sinalizaram com uma proposta de compra do meu passe e o América/SC não aceitou por considerar a proposta baixa. Mas fica em mim, a certeza de que eles haviam perdido um grande jogador, campeão Carioca, da Libertadores, do Mundo e do Brasileiro – diz o ídolo rubro-negro hoje com 67 anos.

No ano seguinte, em 1983, enquanto Carlos Alberto Torres (1944-2016) estreia como treinador de futebol, um 3 a 0 contra o Santos de Marolla, Paulo Isidoro, Pita, Serginho Chulapa e João Paulo, em um Maracanã com mais de 155 mil pagantes, garante ao “Mais Querido” seu terceiro título nacional e ao Lico, a tristeza em ter jogado boa parte do campeonato e ficado de fora da final.

Aos 32 anos, seu “coração da perna” – assim como o Dr. Giuseppe Taranto, chefe do departamento médico do Flamengo costumava chamar seu joelho – infartaria com tantas emoções vividas de 80 a 83: era necessário operar!

E lá foi com o cabeça de área Andrade para os Estados Unidos fazer a primeira intervenção cirúrgica no menisco do joelho direito, com o Dr. John Xetalis, médico do New York Cosmos – clube americano que se popularizou nos anos 1970 por ter Pelé, Beckenbauer e Carlos Alberto Torres, como seus jogadores.

Todavia, em seguida iniciava sua via-crúcis de sessões de fisioterapia e musculação, recondicionamento físico, ingestão de forma controlada de anti-flamatórios e analgésicos e o acompanhamento de perto da família.

Reencontraria a bola meses depois e passou a sentir dores no joelho esquerdo dessa vez, onde operaria o ligamento cruzado anterior.

Porém, pelo esforço feito nessa volta, se submeteu a uma raspagem na cartilagem devido a uma cárie óssea e pela terceira (e última) vez faria uma artroscopia com o Dr. Abraão Fiszman, um dos médicos do Flamengo.

No entanto voltaria sem o brilho de antes, inclusive com limitações e com dores intensas após as partidas.

Pediria então a Giuseppe Taranto (1936-2010), Pinkwas Fiszman e Abraão Fiszman para reavaliarem seus joelhos para constatar uma grave lesão de cartilagem.

Entraria 1984 deprimido e com a incerteza de ser o Lico de outrora e aos 33 anos sentia mais dor do que alegria àquela altura.

Durante três meses fazendo infiltrações para atuar decidiu que aquele 11 de fevereiro seria, definitivamente, sua última partida como jogador de futebol.

Entrou no segundo tempo e aos 35 minutos vestindo a camisa 22, fez o quarto gol na vitória por 4 a 1 contra o Santos no Maracanã, válido pela Libertadores daquele ano.

– Foi muito difícil para nós, pois tudo aconteceu no auge de sua carreira. Na verdade, ninguém estava preparado para aceitar que ele não poderia mais fazer o que mais amava na vida, que era jogar futebol – relembra Simone, sua esposa.

No dia 18 de fevereiro de 1984 anunciaria o encerramento de sua carreira tendo disputado 126 partidas (75 vitórias, 28 empates e 23 derrotas) e marcado 20 gols, segundo o “Almanaque do Flamengo”, de Roberto Assaf e Clóvis Martins.

A trajetória desse brilhante jogador foi contada em “A Travessia de um Sabiá”, documentário produzido e dirigido pelos jornalistas Cleber Latrônico e Fábio Lima.

A obra, de 32 minutos de duração, narra a trajetória do ex-craque Lico por meio de imagens, gols, depoimentos de amigos, familiares, colegas do futebol, como Zico, Andrade, Balduíno, Fontan; os treinadores Paulo Cézar Carpegiani e Lauro Búrigo; cronistas esportivos como Roberto Alves, Fernando Linhares e Maceió; além do ex-repórter de campo e hoje apresentador de TV Hélio Costa.


Atualmente mora com a esposa Simone, com quem é casado há 40 anos e tem três filhas: Mônica, Mariana e Marina, com quem divide os bons momentos que a carreira lhe proporcionou.

– As grandes conquistas desse campeão não foram somente em sua carreira, como pai ele é daqueles que faz as coisas impossíveis se tornarem fáceis quando o assunto somos nós, suas meninas -, entrega a caçula Marina Silva Nunes, de 25 anos.

Hoje, quinta-feira, 13 de dezembro, antes de tomar café com sua esposa Simone, passar a mão no jornal Diário de Santa Catarina, brincar com Nina – um vira-lata adotado há 30 dias -, colocar seu curió na varanda para pegar sol e sair para a habitual caminhada às 6h da manhã pelas ruas de Imbituba, seus olhos se fecharão levando-o para bem longe.

Vai lembrar de muitas coisas, principalmente de seu Bidinho (1919-1986) e de dona Veriana (1920-2009), antes, porém, de passar um filme na sua cabeça.

Talvez ele aperte os olhos evitando o choro ou esboce um leve sorriso… isso não saberemos!

Mas sabemos com propriedade que ele foi gigante ao lado de Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior, Andrade, Adílio, Zico, Tita e Nunes, na conquista do título mundial de um dos maiores times da história do futebol de todos os tempos.

COLETIVIDADE ESPORTIVA: ILUSÃO OU REALIDADE?

por Eliezer Cunha


Esportes coletivos nos submetem ao raciocínio de uma alta dependência do exercício e desempenho da excelência da coletividade. Futebol, basquete, vôlei entre outros. Realidade ou ilusão? Bem, vamos aos fatos. Jogo decisivo, bola nos pés de um atacante, ponta, ala, etc. Oportunidade clara de gol, cesta de três pontos ou uma cravada de uma bola na quadra adversária, criada pelo coletivo, time ou equipe: Realidade.

Porém, alguém precisa decidir, definir e concluir a finalização com êxito. Está aí a grande oportunidade de glória de uma equipe ou atleta. Porém, nos pés ou mãos de apenas um, um. Como lhe dar com isso, louvando ou punindo, afinal foi o destino esportivo que o escolheu para tal e aí a expressão “E SE….” volta a atacar friamente. Vejamos a história: Copa de 82, Cerezo. Copa de 86, Zico. Copa de 90, Alemão. E por aí vai….

No Campeonato Brasileiro deste ano, temos o Palmeiras como grande campeão seguido do Flamengo. Flamengo…. Podia ter chegado? Sim. Voltamos ao destino escolhido: Paquetá’ faltando 8 minutos, desperdiça uma clara oportunidade de gol da vitória, em cima do concorrente maior, Palmeiras.

Vitinho instantes finais contra o São Paulo desperdiça o gol da vitória, quase debaixo da baliza, bola na arquibancada. Somados os pontos…Flamengo ultrapassaria o Palmeiras e poderia eternizar uma conquista valorizando o coletivo e confirmado por um só personagem.

Voltamos à ciência exata, sobretudo a estatística. A porcentagem de uma equipe de vencer uma partida devem ser medidas pelas quantidades de oportunidades que a equipe propicia durante os 90 minutos aliado à competência individual.

Treinos táticos e secretos, pranchetas, quadros, análises técnicas, todos esses recursos são dispensáveis se um apenas um atleta tem a responsabilidade de decidir uma partida.

Deixamos menos a valorização das ações coletivas e valorizamos mais o desenvolvimento individual.


Zico e Roberto aperfeiçoaram suas técnicas individuais de cobrar falta e pênalti treinando sozinho. Não dá para entender um jogador na pequena área efetuar uma cabeçada que não seja em direção ao chão, não dá pra aceitar que um jogador não consiga finalizar uma jogada porque não chuta bem de esquerda ou de direita. Com isso criamos deuses que ficam debaixo do gol e atribuímos a eles defesas incríveis, quando na realidade a suposta defesa “impossível”, se deu por falta de competência clara da aplicação dos fundamentos básicos do futebol.

Os treinadores brasileiros devem cobrar mais de seus operários.

Esporte coletivo: Realidade ou Ilusão..