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Flamengo

REENCONTRO

por Leandro Ginane


O Maracanã já não é mais o mesmo e todos sabem disso. A arena pouco a pouco foi limitando o acesso a poucas pessoas, fruto da modernização do futebol que acontece em todo o mundo. Por outro lado, surge um curioso efeito colateral: a ocupação popular das ruas, criando um novo lugar de celebração.

Desde a manhã de ontem, o povo estampava suas camisas rubro-negras no trem, nas praças, nos botecos da cidade e no entorno do Maraca. Havia sim alguma expectativa de entrar nos estádio sem pagar como em outros tempos, mas a maioria estava vivendo um sopro de alegria em um momento onde a desigualdade social aumenta profundamente e a diversão gratuita em espaços públicos é rara. Um momento de luz em tempos de escuridão.


Quem saiu ontem do trabalho para ir ao estádio viveu um paradoxo, dentro da arena, sotaques de todo o Brasil, faces rosadas em selfies e camisas oficiais do clube. Lá fora, ambiente de festa, fumaça com cheiro de churrasquinho, dois latão (sic) por dez e camisas surradas, aquela mesma carregada de superstição usada no tempo em que o Maracanã acomodava a todos.

Após o jogo, a miscigenação típica da torcida rubro-negra voltou a acontecer, dessa vez nas ruas. União regada a latão gelado e churrasquinho. Após mais de uma década de separação, enfim o reencontro e o fio condutor é o clube mais mais popular do Brasil.

QUANDO O CASTIGO VEM A CAVALO

por Luis Filipe Chateaubriand


Pois é… Mais uma vez, Renato Gaúcho e os dirigentes gremistas desprezaram o Campeonato Brasileiro, para priorizarem Libertadores da América e Copa do Brasil.

Como em todos os anos, time titular nos jogos da Libertadores da América e da Copa do Brasil, time reserva na maioria dos jogos do Campeonato Brasileiro.

O principal certame de nosso futebol sendo menosprezado, sendo descartado, sendo vilipendiado!

O resultado? Nem título do Campeonato Brasileiro, nem título da Copa do Brasil, nem título da Libertadores da América!

Ao “jogar para escanteio” o que é sagrado, degringolou em tudo!

Muito bem feito!

Mas, como diz o adágio popular, “não há nada tão ruim que não possa piorar”: colocar o Campeonato Brasileiro em tão má conta pode custar… a vaga na Libertadores da América da próxima temporada! 

Será mais do que merecido!

Renato Gaúcho é um grande técnico – dos poucos no Brasil que merece esse qualificativo – e foi um grande jogador. 

A diretoria do Grêmio é tida como inovadora e comprometida com as melhorias de nosso futebol.

Que ambos aprendam a lição: fazer o Grêmio menoscabar o Campeonato Brasileiro só pode dar em vexame.

Isso é apequenar o colossal Tricolor dos Pampas, e essa imensa potência de nosso futebol não merece isso!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.

A EXCEÇÃO FOI MESMO O LEANDRO

por Zé Roberto Padilha


O calcanhar dos que ocupam a lateral direita, tal como o de Aquiles, tem se mostrado o ponto fraco dos que atuam no futebol brasileiro e mundial. Tão frágil tem se portado seus ocupantes em relação ao resto do time, que Djalma Santos foi eleito o melhor lateral da Copa do Mundo, disputada na Suécia, jogando apenas a partida final. Fico a imaginar a ruindade dos que defenderam seu país, em 1958, atuando naquela posição e perderam a indicação por quem entrou em campo apenas uma vez.

Tão incapaz nosso futebol de revelar um craque por ali que nossos Fagner, com todo respeito, tem cantado melhor do que tem jogado. Fagner, do Corinthians, é triste lembrar, foi nosso titular na última Copa do Mundo. E o Fagner, cantor, que fez 70 anos, encantou outra vez um Viva Rio lotado de fãs. E o tiro de misericórdia na fragilidade da posição acaba de ser dado pelo Tite ao convocar, para os amistosos da seleção, em total desespero, Marcinho, do Botafogo.

Assisto, como todos vocês, filhos, netos que votam no Cartola, quem anda se destacando no atual Campeonato Brasileiro. Muriel, Gerson, Gabigol, Michael, o canhotinho diferente do Atlético Paranaense, tudo bem. Suas atuações saltam aos olhos e todos apostam neles. Mas que jogo foi este do Marcinho que seduziu o Tite que nem meu filho botafoguense, o Guilherme, assistiu? Pelo contrário, já ouvi ecos de “Fora, Marcinho!” aqui em casa e no Engenhão, tão previsíveis tem sido suas exibições.

Carlos Alberto Torres, que era zagueiro, ocupou aquela posição no México porque João Saldanha, em 1969, inovou ao convocar “suas feras”. Pouco importava em que posição atuassem, chamou os melhores e disse que “craques não sentam num banco de reservas”. E se os melhores vestiam a 10, escalou um ataque com os do Santos (Pelé), Cruzeiro (Tostão), Corinthians (Rivelino) e os dois do Botafogo (Gérson e Jairzinho). Era o sistema tático que tinha que se adaptar à genialidade, não o talento se curvar ao 4-3-3 ou 4-2-2.

Deu tão certo que nunca mais tivemos uma seleção tão boa quanto aquela. O capitão até que se saiu bem, deu o tiro de misericórdia na Itália, levantou a taça mas não foi o destaque da posição na competição.

Depois veio o Cafu, que correu muito por aquele setor, fez da lateral direita uma pista de atletismo com barreiras humanas que superava com sua disposição carregando a bola nos pés. Teve seus méritos, bem como Daniel Alves, que veio a seguir mas não resiste quando lhe oferecem uma camisa 10. Que lhe conceda mais liberdade e menos responsabilidade de marcar por aquele setor. A exceção nesta história toda foi mesmo o Leandro.

Ninguém dominou as atribuições ofensivas e defensivas daquele setor como ele. Em 415 jogos pelo Flamengo, onde marcou 14 gols, demonstrou saber marcar com eficiência e atacar com extrema categoria. Convocado por Telê Santana para disputar duas Copas do Mundo, no seu auge, em 1986, foi conhecer a noite mineira com Renato Gaúcho. E chegou tarde à concentração. E o calcanhar direito, seu forte, que deveria lhe ajudar a pular o muro da concentração, falhou e ficou do lado de fora da Toca da Raposa. E ambos foram cortados da seleção.

Com Edson na lateral direita, um outro Fagner tão fiel às suas limitações, não passamos das quartas de final eliminados pela França. A história, implacável, diz que Aquiles, e quem mais fosse vestir a camisa 2, seriam banhados e protegidos pela Deusa Tétis nas água do rio Etige. E apenas o calcanhar direito, e os ocupantes da lateral direita, ficariam do lado de fora.

Agora, só nos resta marcar um amistoso contra a Grécia. E banhar a cabeça do Tite que também esqueceram do lado de fora.

OS SEIS MINUTOS QUE FIZERAM A DIFERENÇA

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1982, Flamengo e Grêmio decidiam o Campeonato Brasileiro. Primeiro jogo da final no Maracanã, o Grêmio, através de Tonho, faz 1 x 0 aos 38 minutos do segundo tempo.

É nas horas difíceis que os gênios fazem a diferença…

Zico chamou a responsabilidade para si, pois o Flamengo não poderia perder aquele jogo. Uma derrota dificilmente poderia ser revertida no segundo jogo, no Estádio Olímpico em Porto Alegre, e o terceiro título brasileiro escaparia pelas mãos do rubro-negro.

O Galo começou a comandar o time, de forma soberba. Como patrão da bola, todas as ações do time carioca passavam pelos seus pés.

Aos 40 minutos, cabeceou do limite esquerdo da pequena área para dentro desta, gerando um quiproquó na área gremista. Aos 42 minutos, fez lançamento primoroso que deixou o ponta direita reserva Chiquinho na cara do gol, mas este chutou para fora. Aos 44 minutos, em cruzamento de Júnior pela esquerda, se antecipou ao zagueiro gremista e concluiu de pé direito e de trivela em gol, vencendo o goleiraço Leão e empatando o jogo.

O craque resolveu a parada em exatos seis minutos, fazendo jus ao comentário televisivo de Márcio Guedes: “Quem tem Zico, tem tudo!”.

Com o recital de Zico ao final do jogo carioca, o Flamengo se sagrou campeão brasileiro daquele ano. Não teria acontecido se o moço de Quintino não tomasse a decisão de desequilibrar aquele cotejo.

Há gente por aí que diz que ele não jogou isso tudo… Ora francamente!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com

MEU CASTIGO

por Rubens Lemos


Não, mil vezes não. A idade é a luz da lucidez contrariando todos os meus princípios infantis e irredutíveis. Vascaíno de herança e paixão, tenho que ser verdadeiro, pois a verdade é dos inegociáveis patrimônios imateriais que guardo comigo: o Flamengo está jogando do jeito que a escola dos campinhos de várzea manda e só não será campeão de tudo nesta reta final de 2019 por incompetência própria.

Um amigo percebeu e disse assim: na primeira das semifinais da Libertadores, o Grêmio, em casa, parecia time pequeno, fechado, medroso e prestes a surtar de medo. Confere. O Flamengo redescobriu no Brasil um detalhe catedrático: a saída de bola no toque, no passe medido, na colocação adequada de cada jogador, do avanço guerreiro e ordenado de artilharia, seus laterais e volantes auxiliando os homens de frente, criando uma estrutura humana móvel que se desloca tal casal grudado em plena gafieira.

É bacana ver o Flamengo de Jorge Jesus. É uma força de trator sobre os medrosos adversários. O Flamengo reaviva suas tradições moleques obedecendo à disciplina tática bem nítida pela ofensividade. Defesa, meio-campo e ataque. Nos bons tempos, eles abusavam do enredo. O Flamengo joga para ganhar, não faz do empate, represa de covardia ou carnaval por um mísero ponto.

Por mais que se tente enxergar algo novo nos outros, prevalece a escola gaúcha de machismo Minuano, da chegada primeiro no oponente do que a busca radical pela bola, para dominá-la e exercer o que é ensinado ou praticar a magia da improvisação.

O Flamengo pode ser imprevisível, ao tomar as rédeas da partida fora de casa ou emboscar o concorrente, esperando-o, em quase clímax de filmes de Hitchcock para fustigá-lo no erro e matá-lo de forma impiedosa.

Poucas vezes – no nivelamento rasteiro – houve tanto desequilíbrio. Nos anos 1970 e 80, uns oito a dez times podiam ser cotados como possíveis campeões. Na década de 1990, o São Paulo de Telê Santana e o Palmeiras de Wanderley Luxemburgo arrasavam quarteirões.


O Vasco de Romário aos 34 anos em 2000 foi o último a me fazer cantar de coração. E sem o brilho de anos antes, com Geovani vestindo smokings invisíveis de tão elegante na condução intelectual dos outros dez companheiros.

O Vasco de 2000 e o Cruzeiro de 2003, comandado pelo absoluto Alex, nunca levado a uma Copa do Mundo, assim como Geovani e o malabarista Djalminha, foram os últimos a paralisar a Velha Guarda.

O Flamengo de hoje, claro, devido à escassez de talento, é um time difícil de superar por não ter concorrente e por contar com o melhor elenco em campo ou na reserva. Jorge Jesus conseguiu devolver a satisfação de se ver um jogo no Brasil.

Enquanto o Vasco sobrevive no sacrifício e na expertise de Luxemburgo, o Flamengo é habilidade. O Flamengo é top. Ou um time como só uma bela mulher sabe ser. Charmosa, inabordável, elegante e mediterrânea em beleza. Mulher, de primeira.