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Flamengo

ZICO FAZ 70 ANOS

por Norman Sharp

Hoje comemoramos 70 anos de Zico, é uma data que deve ser muito celebrada, não só por rubro-negros.

Quem viu teve muita sorte, quem é Flamengo tem muita sorte, pois Zico é eterno para o Flamengo, para o Maracanã, para o futebol, para todos que amam o futebol.

O maior artilheiro do maior estádio e da maior torcida.

Um fenômeno excepcional que aconteceu e ainda acontece e sempre acontecerá para nós rubro-negros, é a nossa história.

Sim, devemos celebrar muito, viva Zico!!! Zico é nosso Rei!

Somos uma imensa nação feliz, Zico acima de todos, Flamengo acima de tudo.

Um craque natural, um atleta espetacular, futebolista clássico, completo, agressivo nas arrancadas, generoso nos lançamentos e passes e matador nas finalizações, batia com a duas, exímio cabeceador, o melhor cobrador de faltas, oportunista na dentro da área.

Zico fez o Flamengo maior? Sim.
Zico fez o Maracanã maior? Sim.
E o Flamengo e o Maracanã fizeram Zico um gigante? Sim.

É a paisagem, o pintor, suas obras e a maior galeria.

E o melhor de tudo, um ídolo que valoriza e honra seus fãs como nenhum outro, uma cara espetacular que faz jus a sua obra.
Cumpre o seu papel dando o melhor exemplo.

Celebremos!!

Obrigado, Arthur Antunes Coimbra.
Obrigado, Zico.
Parabéns, que venham muito anos de vida!!!

EM 1986, FLAMENGO 4 X 1 FLUMINENSE E SHOW DE ZICO

por Luis Filipe Chateaubriand

No início do ano de 1986, primeira rodada da Taça Guanabara, Flamengo e Fluminense se confrontaram no Maracanã.

De um lado, Zico, Sócrates e Bebeto, dentre outros.

Do outro, Romerito, Assis e Washington, dentre outros.

Veio o primeiro tempo.

Aos dez minutos do primeiro tempo, Adalberto cruzou pela esquerda e Zico, de “peixinho”, fez o gol de cabeça.

Flamengo 1 x 0 Fluminense.

Aos 44 minutos do primeiro tempo, Leomir cobrou pênalti com perfeição.

Flamengo 1 x 1 Fluminense.

Veio o segundo tempo.

Aos 27 minutos do segundo tempo, Zico bateu falta com perfeição absoluta!

Flamengo 2 x 1 Fluminense.

Aos 30 minutos do segundo tempo, Bebeto penetrou na área pela direita e chutou em gol com extrema felicidade.

Flamengo 3 x 1 Fluminense.

Aos 35 minutos do segundo tempo, Zico bateu pênalti de forma irreparável.

Flamengo 4 x 1 Fluminense.

O brilho de Zico no jogo não se resumiu aos três gols que marcou.

Bateu falta no travessão.

Deu passe a Adalberto de calcanhar.

Fez lançamento de bicicleta.

E até “matar” a bola com as nádegas, para dar agilidade à jogada (como ele mesmo confirmou), fez.

Em resumo, aquele dia do início de 1986 foi o dia de Zico!

POR FAVOR, PAREM E PENSEM! AGORA!

por Zé Roberto Padilha

(Foto: Alexandre Durão)

Em algum momento de suas peneiras, em meio a tantas escolinhas espalhadas com sua grife pelo país, um garoto frágil e habilidoso, como Zico, certamente foi menosprezado pelo opção da base em ter no time jogadores altos, fortes e aplicados na marcação.

Alguns hábeis jogadores devem ter ficado pelo caminho.

Sem um olhar para defender a arte, dominadas pelos trogloditas de plantão que privilegiam a força, é duro assistir essa nova geração de esforçados corredores que o clube colocou em campo contra o Audax.

Não há um só atleta que coloque um freio na bola e lhe conceda uma cadência. Que acelere o jogo ou faça a bola circular até achar a hora de dar o bote, conforme o Modric. E demonstre um mínimo de habilidade e categoria para oferecer uma assistência, dar um drible e encantar o torcedor.

Não há um só pensador em meio a tantas pernas que se embaralham com outras numa correria desenfreada.

Eliminados na Copinha pelo Avaí, com um a zerinho suado contra o esforçado clube de Angra dos Reis, o Flamengo, que estreou no Carioca não apenas deixou saudades do Arrascaeta.

Mesmo o aposentado, Diego foi lembrado diante da tamanha falta de um maestro que ordenasse a seus cabelinhos pintados: “Por favor, parem e pensem. Agora!”.

FRANCISCO HORTA TROCOU AS LARANJEIRAS PELA GÁVEA

por Elso Venâncio

O visionário Francisco Horta é um dos grandes personagens do nosso futebol. Além de formar duas ‘Máquinas’ no Fluminense, clube que presidiu entre 1975 e 1977, contratando um punhado de craques – nomes como Rivellino e Paulo Cezar Caju, dois dos maiores jogadores do mundo na época –, o dirigente também sacudiu o futebol brasileiro ao instituir o genial ‘troca-troca’, fazendo com que ídolos vestissem o uniforme dos rivais, o que motivou os torcedores a lotarem sempre o Maracanã.

Depois de ser considerado o ‘Presidente Eterno’ das Laranjeiras, sendo cotado para assumir a FERJ e até mesmo a CBF, o advogado e magistrado carioca chocou o mundo da bola ao aceitar o convite do então presidente do Flamengo, Gilberto Cardoso Filho, para comandar o futebol rubro-negro como manager – uma espécie de diretor de futebol profissional remunerado.

Gilberto Cardoso ficou tonto com a rasteira que levou de Antônio Soares Calçada, presidente do Vasco, no episódio que culminou com a saída do craque Bebeto. Cria rubro-negra desde que foi contratado, ainda garoto, junto ao Vitória, o atacante assinou com o cruz-maltino após ser feito o depósito do valor de seu passe na Federação. O fato representou a maior contratação da história, entre clubes arquirrivais.

O Brasil acabara de conquistar a Copa América após 40 anos de jejum e Bebeto, além de artilheiro, com sete gols, foi considerado o melhor jogador do torneio. Era o melhor do Brasil, cobiçado por vários gigantes da Europa.

Em maio de 1990 Horta desembarcou na Gávea com plenos poderes. Encontrou forte crise e muita rejeição ao seu nome, por conta do seu passado no Fluminense, seu time do coração.

De cara, tentou uma contratação de impacto:

– Presidente, quem será o seu Rivellino? – perguntou-lhe, reverenciando-o, Gilbertinho.

– Está em São Paulo e usa a perna esquerda.

– Como assim?

– É batedor de faltas e joga no Corinthians.

O sonho dele era Neto, camisa 10 que levaria o alvinegro paulista ao título brasileiro no fim daquele ano.

Quando assumiu, trabalhávamos na Rádio Globo. Eu, como setorista do Flamengo. Ele, comentarista do ‘Panorama Esportivo’, programa líder nacional de audiência que era apresentado por Eraldo Leite, das 22h às 24h.

Nova rotina, passávamos o dia inteiro na Gávea. Ao fim da noite, a gente se reunia novamente nos estúdios da Rua do Russel, na Glória.

Horta chegou à Gávea, foi ao vestiário e colocou o agasalho rubro-negro. Achei estranho! Chamou jogadores e imprensa e, de repente, promoveu uma reunião em que, com todos de mãos dadas em formato de círculo, no centro do campo, para minha surpresa e espanto, pediu em voz alta:

– Bota fé que dá pé! Vamos repetir… bota fé que dá pé!

Os fotógrafos fizeram a festa.

Sempre otimista, enfrentou os chefes de torcida organizada, que tinham uma sala ao lado do estacionamento dos jogadores, a ‘Atorfla’:

– Sou tricolor, mas estou Flamengo e sempre fui fascinado por seu gigantismo.

Claro que houve imediata reação nas Laranjeiras. Horta quase teve seu título de Grande Benemérito cassado.

Durante as partidas, ficava ao lado do técnico Jair Pereira, no banco de reservas, e dava nota aos jogadores publicamente:

– O melhor foi Uidemar. Vai ganhar um poodle! – prometia um presente ao craque do jogo sempre que o time ia a campo.

Vitor Hugo, um zagueiro viril, era chamado por ele de ‘Homem de Ferro’:

– Nosso Homem de Ferro… nota 3!

– Junior ‘Capacete’, você precisa melhorar… 5!

– Renato? Bom, nosso Frank Sinatra está rouco. Sem nota…

Estrela do time e maior salário do futebol brasileiro, Renato Gaúcho reagiu com declarações pesadas. O clima esquentou. Querido por todos, Uidemar, o ‘Ferreirinha’, para amenizar a situação, com toda a sua pureza comentou, ao lado do campo:

– Minha mulher tá me cobrando o cachorro, Doutor. Ela gosta muito de poodle!

A passagem de Francisco Horta pela Gávea foi rápida. Girou em torno de cinco meses. Mas foi marcante. A primeira Copa do Brasil conquistada pelo Flamengo, que começa a disputar na semana que vem o tetracampeonato da competição, foi conquistada praticamente sob seu comando. É que Horta acabou sendo demitido quase um mês antes da decisão, no dia 5 de outubro. Na final, disputada em 1º de novembro, o rubro-negro venceu o Goiás por 1 a 0, em Juiz de Fora – mesmo palco onde Zico se despedira no ano anterior, contra o Fluminense. Aliás, Fluminense… de Horta!

Certa vez perguntei a ele:

– Por que trocou Paulo Cezar Caju, Gil e Rodrigues Neto por Marinho Chagas, com o Botafogo?

– Erro meu! – assumiu.

Ele se equivocou ao ir trabalhar no Flamengo? Fica a pergunta no ar. Quem sou eu para entender ou julgar esse personagem que estava à frente do seu tempo e foi um dos maiores dirigentes do Século XX?

Vida longa ao “Presidente Eterno”, que completou, em 23 de setembro, 88 anos de idade!

TEM QUE CONVERSAR COM O TÉCNICO

por Elso Venâncio

Em alta no Flamengo, Rodinei não atuou no empate contra o Ceará, no Maracanã

Ricardo Teixeira avisava de cara ao treinador da seleção:

– Sou o primeiro a ver a relação dos convocados e tenho poder de veto.

Eurico Miranda era informado de tudo, em tempo real. Na véspera dos jogos, sabia de antemão a escalação.

O presidente do Flamengo campeão do mundo em 1981 chamava o treinador e lhe perguntava qual a estratégia para o jogo. Antônio Augusto Dunshee de Abranches não pretendia escalar o time. Mas, sim, evitar erros primários. Nada mais saudável do que a troca de ideias entre um chefe e seu subordinado.

Dorival Júnior precisava vencer o Ceará e, de forma surpreendente, escalou o meio campo com Pulgar, Diego Ribas e Vitor Hugo? Todos reservas. Na época de ouro do clube, o time vinha no meio com Andrade, Adílio e Zico; e na frente, Tita, Nunes e Lico. Será que algum destes gostaria de ser poupado? Pergunta ao Zico…

A entrada de Matheuzinho no lugar de Varela, no intervalo, me lembrou as observações feitas em coletivos. O problema é que o jogo era à vera! Nelson Rodrigues diria sobre Rodinei:

– Tem saúde de vaca premiada.

João Saldanha já falava:

– Futebol é momento.

Hoje Rodinei é o melhor lateral do país. Ainda assim, mesmo no auge e com toda sua disposição, saiu para que testes fossem feitos no setor.

Muricy Ramalho disse certa vez, durante uma preleção:

– Galera, quando estiver ruim, toca pro negão.

Rodinei, sabendo que o técnico se referia a ele, perguntou, com um ar provocativo e sorrindo:

– Que negão é esse, professor?

– Não fode… cala a boca e ouve!

Será que alguém conversava com Paulo Souza, que tinha incrível vocação para o erro?

Um inédito tetracampeonato carioca lhe escorreu pelas mãos e a sucessão de equívocos absurdos no Campeonato Brasileiro reflete até hoje, visto a distância do clube para o Palmeiras.

Na Libertadores de 2008, o supervisor Isaías Tinoco avisou no hotel ao vice de futebol Kleber Leite, já bem tarde da noite, que Joel Santana escalaria os reservas no dia seguinte, contra o América, no México.

– Chama o Joel aqui agora! – foi firme o dirigente.

– Ele está dormindo…

– Acorde-o, então!!!

‘Papai Joel’ apareceu explicando que no domingo teria decisão do Carioca, contra o Botafogo.

– A posição é institucional. Titulares amanhã e domingo. Vamos com os melhores! – sentenciou Kleber.

No jogo, América 2 x 4 Flamengo. Na sequência, o Mais Querido conquistou o título metendo 3 a 1 no Botafogo.

Na semifinal da Libertadores, no Maracanã, porém, veio a improvável e fatídica derrota por 3 a 0 para o mesmo América de Cabañas, em pleno Maracanã.

Mas isso, bem, só os deuses do futebol são capazes de explicar…

O Vélez Sarsfield é o primeiro time argentino da história que perdeu de quatro em casa e não partiu para a violência, para a briga, nem em Buenos Aires nem no Rio. Verdade que a galinha já estava morta no jogo da volta, ontem. Só Dorival Júnior que não admitiu o erro cometido contra Ceará.

Com todo respeito, time misto era para ter sido ontem.