por Fabio Lacerda
Quis o nosso Pai Celestial recolher em menos de dez dias os dois maiores artilheiros de clubes da história do futebol brasileiro. Ou será que o Pelé escolheu o Roberto na ‘adedanha” com outro craque no céu para formação do seu time estrelar?
Certamente, o meu dia mais triste. Roberto fez a passagem no meu aniversário. Às 11h10 do dia 8 de janeiro deste ano que mal começou, meu ídolo partiu para o Reino do Senhor. Obviamente, não com aquela volúpia da arrancada mortífera rumo ao gol adversário, mas lutando pela vida como era os confrontos contra os zagueiros.
Provavelmente, Roberto é o jogador que mais anos defendeu um clube no Brasil. Foram 22 anos. Foram 708 gols atrás somente de Pelé (tentos por um único clube), outro vascaíno que nos deixou recentemente. Roberto foi às redes 752 vezes. A morte de Pelé no final do ano passado, e Roberto, no início deste ano, em um hiato de dez dias, totaliza pouco mais de dois mil gols em duas vidas. Duelaram em 1974 com o ídolo supremo do Vasco superando o Rei que marcou seu último gol no Maracanã pelo Campeonato Brasileiro. Roberto é um dos três artilheiros e campeões do Campeonato Brasileiro aos 20 anos, informação esta que o surpreendeu na última entrevista dele para o Museu da Pelada ao lado do grande meio-campista Zé Mário, integrante do fantástico time do Vasco de 1977 que me fez campeão no ano do meu nascimento.
Roberto ficará no coração cruzmaltino. Até aí, nenhuma novidade. Mas, quem entrou, definitivamente, nos nossos batimentos cardíacos foi o Zico. O Galo, como o Roberto gostava de chamar seu amigo rubro-negro, é um ser humano foooooooooda (perdão pelo palavrão, mas não há melhor termo para definir o maior camisa 10 do maior rival do Vasco). A mensagem de Zico transcende a amizade de dois dos maiores fenômenos do futebol brasileiro. É uma comunicação em prol da paz no futebol.
A amizade entre Roberto e Zico é o exemplo a ser seguido quando trata de rivalidade entre clubes. Estes são os verdadeiros influenciadores positivos do futebol. A categoria, a simplicidade, a generosidade, o respeito e o amor pela camisa são temas intrínsecos que unem Roberto e Zico. Nesta disputa sadia nunca houve ninguém melhor que ninguém. E por esta razão tornaram-se heróis. Roberto é tão parceiro de Zico, um irmão, na verdade, que o vascaíno nunca buscou a vaidade para disputar a honraria de ser o maior artilheiro da história do Maracanã porque o Vasco tinha São Januário para ser mandante de jogos. Que amizade, senhores! Zico é o maior artilheiro do Maracanã. Roberto é o maior artilheiro do estádio quando o assunto é número de gols por partida.
O adeus
Cheguei em São Januário por volta das 12h25 do dia 9 de janeiro. Em silêncio e sem sacar o aparelho celular, segui a torcida na fila para dar adeus ao meu ídolo. Ao jogador que voltou a elevar o Vasco após uma década de 1960 sofrida. O ídolo que tornou-se o primeiro presidente de um clube no Brasil. O ídolo que superou Ademir de Menezes, Vavá, forjou Romário, e prestes a pendurar as chuteiras, pavimentou o terreno para a chegada de Edmundo ao profissional do Vasco, em 1992, assim como Valdir, e Sorato (1987), outros implacáveis artilheiros da Fábrica de São Januário.
De Duque de Caxias para sempre em nossos corações. Obrigado, Roberto, pelas alegrias entre meus 7 e 16 anos. Na sua primeira despedida em 1993, eu estive no Maracanã, há 30 anos, e chorei ao vê-lo dando a volta olímpica. E neste fatídico aniversário meu, me despeço do meu maior ídolo. Está difícil assimilar.
Um beijo, Roberto. Vai com Deus, meu artilheiro. Você foi inspiração, movimentou multidão e estará para sempre no meu coração. A camisa com cheiro de gol também tem cheiro de saudades.