Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Elson Venâncio

JORGE CURI, DÁ-LHE GAROTO!

por Elso Venâncio


Não trabalhei com esse gigante da Comunicação, que foi Jorge Curi. Mas foi por pouco. Muito pouco.

No segundo semestre de 1984, a Rádio Globo resolveu fazer uma mudança radical na sua equipe de Esportes. Eu estava havia poucos meses na Rádio Nacional do Rio quando, em agosto daquele ano, Washington Rodrigues me chamou para uma conversa em sua cobertura, no Alto Leblon.

“Assinei com a Globo e vou te levar.”

Aquilo era uma bomba – afinal, vivíamos a ‘Era de Ouro’ do rádio. Em cada esquina, em cada canto, fosse um bar, uma banca de jornal, restaurante, portaria de qualquer edifício, quiosques, nos carros, enfim, em todo e qualquer lugar tinha sempre um radinho ligado. Principalmente quando era dia de jogo.

A Globo apostava em José Carlos Araújo, o ‘Garotinho’, outro fenômeno das transmissões. Ele comandava uma equipe jovem e revolucionária na Rádio Nacional, que se hospedava no histórico edifício que abrigara o jornal ‘A Noite’, na Praça Mauá. Nomes como Luiz Mendes, Deni Menezes, Eraldo Leite, dentre outros, faziam parte daquele timaço.

De repente, Jorge Curi assina com a Tupi. Waldir Amaral e João Saldanha seguem para a Rádio Jornal do Brasil. Chego à Globo já sem este trio na casa.

Durante a minha adolescência, saía de Campos dos Goytacazes para assistir a alguns clássicos no Rio, sempre com o radinho de pilhas colado no ouvido. O sinal da Rádio Globo ricocheteava pelo Maracanã. Na geral, era comum aparecer alguém com um rádio enorme ligado a todo volume. Curi, rubro-negro fanático, revezava com Waldir Amaral, que com sua categoria, anunciava:

“No segundo tempo, o narrador ‘padrão’ do rádio brasileiro…” – nisso, a vinheta entrava forte:  “Jorge Curi!”

Gol do Flamengo era com ele mesmo. Especialmente os de Zico:

“Falta na entrada da área. Zico ajeita a pelota. Dá-lhe garooooooootooooo!!!!!” – com direito a eco. “Corre pra bola. E é gol. Goooooooooooooooolllll” – incrível como não parava! Que fôlego!

“Zico! Zicaço, aço, aço! Gooooooooooo!!! Zicãããããão. Camisa número 10. Quando eram decorridos…”

A torcida deixava o estádio e eram tantos os rádios ligados que dava a impressão de terem espalhado alto-falantes pelas ruas do entorno do Maracanã.

João Saldanha era o comentarista realmente técnico. Ele avisava:

“Jorge Curi assim narrava o gol do Zico. A multidão parava e alguns torcedores exigiam silêncio: ‘Vamos ouvir o Curi! Olha o Curi!’ Zicaço, aço, aço! Goooooooo! Zico, camisa número 10. A galera vibrava nas ruas como se fosse um novo gol. Que festa!!!”

Mas, voltemos ao Curi:

“Anooooteeeeemmm. Tempo e placar, no Maior do Mundo…”

“Passa de passagem…”

“Ultrapassa a linha divisória do gramado…”

“É a última volta do ponteiro….”

“Fim de papo. Loureiro/Kleber…” – frase que anunciava o fim do jogo e as entrevistas no campo, de Loureiro Neto e Kleber Leite, os repórteres trepidantes da época.

Quando a televisão começou a passar os jogos ao vivo, a paixão pelo rádio ainda era tão grande que o torcedor tirava o som da TV e ouvia pelo rádio.

Curi tinha verdadeira adoração pelo ex-lateral Leandro, do Flamengo. O histórico gol do jogador, no Fla-Flu que acabou 1 a 1 em 1985, foi um dos últimos narrados por ele (o último foi o de Paulinho, que rendeu o tricampeonato carioca ao Tricolor). No sepultamento, em Caxambu, às vésperas do Natal daquele mesmo ano, o locutor vestia a camisa rubro-negra de número 2, enviada por seu ídolo.

Saudades do vozeirão e dos gritos de gol que ecoavam pela cidade e pelo país.

Jorge Curi, eterno ‘Monstro Sagrado’ do rádio esportivo brasileiro.

MOISÉS, O XERIFE

por Elso Venâncio


Um dos personagens mais marcantes do futebol brasileiro é Moisés Mathias de Andrade. Ele nasceu em Resende, no dia 30 de novembro de 1948, e aos 17 anos já era titular do Bonsucesso. Jogou no Flamengo, Botafogo, Vasco, Corinthians, Paris Saint-Germain, Fluminense e Bangu. Ainda vestiu a camisa da seleção brasileira na vitória sobre a União Soviética por 1 a 0 em Moscou.

Fora de campo, o Xerife era um cara alegre, de bem com a vida. Hilário contador de histórias, sempre foi um sujeito superengraçado. Mas nos jogos era um autêntico líder. Sabia jogar, mas não brincava em serviço. Com ninguém. Um dos zagueiros mais duros, mais violentos do nosso futebol:

“Dividiu, é minha!”

“Nenhum árbitro expulsa antes dos 15 minutos.”

“Zagueiro que se preza não ganha o Belfort Duarte.” *

Era rápido no gatilho: tinha sempre frases de efeito e vivia cercado pela imprensa.

Um amigo o aconselhou a entrar para a Política:

– Você é popular e pode se eleger vereador.”

Resposta:

– Sou Castor Futebol Clube. Só faço política com ele.

Verdade. O bicheiro Castor de Andrade, patrono do Bangu e da Mocidade Independente de Padre Miguel, o adorava.

Não à toa, quando Moisés parou de jogar, foi imediatamente chamado para dirigir o Bangu. Ficava sentado ao lado do campo, fumando e conversando. Não estava nem aí para o treino. De repente, chegava Neca, o supervisor do clube, alertando:

– Doutor Castor chegou! O Doutor chegou!


Pronto. Moisés se levantava rapidamente e ia a contragosto para o treino, que na realidade não passava de uma pelada de luxo:

– Marinho… quero você em diagonal, pro Mário te lançar. Tipo Rivelino e Gil. Vamos ensaiar isso.

Castor chegava de chapéu, revólver na cintura e cercado por capangas. Entrava em campo e se impressionava com o improvisado treino tático. Dé, o Aranha, conta que várias vezes Moisés pegava o papel no vestiário para anunciar a escalação e, sem óculos, tinha dificuldade para ler:

– Essa letra do Doutor é fogo…

A gargalhada era geral.

Nas finais do Brasileiro de 1985, acompanhei o Bangu de perto. Um dia cheguei cedo em Moça Bonita para o treino da tarde e me avisaram de uma briga feia que rolou na sala da imprensa. Ao conferir, vi tudo quebrado: troféus, cadeiras, mesas… um estrago.

Moisés tinha discutido com Simas, um ex-policial segurança do Castor, e os dois fecharam a porta para brigar. Silas era gigante. Todo musculoso, andava sempre com um grosso cordão de ouro no peito e camisa aberta. Moisés demorou a chegar para dar o treino. Apareceu de óculos escuros e hematomas no rosto. A imprensa o questionou e a resposta saiu naturalmente:

– Foi um pequeno entrevero, com escoriações, fato totalmente superado.

Simas nunca mais apareceu no clube. Moisés seguiu como técnico.

Zico voltou ao Flamengo e, em um jogo com o Bangu, pelo Campeonato Carioca, foi duramente atingido pelo lateral Márcio Nunes, que voou de forma criminosa com os dois pés, estourando o joelho esquerdo do ídolo rubro-negro. Magoado, o Galinho de Quintino insinuou que a ordem para quebrá-lo veio do banco. A contusão o prejudicou muito na Copa de 1986, no México, quando ficou visível sua falta de condições para jogar 100% do que sabia.

Moisés foi destaque no Corinthians. Idolatrado pela torcida, é um dos heróis do título paulista de 1977, conquista que interrompeu um longo jejum de 23 anos sem títulos. Na finalíssima, vitória por 1 a 0, gol de Basílio, sobre a Ponte Preta. O time entrou com Tobias, Zé Maria, Moisés, Ademir e Wladimir; Ruço, Basílio e Luciano; Vaguinho, Geraldo e Romeu. O Técnico era Oswaldo Brandão.

Na ‘Invasão Corintiana’, contra a ‘Máquina Tricolor’, um ano antes, Moisés já era zagueiro dos paulistas e marcou um gol na decisão por pênaltis. Sempre foi notícia, ainda mais em época de Carnaval. O Xerife saía no Bloco das Piranhas, que ele próprio fundou, e levava, de quebra, vários jogadores consigo. Como Brito, Dé, Alcir Portela e Joel Santana, entre outros.


Durante mais de 20 anos, só jogadores e ex-jogadores, todos vestidos de mulher, desfilavam no sábado momesco pelas ruas de Madureira. Moisés gostava de se vestir de Marilyn Monroe, com direito a peruca loura. Batom, brincos e muita maquiagem. Figuraça!

Ele considerava Pelé e Jairzinho os atacantes mais desleais e valentes que enfrentou. Morreu cedo, aos 60 anos, vítima de câncer no pulmão. Fumava muito, muito mesmo!

Admitia, sempre bem-humorado, quando alguém o alertava sobre os males do cigarro, que gostava de viver a todo vapor e perigosamente. Viveu. E se tornou um ídolo eterno do futebol brasileiro.

*Premiação oferecida pela CBF ao atleta que ficasse 10 anos seguidos sem ser expulso de campo.

CHORO DO REI EMOCIONA O PAÍS

Globo sofre a maior derrota da história

por Elso Venâncio


A torcida do Galo já grita “É campeão! É campeão!”. Título justo; tem que continuar comemorando, sim.

A imagem do ídolo Reinaldo chorando entrou para a História e contagiou todo o Brasil. O “Rei” demonstrava não acreditar no que via. Maior ídolo da história do clube, com 475 jogos e 255 gols marcados, parecia ter pensamentos confusos. Um filme o levava do passado ao presente, após a virada contra o Fluminense, no Mineirão.

A Globo deixou rolar o pós-jogo, passando recibo, já que na véspera, na decisão da Libertadores, sofreu a maior derrota de sua história. O SBT teve três vezes mais audiência do que a antes imbatível líder em todos os segmentos. Derrota já esperada, mas muito mais doída, já que foram duas horas e meia de um sufoco massacrante. Fato inédito nas últimas décadas, a Globo atingiu menos de 10 pontos no Ibope.

Nada é por acaso na vida. O sucesso do virtual campeão brasileiro chega em cima de um trabalho duro e corajoso. Foram investidos quase R$ 300 milhões em jogadores de qualidade, como Hulk, Diego Costa, Eduardo Vargas, Nacho Fernandes, Keno e Guilherme Arana, só para citar alguns nomes.

As contratações fizeram a dívida aumentar, mas tudo está sendo planejado. Salários altos e elenco valioso representam dinheiro em caixa. O clube deve cerca de um bilhão, mas tem patrimônio. A Arena MRV, que fica pronta no ano que vem, tem valor equivalente à dívida.

Três empresários – Rubens Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães – injetaram R$ 400 milhões no time. Com direito a uma decisão rara: não há cobrança de juros, o que lhes renderia R$ 50 milhões/ano. Quarenta por cento da dívida não tem juros. Os investidores terão o dinheiro de volta com a venda dos jogadores que compraram e estão supervalorizados no mercado.

Ao clube ficam as rendas e outras receitas. Além disso, 30% está sendo pago com o Profut, o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro.

O Atlético ganhou o Campeonato Mineiro, chegou à semifinal da Libertadores, pôs a mão na taça do Brasileirão e ainda vai disputar com o rival homônimo do Paraná a Copa do Brasil. Um ano espetacular, provando que, com planejamento, organização e sem rixas internas ou vaidade, as coisas caminham.

Foram 50 anos de espera. Em dezembro de 1971, no primeiro Campeonato Brasileiro propriamente dito, Dadá Maravilha marcou de cabeça o gol do título, na vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo, fora de casa. O time campeão posou no Maracanã com Renato, Humberto Monteiro, Grapete, Vantuil e Odair; Vanderlei e Humberto Ramos; Ronaldo, Lola, Dario e Tião. O técnico era Telê Santana, na época aos 40 anos de idade.


Cuca recebeu o ok de Renê Santana para cumprir a promessado seu pai, o “Mestre” Telê, na época impagável. Caminhar 67 quilômetros, de Belo Horizonte até Congonhas, e agradecer de joelhos, rezando na Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Telê chegou a caminhar 25 quilômetros, mas o sol forte, as constantes subidas e a falta de uma preparação adequada fizeram com que o treinador, que era muito religioso, terminasse o percurso em um carro da Polícia Rodoviária Federal.

Os mais otimistas, gente próxima aos investidores e diretoria, acreditam que a dívida do clube será paga nos próximos anos e que a fase de conquistas chegou para ficar.

E você?

Acha mesmo que o Atlético Mineiro, com a atual estrutura, continuará sendo potencial candidato aos principais títulos nas próximas temporadas?

ÍDOLOS DOS NOSSOS ÍDOLOS

A IDOLATRIA E A PRÁTICA DA ADORAÇÃO DOS ÍDOLOS

por Elso Venâncio


No início de suas carreiras, os ídolos do futebol se espelham em grandes referências. Na nossa juventude, admiramos o estilo de um determinado jogador e procuramos realizar nas peladas o que ele ousava e conseguia fazer nos jogos.

O ídolo do Pelé era Zizinho. ‘Mestre Ziza’ aconselhou o ‘Rei’ no início da carreira:

– Você, com essa genialidade, tem que ser respeitado no choque. Os adversários entram pra quebrar em quem é habilidoso.

João Máximo, nosso grande nome do Jornalismo, afirmou:

– Zizinho foi maior que Pelé. Eu e minha geração somos testemunhas.

Zico disse que se espelhava em Dida, um alagoano que comandou o Flamengo ao longo do tricampeonato de 1953/54/55. O ‘Galo’ conta que, nos rachas em Quintino, se autoproclamava Dida e fazia gol atrás do outro.

Dida, por sua vez, teve Leônidas da Silva, o ‘Diamante Negro’, como professor. Inclusive, ele era o destaque do seu time de botão.

Diego Maradona nunca escondeu de ninguém quem foi o maior para ele: Rivelino. De Zurda (de canhota), pela TV Venezuelana, na TV Sur, com Rivellino presente, ‘El Pibe’ fez uma dedicatória e assinou:

“O mestre de toda minha vida.”

O grande ídolo da infância de Ronaldo Fenômeno, eleito três vezes o melhor do mundo (1996, 1997 e 2002), foi Zico. Dois tricampeões do mundo, Gerson, o ‘Canhotinha de Ouro’, e Paulo Cezar Lima, o ‘Caju’, elegem Didi, o homem da ‘Folha Seca’, que marcou o primeiro gol no Maracanã. Gerson confessa que Didi o ensinou a lançar:

– Tem que treinar lançamentos médios e longos, revezando os lados e colocando cadeiras em campo, como referência – incitava ‘O Príncipe Etíope’.

O baixinho Romário aponta Reinaldo, maior ídolo da história do Atlético Mineiro, e completa:

– Me inspirei muito nele, principalmente na hora de definir o lance e fazer o gol.

Aqui, alguns ídolos dos ídolos

Messi: Pablo Aimar

Cristiano Ronaldo: Eusébio

Neymar: Robinho.

Mbappé: Cristiano Ronaldo

Renato Gaúcho: Zico

Mohamed Salah – Ronaldo Fenômeno

Marcelinho Carioca: Zico

Alex – Zico

Sergio Ramos – Claudio Caniggia

Lewandowski  – Raúl

Hazard – Zidane

Ronaldinho Gaúcho – Maradona

Luís Suarez – Batistuta

Daniel Alves – Cafu

Chicharito Hernández – Ronaldo Fenômeno

Pirlo – Juninho Pernambucano

Angel Di Maria – Kily Gonzalez

Roberto Baggio – Zico

Ronaldinho Gaúcho – Maradona

Iker Casilas – Oliver Kahn

Ibrahimovic – Ronaldo Fenômeno

Lamento os clubes brasileiros não reverenciarem os grandes jogadores que vestiram suas camisas. Evaristo de Macedo me contou que quase anualmente vai a Barcelona e Madri, com vários outros ex-craques, receber homenagens em solenidades festivas. Evaristo foi o primeiro brasileiro a fazer história na Espanha. Jogou nos rivais Barcelona e Real Madri, sendo ídolo das duas torcidas. Ao lado dele, Puskas, Kocsis, Gento e Di Stéfano. Segundo Evaristo, todos craques. Mas nenhum igual a Pelé.

No Rio, o Botafogo lembra de seus destaques no muro em frente à sede social. Vários personagens da história estão lá, de Heleno de Freitas a Loco Abreu, de Garrincha a Seedorf. No casarão de General Severiano há ainda mais homenagens, com fotos gigantescas destes e outros grandes craques.

O Santos dá um exemplo importante com o projeto ‘Ídolos Eternos’. O clube tem contrato com Clodoaldo, Mengálvio, Dorval, Manoel Maria, Edu, Abel e Pepe. Eles merecem ser lembrados e representam o Peixe em eventos, quando são devida e merecidamente valorizados.

Vou citar, entre tantos, dois craques que me impressionavam. Carlos Alberto Torres, o grande lateral que vi jogar, ao lado de Leandro, e Paulo Cezar Caju. O ‘Capitão do Tri’ se destacava não apenas por seu futebol, mas pela liderança exercida em campo. Já Paulo Cezar foi definido pelo comentarista João Saldanha como “um garoto grande jogando bola no meio de crianças”. Aliás, Saldanha dizia que um clube grande vive até sem títulos, mas não sem ídolos. Citava o jejum de 23 anos do Corinthians, que contratava e aumentou a paixão e a torcida durante esse longo período.

Paulo Cezar está no nível de Gerson, Zico, Rivellino, Romário, Cruijf, Beckenbauer, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e outros poucos desse nível. Acima desses: Pelé, Messi, Garrincha e Maradona.

Tantos ídolos! Todos inesquecíveis… e eternos!

Citei alguns, mas tem outros monstros sagrados da bola. E o seu ídolo, quem é?

MAESTRO JUNIOR

por Elso Venâncio


Leovegildo Lins Gama Junior foi quem mais vestiu a camisa rubro-negra, atuando em 876 jogos. O craque, paraibano de João Pessoa, chegou ao Rio aos 5 anos e das peladas na areia de Copacabana foi jogar futsal no Monte Líbano. Em 1973 estava no Flamengo, onde logo se tornou titular entre os profissionais.

No ano seguinte, Junior passou a titular da lateral direita e fez um gol no América, que tinha um timaço, no triangular decisivo do Carioca. Dois a um, gols de Junior e Zico. Ou seja, já chega campeão, após uma disputa com Vasco e América.

Viveu um momento mágico no fim dos anos 70 e início de 80. Zico, Junior, Leandro, Raul, Mozer, Tita, Andrade, Adílio, Nunes e etc. conquistam três Brasileiros, uma Libertadores e um Mundial Interclubes, em 1981. A decisão contra o Atlético Mineiro, em 1980, é inesquecível. No time mineiro estavam Reinaldo, Cerezo, Luisinho, Chicão, Palhinha, João Leite, Éder e companhia. O Flamengo perde de 1 a 0 no Mineirão e vence por 3 a 2 no Maracanã, diante de 154 mil pagantes. Foi a grande decisão dos Brasileiros! Jogo que passou na TV ao vivo, fato que não era normal e parou o país.

O futebol tem alguns mistérios e o Brasil perde para a Itália em 1982, na Espanha. Essa derrota atrasa taticamente o esporte mais popular do país e sepulta o futebol-arte. Diria o nosso amigo Fernando Calazans:

“Se Zico e Júnior não ganharam a Copa, pior para a Copa do Mundo”.

Junior resolve passar um tempo no exterior e, atuando no meio-campo, sua nova posição, e brilha pelo Torino, além de manter o pequeno Pescara na primeira divisão do futebol italiano. Na Copa de 1986, no México, Telê Santana atende o pedido de Junior e o escala no meio-campo.


Em 1989, aos 35 anos e já realizado profissionalmente, depois de cinco temporadas na Europa, Junior volta ao Flamengo para virar o “maestro” da garotada e conquista uma Copa do Brasil, um Carioca e um Brasileiro. Ele foi o destaque da equipe no título nacional de 1992, inclusive nos dois jogos contra o Botafogo na decisão. O filho Rodrigo, entrando em campo para vibrar com o pai, ele que tanto pediu a Junior para voltar a jogar no Brasil, é uma cena emocionante! Histórica!

Esse período dele marcante é lembrado no livro que o próprio Junior escreveu junto ao pesquisador Maurício Neves de Jesus e que vai ser lançado hoje, às 18hs, na Gávea, na loja oficial do Flamengo, com o selo do Museu da Pelada, da Approach Editora.

Uma foto gigantesca ficava no Departamento de Futebol: Junior à frente de Paulo Nunes, Marcelinho, Rogério, Piá, Júnior Baiano, Djalminha, Fabinho, Nélio e Marquinhos, junto à frase “Craque o Flamengo faz em casa”. Pena que a diretoria, na época, negociou esses craques, por conta da dificuldade financeira que atolava o clube.

Lembro ainda que presenciei dois momentos marcantes do Junior que são pouco lembrados. Na Supercopa da Libertadores, em outubro de 1991, o Flamengo vence o Estudiantes por 2 a 0, na cancha do Huracán, em Buenos Aires. Estádio pequeno, jogo pegado, os argentinos provocando e abusando da violência a todo instante. Carlinhos saca Junior aos 42 do segundo tempo, para ele ser aplaudido. A torcida argentina, de pé, ovaciona a saída do mito. Foi a maior manifestação de carinho que vi dos argentinos a um jogador brasileiro.


Outro jogo inesquecível do Junior se deu na estreia de Bebeto no Vasco, que tinha um timaço superbadalado e acabou se tornando campeão brasileiro em 1989. Zico e Junior foram os destaques na vitória de 2 a 0, dois gols de Bujica. Bebeto não aguentou a pressão e foi expulso após o segundo gol, depois de chutar o goleiro Zé Carlos, compadre dele, no meio de campo. Ambos receberam o cartão vermelho.

Na véspera dessa partida, na Gávea, Zico, na bronca com o favoritismo do Vasco, fez uma declaração histórica no microfone da Rádio Globo:

“Bahia é o Campeão Brasileiro; Flamengo, da Taça Guanabara; Botafogo, do Estadual. Onde está o Vasco? O Vasco tem que comer muito feijão pra chegar perto do Flamengo.”

O comentarista Sérgio Noronha, o ‘Seu Nonô’, disse que nunca tinha ouvido uma declaração tão forte de Zico. Junior jogou de zagueiro e anulou Bebeto, que era o maior atacante do futebol brasileiro e tinha sido campeão e artilheiro da Copa América, com seis gols. Título que o Brasil não conquistava havia 40 anos. O técnico rubro-negro era Valdir Espinosa, que fora campeão com o Botafogo no mesmo ano.

Junior também jogou de zagueiro na despedida oficial de Zico, 5 a 0 no Fluminense, em Juiz de Fora. Junior e Zico! Zico e Junior! Os dois maiores ídolos da Nação Rubro-Negra. Vida longa aos dois!