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Elso Venâncio

CONVULSÃO DE RONALDO EM 1998

Fatos que merecem um livro, uma série ou um documentário

Por Elso Venâncio


Na Copa de 1998, na França, Ronaldo Luís Nazário de Lima era o maior jogador do planeta. Aliás, melhor do mundo por dois anos consecutivos: 1997 e 1998.

Aos 21 anos, no auge da forma e da fama, o mundo se prepara para vê-lo em ação na sua primeira decisão de Mundial, no Stade de França. Inclusive, ele já tinha sido eleito pela Fifa o craque do Mundial, mesmo antes da grande final.

Há poucas horas do jogo, realizado no dia 12 de julho, porém, o atacante sofreu uma convulsão. Quase morreu.

Ele estava no quarto 290 do Chateau de Grande Romaine, em Lesingny, que acabaria virando atração turística. Foi socorrido pelo lateral-esquerdo Roberto Carlos, que dormia na cama ao lado, além de Edmundo e César Sampaio, que repousavam no 291 e foram chamados às pressas. Edmundo lembra:

“Desenrolaram a língua dele, deram um banho e o colocaram pra dormir.”

Na hora do lanche, Ronaldo aparece caminhando lentamente, meio abobado, meio sonolento. Toma um suco de laranja e come um bolo, sem sequer parecer se lembrar do que lhe houvera ocorrido. Ao falar ao celular, todos observaram o garoto, que há um ano tinha recebido o apelido de Fenômeno, durante sua experiência vitoriosa na Internazionale de Milão. O meia Leonardo, momentos depois, chamou Ronaldo e, caminhando pelos jardins do hotel, com habilidade, comunicou ao jovem a gravidade do acontecimento. Em seguida, o maior enigma da história das Copas.

Na porta do Chateau ficavam sempre mais de mil jornalistas – brasileiros e estrangeiros – acompanhando a seleção de futebol mais poderosa do mundo. Dentro do hotel havia um estúdio exclusivo da TV Globo. A qualquer sinal de saída de alguém, os jornalistas se movimentavam em busca de notícias.

Aí o grande mistério…

Já vetado do jogão, Ronaldo deixou o hotel com o médico Joaquim da Marta, mas ninguém o viu sair. O careca mais famoso do futebol, que se preparava para confirmar ao planeta todo o seu gigantesco talento, foi levado a um hospital de Paris sem que ninguém o reconhecesse.

Ninguém noticiou esse fato. Algo, para mim, surreal.

A Globo acompanhou a saída da seleção e o helicóptero da emissora seguiu o ônibus até a chegada ao estádio. Eu costumava ligar para alguém da delegação quando ela ia para os jogos, para checar se estava tudo bem. Nesse dia liguei para o Junior Baiano:

“Não posso falar” – ele desligou, repentinamente.

Achei estranho, mas não desconfiei de nada. Foi a única vez na história que não houve batuque no ônibus. Ninguém puxou o samba. Silêncio geral.

No estádio, Tino Marcos registrou ao vivo:

“Desce Bebeto, Dunga, Rivaldo, Edmundo, Roberto Carlos… Zagallo conversa com Lídio Toledo…”

E o Ronaldo? Como não sentir a ausência dele? Inexplicável.

Considero esse fato o maior erro, a maior gafe da imprensa brasileira e mundial. E me incluo nessa. Estava ao lado do Eraldo Leite, da Rádio Globo, na cobertura da seleção e entrevistamos um alegre e descontraído Fenômeno na véspera, após o treino. Lembro que o Mario Magalhães “Mariguella” apontou para um churrasco que a comissão técnica fazia ao lado do campo:

“O poderoso Américo Faria virou churrasqueiro!”

Tudo indicava uma vitória e o título de pentacampeão. Clima leve, descontração.

No dia da decisão, antes de seguirmos para Paris – a 35 km de Lesigny –, passamos na concentração e nada vimos de anormal. Engano nosso. A escalação oficial saiu a uma hora da decisão e de imediato liguei para o Gilmar Rinaldi, que passava pela pista de atletismo. Perguntei, aos gritos:

“E o Ronaldo?”

“Ele joga!”,garantiu, seco, dando fim à conversa.

Na verdade, Gilmar estava a caminho de Ricardo Teixeira, o presidente da CBF, para lhe comunicar a confusão ocorrida recentemente no vestiário.

Ronaldo chegara do hospital poucos minutos antes da seleção entrar em campo. Na verdade, quando os jogadores iniciavam o aquecimento. Foi direto vestir o material de jogo, já que os roupeiros chegam cedo e não sabiam de nada. O capitão Dunga bateu pé dizendo que Edmundo jogaria. Zagallo, inclusive, mudara a tática, não contava mais com o titularíssimo camisa 9. Ronaldo retrucou. Declarou que os exames nada apontavam de grave:

“Vou jogar!”

Reunião no vestiário. Ricardo Teixeira, Zico, Zagallo e Lídio Toledo presentes. Pesou a opinião do presidente:

“Se ele tá bem, por que não jogar?”

Em campo, desde o apito inicial assistimos a um Ronaldo pálido, apático, e a seleção visivelmente preocupada com o estado emocional e físico do ídolo, que absorvia aquele baixo astral. Pior, no comecinho da partida veio um choque brusco dele com o goleiro Barthez, numa disputa na área. Aquela trombada assustou nosso time inteiro.

Zidane, que ainda não havia marcado gols na Copa, fez logo dois, e de cabeça, fato raríssimo em sua carreira. O craque francês organizava o jogo, armava, mas não era muito de concluir. No final, França 3 a 0. Os donos da casa eram os novos campeões do mundo!

Boatos absurdos surgem após a derrota acachapante. Alguns garantem que o Brasil entregou a decisão em troca de dinheiro. Que a seleção deu a Copa de bandeja para poder sediar o Mundial de 2014. Para uns, a Nike impôs a escalação de seu garoto-propaganda, que não tinha a menor condição de jogar.

O futebol é o esporte que mais movimenta dinheiro no mundo. As receitas globais, segundo a empresa Sports Value, são superiores a 300 bilhões de dólares. A Copa é uma mina de ouro, por isso a FIFA sonha em realizá-la a cada dois anos.

Na coletiva de imprensa, um transtornado Zagallo chega assustado, rosto todo vermelho, e apontou para o companheiro Mauro Leão, do jornal O Dia:

“Tá satisfeito?”

Mauro balança a cabeça negativamente e responde.

“Eu não, alegre tá o Aime Jacquet…”

Jacquet era o treinador da França.

De repente, ninguém fala nada. Parecia um velório. Zagallo respira fundo e ninguém o questiona. O técnico, em seguida, encara uma surpresa imprensa cujo teor único dos questionamentos era o drama vivido por e com Ronaldo às vésperas do grande jogo da sua vida até então.

Esses fatos, o dia em que o “melhor do mundo” passou mal e isso influiu diretamente na derrota brasileira em uma final de Copa, merece um livro, talvez um documentário ou mesmo uma minissérie. Espero que não morra assim, sem maiores apurações, do nada, algo que mudou do dia para a noite a história da última Copa do penúltimo milênio.

ÍDOLOS DOS NOSSOS ÍDOLOS

A IDOLATRIA E A PRÁTICA DA ADORAÇÃO DOS ÍDOLOS

por Elso Venâncio


No início de suas carreiras, os ídolos do futebol se espelham em grandes referências. Na nossa juventude, admiramos o estilo de um determinado jogador e procuramos realizar nas peladas o que ele ousava e conseguia fazer nos jogos.

O ídolo do Pelé era Zizinho. ‘Mestre Ziza’ aconselhou o ‘Rei’ no início da carreira:

– Você, com essa genialidade, tem que ser respeitado no choque. Os adversários entram pra quebrar em quem é habilidoso.

João Máximo, nosso grande nome do Jornalismo, afirmou:

– Zizinho foi maior que Pelé. Eu e minha geração somos testemunhas.

Zico disse que se espelhava em Dida, um alagoano que comandou o Flamengo ao longo do tricampeonato de 1953/54/55. O ‘Galo’ conta que, nos rachas em Quintino, se autoproclamava Dida e fazia gol atrás do outro.

Dida, por sua vez, teve Leônidas da Silva, o ‘Diamante Negro’, como professor. Inclusive, ele era o destaque do seu time de botão.

Diego Maradona nunca escondeu de ninguém quem foi o maior para ele: Rivelino. De Zurda (de canhota), pela TV Venezuelana, na TV Sur, com Rivellino presente, ‘El Pibe’ fez uma dedicatória e assinou:

“O mestre de toda minha vida.”

O grande ídolo da infância de Ronaldo Fenômeno, eleito três vezes o melhor do mundo (1996, 1997 e 2002), foi Zico. Dois tricampeões do mundo, Gerson, o ‘Canhotinha de Ouro’, e Paulo Cezar Lima, o ‘Caju’, elegem Didi, o homem da ‘Folha Seca’, que marcou o primeiro gol no Maracanã. Gerson confessa que Didi o ensinou a lançar:

– Tem que treinar lançamentos médios e longos, revezando os lados e colocando cadeiras em campo, como referência – incitava ‘O Príncipe Etíope’.

O baixinho Romário aponta Reinaldo, maior ídolo da história do Atlético Mineiro, e completa:

– Me inspirei muito nele, principalmente na hora de definir o lance e fazer o gol.

Aqui, alguns ídolos dos ídolos

Messi: Pablo Aimar

Cristiano Ronaldo: Eusébio

Neymar: Robinho.

Mbappé: Cristiano Ronaldo

Renato Gaúcho: Zico

Mohamed Salah – Ronaldo Fenômeno

Marcelinho Carioca: Zico

Alex – Zico

Sergio Ramos – Claudio Caniggia

Lewandowski  – Raúl

Hazard – Zidane

Ronaldinho Gaúcho – Maradona

Luís Suarez – Batistuta

Daniel Alves – Cafu

Chicharito Hernández – Ronaldo Fenômeno

Pirlo – Juninho Pernambucano

Angel Di Maria – Kily Gonzalez

Roberto Baggio – Zico

Ronaldinho Gaúcho – Maradona

Iker Casilas – Oliver Kahn

Ibrahimovic – Ronaldo Fenômeno

Lamento os clubes brasileiros não reverenciarem os grandes jogadores que vestiram suas camisas. Evaristo de Macedo me contou que quase anualmente vai a Barcelona e Madri, com vários outros ex-craques, receber homenagens em solenidades festivas. Evaristo foi o primeiro brasileiro a fazer história na Espanha. Jogou nos rivais Barcelona e Real Madri, sendo ídolo das duas torcidas. Ao lado dele, Puskas, Kocsis, Gento e Di Stéfano. Segundo Evaristo, todos craques. Mas nenhum igual a Pelé.

No Rio, o Botafogo lembra de seus destaques no muro em frente à sede social. Vários personagens da história estão lá, de Heleno de Freitas a Loco Abreu, de Garrincha a Seedorf. No casarão de General Severiano há ainda mais homenagens, com fotos gigantescas destes e outros grandes craques.

O Santos dá um exemplo importante com o projeto ‘Ídolos Eternos’. O clube tem contrato com Clodoaldo, Mengálvio, Dorval, Manoel Maria, Edu, Abel e Pepe. Eles merecem ser lembrados e representam o Peixe em eventos, quando são devida e merecidamente valorizados.

Vou citar, entre tantos, dois craques que me impressionavam. Carlos Alberto Torres, o grande lateral que vi jogar, ao lado de Leandro, e Paulo Cezar Caju. O ‘Capitão do Tri’ se destacava não apenas por seu futebol, mas pela liderança exercida em campo. Já Paulo Cezar foi definido pelo comentarista João Saldanha como “um garoto grande jogando bola no meio de crianças”. Aliás, Saldanha dizia que um clube grande vive até sem títulos, mas não sem ídolos. Citava o jejum de 23 anos do Corinthians, que contratava e aumentou a paixão e a torcida durante esse longo período.

Paulo Cezar está no nível de Gerson, Zico, Rivellino, Romário, Cruijf, Beckenbauer, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e outros poucos desse nível. Acima desses: Pelé, Messi, Garrincha e Maradona.

Tantos ídolos! Todos inesquecíveis… e eternos!

Citei alguns, mas tem outros monstros sagrados da bola. E o seu ídolo, quem é?

MARINHO, A BRUXA

por Elso Venâncio


Francisco das Chagas Marinho nasceu em Natal, passou pelo ABC e Náutico até chegar, aos 20 anos de idade, ao Botafogo. No ano de 1972.

Agnaldo Timóteo fazia uma turnê pelo Nordeste. Fã de futebol, resolveu ir ao Estádio dos Aflitos e se impressionou com Marinho. Botafoguense fanático, ligou de imediato para o clube fazendo uma exigência:

– Comprem Marinho! Vi esse garoto louro em campo, é um cracaço. Comprem Marinho!!!

O jogador foi apresentado em General Severiano e, no fim de semana, já estreou pelo Glorioso. Simplesmente, contra o Santos de Pelé.

Beto Gamarra, zagueiro do GPSO (Grupo de Pelada Seis de Outubro*), me contou: na véspera desse confronto faltou um para completar os times na areia da Praia de Botafogo. Alguém gritou para um cara que estava no calçadão:

– Ei, paraíba, quer entrar?

Sem pensar duas vezes, Marinho foi para a areia. Sequer tirou o tênis e, no primeiro toque na bola, deu um voleio do meio-campo que estufou as redes. Incrível! Praia boquiaberta. Esse era Marinho Chagas.

Na estreia, irreverente, habilidoso e ofensivo, Marinho deu um chapéu em Pelé, para surpresa de um Maracanã lotado. Na época, independentemente de seus clubes, torcedores de todas as bandeiras iam com gosto ao estádio só para ter o prazer de ver o Santos. Pelé, por sua vez, não gostou do afronte. Aos gritos, pediu respeito:

– Galego, me respeita!

Nesse jogo, Edu marcou para os paulistas e Marinho, de falta, chutando de longe, empatou. Pelé mais uma vez não aprovou:

– O que é isso? Tá pensando que é quem?

Marinho xingou o Rei de tudo quanto era nome. Houve quase uma briga generalizada.

O lateral se destacava pelo chute forte e pela quantidade de gols que marcava. Atacava sempre. Era mais um ponta, um armador, e logo se tornou ídolo da torcida alvinegra, chegando à Seleção. Na Copa de 1974, na Alemanha, inclusive, foi considerado pela FIFA o melhor lateral-esquerdo do mundo. Na disputa do terceiro lugar, contra a Polônia, após a surpreendente derrota para o ‘Carrossel Holandês’ de Johan Cruijff, Marinho avançou e, nas suas costas, Lato marcou. O comentarista João Saldanha não perdoou:

– É a ‘Avenida Marinho’…

No vestiário, pilha de nervos à flor da pele, o goleiro Leão parte para cima do lateral. Após tensa discussão, a turma do ‘deixa disso’ se juntou para separá-los.

Em 1977 o Fluminense, com sua inesquecível Máquina Tricolor, era a grande atração do país. O tri carioca era questão de tempo. Francisco Horta – “Vencer ou Vencer” – decide contratar Marinho de qualquer jeito, a qualquer custo. Se o Campeonato Brasileiro fosse por pontos corridos, o time das Laranjeiras teria sido, nos anos anteriores, bicampeão – e com rodadas de antecedência. Contudo, foi surpreendido nas semifinais de 1975 e 1976, respectivamente, pelo Internacional e pelo Corinthians.

Para ter Marinho, Horta oferece Paulo Cezar Caju, Gil e Rodrigues Neto. Vieram, de contrapeso, Wendel e Miranda. Mas na verdade o que houve foi um três por um. O dirigente mandou para o Botafogo três jogadores de Seleção: Gil, titular no Mundial do ano seguinte; Rodrigues Neto, outro craque que vestiu a ‘amarelinha’; e um gênio da bola que estava no auge: Paulo Cezar. Resumindo: Horta contratou Marinho mas desmontou a Máquina, que saiu dos trilhos. O Fluminense deixou de ser tricampeão carioca única e exclusivamente devido à obsessão de seu presidente por Marinho.

Depois que deixou o tricolor, Marinho ainda brilhou no Cosmos, de Nova York, ao lado do Pelé, Beckenbauer e Romerito. Também vestiu a camisa do São Paulo Futebol Clube.

Há cerca de três anos, fui de férias a Natal e resolvi ir à tal Praia da Redinha que Marinho tanto falava. De frente para o mar, pergunto em um quiosque onde ficava a casa em que ele nasceu e morou. Disseram que a 200 metros dali, apontaram-me o local.

Bato na porta, sou bem atendido, me convidam a entrar e o irmão dele, curiosamente, se apresenta como Bomba. Ele lembra Marinho, exceto pela proeminente barriga. Diz que era difícil para ‘A Bruxa’ viver com fama e dinheiro em cidades grandes.

Pergunto o porquê de seu apelido ‘bombástico’.

– Você não sabe? Eu que ensinei Marinho a soltar a bomba. Desde o início, no Riachuelo. Eu era um peladeiro limitado, mas tinha um canhão na perna e passei isso a ele. A maneira de bater forte e fazer gols.

Para muita gente, Marinho foi o melhor lateral-esquerdo do futebol depois de Nilton Santos. E tinha um foguete na perna. Curiosamente, em razão dos ensinamentos que teve do irmão de sangue.

*Essa pelada, sempre às tardes nos sábados, completou 48 anos de fundação. Era em Botafogo e há 10 anos está na Sede da ASBAC, na Praça Onze, Cidade Nova. Passa de pai para filho. Marinho, quando parou de jogar, sempre esteve presente. Não jogava porque o joelho já não mais lhe permitia, mas participava apitando os jogos e, claro, continuava ao fim junto com a galera na resenha.

MAESTRO JUNIOR

por Elso Venâncio


Leovegildo Lins Gama Junior foi quem mais vestiu a camisa rubro-negra, atuando em 876 jogos. O craque, paraibano de João Pessoa, chegou ao Rio aos 5 anos e das peladas na areia de Copacabana foi jogar futsal no Monte Líbano. Em 1973 estava no Flamengo, onde logo se tornou titular entre os profissionais.

No ano seguinte, Junior passou a titular da lateral direita e fez um gol no América, que tinha um timaço, no triangular decisivo do Carioca. Dois a um, gols de Junior e Zico. Ou seja, já chega campeão, após uma disputa com Vasco e América.

Viveu um momento mágico no fim dos anos 70 e início de 80. Zico, Junior, Leandro, Raul, Mozer, Tita, Andrade, Adílio, Nunes e etc. conquistam três Brasileiros, uma Libertadores e um Mundial Interclubes, em 1981. A decisão contra o Atlético Mineiro, em 1980, é inesquecível. No time mineiro estavam Reinaldo, Cerezo, Luisinho, Chicão, Palhinha, João Leite, Éder e companhia. O Flamengo perde de 1 a 0 no Mineirão e vence por 3 a 2 no Maracanã, diante de 154 mil pagantes. Foi a grande decisão dos Brasileiros! Jogo que passou na TV ao vivo, fato que não era normal e parou o país.

O futebol tem alguns mistérios e o Brasil perde para a Itália em 1982, na Espanha. Essa derrota atrasa taticamente o esporte mais popular do país e sepulta o futebol-arte. Diria o nosso amigo Fernando Calazans:

“Se Zico e Júnior não ganharam a Copa, pior para a Copa do Mundo”.

Junior resolve passar um tempo no exterior e, atuando no meio-campo, sua nova posição, e brilha pelo Torino, além de manter o pequeno Pescara na primeira divisão do futebol italiano. Na Copa de 1986, no México, Telê Santana atende o pedido de Junior e o escala no meio-campo.


Em 1989, aos 35 anos e já realizado profissionalmente, depois de cinco temporadas na Europa, Junior volta ao Flamengo para virar o “maestro” da garotada e conquista uma Copa do Brasil, um Carioca e um Brasileiro. Ele foi o destaque da equipe no título nacional de 1992, inclusive nos dois jogos contra o Botafogo na decisão. O filho Rodrigo, entrando em campo para vibrar com o pai, ele que tanto pediu a Junior para voltar a jogar no Brasil, é uma cena emocionante! Histórica!

Esse período dele marcante é lembrado no livro que o próprio Junior escreveu junto ao pesquisador Maurício Neves de Jesus e que vai ser lançado hoje, às 18hs, na Gávea, na loja oficial do Flamengo, com o selo do Museu da Pelada, da Approach Editora.

Uma foto gigantesca ficava no Departamento de Futebol: Junior à frente de Paulo Nunes, Marcelinho, Rogério, Piá, Júnior Baiano, Djalminha, Fabinho, Nélio e Marquinhos, junto à frase “Craque o Flamengo faz em casa”. Pena que a diretoria, na época, negociou esses craques, por conta da dificuldade financeira que atolava o clube.

Lembro ainda que presenciei dois momentos marcantes do Junior que são pouco lembrados. Na Supercopa da Libertadores, em outubro de 1991, o Flamengo vence o Estudiantes por 2 a 0, na cancha do Huracán, em Buenos Aires. Estádio pequeno, jogo pegado, os argentinos provocando e abusando da violência a todo instante. Carlinhos saca Junior aos 42 do segundo tempo, para ele ser aplaudido. A torcida argentina, de pé, ovaciona a saída do mito. Foi a maior manifestação de carinho que vi dos argentinos a um jogador brasileiro.


Outro jogo inesquecível do Junior se deu na estreia de Bebeto no Vasco, que tinha um timaço superbadalado e acabou se tornando campeão brasileiro em 1989. Zico e Junior foram os destaques na vitória de 2 a 0, dois gols de Bujica. Bebeto não aguentou a pressão e foi expulso após o segundo gol, depois de chutar o goleiro Zé Carlos, compadre dele, no meio de campo. Ambos receberam o cartão vermelho.

Na véspera dessa partida, na Gávea, Zico, na bronca com o favoritismo do Vasco, fez uma declaração histórica no microfone da Rádio Globo:

“Bahia é o Campeão Brasileiro; Flamengo, da Taça Guanabara; Botafogo, do Estadual. Onde está o Vasco? O Vasco tem que comer muito feijão pra chegar perto do Flamengo.”

O comentarista Sérgio Noronha, o ‘Seu Nonô’, disse que nunca tinha ouvido uma declaração tão forte de Zico. Junior jogou de zagueiro e anulou Bebeto, que era o maior atacante do futebol brasileiro e tinha sido campeão e artilheiro da Copa América, com seis gols. Título que o Brasil não conquistava havia 40 anos. O técnico rubro-negro era Valdir Espinosa, que fora campeão com o Botafogo no mesmo ano.

Junior também jogou de zagueiro na despedida oficial de Zico, 5 a 0 no Fluminense, em Juiz de Fora. Junior e Zico! Zico e Junior! Os dois maiores ídolos da Nação Rubro-Negra. Vida longa aos dois!

ANDERSON SILVA, O BRUCE LEE BRASILEIRO

por Elso Venâncio


Ídolo mundial das artes marciais, Anderson Silva, o “Spider”, é o Bruce Lee brasileiro. No UFC, conquistou 17 vitórias seguidas, além de 10 defesas, em sequência, do título. O campeão deixou a Organização, foi para o boxe e sacudiu o mundo das lutas ao vencer Julio Cesar Chavez Jr.

O curioso é que, no boxe, Anderson recebe por luta mais do que ganhou em metade da sua espetacular carreira. Contra Julio Cesar, por exemplo, embolsou 500 mil dólares, fora um extra de US$ 100 mil pelo fato de o adversário não ter batido o peso. Isso sem falar no milionário pay-per-view, que é um mistério de valores não revelados.

Em seguida, Anderson novamente engordou as finanças ao nocautear Tito Ortiz. No UFC, vale dizer, ele só passou a ganhar fortunas após o surgimento do Conor McGregor, que enriqueceu em poucas lutas.

A partir de julho de 2013, na derrota para Chris Weidman, e tendo o falastrão irlandês como exemplo, o “Spider” passou a pedir uma grana preta. Era atendido, mas criou atritos com Dana White, que nunca deu boa vida ao brasileiro.

Em 2010 o UFC desembarcou em Abu Dhabi, território de ouro para grandes eventos. A ideia era encher os cofres e tornar o MMA popular nos Emirados Árabes. Anderson Silva foi escalado, mas já não vivia um bom momento com o patrão. Venceu Demian Maia numa luta bizarra em que provocava o adversário o tempo todo chamando-o de playboy. Não sei se queria irritar o oponente ou o chefe. Quem sabe os dois. Só não foi demitido por ser o carro-chefe da Organização.

Um ano antes, Anderson chegou a lutar a contragosto com Thales Leites, seu companheiro de treinamento na Nova União. Venceu, após os cinco rounds, e ainda recebeu uma punição! Teve que enfrentar o poderoso Forrest Griffin, ex-campeão da categoria acima. Acabou crescendo ainda mais: em pouco mais de três minutos, obteve o maior nocaute da história do esporte.

Com isso, veio outro desafio que mais soava castigo: ter que derrotar Vitor Belfort, missão dificílima, apesar dos apelos para não enfrentar atletas brasileiros. Um chute preciso e fulminante colocou de forma rápida o ‘Fenômeno’ para dormir…

Em guerra velada com a Organização e cansado das pressões, o supercampeão deixou Los Angeles, onde treina e mora, no fim de junho de 2013 para ir a Las Vegas enfrentar Chris Weidman. Não tinha a habitual motivação. Era muito sacrifício e pouco reconhecimento por parte dos chefes. Pelo menos, em sua conta bancária, alguns milhões de dólares entraram para dar aquela animada.

Nas minhas idas a Vegas, fiquei amigo de Guto Ormenezi, um paulista, sócio de uma agência de turismo, que está há anos radicado na cidade. Ele trabalha para o UFC acompanhando os lutadores brasileiros. Guto me falou da falta de concentração do Anderson. Na véspera da luta, chegou a ir à churrascaria Fogo de Chão e, após o almoço, numa sala reservada, ficou horas de papo com Ronaldo Fenômeno, Djalminha e outros dois brasileiros. Às seis da tarde, Guto deixou o ídolo no hotel; três horas depois, recebeu um telefonema dele. Anderson estava sem sono e queria ir, como foi, ao cinema sozinho.

Sábado, 7 de julho, dia do combate! MGM Grand Garden Arena. Mike Tyson sentado na primeira fila. No mesmo ringue, em 1997, ele mordeu a orelha direita de Evander Holyfield e a cuspiu em seguida. A entourage do UFC, fãs, turistas, todo mundo concentrado no gigantesco hotel. Acordo cedo para caminhar e vejo muita gente ainda nos cassinos. De repente, surge diante de mim um cara com roupão de lutador. Ele caminhava ao lado do seu treinador; ia para a academia sem sequer ser reconhecido. Era Chris Weidman.

Que naquela noite, na arena lotada e incrédula, chocaria o planeta ao nocautear a maior lenda do UFC.