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Elso Venâncio

OBDULIO VARELA, O CAUDILHO URUGUAIO

por Elso Venâncio


Obdulio Jacinto Muiños Varela é um “Deus” para o futebol uruguaio. “El Jefe Negro” foi o principal responsável pelo pesadelo que atormentou o futebol brasileiro, derrotado no dia 16 de julho de 1950 em plena final de Copa do Mundo disputada no recém-inaugurado Maracanã.

O “Caudilho de Nervos de Aço”, como era chamado, disputou dois Mundiais e nunca perdeu um jogo sequer defendendo a “Celeste”. Em 1954, na Suíça, a desclassificação, diante da poderosa Hungria de Puskas, aconteceu após o líder uruguaio se contundir.

Era volante, número 5, e sua garra, força e amor à camisa o transformaram em mito nacional. Uma espécie de sinônimo da seleção de seu país.

Nelson Rodrigues escrevia:

“Obdulio ganhou do nosso escrete no grito e no dedo na cara.”

A vitória do Uruguai de virada, 2 a 1, diante de uma multidão que jamais será reunida novamente em um estádio esportivo, representa a maior zebra da história do futebol. O próprio Obdulio disse, quando recebeu a taça das mãos do presidente da Fifa, Jules Rimet, que em 100 jogos disputados entre ambas as equipes o Brasil venceria 99. O dirigente, sem esconder sua surpresa, declarou que realmente tudo o que aconteceu ao longo do Mundial já era previsto, menos a derrota dos donos da casa.

Prefeito do Rio de Janeiro, o general Mendes de Moraes discursara antes de a bola rolar:

“Brasileiros, vós que sereis campeões; vós que não tendes rivais no planeta… cumpri minha palavra construindo este estádio. Cumpram agora o seu dever, ganhando a Copa do Mundo!”

Curiosamente, o carrasco brasileiro achava que, aos 32 anos de idade, estava velho. Não atendia às convocações. Sequer queria vir ao Brasil. Foi necessária a intervenção pessoal do presidente do país, Luís Batlle Berres. Em troca, Varela pediu um emprego público. Com o título, conseguiu colocações especiais para todos os companheiros.


– Temos que pelear!!! – Varela gritava no vestiário. E urinava nos jornais que apontavam o Brasil como campeão.

– Pelear, pelear!!! – o grito ecoava pelos corredores do Maior do Mundo.

Na entrada em campo, ordenou:

– Ninguém olha pra arquibancada. O jogo é no campo.

Deu certo: 0 a 0 no primeiro tempo, com direito a um tapa de leve dado em Bigode, após falta violenta cometida pelo lateral brasileiro. Esse tapa, na lenda do futebol, acabaria virando bofetada.

O Brasil jogava pelo empate e tinha marcado 21 gols em cinco jogos. Apenas Ademir Menezes, o “Queixada”, pernambucano ídolo do “Expresso da Vitória”, timaço do Vasco que servira como base para a seleção nacional, fez nove.

Friaça abre o placar no início do segundo tempo. Obdulio coloca a bola embaixo do braço e caminha até o bandeirinha. Depois chama o árbitro inglês, George Reader, para conversar. A torcida brasileira, temendo a anulação, para de comemorar. Na verdade, o uruguaio queria esfriar o jogo. O gol, contudo, foi confirmado.


Aos 21 minutos, Schiaffino empata. Treze minutos depois, Ghiggia promove um silêncio sepulcral no Maracanã, àquela altura tomado por mais de 200 mil pessoas. No final, Brasil nocauteado no campo e na arquibancada.

Zizinho, craque brasileiro que era o ídolo de Pelé, disse que ao chegar em casa, após o jogo, encontrou todo mundo chorando. Teve que falar duro, para não enlouquecer. As noites seguintes foram terríveis. Não conseguia dormir, tinha pesadelos, acordava espantado. Os lances da tragédia não saíam da cabeça. Os pais apontavam para ele na rua e diziam aos filhos:

– Aquele ali é o Zizinho, da Copa.

O próprio, porém, pensava:

– Sim, sou Zizinho, Um perdedor.

Tempos se passam e a Rádio Globo fazia uma tarde esportiva aos sábados. Início dos anos 90, estou no estúdio como âncora e toca o telefone interno. O porteiro me diz que um ex-jogador uruguaio pedia para conhecer a rádio. Desço e me deparo com um senhor alto, mulato, de cabeça e pescoço enormes, um pouco corcunda, cabelos crespos e brancos, que se apresenta sorrindo, educadamente:

– Sou Obdulio Varela.

Eu estava diante do grande carrasco do futebol brasileiro, causador da maior depressão nacional provocada por um jogo. Levei-o ao estúdio e ele concordou em bater um papo ao vivo. Disse que às vezes, em Montevidéu, sintonizava à noite na Rádio Globo para ouvir notícias do nosso futebol. Era amigo de Zizinho e, sempre que vinha ao Rio, os dois se encontravam para por o papo em dia e falar da vida.

Gostava, sim, de mandar, de gritar, de ser capitão. Mas não sabia o porquê.

– Eu dei somente um empurrão no Bigode. Preferiram dizer que o agredi.

Tinha mágoa dos dirigentes, que, segundo ele, sempre usaram os jogadores e o futebol. Pedia maior participação dos atletas profissionais nas decisões. Ele, que em 1948 liderou uma greve, paralisando o Campeonato Uruguaio. A Argentina logo copiaria o movimento.

Varela se hospedava no Hotel Paysandu sempre que vinha ao Rio. No mesmo local a delegação uruguaia se concentrou durante a Copa de 50.

Obdulio revelou que havia uma ordem para ninguém sair do hotel após o jogo. Porém, ele chamou o massagista para tomar umas cervejinhas e caminhou pela Rua Paissandu – não foi a Copacabana, como dizem – e dobrou na Senador Vergueiro. Perto da Praça José de Alencar, entrou em um restaurante e percebeu muita gente aos prantos. Ficou meio sem jeito, preocupado com alguma reação intempestiva, já que não demorou a ser reconhecido. Silêncio por alguns segundos. Em seguida, aplaudido por alguns, se comoveu. Esboçou um choro, que tentou conter a todo custo. Mas ninguém foi agressivo com ele.

Pelo contrário. Comeu e bebeu até se embriagar. E de graça. Foi um dos últimos a deixar o local. Ali, segundo ele, nasceu uma profunda paixão pelo Rio e por nosso futebol.

O Hotel Paysandu, que ficava na esquina da Praia do Flamengo com a rua Paissandu, foi fechado há um ano. Ele serviu também de concentração para a seleção brasileira entre o final dos anos 50 e meados dos 60. Atualmente retrofit, lançará aparts no mercado carioca. Já Obdulio faleceu em 2 de agosto de 1996. Mas seguirá sendo imortal na História do esporte.

ÍDOLO DOVAL

por Elso Venâncio


Aqui no Brasil, Narciso Horácio Doval jogou no Flamengo e no Fluminense. Na Argentina, destacou-se também em dois clubes rivais: San Lorenzo e Huracán.

O gringo tinha alma carioca. O Clarín, principal jornal de Buenos Aires, certa vez abriu a seguinte manchete para falar dele:

“DOVAL É PARA O RIO O QUE PELÉ REPRESENTA PARA O RESTO DO BRASIL”

Com certeza, Doval foi tão ídolo e tão famoso quanto Zico.

O futevôlei, que surgiu em meados dos anos 60 na praia de Copacabana, logo chegaria a Ipanema. Sérgio Noronha, o “Seu Nonô”, vizinho de Doval na Rua Vinicius de Moraes, antiga Montenegro, me disse que nesse esporte Doval exigia que seus jogos valessem dinheiro. E ganhava quase sempre. Hoje, na quadra próxima à barraca do Pepê, na Barra da Tijuca, vários craques como Romário, Djalminha e Edmundo seguem à risca as regras criadas pelo “Diabo Loiro”.

Doval era o Rei de Ipanema e dono absoluto do pedaço que hoje é ocupado por Renato Gaúcho. Tomava café nas padarias do bairro, sempre de graça. Chamava o gerente e falava:

– Cheguei e não tinha ninguém aqui… De repente encheu. Ídolo é atração. Ídolo não paga.

Elba de Pádua Lima, o Tim, foi técnico do atacante na Argentina e responsável por trazê-lo para o futebol carioca. Brilhava na Gávea, por sua raça e talento. Contudo, em 1970, o atacante discutiu com o técnico Yustrich, que queria cortar seus longos cabelos e mudar a sua forma de vestir. Por isso, viu-se obrigado a deixar a Gávea. Acabou sendo emprestado ao Huracán.

Retornou em 1972. Zagallo era o treinador e Doval pôde formar uma dupla histórica com Zico.

Em campo, parecia um leão saído de uma jaula. Mas sabia jogar, tinha técnica e raça incomuns. Sem câmeras de TV – muito menos VAR –, o jogo era bruto. Doval encarava os zagueiros e avisava:

– Vou dar a primeira!

Brigava, xingava os adversários, cavava  faltas para Zico cobrar. No Fluminense, fazia o mesmo para Rivellino. Em 1976, marcou de cabeça, na prorrogação do jogo decisivo com o Vasco, diante de 127.052 pagantes que superlotavam o Maracanã, o gol que deu o bicampeonato carioca à “Máquina Tricolor”.

Doval se naturalizou brasileiro. Nas entrevistas, se autoproclamava:

– Nós, brasileiros,…

George Helal, vice de futebol rubro-negro no início da década de 90, sempre recebia a imprensa após os treinamentos. Sala cheia, de repente alguém bate à porta. O dirigente pede para entrar e surge uma cabeleira loira inclinada, com seus pequenos mas marcantes olhos azuis.

– Entra, Doval!

Ele já tinha parado de jogar, mas continuava indo muito à Gávea .

– No… mas tarde yo hablo.

– Pode falar – retrucou Helal.

– Um cerrajero…

– O quê?

Doval indicou com os dedos algo pequeno. Falava rápido, um portunhol difícil de entender…

– Um chaveiro?

– Si, si, como Zico.

Helal se lembrou que realmente tinha feito um personalizado do “Camisa 10 da Gávea” para presentear torcedores, sócios e conselheiros. Zico já era o “Galinho de Quintino”.

– Mas o que coloco? Zico é o Galinho…

De bate-pronto, o gringo respondeu:

– Doval, O Fenômeno!

A gargalhada foi geral, inclusive por parte do próprio.

A noite de 9 de outubro de 1991, particularmente, ficou marcada. O ex-atacante foi convidado para chefiar a delegação rubro-negra num jogo contra o Estudiantes, em La Plata. A diretoria fez o convite com o objetivo de acalmar os adversários, sobretudo a temível torcida argentina. Além disso, se um time brasileiro vencesse lá, o jogo não terminaria bem. Invariavelmente, as partidas acabavam em briga generalizada.

O ônibus da delegação entrou no estádio e o primeiro a descer foi Doval. Calça e jaqueta jeans, com o habitual sorriso e bom humor, me atendeu falando por uns 10 minutos ou mais:

– Passei a ser profissional do futevôlei, desafiava qualquer um. Tinha voltado a jogar tênis, mas gostava mesmo era da praia e das cariocas, as mais bonitas do mundo.

Falou do tempo de ídolo nas Laranjeiras e que quase vestiu a camisa do Botafogo. Só não jogaria no Vasco. O porquê?

– São Januário é longe da praia – explicava aos risos.

Estava de bem com a vida. Lembrou-se da infância do garoto de classe média em Palermo e disse que só vestiu a camisa da seleção argentina uma única vez:

– Aqui me acham indisciplinado.

No jogo, válido pela Supercopa, os argentinos foram violentíssimos, mas perderam por 2 a 0 – gols de Zinho e Gaúcho. O Flamengo deixou o estádio Jorge Luis Hirschi na madrugada do dia 10, já que a polícia retirou, aos poucos e com total segurança, todos os torcedores presentes.

O retorno ao Rio aconteceu na noite seguinte, com chegada marcada para o dia 12, cedinho, no Galeão. Sem Internet, ficamos sabendo pelos jornalistas, no saguão do aeroporto, da trágica notícia: Doval, aos 47 anos, tinha ido a uma boate na noite anterior e por lá teve uma parada cardíaca fulminante na saída.

Era um sábado de manhã. O táxi que peguei estava ligado na Rádio Globo e reproduzia a sua última entrevista. Seus depoimentos se repetiram por diversas vezes ao longo da programação, durante todo aquele dia.

O taxista virou-se para mim:

– Morreu um ídolo.

– De todos nós… – respondi.

Doval faria aniversário terça que vem, dia 4 de janeiro.

Faria, não. Fará.

Afinal, ídolos são sempre eternos.

E Feliz Ano Novo!

A MÁGOA DE MARCELINHO

por Elso Venâncio


Marcelinho ainda não era chamado de ‘Carioca’ quando estreou pelo Flamengo, aos 16 anos, entrando no lugar de Zico em um Fla-Flu disputado no ano de 1988, no Maracanã. Eram 11 minutos do primeiro tempo. Zico sentiu a coxa, não esperou nem o médico e saiu correndo, evitando a imprensa, rumo ao vestiário.

Mestre Telê Santana, técnico expert em lançar garotos – até porque fazia questão de sempre assistir com atenção aos treinos da categoria de base, pediu para Marcelinho se aquecer. O garoto franzino em campo e os 60 mil torcedores presentes sem saber sequer quem era. Pelo pique, parecia levar jeito. Tinha presença. Logo chamou a atenção de todos.

Na geral, uma cena histórica. Seu Adilson, pai do jogador, estava trabalhando com a roupa abóbora usada pelos garis. Ele parou de varrer, fixou o olhar no gramado e parecia sonhar. Instintivamente, colocou a vassoura por trás da cabeça, em horizontal, e observou um tanto quanto incrédulo à entrada do filho. “Em lugar do Galo…” – tentava compreender enquanto a ficha caía. O futebol brasileiro era apresentado naquele momento a um dos maiores batedores de falta da História.

Seu Adilson foi quem incentivou e determinou que Marcelinho treinasse as batidas. Ele comprou VHS de Zico, Nelinho, Roberto Dinamite, Zenon, fitas de vídeo que eram comuns na época, e durante a madrugada os dois viam e reviam cada cobrança. O pai lembra que Zico estava na Gávea. Falta na entrada da área para ele era pênalti.

Marcelinho passou a treinar muito esse fundamento. Aprimorava a batida e começava, já na base, a fazer gol de tudo quanto era lugar. Perto da meia-lua, do lado esquerdo, pela direita, de longe. Acabou virando o “Pé de Anjo” – afinal, calçava chuteiras tamanho 36.

O menino participou do vitorioso grupo que conquistou a Taça São Paulo de Juniores em 1990. Depois vieram os primeiros títulos pelos profissionais: Copa do Brasil em 1990, Carioca em 1991, Brasileiro de 1992 e, de repente, o inexplicável: mergulhado em dívidas, o clube começou a rifar suas grandes promessas. Nomes como Marcelinho, Djalminha, Júnior Baiano, Marquinhos, Paulo Nunes e outros. Na época em que “Craque o Flamengo faz em casa”, uma geração inteira era desperdiçada.

Marcelinho rodou o mundo. Jogou no Corinthians, no espanhol Valencia, voltou ao Corinthians, passou pelo Santos, Gamboa Osaka, Vasco, etc… Na verdade, teve três passagens pelo Timão: de 1994 a 1997, de 1998 a 2000 e de 2001 a 2006. Ganhou um punhado de títulos: Mundial de Clubes da FIFA em 2000, dois Brasileiros (1998 e 1999), uma Copa do Brasil em 1995 e quatro Paulistas. Obviamente, virou Corinthians de coração. Um dos maiores ídolos da Fiel.

A mágoa que ele tem com o Flamengo é grande. Em 1993, foi considerado um dos melhores jogadores do futebol brasileiro. Em um dia de folga, foi chamado à Gávea. O supervisor Isaías Tinoco, de forma direta, deu a notícia fatal:

– Você está vendido ao Corinthians.”

– Eu… vendido? Tá louco? Você tá de sacanagem, só pode ser! – retrucou, sério.

– Temos que pagar a folha e o décimo terceiro dos jogadores e honrar ainda os contratos do Renato Gaúcho, do Casagrande… – argumentou Tinoco.

– Não vou! Não vou mesmo! – repetia, aos gritos.

Eu presenciei o diálogo e o divulguei em seguida no microfone da Rádio Globo. Imprensa tinha acesso aos ídolos e dirigentes até nos vestiários. Era ordem do presidente rubro-negro, Luiz Augusto Veloso. O prodígio de craque teve que ir, mas saiu zangado.

Anos depois Marcelinho estava no exterior quando recebeu uma ligação de Márcio Braga, reeleito presidente do Flamengo:

– Te peguei no Madureira e quero você de novo aqui. Estou te comprando.

Personalidade forte Marcelinho sempre teve:

– Não vou. Me desculpe, mas vocês me mandaram embora. E por 500 mil dólares.

Tinha feito a promessa de nunca mais pisar no clube do coração de Seu Adilson. Clube esse que tinha sido o do seu coração também. Às vezes, amor e ódio se confundem numa paixão.

Há poucos anos houve uma festa no Ninho do Urubu para comemorar a conquista do Brasileiro de 1992, com direito à presença dos atletas campeões. Marcelinho não compareceu. Essa bronca explica sua vibração no título carioca que deu ao Vasco em 2003. Após empate em 1 a 1 com o Flamengo, comemorava feito louco, alucinando, correndo de um gol ao outro do Maracanã. Na cabeça, uma faixa: ‘Jesus é Fiel!’

O destino, às vezes misterioso, mudou a trajetória e a história desse grande ídolo do nosso futebol. Ces’t la vie…

CHORO DO REI EMOCIONA O PAÍS

Globo sofre a maior derrota da história

por Elso Venâncio


A torcida do Galo já grita “É campeão! É campeão!”. Título justo; tem que continuar comemorando, sim.

A imagem do ídolo Reinaldo chorando entrou para a História e contagiou todo o Brasil. O “Rei” demonstrava não acreditar no que via. Maior ídolo da história do clube, com 475 jogos e 255 gols marcados, parecia ter pensamentos confusos. Um filme o levava do passado ao presente, após a virada contra o Fluminense, no Mineirão.

A Globo deixou rolar o pós-jogo, passando recibo, já que na véspera, na decisão da Libertadores, sofreu a maior derrota de sua história. O SBT teve três vezes mais audiência do que a antes imbatível líder em todos os segmentos. Derrota já esperada, mas muito mais doída, já que foram duas horas e meia de um sufoco massacrante. Fato inédito nas últimas décadas, a Globo atingiu menos de 10 pontos no Ibope.

Nada é por acaso na vida. O sucesso do virtual campeão brasileiro chega em cima de um trabalho duro e corajoso. Foram investidos quase R$ 300 milhões em jogadores de qualidade, como Hulk, Diego Costa, Eduardo Vargas, Nacho Fernandes, Keno e Guilherme Arana, só para citar alguns nomes.

As contratações fizeram a dívida aumentar, mas tudo está sendo planejado. Salários altos e elenco valioso representam dinheiro em caixa. O clube deve cerca de um bilhão, mas tem patrimônio. A Arena MRV, que fica pronta no ano que vem, tem valor equivalente à dívida.

Três empresários – Rubens Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães – injetaram R$ 400 milhões no time. Com direito a uma decisão rara: não há cobrança de juros, o que lhes renderia R$ 50 milhões/ano. Quarenta por cento da dívida não tem juros. Os investidores terão o dinheiro de volta com a venda dos jogadores que compraram e estão supervalorizados no mercado.

Ao clube ficam as rendas e outras receitas. Além disso, 30% está sendo pago com o Profut, o Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro.

O Atlético ganhou o Campeonato Mineiro, chegou à semifinal da Libertadores, pôs a mão na taça do Brasileirão e ainda vai disputar com o rival homônimo do Paraná a Copa do Brasil. Um ano espetacular, provando que, com planejamento, organização e sem rixas internas ou vaidade, as coisas caminham.

Foram 50 anos de espera. Em dezembro de 1971, no primeiro Campeonato Brasileiro propriamente dito, Dadá Maravilha marcou de cabeça o gol do título, na vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo, fora de casa. O time campeão posou no Maracanã com Renato, Humberto Monteiro, Grapete, Vantuil e Odair; Vanderlei e Humberto Ramos; Ronaldo, Lola, Dario e Tião. O técnico era Telê Santana, na época aos 40 anos de idade.


Cuca recebeu o ok de Renê Santana para cumprir a promessado seu pai, o “Mestre” Telê, na época impagável. Caminhar 67 quilômetros, de Belo Horizonte até Congonhas, e agradecer de joelhos, rezando na Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Telê chegou a caminhar 25 quilômetros, mas o sol forte, as constantes subidas e a falta de uma preparação adequada fizeram com que o treinador, que era muito religioso, terminasse o percurso em um carro da Polícia Rodoviária Federal.

Os mais otimistas, gente próxima aos investidores e diretoria, acreditam que a dívida do clube será paga nos próximos anos e que a fase de conquistas chegou para ficar.

E você?

Acha mesmo que o Atlético Mineiro, com a atual estrutura, continuará sendo potencial candidato aos principais títulos nas próximas temporadas?

O PAÍS VAI PARAR SÁBADO

É a maior decisão da história da Libertadores

por Elso Venâncio


O Brasil vai parar sábado para ver a decisão da Libertadores. Será um dia parecido com os jogos importantes de Copa do Mundo, principalmente aqueles que envolvem a nossa seleção, quando nem vemos carros circulando pelas ruas porque está todo mundo de olho na televisão. Salvo os que já estarão no Uruguai.

O palco poderia ser o Beira-Rio, o Mineirão, mas Flamengo e Palmeiras duelarão no velho e icônico Estádio Centenário, construído para a Copa do Mundo de 1930 e que fica no centro de Montevidéu. No regulamento dessa competição deveria constar que, em caso de disputa final entre clubes do mesmo país, o jogo aconteceria no território desses times. Mas a Sul-Americana quer imitar a Liga dos Campeões da Europa, então… paciência!

Os dois clubes lideram as conquistas nacionais do futebol brasileiro e do nosso continente. Decisão inédita, entre duas potências rivais do eixo Rio-São Paulo.

É a maior final da história da Libertadores e só pode ser comparada ao Boca Juniores x River Plate de 2018, mesmo com as tristes lembranças daquela decisão.

O local do jogo traz boas recordações aos cariocas. Foi exatamente lá, em novembro de 1981, após uma verdadeira guerra contra o Cobreloa no Chile, que o Flamengo venceu por 2 a 0, dois de Zico, na primeira conquista rubro-negra desta competição.

O Palmeiras chega à sua segunda final consecutiva e o Flamengo vai para a sua segunda decisão em três anos. O ‘Mais Querido’ vem atropelando os paulistas. No agregado do Brasileirão, 4 a 1 no Palmeiras, 4 a 1 no Corinthians, 9 a 1 no São Paulo e 4 a 0 no Santos, faltando ainda esse jogo da volta, que se dará em 5 de dezembro, no Maracanã. Isso é impressionante! Nunca houve na História uma superioridade tão grande em relação aos rivais paulistas. Isso deveria ter peso na decisão de sábado? Sim, mas não tem. Jogo único é outra história. Decisão, então, é sempre outra conversa.

Vejo o Flamengo superior. As casas de apostas confirmam isso. Mas é decisão!

O jogo vai ser equilibrado. Isso é normal. Lembra da decisão da Supercopa do Brasil, no comecinho desse ano, em Brasília? 2 a 2 no tempo normal, prorrogação e pênaltis. Time por time, jogador por jogador, os cariocas são melhores. Mas é jogo único. Nervoso, tenso. Ninguém pode errar.

Acho irrelevante os últimos resultados do Brasileirão. Na verdade, os dois clubes se prepararam para a finalíssima continental. A tendência é ver um Palmeiras fechado, jogando no contra-ataque, e o Flamengo tentando atacar o tempo todo, procurando sempre espaço para jogar.

O português Abel Ferreira, que não é de fazer média com a imprensa paulista, e até por isso é sempre muito criticado, sabe armar um time. Mas Renato Gaúcho tem no ataque um jogador decisivo, que tem a cara desses desafios que são os jogos finais. Muita gente fala em Arrascaeta, em Everton Ribeiro, em Gabigol, mas na hora do vamos ver, quem tem brilhado é outro craque que deveria estar sempre na seleção. Para mim, inclusive,  ele já havia sido o craque da Libertadores de 2019.

Há 2 anos, após um empate em 4 a 4 com o Vasco no Maracanã, em que o pau comeu em campo, o ‘filósofo’ Bruno Henrique disparou:

– Nós estamos em ‘Oto Patamá’.

Me lembrei dessa frase para dizer que Bruno Henrique vai para Outro Patamar em decisões. Eu aposto nele nesse duelo que já tem dia, hora e local confirmados: sábado, dia 27 de novembro, às 17h, no Estádio Centenário, do Uruguai. O árbitro será Nelson Pitana, um ex-ator argentino de 46 anos que apitou a decisão da Copa de 2018. E atenção: no comando do VAR fica o chileno Júlio Bascunan.

E pra você? Quem leva a Taça?