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Elso Venâncio

GOLS ESPETACULARES!

por Elso Venâncio, repórter Elso

Todos temos nossos gols marcantes, preferidos, inesquecíveis… Nas decisões, os gols ficam eternizados na memória do torcedor.

Gols de falta, como os de Zico, Petkovic, Rogério Ceni, Roberto Dinamite, Nelinho, Neto, Rivellino. Gols de pênalti, como as cavadinhas de Djalminha, Loco Abreu e até Zidane, em final de Copa do Mundo. Gols de placa, como o de Pelé contra o Fluminense, o de Marcelinho Carioca diante do Santos e aquele de Neymar, frente ao Flamengo, que lhe rendeu o ‘Prêmio Puskas’ de 2011.

Alguns são eternos, como os que deram títulos mundiais a nossos clubes. Como os dois de Renato Gaúcho, em 1983, contra os alemães do Hamburgo. Os dois de Nunes, também em Tóquio, diante dos ingleses do Liverpool. E os de Raí, frente ao Barcelona, na decisão de 1992.

Faço, porém, questão de relembrar três gols. Os que considero os mais espetaculares marcados em Copas do Mundo.

No Mundial na Suécia, o primeiro conquistado pelo Brasil, Pelé, aos 17 anos, tornou-se o mais jovem atleta a marcar numa Copa. Na final uma cena impressionou o mundo. O até então desconhecido camisa 10, um garoto magricela, ergue o braço direito pedindo a bola dentro da área. Imaginem a ousadia daquele que se tornaria o ‘Rei do Futebol’:

“Aqui, em mim!” – gritou, com voz grave.

Nilton Santos, a ‘Enciclopédia do Futebol’, que apesar de ser lateral-esquerdo era destro, olhou para a área e lançou, de longa distância, com a canhota. Pelé matou no peito, deu um chapéu no zagueiro sueco e da marca do pênalti fuzilou de direita. QUE ESPETÁCULO!

Em 1970, no México, um gol com participação coletiva de quase meio time registrou um dos últimos momentos do futebol-arte. Na decisão, 4×1 sobre os italianos, Piazza tocou para Clodoaldo, que rolou lateralmente para Gerson e recebeu de volta. De repente ‘baixou’ o espírito de Garrincha no ‘Corro’, que saiu driblando ou fintando um, dois, três, quatro adversários, até passar a Rivellino, que descobriu Jairzinho. O ‘Furacão da Copa’ deixou o grandalhão Fachetti, que lhe marcava homem a homem, sem chão ao passar rapidamente a Pelé, que, sem sequer olhar para o lado, tocou na direita, onde entrava Carlos Alberto Torres. A bola rolada limpa e linda, rente à grama, ainda se deu ao luxo de dar um leve quique no gramado antes de encontrar o pé do ‘Capita’, que bateu forte, cruzado, estufando as redes de Albertosi. QUE GOLAÇO!

Em 1986, argentinos e ingleses se enfrentaram, pelas quartas de final do Mundial, após a cruel e insana ‘Guerra das Malvinas’. Foi uma nova batalha, já que até hoje a Argentina não engole a derrota no arquipélago. Dois jogos antes da vitória por 3 a 2 contra a Alemanha, na decisão, nasceu o lance histórico. Diego Maradona pegou a bola ainda no seu campo, começou a se desviar dos adversários, foi para a meia direita e passou em velocidade por um, dois, depois driblou o goleiro Shilton e tocou para o fundo das redes. QUE SHOW DE GOL!

Quantos gols maravilhosos!!! E você, que certamente já viu inúmeros gols lindos, históricos ou de placa, qual o que mais te emocionou? Qual foi aquele que marcou a sua vida no futebol?

E OS TÉCNICOS NEGROS?

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Gentil Cardoso orienta Garricha

Mais da metade da população brasileira – estima-se 56% – é negra ou parda. Pergunto: onde estão os técnicos negros no nosso futebol?

Lembrando apenas dois nomes, Gentil Cardoso e Waldir Pereira, o Didi, começo pelo primeiro. Gentil, ‘O Velho Marinheiro’, lamentava com pesar:

“Só não dirigi a seleção por causa da cor.”

Vitorioso, Gentil Cardoso trabalhou em vários clubes, dentre eles os quatro grandes do Rio, além do Corinthians. No Botafogo, aprovou em minutos a contratação de Garrincha:

“Estou sonhando?”

O único brasileiro negro a dirigir uma seleção em Copas do Mundo foi Didi. Em 1970, ele comandou o Peru, de Chumpitaz, ‘Perico’ León e Cubillas. Os peruanos eliminaram os argentinos em plena Bombonera, deixando-os fora do Mundial do México. Didi era sempre cotado para reger fora de campo a seleção brasileira, porém nunca chegou lá.

21 de março é celebrado como o ‘Dia Internacional Contra a Discriminação Racial’. Nessa data, esse ano, fui à Academia Brasileira de Letras, a ABL, presenciar uma palestra do tricampeão do mundo Paulo Cézar Caju:

“A delegação do Botafogo foi jantar em Bagé, no Rio Grande Sul, e na porta do restaurante lemos a frase: ‘Proibido Negros’” – a certa altura ele disse, dando um choque de realidade na plateia.

“Por que Andrade, campeão brasileiro com o Flamengo, Jayme de Almeida, Cristóvão, Roger e tantos outros estão fora do mercado?” – o craque indagou, noutro momento de reflexão.

“Passeava na Sunset Boulevard, em Los Angeles, em um carro conversível, com Jairzinho ao lado, quando vimos um movimento ‘Black Power’. Eram jovens de cabelos pintados. Descemos e, no primeiro salão, fizemos o penteado que acabou virando febre no Brasil. Por conta dele, os paulistas me apelidaram de Caju. Não gosto! Sou Paulo Cézar Lima”.

“Fiquem longe das drogas”, por fim ele aconselhou. “Estou curado há 25 anos. Morreria com 48 e tenho hoje 73 anos!”

‘Monsieur Paul Cézar’, como era chamado no país da Torre Eiffel, abriu o mercado francês para os brasileiros ao se transferir do Flamengo para o Olympique de Marseille logo após a Copa de 1974, disputada na Alemanha. Mesmo ignorado pela CBF no ‘Seminário Contra o Racismo’, não há dúvidas de que, no futebol, ninguém combate esse inconcebível preconceito como ele.

ROMÁRIO OU RONALDO?

por Elso Venâncio, o “repórter Elso”

Quem jogou mais? Romário ou Ronaldo?

Vi de perto os dois surgirem, crescerem e conquistarem o mundo. Sei que é difícil, mas fico com Romário.

Ronaldo, que recebeu dos italianos o apelido de ‘Fenômeno’, fez carreira na Europa. O mundo globalizado nos permite acompanhar o desempenho de qualquer jogador, mas, no meu caso, testemunhei por anos a carreira do Baixinho. Vi um punhado de gols sendo que, em muitos deles, lá estava eu, atrás do gol. Como naquele ‘elástico’ em cima do Amaral, no Pacaembu, com direito a conclusão de bico.

Zico sempre disse o seguinte:

“Na grande área, tem que chutar.”

Mas Romário tinha uma frieza impressionante. Gingava o corpo, fingia que ia concluir e driblava. Enfim, usava artifícios que nunca presenciei em outro goleador. Na Copa de 1994, pediu para bater o pênalti na decisão, sem ser especialista. Seus gols, até então, eram sempre com a bola rolando. Só passou a ser cobrador oficial a partir do momento em que o Flamengo o repatriou. Por sinal, o primeiro com a camisa rubro-negra foi cobrando pênalti, contra o Americano, em Campos.

Romário era obcecado por gols. Nem de coletivo ele gostava, só queria treinar conclusões. Cansei de ver os treinos começarem sem ele. Os titulares jogavam com dez jogadores. Atrás de um dos gols, Romário, com o auxílio de um preparador físico, ensaiava todas as formas de marcar.

Romário e Ronaldo vinham de três conquistas com a Seleção Brasileira em 1997. A Copa das Confederações, na Arábia, Copa da França e Copa América, na Bolívia. Uma semana antes de se apresentar na Granja Comari, sentiu a panturrilha em um jogo do Campeonato Carioca, contra o Friburguense, numa quarta-feira à tarde, em Friburgo. Foi para a França, mas acabou sendo cortado. O destino separava da Copa a maior dupla de ataque do mundo.

A característica de Ronaldo, em campo, era diferente do Romário, o que dificulta ainda mais qualquer comparação. Ronaldo vinha de trás, saía da área para jogar. O lugar sagrado de Romário era perto do gol. Até os argentinos o reverenciam. A revista ‘El Grafico’ elegeu o ‘Baixinho’ como maior goleador da história do futebol, com 768 gols marcados em jogos oficiais.

Quem você acha o melhor?

A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO

por Elso Venâncio, o “repórter Elso”

O Flamengo reverteu a vantagem, vencendo o Vasco no primeiro duelo entre os clubes pelas semifinais do Campeonato Carioca. O time jogou com garra, mas desordenado, mal escalado e com alterações confusas.

O técnico Vitor Pereira tirou um meia de criação, Éverton Ribeiro, para colocar Pablo, que é zagueiro. Três na zaga e dois cabeças-de-área? Mesmo tendo um grupo bem melhor em relação ao adversário, que se superava em campo… Muito estranho isso.

Pergunto: será que alguém conversa com o treinador?

O presidente campeão do mundo em 1981, Antônio Augusto Dunshee de Abranches, ouvia do técnico, além da escalação, a estratégia para a partida. No Vasco, Eurico Miranda decretava:

– Sou o primeiro a saber do time.

Na seleção brasileira, Ricardo Teixeira fazia questão de deixar claro:

– Vejo antes os convocados e tenho poder de veto.

A possibilidade de errar diminui após um diálogo. Tite não levaria tantos veteranos, a ponto de chamar Daniel Alves para a última Copa, caso houvesse uma troca de ideias.

De 1999 a 2001, Milton Neves apresentou ‘O Super Técnico’, na Band. No Programa, a cada domingo surgiam nomes como Zagallo, Parreira, Telê Santana, Felipão, Luxemburgo, Minelli, Joel Santana e Carpegiani, entre outros. Eles passaram, a partir desse momento, a vestir uma persona de ‘intocáveis’. Pareciam ter ‘superpoderes’ no futebol.

Didi foi o único negro titular da seleção que iniciou a Copa do Mundo de 1958. Djalma Santos só substituiu De Sordi na final. Certa vez, na Rádio Globo, o ‘Gênio da Folha Seca’ me revelou:

– Chamei o Nilton Santos e disse que teríamos que conversar com o Dr. Paulo. Saímos os três juntos. Caminhando, coloquei para ele, com calma, mas firme, que Garrincha e Pelé tinham que jogar.

Observem que o maior jogador do país foi direto no chefe da delegação, alguém conhecido como o ‘Marechal da Vitória’, e não no treinador Vicente Feola, para propor as alterações.

Hoje é muito comum surgir questionamentos na torcida e na imprensa. O papo entre Didi, Nilton Santos e Paulo Machado de Carvalho levou o Brasil a conquistar o seu primeiro título mundial na Suécia. Ou seja, diálogo é tudo. Ninguém pode ter plenos poderes e fazer o que bem quer, ainda mais quando se trata de um esporte coletivo que, não por acaso, é o mais popular do planeta.

O ÍDOLO SAMARONE

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Em Pé: Oliveira, Felix, Denilson, Galhardo, Assis e Marco Antonio | Agachados: Cafuringa, Didi, Mickey, SAMARONE e Lula

Samarone foi um Ídolo no Fluminense. Chegou ao clube com 18 anos, contratado por 60 milhões de cruzeiros junto à Portuguesa Santista. A moeda mudou, mas pode acreditar, era muito dinheiro! Na época, Carlos Alberto Torres, o ‘Capitão do Tri’, era a maior transação da história do nosso futebol. O Santos pagou 200 milhões para tirar o já consagrado lateral das Laranjeiras.

Em algumas conquistas do Tricolor, Samarone foi destaque absoluto. Como, por exemplo, a Taça de Prata de 1970, que era o Campeonato Brasileiro naquele tempo. Por sinal, muitos o consideram o mais difícil de todos os tempos, por contar com os tricampeões do mundo, que haviam vencido a Copa do México, logo após a conquista e posse definitiva da Taça Jules Rimet.

Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denilson e Didi; Cafuringa, Flávio (Mickey), Samarone e Lula. Contundido, Flávio Minuano não pôde jogar as finais. Mickey, seu substituto, marcou gols decisivos nos últimos jogos. Inclusive o do título.

Esse grupo também foi campeão carioca em 1969 – naquele Fla-Flu que terminou 3 a 2 para o tricolor e o imortal Nelson Rodrigues teceu como o maior clássico de todos os tempos, dizendo que ‘vivos e mortos saíram de suas tumbas’ para juntos irem ao Maracanã. Além de vencer o Estadual de 1971: 1 a 0 no Botafogo, time que por contar com tantos craques era chamado de ‘Selefogo’.

O sinal da Rádio Globo ecoava forte no Maracanã. Torcedor com o radinho de pilha colado no ouvido, o locutor Waldir Amaral ressoou para todo o país:

“São cinco horas e trinta e dois minutos na mais linda cidade do mundo. Rio, capital mundial do futebol. Domina no peito Samarone, o catimbeiro Samara, lança Lula em diagonal e… gol!!! Lula, 11 é a camisa dele. Indivíduo competente o Lula. Tem peixe na rede…”

Denilson, o ‘Rei Zulu’, usava a braçadeira de capitão e tinha moral, por ter disputado a Copa de 1966, na Inglaterra. Só que o líder da equipe era mesmo Samarone. Até controlar a arbitragem ele fazia como ninguém.

Armando Marques, o número 1 do apito, chamava todos os jogadores pelo nome e sobrenome:

“Senhor Wilson Gomes (Samarone), o senhor está passando dos limites. Pare já de gesticular!”

Raçudo, de meias arriadas e com dribles curtos, peito estufado e cabeça erguida, Samarone obrigava Cafuringa e Lula a dar inúmeros piques em direção ao gol adversário. Irrequieto, numa ocasião cometeu falta dura no violento e temido zagueiro Moisés, o ‘Xerife’. Waldir Amaral alertou:

“Estão mexendo no formigueiro…”

Mário Vianna, ‘com dois enes’, comentarista e ex-árbitro, era uma espécie de VAR: decidia o que estava certo ou errado com o microfone. De repente, ele decretou:

“Tem que expulsar! Armandinho, Armandinho… eu vou descer! Vou descer!!!”

Os geraldinos reagiam na hora. Uns a favor, outros contra.

De repente, Flávio Minuano perde um gol. No ato, Samarone reclama:

“Não pode! Gol feito!!!”

Minuano, um dos grandes artilheiros do futebol nacional, retrucou na mesma hora:

“Vai tomar no seu c*…”

Tempo bom aquele… Eram tantos craques com a camisa 10: Pelé, Tostão, Gerson, que trocara a 8 pela dez, Silva Batuta, Ademir da Guia, Rivellino, Dirceu Lopes, Edu, enfim, ficava difícil para o técnico da seleção convocar Samarone. Aliás, naquela época o país parava para ouvir e discutir os relacionados. Hoje, o torcedor está a cada dia mais frio e distante da seleção que por tantas décadas foi uma verdadeira paixão nacional.