texto: Sergio Pugliese | ilustrações: Fernando Mendonça
Osório é o mais organizado do grupo e sempre adorou liderar grandes eventos. Tudo bem que uma vez ou outra se enroscou, como na chegada do Papa ao Rio. Lembram-se? Por um problema de logística a comitiva pegou o caminho errado e o homem de Deus viu-se cercado por uma multidão, num engarrafamento infernal. Mas Osório mete a cara, é destemido e continuou na área, sempre na linha de frente, peito aberto. Sua última brilhante ideia foi organizar uma pelada entre os candidatos e jornalistas. Seria uma forma de atrair a simpatia do eleitor, um ato de civilidade. Convocou seus principais marqueteiros, pegou a prancheta e a reunião virou resenha, das boas.
– Vão ser sete na linha e um no gol. Chamamos quem para a zaga, hein? – questionou Osório.
– Chama o Molon, chama o Molon! – gritaram os assessores.
– Jandirão, claro! Ela intimida, grandona, leva jeito.
– Mas, será? – freou, Osório.
– Meu Deus, ela é destemida, já liderou várias manifestações, enfrentou PMs, spray de pimenta…vai ter medo de atacante?
– Me convenceu!
– Mas ela não pode pegar muito pesado, hein!
– Como? Zagueiro tem mais é que espanar! – discordou Osório.
– Mas o Freixo vai reclamar e pode até acionar o pessoal dos Direitos Humanos, sabe como é, né?
– Verdade, ele é mais estilo Ganso, futebol-arte, cabeça em pé, se acha.
– Mas nós vão jogar juntos, contra a imprensa! – resmungou Osório.
– Por isso mesmo! Ele é o queridinho da imprensa. Bateu na imprensa, bateu nele!
– Mas se o jogo for descambar para a violência é melhor chamar um árbitro….
– Chama o Molon, chama o Molon!!!
– Já sei, o Índio!!!
– Por que o Índio – perguntou Osório.
– Porque Índio quer apito!!!!
– Vamos levar a sério, não temos muito tempo – ralhou Osório. E emendou: – Será que o Pedro Paulo bate uma pelada?
Como os publicitários perdem o amigo, mas não a piada, um dos estrategistas largou a bomba.
– Se bate uma pelada, não sei, mas que bate numa pelada, bate!
Nem Osório conteve a gargalhada.
– Quem vai ser o capitão do time?
– Chama o Molon! Chama o Molon!
– Acho que só o Bolsonaro tem patente militar.
– Mas Bolsonaro vai expulsar todo o time da imprensa.
– Melhor pra nós! – comemorou Osório.
– E o Crivella?
– Ele só entra nas comemorações de gol: “primeiramente gostaria de agradecer a Deus”.
– O Crivella também pode recolher o dinheiro do churrasco. Esses caras são bons nisso, rapidinho arrecadam uma grana.
– Quem será o churrasqueiro?
– Chama o Molon! Chama o Molon!
– Se for churrasco de peixe, o Índio entende. Essa turma caça para sobreviver.
– E quem vai tomar conta do dinheiro, cuidar do caixinha, ser o tesoureiro?
– Não, chega de chamar o Molon – antecipou-se Osório.
Essa questão do dinheiro é mais complicada e os estrategistas preferiram não colocar a mão no fogo por ninguém. Ficou decidido que vão terceirizar o serviço e abrir concorrência.
As pinturas que ilustram esse texto são do consagrado artista maranhense Fernando Mendonça, vascaíno roxo e fã de Juninho Pernambucano.