Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Eduardo Lamas

ALADIM E SUA CARREIRA MARAVILHOSA

por Eduardo Lamas

Entrevistar Aladim se tornou uma obsessão que Sérgio Pugliese me passou. Desde o fim de 2019, quando entrei em contato com ele pela primeira vez, que estávamos tentando ir a Curitiba para gravar um papo sua longa e extraordinária carreira. E finalmente conseguimos em outubro passado. O papo na padaria que lhe pertence, no bairro Bacacheri (pronuncia-se “Bacachéri”, peço desculpas pelo erro na gravação), você vai poder confirmar o que digo sem titubear: uma coleção de histórias maravilhosas.

Para começar, Aladim foi campeão carioca pelo Bangu no ano em que nasci, em 1966, na histórica final com o Flamengo, jogo encerrado com 3 a 0 no placar para os banguenses muito antes de chegar aos 45 minutos do segundo tempo. Almir estragou tudo, com uma briga monumental, e Aladim conta com detalhes não só daquela partida, em que ele fez um dos gols da vitória alvirrubra, como de outra entre as duas equipes na qual o Pernambuquinho decidiu com a cara na lama e a surpreendente amizade que ele tinha com os adversários. Outros tempos, outros tempos.

Aladim é ídolo no Coritiba, onde conquistou vários títulos, e respeitadíssimo por todos que o enfrentaram e jogaram com ele no mesmo clube, fosse o Bangu; o Corinthians, para onde foi pouco tempo depois que o seu companheiro no time carioca Paulo Borges; o Vitória e até o maior rival do Coxa, o Athletico. Já em fim de carreira, participou da formação da equipe que seria campeã brasileira de 1985. Por pouco não participou daquela conquista, que lhe escapara cinco anos antes, nas semifinais.

Tive a felicidade de vê-lo jogar das arquibancadas do velho Maracanã, contra o meu time, por duas vezes. Para minha felicidade, ele fez gol em ambas, mas apesar da imensa dificuldade, o Flamengo saiu vencedor. Numa delas foi a mais sensacional partida que vi como torcedor: Flamengo 4 x 3 Coritiba, resultado que classificou o Rubro-Negro pela primeira vez para a final do Campeonato Brasileiro. Isso foi em 1980 e eu tinha 13 para 14 anos. Nunca me esqueci, da grande vitória do meu time, nem mesmo dos gols adversários, especialmente o do Aladim, um golaço de voleio que Raul nem viu direito por onde a bola passou. Um ano depois, Flamengo 2 x 1 Colorado.Para demonstrar que guarda ótimas memórias, mesmo em dias de derrota, Aladim revela que a partida de 1980 foi uma das mais espetaculares que jogou e ainda me deu a honra de autografar os ingressos que ainda tenho dessas duas partidas. Só tenho a agradecer a Aladim e a Sérgio Pugliese pelo privilégio de fazer esta inesquecível entrevista.

ALBENEIR, OS GOLS DA SUPERAÇÃO

por Eduardo Lamas

Do topo ao chão, do chão ao topo. Confesso que quando sugeri ao Sérgio Pugliese a entrevista com o Albeneir estava atraído muito mais pelo fato de ele ser o terceiro maior goleador da História do Figueirense do que qualquer outro motivo, até porque me recordava pouco dele. Mas, o que é a vida de jornalista, principalmente daquele que se acostumou a ouvir os conselhos dos mais velhos. Aprendi lá atrás que, até por respeito ao entrevistado, é preciso saber o máximo sobre ele. Enfim, fui vasculhar a vida do Albeneir e vi que mais importante até do que os muitos gols que fez em campo, foram os que vem fazendo ainda na vida.

Bena, como é chamado pelos mais íntimos, viveu o auge como artilheiro do Campeonato Gaúcho de 1986, quando atuava pelo Grêmio, ou quando passeava como rei pelas avenidas de Florianópolis sendo ídolo do Figueirense. E, mais ainda, quando foi convocado em 1984 para a seleção brasileira olímpica que ganharia a medalha de prata em Los Angeles. Porém, depois de dois amistosos vitoriosos e um gol dos três que a equipe brasileira marcou, acabou cortado pelo técnico Jair Picerni, que preferiu levar uma base formada por jogadores do Internacional. Viveu o topo da carreira também em outros clubes, sempre com muitos gols, mas já havia, no Grêmio, passado por uma prova de fogo, quando uma lesão gravíssima no joelho direito quase interrompeu prematuramente a sua carreira. Passou na prova com louvor e continuou jogando por muitos anos ainda.

Ao pendurar as chuteiras, porém, caiu na ilusão de que tudo poderia, que a vida boa seria eterna. Perdeu o controle sobre o álcool e foi parar na rua da amargura. Literalmente. Foi morador de rua. No entanto, com a mesma garra irrefreável com que enfrentava os zagueiros adversários, enganando-os com sua agilidade de guepardo, decidiu que venceria aquele rival implacável. Mas sabia que sozinho nada conseguiria. Então, pediu ajuda a um policial e a um sacerdote, recebeu o auxílio de que tanto necessitava e não hesitou. Passada a tormenta, levantado do chão, continuou a fazer seus golaços na vida e ainda hoje ajuda voluntariamente quem passa pelo mesmo problema que com tanta dificuldade superou, alguns ex-jogadores de futebol, inclusive, ele revela.

Conhecê-lo pessoalmente e poder conversar com ele por cerca de duas horas serviu de inspiração. Não só para este texto, claro. É lição de casa para todos os dias. Sem dúvida, Bena doa-se de corpo e alma nos campos da vida e conquista a cada dia mais uma vitória, mais um título particular, sem manchetes na mídia ou qualquer badalação.

KATINHA, O PONTINHA QUE DANÇAVA O BOLE BOLE COM A BOLA

por Eduardo Lamas

“Katinha, que dança é essa que o corpo fica todo mole…”. A paródia de “Dança do Bole Bole”, de João Roberto Kelly, gruda na cabeça já no caminho a pé pelas ruas de Itaguaçu até Coqueiros rumo ao Clube do Bola. Não me é lá muito agradável, embora já tenham se passado quatro décadas desde que aquele pontinha veloz e habilidoso entrou no segundo tempo de um Clássico dos Milhões para dar uma vitória retumbante ao Vasco da Gama sobre o meu Flamengo. Ninguém o conhecia até então no Rio de Janeiro. E aqueles 4 a 2 para os cruzmaltinos, em 1979, com brilho também do ídolo Roberto Dinamite, foram marcantes para a carreira do então jovem jogador catarinense.

Hoje, o senhor muito simpático de 64 anos relembra com um sorriso aquele jogo, cantarolando timidamente a versão da torcida vascaína. Porém, sem se esquecer jamais de outras partidas pelo próprio Vasco, Atlético Paranaense (no tempo em que se escrevia assim), Avaí, Ceará, Fortaleza, Joinville. E, com prazer, relembra o início da sua relação amorosa com a bola e conta como surgiu o apelido, ainda nos juniores do hoje Athletico.

Foto: Edson Junkes

Para minha alegria, ele gentilmente ainda autografou a página do meu caderninho de ingressos onde está colada a entrada de uma partida em que o Vasco saiu derrotado: a primeira da final do Campeonato Brasileiro de 1979, contra o Internacional. O que só prova o seu espírito esportivo e o cavalheirismo que anda tanto em falta nos nossos gramados.

CARLOS GAINETE

por Eduardo Lamas

Minhas primeiras tentativas de entrevistar o ex-goleiro e ex-técnico Carlos Gainete foram no início de 2020, quando entrei em contato com o filho dele, de mesmo nome, pelo facebook. Na época, ele morava no Rio de Janeiro e o pai, fui informado, estava residindo em Porto Alegre. Mas como Gainete nasceu em Florianópolis, pensei cá comigo: uma hora ele vai aparecer na área e não vou perder a chance.

Quando eu e o cinegrafista Fernando Gustav retornamos aos trabalhos para o Museu da Pelada, em outubro de 2021, após longo e tenebroso inverno pandêmico sem vacinação, retomei os contatos com Carlos Gainete filho, que, para sorte minha, tinha vindo para Florianópolis. Numa prévia da pesquisa que sempre faço para preparar a pauta das entrevistas, descobri que estava se aproximando o 81º aniversário do ex-goleiro de Inter, Vasco, Athletico-PR, em 15 de novembro. E aí fui informado pelo filho que o pai viria de Porto Alegre para cá. Mas engana-se que, por isso, foi fácil.

Gainete não se mostrou nada entusiasmado com a ideia de dar uma entrevista, informou-me seu filho. Sem ser chato, algo que detesto ser, mas com alguma insistência, Carlos Gainete cedeu depois de tentar suportar uma saudável e carinhosa pressão caseira do filho e da esposa, aos quais agradeço imensamente. Sorte nossa e de toda massa torcedora do Museu da Pelada. Afinal, boas histórias não faltam, tanto dos tempos de goleiro, quando foi campeão catarinense logo na sua primeira temporada pelo Paula Ramos Esporte Clube, em 1959; campeão da primeira Taça GB, pelo Vasco, em 65, e quatro vezes seguidas campeão gaúcho pelo Inter, e de treinador, com maior destaque para o timaço que formou no Guarani, com Ricardo Rocha, Marco Antonio Boiadeiro, Evair, João Paulo e outros (entre eles Tite, o atual técnico da seleção brasileira), que acabou sendo vice-campeão brasileiro, perdendo nos pênaltis para o São Paulo de Careca, Pita e cia, em 86, numa partida final antológica e cheia de polêmicas, com muita tristeza para os bugrinos e, em especial para Gainete, que confessa jamais ter conseguido rever aquele jogo.

No fim do nosso papo, já em off, ousei perguntar a ele quem tinha sido melhor, o goleiro ou o treinador. Ele respondeu: “O homem”. Aplaudimos espontaneamente, eu, Fernando Gustav e seu orgulhoso filho.

MARACANÃ, MAIS UM DESRESPEITO SEM TAMANHO

por Eduardo Lamas


Capa do Jornal dos Sports em 17 de junho de 1950

Não bastasse ser destruído por dentro, ter sua alma arrancada no início da década passada, o Maracanã passa por nova tortura. A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou nesta semana em regime de urgência (o que por si só já é um completo descalabro, como se não vivêssemos problemas muito maiores no país, em especial no mais que maltratado Rio de Janeiro) a troca do nome do estádio de Mario Filho, que permaneceria com seu nome ligado ao complexo inteiro, pelo de Pelé. Não que Pelé, o personagem criado para e por Edson Arantes do Nascimento que se tornou o maior jogador de futebol de todos os tempos não mereça homenagens e não tenha qualquer ligação com o Maracanã, muito pelo contrário. Porém, é um completo desrespeito com Mario Filho, o Criador de Multidões, como bem o apelidou seu irmão Nelson Rodrigues.

Para quem não sabe, Mario Filho foi o maior defensor da construção do estádio para a disputa da Copa do Mundo de 1950, incluindo uma campanha no Jornal dos Sports, que dirigia à época e onde tive o privilégio muitos anos depois de trabalhar em quatro oportunidades (1990/91, 94, 97 e 2002/03). Um povo que desconhece e, pior, desrespeita a própria História está fadado a definhar. É o que temos visto nas últimas muitas décadas no Rio, em particular, no Brasil, em geral. Infelizmente.

Minha ligação com o antigo Maracanã já é bem conhecida por quem acompanha este blog (é só ver algumas postagens lá embaixo). E aquele lugar que em determinado momento de minha vida cheguei a dizer que era a minha segunda casa (com certo exagero, admito) inevitavelmente acabou se tornando um personagem fundamental em vários dos Contos da Bola, livro que estou relançando pela Cartola Editora. Mas o que está nas páginas que você certamente terá em mãos (seja em papel ou em algum dispositivo eletrônico) é o maior e mais emblemático estádio do mundo, não a arena ou ginásio gigante em que se transformou a partir dos anos 10 deste século.

É muito triste saber de mais esta marretada no Maracanã. Parodiando o título de um livro de Jorge Amado, é a morte e a morte do Maracanã. Antes, destroçaram sua alma, concretamente. Agora, simbolicamente.