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Edmundo

CRAQUES TRÁGICOS

por Rubens Lemos


O futebol seria imperfeito sem o passional de componente. A paixão emana das arquibancadas e explode no campo e nos gestos de volúpia inconsequente dos jogadores desenhados pela tragédia sobreposta ao talento. O pecado nem tanto assim da ira e a fúria sem limites como a capacidade do drible e do gol. Edmundo foi a continuação de Almir Pernambuquinho.

Quando pesquisava para o livro “Danilo Menezes, o Último Maestro”, em 2000, descobri uma história que revela o cangaço e a lei sertaneja da justiça pelas mãos impregnadas em Almir. Ele estava no Flamengo em 1966. Seu irmão, Adilson, formava a linha atacante do Vasco ao lado de Nado, Célio e Tião. Adilson levara umas pancadas do imenso Denílson, o Rei Zulu, num jogo perdido para o Fluminense. Apanhara e não revidara. Adilson estava em sua beliche em São Januário e Almir invadiu a concentração, transtornado. Partiu para o irmão e aplicou-lhe uma
surra: “Pra você aprender a ser homem e não apanhar na rua, como nosso pai sempre ensinou em Recife. E quem encostar para me impedir apanha também”. Estava presente o hercúleo miolo de zaga cuzmaltino, formado por Brito e Fontana, que batiam até no vento mas nem se mexeram.


Almir Pernambuquinho, naquele 1966, provocou a maior briga da história do Maracanã. O Flamengo perdia do Bangu por 3×0 e dava adeus ao título carioca. Almir jurou que os campeões não dariam a volta olímpica e provocou o atacante Ladeira. O pau cantou, ele bateu em muitos, apanhou e cumpriu sua promessa.

Três anos antes, Almir substituiu Pelé com a 10 do Santos. Na finalíssima do Mundial Interclubes contra o Milan no Maracanã. Resolveu provocar Amarildo, estrela do time Rossonero e que havia tomado a sua vaga na Copa de 1962. Entrou com crueldade no tornozelo do Possesso, também conhecido pela coragem. Amarildo levou a pancada e não reagiu. “Seu covarde, vou bater na sua cara, traidor do Brasil!”.

Desta vez a experiência do volante Zito conteve Almir, porque se fosse expulso, o Santos provavelmente,  não comemoraria o Campeonato Mundial. Almir foi barrado da Taça do Atlântico de 1960. Seria titular da seleção brasileira. Proibido pelos organizadores de participar da competição por ser considerado um jogador “anti-social”.

Ele e o uruguaio Martinez que haviam trocado sopapos num jogo do Sul-Americano de 1959 que virou praça de guerra. Já em 1958 Almir, então no Vasco, teria vaga na reserva de Pelé. Perdeu o lugar para o ótimo e equilibrado Dida, do Flamengo.

Almir não tinha valentia de fanfarra. Seu temperamento suicida o levou a contar detalhes do submundo do futebol à Revista Placar em 1973. Almir admitiu jogar dopado, denunciou resultados manipulados, colegas venais. Antes de concluída a série de reportagens, uma bala disparada pelo português Artur Garcia atingiu seu crânio.

Almir morreu aos 35 anos, corpo estendido na grande área do Bar Rio-Jerez em Copacabana. Almir quebrou seu script e resolveu defender artistas gays provocados pelo português na barra- pesadíssima da Galeria Alasca. Regra contrariada, Almir foi defender o Grupo Dzi-Croquetes. Uma bala e não levantou mais.


Edmundo foi um atacante sensacional. Impetuoso, driblador, goleador. Nunca jogou bem pela seleção brasileira. Fracassou na Copa de 1998. Edmundo foi dispensado do Botafogo ainda juvenil. Costumava exibir-se nu para meninas de um colégio próximo à concentração. O Vasco descobriu seu talento e na primeira partida, uma preliminar no Maracanã, vingou-se fintando meio time do ex-clube e fazendo um gol que o público aplaudiu de pé.

Imediatamente integrado aos profissionais, arrancou felino à fama. Do Vasco ao Palmeiras, o Verdão quebrou o jejum de 17 anos sem títulos sob o comando explosivo do Animal, batizado à perfeição pelo narrador Osmar Santos.

No Palmeiras, Edmundo agrediu um cinegrafista e foi preso no Equador. Agentes diplomáticos foram acionados para soltá-lo do hotel que foi seu cárcere. Saiu para o Flamengo, onde a notoriedade saltou do gramado para as páginas policiais, com o acidente de automóvel com mortes em 1995.


Edmundo passou por Santos, Corinthians, Cruzeiro, novamente Palmeiras, Figueirense, brilhou mesmo no Vasco, sua casa e seu casulo. Pelo Vasco, chamou de “Paraíba” o juiz cearense Dacildo Mourão, quando foi anulado pelo América em Natal no Brasileirão de  1997, seu clímax.

Edmundo e Almir Pernambuquinho formam um só personagem de habilidade e ebulição incessantes. Edmundo e Almir Pernambuquinho provam que o futebol também escreve, por linhas de desgraça, epílogos  de homens de pés encantados.

ANOS GLORIOSOS

por Igor Serrano


Romário, Euller, Juninho Paulista, Juninho Pernambucano, Felipe, Ramon, Pedrinho, Edmundo, Evair, Carlos Germano, Helton, Alexandre Torres, Válber, Mauro Galvão, Odvan, Jorginho, Viola, Vagner, Donizete, Luizão, Luisinho… Um Campeonato Carioca, um Rio-SP, uma Libertadores, uma Mercosul e dois Brasileiros. Qualquer vascaíno que vivenciou o final da década de 90 fica com os olhos brilhando só de escutar os nomes destes jogadores e das conquistas.

O período de 1997 a 2000 foi mágico. Em 1997, com show de Edmundo, o clube conquistou seu terceiro título nacional. No ano seguinte, como cereja do bolo das comemorações por seu centenário de vida, vieram um Carioca e o inédito título da Libertadores da América. Em 1999, um torneio Rio-São Paulo. Em 2000, a conquista da Mercosul no maior jogo da história do futebol (Vasco 4 x 3 Palmeiras, após perder o primeiro tempo por 3×0 e jogar boa parte do jogo com um a menos, fora de casa) e mais um (o quarto) Brasileiro.


Ficou com saudade, amigo vascaíno? Não fique. Thiago Correia fará você voltar no tempo. No próximo dia 06/09 às 19h, o jornalista lançará “Monumental – O Vasco de 1997 a 2000” no Bistrô Multifoco (Av. Mem de Sá 126 – Lapa – Rio de Janeiro-RJ), que conta com mais de 50 entrevistas e depoimentos de craques como Edmundo, Juninho Pernambucano, Ramon, Donizete, Antônio Lopes, Luizão, Mauro Galvão e Felipe:

– A ideia de contar essa história surgiu ao perceber a chegada dos 20 anos do terceiro título Brasileiro do Vasco, em 1997. Conquista que iniciou uma fase muito vitoriosa do clube, que foi até 2000, e que o clube não conseguiu chegar nem perto desde então. Atualmente, jovens torcedores já perguntam como era ver o Edmundo jogar, se o Felipe era tão habilidoso assim, se jogadores como os Juninhos, Pedrinho, Ramon, Romário, Mauro Galvão e companhia eram ‘isso tudo mesmo’. Estes e outros craques formaram a geração mais vitoriosa do Gigante da Colina” – declarou o autor, justificando a motivação para elaborar a obra.


Antes do lançamento, no sábado dia 02/09 às 14h, Thiago participará de debate sobre o Vasco do período abordado pelo livro juntamente com o também jornalista Camilo Sepúlveda (autor do livro “A virada do século”, sobre a inesquecível final da Copa Mercosul de 2000). O evento é uma iniciativa do Selo Drible de Letra e acontecerá no estande da Editora Multifoco (Pavilhão Azul I 01) na Bienal do Livro do RJ.

Confira alguns depoimentos do livro:

Antônio Lopes: “Em 1996, quando assumi, o Vasco estava mal para caramba, um plantel muito ruim. No fim do ano, quando terminou a temporada, preparamos um relatório para a direção mostrando a necessidade de boas contratações. Mas o Vasco estava quebrado, não tinha uma situação financeira que pudesse contratar bons jogadores. Começou 1997 dessa maneira. Nós disputamos o Estadual, depois trouxemos o Mauro Galvão sem gastar muito, conseguimos também o Evair, e começamos a aproveitar a garotada da base, tivemos que voltar as atenções para a base. E pegamos alguns de times pequenos. O time foi encaixando, foi bem, o time foi se armando, no plantel tínhamos Juninho, ainda não tinha deslanchado, o próprio Ramon, conseguimos que eles evoluíssem bastante a ponto de serem importantes, Pedrinho começou a se destacar, Felipe também. Conseguimos ganhar o Brasileiro de 1997. Aí o Edmundo foi vendido, perdemos o Evair, esses dois jogadores que foram importantes em 97, e perdemos para 98. Evair não quis ficar, preferiu ir para a Portuguesa, mas contratamos uma dupla de ataque excepcional, conseguimos o Luizão e o Donizete, e acertamos, e aí trouxemos o Vagner, e aí ficou um time excepcional, bem armado, e ganhamos em todos os anos várias competições, até em ano de centenário, o Flamengo, arquirrival, não tinha conseguido nada, e ganhamos a Libertadores. Até 2000 o Vasco ganhou praticamente tudo”.

Euller: “A primeira lembrança é aquele 4 a 3, a virada no Palestra Itália. O momento mais forte, sem dúvida, foi o momento antes de subirmos ao campo depois do intervalo. Voltamos com o intuito de mudar a situação, de reverter a história que tínhamos vivenciado no primeiro tempo. E no segundo veio a possibilidade de fazer a história. Veio aos poucos, mas veio. Mesmo com a expulsão do Júnior Baiano, sabíamos da possibilidade de virar o jogo”.

Juninho Pernambucano: “Primeira imagem que vem à minha cabeça é quando a gente ganhou em 2000, e a torcida gritava que “não é mole não, eu estou cansado de gritar é campeão”. Claro que era uma brincadeira, mas me chamou a atenção. Isso marcou aquela fase para mim. A gente vinha em uma hegemonia, a gente ganhou muita coisa, pelo menos um título por ano, também perdemos outros, estaduais, e foi um jeito de brincar com a outra torcida”.

Luizão: “A gente chegando em São Januário, jogar na Libertadores, estádio sempre lotado, foi um momento mágico na história do Vasco”.

REI DA PURRINHA

Quinta-feira é dia de recordar! Por isso, postamos um vídeo gravado pela equipe da “A Pelada Como Ela É”, de 2012, sobre Edmundo! Vocês sabiam que, além de craque dentro de campo, o ex-atacante é também um grande jogador de purrinha?

Comentarista da Band, na época, o jogador, que trabalhava em São Paulo, se desdobrava para jogar a Sagrada Pelada de Sexta, no Rio de Janeiro, comandada pelos irmãos Deio e Beto Lucena. De acordo com Edmundo, o futebol era de alto nível e apenas cinco dos quarenta inscritos não eram craques!

– No par ou ímpar pode fechar os olhos e escolher, só tem fera – garantiu Edmundo.


em pé da esquerda para a direita: Chafir, Bê Muniz, Popó, Palmer, Rodrega, Pedro Lord, Zanelli, Studart, Scott, Manga, Fera, Paulão, Robertinho (goleiro do futebol de praia), Davi, Tabajara, Andre João, Octavio e Felipe Testa. Sentados da esquerda para a direita: Fernando Velho, Edmundo, Deio e o filho João Felipe.

Além do ex-atacante da seleção brasileira, participam da pelada o músico Rogê, Robertinho, goleiro do futebol de praia, Ernane, ídolo de Vasco e Ponte Preta, entre outros.

Em relação ao jogo de purrinha, tradicional em diversas resenhas após as peladas, o craque confessou que já jogou até por telefone, quando atuava na Itália.

– O adversário não sabe, mas eu menti o número de moedinhas que tinha na minha mão!
 
 

EDMUNDO VENCE DISPUTA!

Após uma disputa muito acirrada, decidida nos últimos votos, Edmundo venceu Renato Gaúcho e foi eleito o craque da semana! Amanhã tem outro duelo de gigantes!! Confira a partida em que o atacante marcou cinco vezes e bateu o recorde de gols em um jogo do Campeonato Brasileiro!