por Jonas Santana
Não havia naquele perímetro nenhum jogador mais habilidoso que o Dirran. A bola parecia que “grudava” no seu pé e era quase que impossível pará-lo quando ele, com exímia destreza, disparava rumo à meta adversária. Era só pegar na pelota que começava o desespero dos beques (o pessoal “das antigas” sabe o que é isso) porque Dirran sempre ignorava o seu marcador, fosse pela direita ou esquerda pois, ágil como ele só, deixava o coitado do defensor “a ver navios”. E podia ser lateral, zagueiro, meio campo, não tinha problema, era só baixar a cabeça e quando se dava conta estava o nosso craque na cara do gol.
Nem Todo-Duro, zagueiro famoso pelo seu jeito delicado de tratar a bola e os corajosos que ousavam saracotear na sua frente, escapava dos dribles acachapantes que no mais das vezes deixava o oponente de traseiro no chão, pouco importando se fosse grandalhão ou técnico. Sua habilidade e visão do jogo o faziam desejado por todos os times de várzea da região.
Baixinho, atarracado, meio agalegado, pernas tortas, nem parecia o mesmo quando colocava as chuteiras Club Sul que comprou a prestação. Dirran trabalhava na fábrica e no fim de semana ganhava uns trocados defendendo um ou outro clube, sem vínculo com ninguém, embora fosse objeto de desejo de todos os dirigentes amadores que o conheciam.
Além de rápido e habilidoso, Dirran também sabia lançar como ninguém e talvez perdesse apenas para Zé Rosca (famosos pelos seus chutes de trivela). Era considerado o terror da defesa naquela época e o xodó da torcida que gritava a cada drible: ”ão, ão, ão” Dirran é seleção” numa clara alusão aos jogadores que seriam convocados para a Copa das Copas, torneio que reunia os melhores atletas de cada município numa disputa tão acirrada que até a polícia tinha que ser convocada para conter os ânimos.
E aconteceu a tão desejada convocação. Dirran e Nêrroda, outro jogador de renome na redondeza, apelidado assim por ser a antítese do centroavante tcheco, embora jogasse na mesma posição, foram chamados para a seleção do município.
E assim foi. Jogo decisivo, Dirran estava inspirado levando à loucura a torcida com suas proezas futebolísticas. E a empolgação acabou contagiando o narrador. O jogador mal podia pegar na bola que o narrador gritava seu nome. E era Dirran pra cá, Dirran pralá, que o homem acabou sendo o destaque do jogo.
Diante daquela manifestação em que o estádio todo gritava o nome de Dirran, e depois de receber o título de “melhor em campo”, cercado por microfones, o atleta só agradecia.
Ao se aproximar da beira do gramado, terminada a disputa em que sua seleção saíra vencedora, um jovem repórter corre em sua direção, admirado com tamanha homenagem. Assim a primeira pergunta foi: você tem parentes na França? Isso depois de dizer ao público que estava entrevistando o astro do dia. Antes que este respondesse tasca outra pergunta: E esse seu nome é de descendência francesa?
O jogador, vendo-se assediado e assustado responde de pronto: Não, não, sou daqui mesmo, do interior. E qual a origem desse seu nome? Sem pestanejar o atleta reponde: é que meu apelido é C* de Rã, mas como não podem falar no rádio eles me chamam da segunda parte. E seguiu para o vestiário deixando atônito o repórter.
Jonas Santana Filho, gestor esportivo, escritor, funcionário público. Apaixonado e estudioso do futebol. Jonassan40@gmail.com, Skype – jonassan50