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Dicionário dos Craques

‘VAI SE CHAMAR HÉRCULES’. E ASSIM NASCEU O BRITO DE 70

por André Felipe de Lima


O Flexeiras AC foi um time de peladas da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, que não existe mais. Mas o que pouco se comenta – inclusive no meio futebolístico – é que desse clube de peladeiros surgiram dois campeões mundiais. O primeiro foi Nilton Santos, a Enciclopédia; o segundo o zagueirão Hércules Brito Ruas, o cara que desbancou, num teste físico, o inglês Bobby Moore, o alemão Franz Beckenbauer e o italiano Gigi Riva e, com o reconhecimento oficial da Fifa, foi considerado o jogador com o melhor preparo físico da Copa do Mundo do México, em 1970.

O segredo para a estupenda forma física só revelaria muitos anos depois: uma garrafa de cerveja preta, um gema de ovo, uma colher de mel e outra de canela, tudo batido no liquidificador.

Brito despontou em 1955 e mostrava-se versátil. Quando a zaga era pouco para ele, arriscava-se no meio-campo. E foi Válter, funcionário da Aeronáutica e vascaíno fanático, quem levou Brito para São Januário. Fez um teste e foi aprovado como zagueiro.

De 1955 a 1958, o garoto cumpriu sua primeira passagem pelo Vasco da Gama. Mesmo tendo que disputar espaço com Bellini e Orlando Peçanha, donos indiscutíveis da zaga da Colina, fez parte dos elencos campeões cariocas em 1956 e em 1958.


O craque nasceu no dia 9 de agosto de 1939, na cidade do Rio de Janeiro. O carpinteiro Lenídio Ruas, pai de Brito, logo que viu o bebê pela primeira vez com incríveis cinco quilos, não pestanejou: “Vai se chamar Hércules”.

Brito foi um dos jogadores mais fortes, porém leal, do futebol brasileiro. Ao deixar o Vasco da Gama em 1958, com apenas 20 anos, seguiu para o Internacional, de Porto Alegre. Sequer encontrou tempo para vários chimarrões. Retornou ao Vasco da Gama em 1959 e por lá ficou até 1969.

E não é que Bellini esteve novamente em seu caminho? O maior zagueiro da história do Vasco da Gama e capitão da Seleção em 1958, na Suécia, estava de malas prontas para o São Paulo no início da década de 1960. Era o momento da afirmação de Brito no Vasco da Gama.

E foi o que realmente aconteceu, embora a década tenha sido um fardo para o time de São Januário, que não levantou troféu algum. Brito era, porém, o capitão do time, posto que também herdou de Bellini, e a torcida – por motivos óbvios – o chamava de “Cavalo”, apelido que marcou a sua carreira e manteve a fama de mau.

Em 1969, sem títulos na Colina, o zagueiro trocou São Januário pela Gávea, mas disputou poucos jogos pelo Flamengo. No ano seguinte, o Vasco da Gama conquistaria o Campeonato Estadual.


Teria Brito se dado mal? No único ano em que ficou no rubro-negro carioca, enfrentou a indignação dos vascaínos e, até, de torcedores do Flamengo. Deixou a Gávea em 1971, após uma áspera discussão com o então técnico Yustrich (ex-goleiro do Flamengo na década de 1930), cuja fama de destemperado era antiga.

O bate-boca começou porque Yustrich teria chamado os campeões de 1970 de “porcarias”. Mas há outras versões da insatisfação com Yustrich. Em julho, logo após o tri, Brito leu em um jornal, quando embarcara em um táxi rumo à Gávea para treinar, que perdera a posição de titular para o desconhecido Washington. “Tive de vencer muitos obstáculos para ser titular da Seleção. A imprensa, principalmente a de São Paulo, foi um. No mínimo, tive que ganhar do Djalma Dias, do Joel, do Fontana, do Scala, do Baldocchi e até mesmo do Piazza, para entrar no time. Aliás, de luta não fujo. Por isso, não culpo ninguém. O problema de escolher o titular é do Seu Yustrich. O meu, é apenas lutar por êsse lugar. E é o que estou fazendo”.

No final das contas, a revista Placar publicou como capa de uma edição de agosto uma foto de Brito com a manchete “Vende-se, Hércules Brito Ruas, 30 anos, zagueiro de área, campeão do mundo”.

A mais pura e genuína verdade. Mas os motivos que levaram a diretoria a vender o passe de Brito é que não são louváveis. Por inapetência intelectual dos cartolas, Brito, um campeão mundial, deveria ser moeda de troca para pagar ao Atlético de Madrid e ao Barcelona, respectivamente, os passes do zagueiro paraguaio Reyes e do centroavante Silva e manter Yustrich na Gávea. E foi isso o que aconteceu. O Cruzeiro depositou 365 mil cruzeiros na Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e levou Brito para Minas Gerais.

Afastado do elenco do Flamengo, treinando sozinho, Brito arrumou mala e cuia e foi para Belo Horizonte, onde assinaria contrato com o Cruzeiro para jogar ao lado de Piazza, ex-companheiro de zaga no tri, de Dirceu Lopes e de Tostão, também ex-parceiro na jornada do México.

A rixa com Yustrich parecia interminável. Nem com Brito fora do Flamengo havia paz. Faltou pouco para ambos saírem no tapa. Após o fim de um jogo do Cruzeiro contra o Flamengo, no Mineirão, que terminou 3 a 1 para o time mineiro, Brito, ao sair do gramado, xingou o Yustrich e atirou a camisa azul na direção do treinador. “Se eles não me segurassem, eu teria feito qualquer absurdo. Isto se conseguisse chegar junto do Brito, porque ele está correndo como nunca. Sem eu conseguir sair do túnel, ele correu. Imagino se eu me desvencilhasse dos policiais. Ele é tão covarde que jogou a camisa longe, cerca de 10 metros, e ela caiu na pista. Nem no túnel ela chegou. Mas eu achei uma indignidade com o Flamengo, com a sua torcida – bem grande e que tomava parte das arquibancadas. Por isto, fiquei revoltado. Se eu entro em campo, não sei o que seria dele agora”. Brito sentira-se, contudo, vingado: “Era isso que eu precisava: humilhá-lo publicamente, como ele fez comigo. Pena que o jogo não tenha sido no Maracanã. Lá teria mais gente, a torcida do Flamengo é enorme.”

A estada em Minas, porém, também durou pouco. O Flamengo ainda era dono de seu passe, mas o presidente André Richer não o queria de volta pelo fato de Yustrich ainda ser o técnico do time. Brito, então, retornou ao Rio de Janeiro, mas agora para defender o Botafogo, mas já não era mais o zagueirão de outrora. E, a paciência também parecia ter ficado no passado.


Após agredir com um soco no estômago o árbitro José Aldo Pereira, que marcara um pênalti a favor do Vasco da Gama, em jogo realizado no dia 31 de outubro de 1971, Brito foi punido pela antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), com um ano de suspensão, pena abrandada semanas depois para seis meses. O Vasco da Gama venceu de 1 a 0 e a imagem de Brito perante a opinião pública ficou manchada. Dizia que somente o então presidente Emílio Garrastazu Médici é quem poderia livrá-lo do problema com a Justiça. Pegou mal…

Cumpriu a pena e percebeu que não havia mais ambiente para ele no futebol carioca. Aliás, a derrota do Botafogo na final com o Fluminense ficara entalada em sua garganta.

Décadas depois, comentou o episódio que envolveu José Aldo Pereira motivo de sua condenação: “O pênalti foi uma vergonha. Olhei para ele, que me deu uma risada de deboche. Não aguentei e dei um gancho que pegou na barriga dele. Aí, gritei. ‘Isso é para você tomar vergonha na cara”.


Em agosto de 1974, já com 35 anos e poucos cabelos, recebeu do Corinthians uma proposta salarial de 11 mil cruzeiros mensais. Para a época, algo irrecusável. E lá foi Brito jogar ao lado de Rivellino para tentar tirar o Timão do amargo jejum de 20 anos sem títulos estaduais.

Tudo parecia seguir um rumo certo. O time do Parque São Jorge conquistou o primeiro turno e garantiu vaga na decisão. Mas a carruagem viraria abóbora na tarde do dia 22 de dezembro de 1974 diante do Palmeiras, de Ademir da Guia, Dudu, Luis Pereira e Leivinha, e dos 120 mil torcedores que lotaram o estádio do Morumbi. Enquanto os craques palmeirenses vibravam no gramado, Brito, o velho herói de seu Lenídio, mostrou por que recebeu o nome de Hércules. Tinha vergonha na cara e foi chorar no chuveiro do Morumbi, uma das derrotas mais dolorosas para a história do futebol do Corinthians.

Após a perda do título, a diretoria do Corinthians decidiu que deveria priorizar os mais jovens do elenco. Nem precisa pensar muito para saber que Brito, já com 35 anos, estava fora dos planos do Timão; ademais, tinha passe-livre e sua contratação foi apenas para a disputa do Campeonato Paulista.

O período em que Brito esteve no Parque São Jorge foi gratificante. Fez amizade com funcionários, especialmente os mais humildes. Morou alguns dias com o amigo (lateral-direito) Zé Maria e até caçou passarinhos com Rivellino e o goleiro Ado. Cinco meses muito bem vividos no clube.

E a torcida reconheceu isso. Brito marcou gol contra, chorou e jogou com uma garra digna das palmas de cada corintiano que o assistia nos estádios. Brito é do tipo daquele jogador que toda torcida gosta de ver, sobretudo a do Corinthians. 

“A torcida, por exemplo, me aplaudiu e deu provas de um carinho que nunca tinha encontrado na minha vida. Nesse tempo de Corinthians, aprendi a amar a torcida e o clube, e até me adaptei a São Paulo, o que todo carioca acha impossível”. Para os jogadores, Brito era uma espécie de pai e conselheiro. Rivellino, por exemplo, com quem Brito foi parceiro de Seleção, na Copa do Mundo de 1970, dizia que o zagueiro era o único que podia gritar com todos em campo sem ser mal interpretado.

Os sambas que cantarolava no clube e na concentração fizeram falta. Era Brito quem, antes de cada jogo, acendia velas para São Cosme e São Damião. Sua fé nos santos também valia para proteger os companheiros. Rivellino, por exemplo, estava prestes a ser julgado pela justiça desportiva. Brito não se fez de rogado e fez promessa aos santos para que o amigo “Curió” fosse absolvido. “Sempre fui pobre, todos sabem disso. Nunca escondi que não preciso de dinheiro para viver como gosto. Nunca faço aquilo que não gosto de fazer. Eu sou assim mesmo”.

Brito jamais soube ao certo os motivos que levaram a diretoria a não renovar seu contrato. Especulava-se que o pessoal do departamento de futebol ficou indignado com o fato de Brito ter bebido uísque com Rivellino e Zé Maria até quatro da manhã, na casa de Riva, na noite em que ele foi absolvido pelo Tribunal de Justiça Desportiva da agressão ao bandeirinha Mário Molino. Mas havia gente que afirmava ser o treinador Pirillo o óbice para que Brito permanecesse no Corinthians. A trajetória do zagueiro campeão do mundo no Alvinegro foi marcada por apenas 29 jogos, 12 vitórias e sete empates, com um gol contra.

Brito já não era nenhum garoto. Com 40 anos, ainda tentou uma passagem pelo Atlético Paranaense, em 1975. No mesmo ano, esteve no Les Castors (de Montreal, Canadá) e no Deportivo Galicia (Venezuela). De 1976 a 1978, esteve no Democrata, de Governador Valaladares (MG), encerrando a carreira em 1979, no River AC, do Piauí.

Para a Seleção Brasileira, Brito foi convocado pela primeira vez como titular em 1964, na Taça das Nações. Até 1972, esteve sempre na lista de convocados. Durante as eliminatórias para a Copa do México de 1970, era uma das “feras” nas listas de João Saldanha. Zagallo assumiu o comando da seleção e manteve Brito, que havia deixado o Vasco da Gama poucos meses antes da Copa, na zaga tricampeã.

Além do “caneco”, Brito conquistou um título particular. Foi considerado o jogador com o melhor porte físico da Copa por uma junta médica. A faceta rendeu-lhe um mimo do então presidente da República, o general Emílio Garrastazu Médici, o título de comendador… Comendador Hércules Brito Ruas, ou, simplesmente, o “Zagueiro Saúde”, para a torcida.

E teve mais conquista em 1970. Brito ganhou a Bola de Prata da revista Placar. O craque disputou 60 jogos com a Amarelinha. Venceu 45 e empatou 10 e só assumiu a vaga de titular em 1970, porque João Saldanha foi dispensado pela CBD, caso contrário Djalma Dias seria o titular.

O zagueiro fez fama também pelo seu bom humor. Na concentração, era insuperável. Entre mitos e histórias reais, Brito telefonava da concentração no México para o seu cachorro que, do outro lado da linha, respondia em latidos intermitentes. Impossível não cair na gargalhada.

Além da gracinha canina, Brito também era um contador de piadas. Para ele, uma boa cachacinha e samba (preferencialmente da querida União da Ilha do Governador, Mangueira ou Imperatriz Leopoldinense) o deixavam feliz. 

O zagueirão também quase deixa uma bola importante passar por ele. Perdeu a hora do casamento. Se foi capaz de esquecer o matrimônio, não esqueceria um grande amigo: Garrincha.

Por Mané, Brito intercedeu para que o ponta, que já estava em estado avançado do alcoolismo, treinasse no Vasco da Gama. Gentil Cardoso que, curiosamente, foi o primeiro treinador da carreira de Garrincha, dirigia o Vasco da Gama naquela ocasião. E foi franco com o craque ao dizer-lhe que não havia como aproveitá-lo no time principal. Mas, talvez por gratidão e reconhecimento, ofereceu-lhe uma vaga em um time misto do Vasco da Gama que jogaria em Cardoso, interior de São Paulo. Nada mais.


Até com pouco mais de 50 anos, sempre manteve a forma com diárias corridas de oito quilômetros, todas as manhãs. Quando era jogador, usava coletes de chumbo e roupão. Perguntavam se estava louco, mas o fato é que Brito corria mais que qualquer outro em campo.

Brito deixou o futebol e fez cursos para treinamento de times de futebol na Federação Canadense. Dirigiu, entre outros clubes, o Bonsucesso, o Ceilândia e o Sampaio Corrêa. Também esteve na Arábia Saudita, onde dirigiu o Riad Club até o início da guerra do Golfo Pérsico, em agosto de 1990.

Mas o ápice foi mesmo em 1982, quando comandou o Cruzeiro. Trabalhou algum tempo no projeto do já falecido empresário Arthur Sendas, o Sendas Esporte Clube, para crianças carentes, que existiu até 2011.

Brito jamais abandonou a Ilha do Governador, onde vive até hoje, fazendo o que mais gosta depois do futebol: pescar. Melhor ainda se for bem cedo, às cinco da manhã, e na companhia dos netos. Pescar, aliás, sempre foi o melhor “calmante” do craque. “Quando os caras estão nervosos, lembro o ditado: ‘Tá (sic) nervoso, vai pescar’. Eu mesmo quando pesco penso na vida, reflito. Tenho muito medo de morrer. Deus me livre, a vida é muito boa, né!”.

Palavras do eterno e imortal “Comendador da Zaga” e tricampeão mundial.

***

O texto acima integra a “Letra B” (segundo volume) da enciclopédia Ídolos – Dicionário dos Craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias, cujo lançamento será ainda neste semestre pela Livros de Futebol.com.

‘NÃO HOUVE ANTES DE ZITO, NÃO EXISTE DEPOIS DELE’

por André Felipe de Lima


Pelé pegou a pelota, driblou um, driblou dois, três e ficou cara a cara com o goleiro Mão de Onça, do Juventus. A torcida se levantou na arquibancada. Gol certo do Santos, mas Pelé perdera o gol feito. Enfeitara a jogada para atender a uma equipe de cinegrafistas postada atrás do gol e pronta para capturar as cenas mais plásticas para o filme da vida do Rei. Inconformado, o líder do time, o volante Zito, correu na direção de Pelé e sem parcimônia apontou-lhe o dedo no rosto: “Chega de palhaçada, crioulo! Vamos jogar sério!”. Um humilde e titubeante Pelé respondeu: “Mas, Zito, estamos ganhando de 2 a 0, e eu…”. Zito sequer esperou o Rei completar a desculpa: “Não quero saber de quanto estamos ganhando. Trate de jogar sério e marcar quantos gols puder”.

Pelé abaixou a cabeça e acatou a ordem do Zito. Não havia no time quem não acatasse. Zito foi o maior líder que o Santos teve e um dos maiores ídolos da história do futebol brasileiro. Fazia na seleção brasileira o mesmo que na Vila Belmiro. Todos ouviam. Deu tão certo o estilo que o Brasil, com Zito em campo, conquistou duas Copas do Mundo (1958 e 62).


Ganhar era pouco para Zito. Ele sabia que seus times eram poderosos. Exigia marcadores elásticos. Goleadas inigualáveis. Recordes de gols. Pepe, o segundo maior artilheiro da história do Santos, foi um dos que temia as homéricas broncas do Zito. Assim o descreveu o maior ponta-esquerda alvinegro de todos os tempos: “Zito chegava a ser cruel. Seus gritos eram ainda mais fortes e marcados pelo desprezo.”


Para Zito, raça jamais foi sinônimo de violência, mas gritava à beça também com os juízes. Acabou expulso algumas vezes. Umas trinta, talvez. Foi com esse estilo, digamos, viril ao extremo, que marcou uma época de ouro no clube que defendeu de 1952 a 1968. “Não houve antes de Zito, não existe depois dele. Não existe agora e ninguém sabe quando aparecerá um estimulador de time, um transmissor de ânimo, um orientador tão hábil e tão enérgico, um comunicador de tão absoluto equilíbrio”, escreveu sobre ele o cronista e santista fanático Adriano De Vaney.

Zito levantou uma penca de troféus. Além das duas Copa do Mundo (1958 e 1962), ajudou ao Santos nas conquistas do Mundial Interclubes (1962 e 1963); da Taça Libertadores da América (1962 e 1963); do Campeonato Paulista (1955, 1956, 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968); da Taça Brasil (1961, 1962, 1963, 1964 e 1965) e do Torneio Rio-São Paulo (1959, 1963 e 1964).


Mas um fato curioso marcou a vida desse ídolo santista, como o próprio Zito declarou a Bernardo Buarque de Hollanda e a José Paulo Florenzano, em entrevista para o projeto Futebol, Memória e Patrimônio, da FGV: “Não tinha outro jeito, tinha que acompanhar pelo rádio. Engraçado que a gente pegava mais o Rio do que São Paulo, e eu era palmeirense naquela época, garoto, garoto escolhia: “eu sou palmeirense, sou são paulino, sou isso, aquilo”, na época eu era palmeirense, coube para mim, não é? Mas depois você vai crescendo, vai mudando”. E Zito mudou muito. Tornou-se um dos santistas mais convictos e juramentados. Igual a ele, jamais.

Hoje, dia 8 de agosto, o inesquecível José Eli de Miranda, o incomparável Zito, faria anos.

VELUDO QUERIA UM FILHO CENTROAVANTE. NÃO DEU TEMPO

por André Felipe de Lima


O bairro da Saúde, na zona portuária do Rio, presencia hoje merecida revitalização. Foi lá, nos tempos em que foi reduto da boemia e da malandragem carioca, em que nasceu no dia 7 de agosto de 1930 o cidadão Caetano Silva, que anos depois ficaria conhecido como Veludo, apelido que recebeu em 1947 do escritor e imortal da Academia Brasileira das Letras Otávio Faria. Foi com o mesmo apelido que se consagrou no futebol brasileiro, especialmente no Fluminense. Foi, sem dúvidas, mesmo sendo a “sombra” do magistral Castilho, um dos melhores goleiros da história do Tricolor. Tanto é verdade que o seu talento, mesmo sendo reserva de Castilho, garantiu-o na seleção brasileira que embarcou para a Suíça, sede da Copa do Mundo de 1954. “Não ganhei nada com o futebol, apenas injúrias”, lamentava-se no final da carreira. A amargura teve começo, meio e fim. Era, portanto, justificada por uma vida muito difícil antes mesmo de o futebol entrar em sua vida.

Veludo perdera o pai ainda bem pequeno e teve, ainda adolescente, de trabalhar na estiva para sustentar a mãe, dona Joana, e os irmãos Jerônimo, Paulo Roberto, Neusa e Júlia. Ora carregava sacos mais pesados que o próprio corpo, ora era o goleiro titular do Harmonia, time de peladeiros da Saúde. Na final do campeonato de peladas do bairro, contra o Atilia, um camarada conhecido como “Espanhol” insistiu para que Veludo fosse com ele às Laranjeiras para um teste. Veludo foi. Newton Cardoso, que era o técnico dos juvenis, gostou dele. Ficou por lá mesmo.

Orgulhava-se apenas do filho Anselmo Perdomo Silva. Jamais da carreira. Tinha verdadeira paixão pelo menino. “Quero ser jogador do Flamengo”, dizia o garoto para o pai. “Seja centroavante, meu filho. A posição de goleiro não é mole”, aconselhava sabiamente Veludo.

A vida sorriu marota para o grande goleiro. E isso é verdade. Viveu o céu e o inferno. Negro, sofreu com o preconceito. Superava isso com a bravura nos gramados. Um genuíno herói. Fora dele, era sempre muito mais difícil lidar com os graves e hipócritas desníveis sociais. Jamais soube lidar com esse injusto e imoral desafio, que representa o racismo.

Igualmente grande escritor como Otávio Faria, Luis Fernando Veríssimo esboçou uma digressão sobre o racismo de que fora vítima Veludo: “Cresci ouvindo dizer que o melhor goleiro do Brasil era Veludo. Reserva do Castilho no Fluminense e tão bom que era reserva do Castilho na seleção. Só não era o titular, diziam, porque era negro […] estereótipos racistas sobre agilidade e elasticidade até favoreciam uma tese inversa, a de que o negro mais confiável do que o branco no gol. Mas quando o Barbosa deixou passar aquela bola de Ghiggia, em 50, o preconceito, até então disfarçado, endureceu e virou superstição.”

Veludo sofreu talvez até mais que Barbosa com racismo tupiniquim. Mergulhou em profunda depressão no começo dos anos de 1960. Decidiu abandonar tudo em 1963, quando jogava no Renascença, de Belo Horizonte. Didi e João Saldanha chegaram a convidá-lo para treinar no Botafogo. Mas era tarde demais. Veludo fora engolido pela atormentada alma.

O amado filho jamais teve tempo de responder ao pai em que posição decidira efetivamente jogar. Veludo, vítima da diabetes, acentuada por conta do alcoolismo, não resistiu. Castilho, de quem foi grande amigo, presidia a Fundação Garantia do Atleta Profissional (Fugap). Ajudou-o com internações e o acompanhou até o fim, em outubro de 1970.

Partira Veludo para o andar de cima. Mas deixou uma história singular. Foi um ídolo, e como todos os grandes, merecidamente amado e injustamente odiado. Um gigante do futebol e uma personagem singular que nem mesmo o mais trágico dos poetas ousaria entortar a prosódia ao decantá-lo em prosa e verso. Veludo tem história.

SIRI, MOLECAGEM, PELADA E UM CAMISA 10 GENIAL!

por André Felipe de Lima


O Santos apenas se preparava para iniciar a disputa do Campeonato Paulista. Era agosto de 1978. O time era talentoso, porém uma incógnita. Na escalação, figuravam nomes relativamente desconhecidos. Todos muito jovens. Dentre os meninos, um se destacava e vestia justamente a camisa mais sagrada da história do futebol mundial: a de número 10, do Rei Pelé. Os torcedores alvinegros debruçavam-se com cara de sonho e olhar para o futuro. Sabiam que ali, na Vila Belmiro, não despontavam mais os ídolos de outrora. Não havia mais Zito, nem Mengálvio. Tampouco Dorval. Nem Coutinho ou Pelé. Pepe ou Gilmar? Iguais a todos eles, certamente nunca mais. Havia, contudo, esperança naqueles homens indefectivelmente vestidos de Santos empoleirados na grade que cercava o campo. Miravam aquele menino magrelo, convictos de que o futuro seria generoso com eles. O garoto tinha uma classe que mais lembrava outro camisa 10 famoso, mas o do rival Palmeiras. Sim, o meia-esquerda Edivaldo de Oliveira Chaves, que todos chamavam de Pita, sempre esteve mais para Ademir da Guia que para o Pelé.

Humilde, o mirrado Pita, que morava na concentração do clube, sabia, no entanto, que sobre seu ombro pesava uma missão, e que jamais deveria decepcionar o séquito que o acompanhava em todos os treinos, em todos os jogos daquele Santos que nascia para fazer do clube novamente um gigante. “Penso sim em me tornar ídolo, pois todo jogador pensa assim”. Personalidade não lhe foi negada pelo destino. Havia um ídolo santista que o apoiava, que apostava no garoto Pita. Clodoaldo não cansava de aconselhá-lo. “Não caia em farras, menino!” ou “Nada de cigarros. Vê lá, garoto!”, dizia sempre ao Pita. “Quando venho treinar de manhã, com os olhos fundos, ele fica falando: ‘Chega tarde em casa e agora não quer correr, né?’”. Clodoaldo sabia (e muito!) o que estava fazendo.

Pita não era bobo. Além dos conselhos do Clodoaldo, ouvia os do velho João Albuquerque Chaves, ou “João da Fazenda”, que jogara como volante no Náutico em 1946. O carinhoso pai alertava-o para que não tivesse medo de cara feia ou da fama dos adversários. Afinal, o coroa era o melhor pai do mundo que o Pita poderia ter. João tinha imenso orgulho do filho.


Foi assim que a camisa 10 do Pelé passou para Pita, quando tinha apenas 19 anos. E, quem diria, foi um cracaço argentino o primeiro perceber o talento inato no jovem menino, que nascera em Nilópolis, na Baixada Fluminense, no dia 4 de agosto de 1958. Ora, argentino, porém ídolo santista, igualmente ao severo protetor Clodoaldo. Estava tudo em casa. Com toda a manha milongueira, Ramos Delgado tinha olhos de ver para além do normal. Enxergava onde poucos viam. Foi assim com Pita. Ele o viu jogando e logo percebeu que ali, diante dele, encontrava-se um dos diamantes mais preciosos da Vila Belmiro após a Era Pelé.

O Santos embarcara para a terra do Ramos Delgado, que naquele instante era o técnico do time. Na agenda, alguns amistosos. Para o refinado menino Pita chegara a hora da verdade. Delgado acreditou nele e o mandou a campo contra um time de Salta e o Talleres de Córdoba. Deu tudo certo. Jogou demais. Voltou ao Brasil, pegou o Flamengo pela frente, no Pacaembu, e ganhou em definitivo a sagrada 10. O também canhoto Ailton Lira perdera, portanto, a vez no time do Santos.


Pita jamais teve vida fácil. Nasceu na Baixada Fluminense, mas foi morar ainda pequeno, com a família, no litoral paulista. No acostamento da Via Anchieta, trabalhava, ainda menino, como vendedor ambulante. Ele em pé, com um arame no qual havia pendurados siris. Vendia-os, escondido da mãe, para os desavisados turistas que pela estrada passavam rumo à praia ou que faziam a mão inversa, regressando para a Paulicéia. Pita era um menino levado. Vendia por farra. Queria apenas uns trocados para o guaraná e o cinema. Mostrava-se prestimoso. Oferecia-se aos clientes para colocar o siri no porta-malas. E quem disse que cumpria o combinado? Os trouxas motoristas voltavam para São Paulo sem siri e sem dinheiro. Ao contrário do Pita, que descia a estrada feliz da vida com a grana no bolso e os siris a tiracolo. Nenhum motorista jamais voltou para dar uma coça no garoto magrelo e malandro. Com 13 anos, acabara a fase aventureira com os crustáceos e a bola roubava Pita para si. Paixão à primeira vista, que se transformaria em amor eterno, com um correspondendo indistintamente ao carinho do outro. A bola e o Pita. Pita e a bola.

Nas areias de Santos, a pelada rolava solta e Pita era a estrela do Casqueiro, time do humilde bairro Jardim Casqueiro, em que morava, em Cubatão. Dali, a Portuguesa Santista o levou. Após dois anos, o juvenil do Santos passou a ser sua morada. O que poucos sabem é que trocou de clube não pelo fato de jogar futebol no time que foi um dia de Pelé, mas sim porque na Vila davam ao pobre menino Pita passes de ônibus de ida e de volta para casa. A necessidade era mãe da vontade. Se a primeira fosse correspondida, a segunda nasceria.

A vida de Pita não foi fácil. A família era muito humilde. O sustento vinha de um modesto botequim do pai. Mas Deus e o talento que ostentava reservaram ao moleque um destino exitoso. “A bola ficou com o Pita e eu fiquei com os cálculos”, dizia o velho João da Fazenda. Em 1977, já estava entre os profissionais. Brilhou para o treinador Formiga, em 1978/79, quando o introvertido Pita comandou os famosos “Meninos da Vila” e resgatou ao autoestima santista ao conquistar o Campeonato Paulista de 78, cuja decisão só aconteceu em junho do ano seguinte. “Hoje quem não é santista em Casqueiro, é ‘sampita’. O corintiano, o palmeirense, o são-paulino. Todos torcem pelo Pita”, asseverava o pai do craque.

Seus lançamentos eram impressionantes. Lembrava Gerson, o “Canhotinha de ouro”, nos momentos mais sublimes em campo, quando colocava até mesmo um bode cego na cara do gol. “Olha, eu sou sincero: não treino lançamentos. É uma coisa que eu trago comigo desde os tempos dos juvenis. Sempre gostei de lançar.”

O maestro Pita comandaria o Santos até meados da década de 80. Antes de trocar a Vila Belmiro pelo Morumbi, Pita levou o time da Baixada Santista ao vice-campeonato do Paulistão de 1980 e ao vice-campeonato brasileiro de 1983, quando time se descontrolou em campo e facilitou a vida do Flamengo. “Chegou a hora de sair do Santos. A proposta do São Paulo é excelente, significa a minha independência financeira”. Gostava do Santos. Estava há 11 anos no clube. A torcida, embora Pita pedisse compreensão, não tolerou perdê-lo. Nos muros da Vila Belmiro, pichavam que “Pita não faz igrejinha”.


Em 1984, Pita chegava ao Morumbi, numa negociação em que o São Paulo cedeu ao Santos o ponta-esquerda Zé Sérgio e o volante Humberto. Igualmente na Vila Belmiro, Pita tornou-se ídolo no Morumbi. O tricolor montou um timaço, que tinha como cérebro o grande Pita. O maestro. O melhor camisa 10 que o Santos teve… depois do Pelé, claro.

DINO DA COSTA, O PRIMEIRO BRASILEIRO ARTILHEIRO DO CALCIO

por André Felipe de Lima


Dino da Costa foi o primeiro brasileiro a se consagrar no “Calcio” (como chamam o futebol na Itália) ao se tornar artilheiro do Campeonato Italiano, quando marcou 22 gols com a camisa da Roma na temporada 1956/57. O centroavante nasceu no Rio de Janeiro em 1º de agosto de 1931. Das peladas nas ruas da Penha, na zona norte do Rio, em um clube do mesmo bairro em que morava, para os juvenis do Botafogo, em 1947, deu os seus primeiros passos no futebol.

Quem o levou a General Severiano foi seu tio Rogério. Quando chegou ao time de aspirantes, Dino teve sua primeira chance entre os profissionais graças ao técnico Pirillo, craque de bola em passado ainda mais remoto, vestindo as cores do Internacional, do Peñarol, do Flamengo e do próprio Botafogo. A estreia aconteceu durante a vitória de 3 a 0 sobre o Madureira, no dia 14 de abril de 1951. No jogo, Dino marcou dois gols. Ele e o ponta-direita Joel, que trocaria General Severiano pela Gávea numa das transações mais polêmicas do futebol carioca do início dos anos de 50, tinham acabado de sair do time de aspirantes.

Mais tarde, sob o comando do folclórico técnico Gentil Cardoso, garantiu a vaga de titular e, de quebra, foi renovando contratos vantajosos a ponto de conquistar um salário de onze mil cruzeiros mensais, em fevereiro de 1955. Estava a meses, portanto, de ter o passe negociado ao futebol italiano.


Dino partiu, mas deixou bons investimentos com o que ganhou no Botafogo. Comprou três terrenos no interior do Estado do Rio de Janeiro. Foi, contudo, no campo de futebol suas mais significativas conquistas. Dino da Costa consagrou-se como artilheiro do Campeonato Carioca de 1954, com 24 gols, jogando sempre pelo Botafogo, único clube que defendeu no Brasil antes de se transferir para o futebol italiano.

Embora desejasse ser artista de rádio, um anseio de muitos jovens de sua época, a vocação para o futebol era latente e a de goleador simplesmente espantosa. Que o digam os rivais do Botafogo. No tradicional clássico “Vovô”, contra o Fluminense, Dino da Costa marcou 11 gols, marca que o posiciona em segundo lugar, atrás apenas de Heleno de Freitas, na lista de artilheiros alvinegros contra o Tricolor. Frente ao Flamengo assinalou seis vezes e contra o Vasco, sete. Apesar da excelente performance diante dos rivais, Dino confessou ao repórter Isaac Cherman, em 1955, que o Botafogo era “clube mais azarado do Brasil”.

Após uma excursão à Europa em 1955, a diretoria do Fogão vendeu, além do próprio Dino da Costa, que passou a vestir a camisa da Roma, seus outro excelente atacante, o craque Luiz Vinícius de Menezes, conhecido como “Leão de General Severiano”, que seguiu para o Napoli. Com o passe de Dino e Vinícius, o Botafogo embolsou 10 milhões de cruzeiros, o equivalente a 50 mil dólares na época.


O último jogo de Dino da Costa pelo Alvinegro aconteceu no dia 9 de julho de 1955, em Praga, na vitória de 1 a 0 [com gol de Vinícius] sobre o Dínamo. Dino vestiu a camisa do Botafogo em 176 partidas e marcou 144 gols, sendo artilheiro também do torneio Rio-São Paulo de 54, com sete gols.

As negociações dos passes de Dino da Costa e Vinícius renderam uma fortuna ao clube, mas também uma grita incessante dos torcedores. No primeiro jogo, contra o Vicenza, no dia 18 de setembro de 1955, Dino da Costa marcou um gol na goleada de 4 a 1 da Roma sobre o Vicenza, clube em que seu ex-companheiro de Botafogo jogaria na década seguinte. A torcida Alvinegra ficou revoltada, e não era à toa, já que ao fim da temporada italiana de 1956/57 Vinícius foi o segundo artilheiro, com 18 gols, atrás apenas de Dino, que assinalou 82 gols pela Roma em 163 jogos, incluindo os da Série A, disputados entre 1955 e 1960.

Dino da Costa permaneceu no futebol italiano, onde também se destacou na Fiorentina, pela qual disputou 30 jogos e marcou oitos gols, e no Atalanta, com 52 jogos e 18 gols, de 1961 a 63. Rodou por vários clubes da “vecchia bota”, vestindo as camisas da Juventus, pela qual marcou 12 gols, Hellas Verona e Ascoli, último clube da carreira, na temporada 1967/68. De 1955 a 1968, o desempenho do jogador brasileiro na Série A do Campeonato Italiano foi extraordinário: marcou 108 gols em 282 jogos.

Cidadão brasileiro, porém oriundi, Dino da Costa obteve a dupla nacionalidade e chegou a entrar em campo uma vez pela Squadra Azzurra. O jogo aconteceu no dia 15 de janeiro de 1958 e a Itália perdeu de 2 a 1 para a Irlanda do Norte, com um gol dele, o implacável Dino da Costa. Mas o jogo valia muito. Era decisivo para ver quem iria à Copa do Mundo de 1958, a ser realizada na Suécia. Foi a última vez que a Itália ficou fora de uma Copa. Dino formou o ataque da Azzurra com outros dois grande nomes do futebol sul-americano, os uruguaios (e oriundi como ele) Alcides Ghiggia e Juan Alberto Schiaffino, que nos fizeram chorar na final da Copa de 50, no Maracanã.

Quando encerrou a carreira nos gramados, o ex-atacante do Botafogo ingressou imediatamente em outra profissão que não lhe afastasse do futebol: a de treinador.
Poucos ainda se recordam do craque Dino da Costa no Botafogo, mas o goleador é considerado um dos maiores artilheiros da história do Fogão e incontestável ídolo da história da Roma.

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A biografia de Dino da Costa consta do quarto volume (de um total de 18), a Letra “D”, da enciclopédia “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, que será lançada no primeiro semestre de 2018, pela Livros de Futebol.com. Ainda este ano, disponíveis no mercado os dois primeiros volumes, as letras “A” e “B”. Aguardem!