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Coritiba

CORITIBA 1973

por Marcelo Mendez


Para que se entenda a grandeza desse time se faz necessário uma viagem no tempo, um tempo outro.

Era um Brasil cujo Campeonato Brasileiro ainda era imberbe, as linhas aéreas e suas conexões eram precárias, o Brasil, assim como é hoje, era uma país enorme de proporções continentais cujas fronteiras não eram estreitadas pela tecnologia que há hoje, que nos aproxima.

Era um Brasil onde o Sul era bem longe das capitais, como cantou um outro.

Dessa forma, um campeonato pensado para reunir os times de maior torcida do País acabava por ter um ônus de grandiosidade considerável. Assim se fez o “Torneio do Povo” em 1973. E o Esquadrões do Futebol Brasileiro vem para contar a história do time que venceu esse campeonato.

Com vocês, o Coritiba de 1973.

A formação desse timaço passa sem dúvida pela chegada do treinador que por lá esteve. Elba de Pádua Lima, o Tim, Mestre de todos os Técnicos, conhecedor profundo das táticas e das mumunhas da bola, baixou no Couto Pereira e por lá montou um baita de um time de futebol.


Pegou um time que vinha de um bicampeonato estadual, havia sido quinto colocado no Brasileirão de 1972 e estava pronto para conseguir dar um salto maior em sua história. Começou o treinamento a escolha dos jogadores que formariam a base para o time:

Jairo, Orlando, Oberdan, Pescuma Claudio Marques e Nilo. Dreyer, Negreiros, Sergio Roberto, Tião Abatiá, Leocádio, Zé Roberto, Dirceu, Aladin… Não havia mais porque ter dúvidas; O Coxa tava pronto e o Torneio do Povo iria provar isso…

O Coxa voava no campeonato!

Vitórias parrudas em cima de Flamengo, Atlético Mineiro, Bahia, segurando o Corinthians em dois jogos que foram duas guerras e a classificação para a segunda fase onde o Coxa também nadou de braçada. Tanto, que na partida contra o Bahia em Salvador, jogava por apenas um empate para conseguir o primeiro titulo nacional para o um time do Sul do País.

Outra guerra!


Uma pancadaria na Fonte Nova, custou ao Coxa dois jogadores a menos; Claudio e o Capitão Hidalgo, expulsos. Ainda assim, o time vencia por 1×0, gol de Aladim e se manteve o quanto pode. Até que num pênalti mandraque, o Bahia empatou e foi com tudo pra cima do Coxa.

Não adiantou.

Com o 1×1 no placar final o Coxa sagrou-se campeão do Torneio do Povo. Um título de retumbância tamanha, que fez com que o Coritiba mudasse até o seu hino para incluí-lo. Anos depois, Tim viria a dizer que tinha sido um dos melhores times com quem já trabalhou e aqui, fazemos a devida homenagem.

Coritiba de 1973, bem-vindo ao ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO.

LELA, O SORRISO MAIS ALEGRE DO FUTEBOL BRASILEIRO

por André Felipe de Lima


Alegria tem sinônimo. E assinatura. Chama-se Reinaldo Felisbino, mais conhecido como Lela. Hoje, dia 17, é aniversário do pai dos jogadores Alecsandro (ex-Vasco, Flamengo e Palmeiras) e do Richarlyson (campeoníssimo pelo São Paulo).

Lela é um dos maiores ídolos da história do Coritiba. Nasceu em Bauru, em 1962. Foi um ponta-direita com dribles curtos, igualmente às pernas, bem curtas. E, como diz o ditado, “Mentira tem pernas curtas”, o apelido “Mentira” inevitavelmente pegaria. Mas Lela era uma festa ambulante. Alegria mesmo. Piadas como essa jamais o incomodaram.

Lela foi o ponta-direita do Coritiba naquele que é o maior título da história do clube, o Campeonato Brasileiro de 1985, conquistado no Maracanã, após a antológica final contra o forte time do Bangu.


Na campanha vitoriosa, Lela tinha apenas 23 anos e chegou ao Coxa dois anos antes, após uma troca por Leomir, que foi para o Fluminense. Mas o destino seria muito bacana no Alto da Glória. Na reta final do campeonato nacional, marcou um gol aos 42 minutos que valeu a classificação, na vitória de 2 a 1 sobre o Santos. Contra o Corinthians foi novamente decisivo e marcou o gol da vitória de 1 a 0. Fez o mesmo nos jogos seguintes, contra o Joinville (2 a 1 e 1 a 0).

Na final do Maracanã, Lela converteu o pênalti na decisão, sem chance para o goleiro Gilmar. O gol que igualou em 4 a 4 a série no Maracanã. Depois Ado perdeu e Gomes selou o título.

Inesquecível Lela, o sorriso mais alegre do nosso futebol!

UM POUCO DE CADA CAMISA 10 GENIAL BROTOU NO ALEX

por André Felipe de Lima


Desde pequeno, entre uma e outra pelada pelas ruas de Colombo, cidade próxima à Curitiba, Alex convencera-se de que seu destino era o futebol. Não sabia ao certo se gostaria de jogar bola na grama. A predileção era o asfalto. Mesmo assim, gostando ou não dos gramados, foi nele que se tornou ídolo de três grandes clubes brasileiros e de outro gigante do futebol turco.

Alex nasceu em Curitiba, às 2h20 do dia 14 de setembro de 1977, na Maternidade Santa Brígida, mas seguiu com os pais para Colombo ainda bem pequeno. Cresceu jogando bola nas ruas próximas à sua casa.


Enquanto os pais iam trabalhar, a zelosa avó materna cuidava do menino, para o qual a vida mostrava-se hostil. Toda a família vivia uma intensa dificuldade financeira. Alex, que muito aprendera com a luta dos pais, jamais percebera o vaticínio da certidão de nascimento: a corruptela do nome [Alexsandro de Souza] tem quatro letras. E quatro letras recheiam nomes [ou apelidos] de craques famosos, igual ao Dida, ao Pelé, ao Pita e ao Zico, principal espelho de Alex. “Esse é o meu ídolo”, dizia aos colegas, como se ele mesmo fosse o Zico. Em verdade vos digo: um pouco de cada um destes geniais camisas 10 renasceria em Alex.

Muita gente só se convenceria disso alguns anos depois. Alex percebera isso bem antes. Decidira que não faria outra coisa na vida. Ser jogador era uma escolha definitiva, embora uma convicção muito precoce para um garotinho que mal largara fralda e chupeta. E o colégio, como fica? Não ficou, embora Alex se esforçasse e mantivesse o desejo de um dia formar-se em Educação Física ou Psicologia. A bola, sempre ela, prevalecera.

“Desde pequeno meus pais me ensinaram a valorizar o estudo e fizeram questão absoluta que eu frequentasse a escola. Agradeço muito a eles por isso, pois sei que a escola ajudou a construir meu caráter e a me tornar um cidadão mais consciente. Só lamento não ter podido concluir o colegial [tive que parar quando estava no segundo ano], pois me profissionalizei muito cedo e ficou impossível conciliar futebol e colégio.”
Para redimi-lo, o inexorável fato é que desde cedo todo menino acredita ser craque. Tenho pena de quem disser o contrário para qualquer garoto que seja. Para quem furar uma bola por conta de um vidro da janela quebrado ou por implicância mesmo, só restará o castigo de Deus, que, em suas onipotência e onisciência, há de castigar também o menino que deixar de lado a sala de aula. Com irrepreensível Justiça Divina.
Quando esteve cara a cara com Argemiro Bueno, o professor Miro, da escolinha do Coritiba, Alex não tremeria. Estava preparado para uma peneira com cerca de 250 meninos para a qual foi levado por Silvio, seu colega e quase vizinho, que já treinava no Coxa.


Miro coçou o queixo e exclamou: “Joga muita bola!”. Para, em seguida, ponderar: “É bom, sim, mas ainda é muito cedo para o gramado. É muito mirrado para o futebol de campo.”
Alex, embora pequeno, conformou-se. Não gostava mesmo de grama. Queria apenas jogar bola. Só isso. Nada mais. Poderia ser no Coritiba, poderia ser em qualquer lugar, menos no Atlético. Sei lá. Aonde houvesse um espaço, com duas traves e uma bola para rolar, bastar-lhe-ia. “Depois da brincadeira, eu estava trocando de roupa para ir embora quando o prof. Miro, que comandava a peneira, chegou para mim e perguntou se não queria ir treinar futebol de salão na AABB [Associação Atlética do Banco do Brasil]. Ele foi até a minha casa e falou para o meu pai que eu ainda era muito novo para jogar no campo, mas disse que seria interessante que eu jogasse futebol de salão. Depois, quando tivesse idade suficiente, voltaria para o Coritiba.”

E lá foi Alex para o futebol de salão da AABB. Ali, foi crescendo e mostrando um domínio de bola incomum. Marcando gols em profusão. Fazendo mágicas dignas de um genuíno camisa 10.

***

O texto acima integra a biografia do craque Alex, que consta do I volume (a Letra “A”) de “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, com lançamento previsto para este semestre. A enciclopédia, que consiste em 18 volumes, está sob a edição do querido Cesar Oliveira.

A propósito, leiam a excelente biografia do Alex assinada pelo Marcos Eduardo Neves.

REFLEXÕES E NÚMEROS DO ATLETIBA

por Leo Schreier


Antes de começar a leitura desse texto, eu sugiro que você faça a seguinte pergunta para cinco crianças entre 6 e 10 anos de idade: “O que você quer ser quando crescer?”. Na minha época, eu teria respondido que queria ser jogador de futebol, mas hoje eu sei que a maioria das crianças vão responder que querem ter um canal grande no Youtube. E antes que você me chame de coroa, eu acabei de fazer 29 anos.

Pois bem, meus amigos, os tempos mudaram. Os centennials (nascidos entre 1996 – 2010) tomaram conta do entretenimento digital. Estamos ficando ultrapassados diante de uma geração conectada, decidida e disposta a fazer a diferença. Uma geração pragmática, que sonha e ter seu próprio negócio ao invés do emprego dos sonhos, que produz conteúdo, faz uploads e compartilha memes. Eles estão habituados a informação rápida, a vídeos curtos e interativos e não querem esperar dia e horário para assistir o que gostam. E como o futebol brasileiro se fortaleceria diante desta nova geração que tem como ídolos e super heróis, grandes influenciadores digitais e não jogadores de futebol?

O fato é que o futebol brasileiro atual possui poucos ídolos. Se em outros tempos tivemos craques de videogame como Neymar, Seedorf, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Romário, Adriano, Kaká, entre outros, jogando o Campeonato Brasileiro, hoje temos pouquíssimos ídolos de representatividade mundial e uma das explicações pra isso é a falta de recurso dos clubes brasileiros. Temos que analisar o modelo tradicional de mercado. Por que as marcas estão investindo cada
vez menos no futebol brasileiro? Qual a relação custo x benefício que ela tem em estampar a camiseta de um clube?

De fato, a crise financeira faz com que as empresas diminuam a verba publicitária. Hoje, dificilmente uma empresa se sente atraída em estampar a sua marca no peito dos atletas de um grande clube de futebol. A mídia espontânea nunca foi tão baixa, o jogador brasileiro tira a camisa pra comemorar o gol, escondendo o patrocinador dos cliques. Me aponte um clube no Brasil que faz ações de marketing com o seu sócio torcedor para ativar o patrocinador de sua camisa com o seu público. Aliás, esse é um assunto que gostaria de falar em outro momento. Mas me causa perplexidade em ver que os programas de sócio torcedor no Brasil, ao invés de ter status de clube de vantagens, ainda funcionam como caridade do torcedor para com o time do coração.

A transmissão de um grande clássico via Youtube e Facebook pode sim trazer grandes marcas de volta ao futebol, afinal, para uma marca que investe pesado em um grande evento esportivo ou em um clube de futebol, é muito mais vantajoso saber a audiência real que se tem durante a transmissão, do que depender dos pontos de ibope da TV. E quando eu menciono audiência real, eu me refiro naquela audiência em que o indivíduo está atento, visualizando a informação e interagindo com ela. Não a audiência superficial, onde o indivíduo tem a TV como segunda tela, pois está nas redes sociais e grupos de WhatsApp interagindo com outros torcedores. Vale lembrar que o Youtube acabou de lançar nos EUA o serviço de TV por assinatura, pois eles concluíram que seu público prefere consumir as informações em um único lugar.

No jogo Atlético PR x Coritiba, tivemos uma audiência total de 3,157 milhões de visualizações. Esse dado representa a soma do número de visualizações dos canais oficiais do Atlético PR e do Coritiba no Youtube e no Facebook. Mais do que isso, é importante observarmos o analytics dos canais dos clubes durante e logo após a partida. O analytics me dá dados mais detalhados como pico máximo de visualizações, número de comentários e alcance. Nunca um clássico paranaense gerou tanto buzz nas redes sociais com abrangência nacional. Hashtags no Twitter, textões no Facebook, diversas notas em grandes portais. Quem diria que um Atletiba seria mais comentado que um Flamengo x Vasco ou um Corinthians x Palmeiras? Sem mais delongas, mostro alguns números:

Youtube Atlético PR
Pico máximo: 80.931
Minutos assistidos: 7.460.000
Comentários: 33.400
Visualizações: 385.000
 
Facebook Atlético PR
Pico máximo: 41.909
Minutos assistidos: 3.145.381
Visualizadores únicos: 1.749.675
Alcance: 8.074.835
Interações: 518.277 

Youtube Coritiba
Pico máximo: 48.830
Minutos assistidos: 4.923.000
Comentários: 21.000
Visualizações: 286.000

Facebook Coritiba
Pico máximo: 18.433
Minutos assistidos: 1.297.816
Visualizadores únicos: 736.105
Alcance: 3.153.467
Interações: 208.163 

Esses números são interessantes, mas, por enquanto, é impensável que Youtube ou Facebook irão montar uma equipe para fazer a cobertura e transmissão de eventos esportivos ao vivo, basicamente porque Youtube e Facebook, além de serem concorrentes, são plataformas e não produtores de conteúdo. Ganha o torcedor, ganha o mercado que, a partir desse novo modelo, tem a chance de investir menos para explorar mais e ter resultados melhores sobre um grande evento, além de saber em tempo real os números. O futebol enxerga uma boa chance de entreter a nova geração, mas claro, do jeitinho dela.

O ATLETIBA E O SONO TRANQUILO DO UTOPISTA DE BERMUDAS

 

por Marcelo Mendez


(Foto: Reprodução)

“Mulherada problema: Lugar de mulher é onde ela quer”.

O jogo entre Atlético Paranaense x Coritiba já começou lendário:

Na partida que vai entrar para história das comunicações no Brasil, como o mais importante, como o divisor de águas, como o primeiro a ameaçar o monopólio, de cara, na transmissão via Youtube, a torcedora do Atlético Paranaense, tinha essa frase escrita em seu cachecol na arquibancada.

Algo impensável de se ver nas transmissões esportivas no Brasil, porque a dona do esporte via televisão não compactua com essas manifestações, livres, civilizadas, democráticas, não; Faz o contrário…

Em um universo elitista, onde cada vez menos o povo pode freqüentar estádios, onde cada vez mais a repressão o amassa, autoridades tolhem, pisam em cima e sufocam o direito do cidadão se manifestar. A dona do esporte no país faz coro com isso.

Corta, edita, não mostra, finge que não viu… Não importa para um monopólio qualquer tipo de manifestação que agrida o pote de ouro. “Venham quem puder e quem não puder dentro dos preceitos monopólatras, que ligue a TV, que se enterre no sofá, que veja o jogo como nós aqui, os donos, queremos que seja visto.”

Ontem foi diferente.

A partir das 20h, o Brasil pode acompanhar um jogo de futebol sem nenhum tipo de chancela das Organizações Globo de televisão. Atlético-PR e Coritiba fizeram seus corres para transmitir cada qual em seu canal via Youtube, como aliás já deveria ter acontecido no ultimo dia 19 de fevereiro. Dessa vez não teve como ter nenhum tipo de estratagema, não teve carteirinhas proibidas, nada. O jogo aconteceu.

Sei que nada disso talvez tenha acontecido por uma postura de rebeldia, por pensar no povo que torce, que um desacordo entre clubes e Rede Globo por uns milhões a mais, permitiu que se abrisse esse precedente. Mas é um grande precedente na luta que virá pela frente.

Afinal, não são poucas as ameaças contra a liberdade de informação. São várias as tentativas de taxação.

Netflix, Youtube e todas as outras plataformas de streaming estão na mira do governo. Lutar contra o que esses clubes começaram a incomodar é uma tarefa inglória, mas pelo menos por enquanto, quero aqui comemorar.

Pelo menos por 90 minutos eu pude ver o monopólio perder. E isso fez meu sono muito mais tranqüilo.

Pelo menos ontem…