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Corinthians

MARCAR MUITOS GOLS PELO TIMÃO, A MAIOR AMBIÇÃO DE CLÁUDIO

 

por André Felipe de Lima


Danilo Alvim, maior meio-campo da história do Vasco e um dos cérebros da magnífica seleção de 50, alertou: “Cláudio nunca poderia ficar fora do escrete. Era o melhor jogador do Brasil”. Pena que a opinião do craque vascaíno tenha sido ignorada por quem comandava a delegação brasileira e, sobretudo, pelo treinador Flávio Costa. O genial ponta-direita do Corinthians, até hoje o maior goleador da história do Alvinegro, com 305 gols [375 ao longo da carreira], teve de ouvir o “Maracanazo” de um rádio, enquanto uma sensação de impotência lhe consumia. Desejava muito estar no campo do Maracanã para ajudar a seleção brasileira a conquistar a Copa de 50.

Mais paradoxal do que estar fora da seleção para um craque como Cláudio foi a convocação do zagueiro Alfredo II, do Vasco, para compor a lista dos 22 de Flávio Costa, que até hoje não é perdoado pela imprensa e torcedores paulistas da velha guarda.

O baixinho Cláudio — tinha apenas 1,62m — impôs autoridade pela quantidade de gols que fazia: era chamado de “Gerente” pelos companheiros, pela liderança que exercia com a camisa 7. As centenas de gols e os 12 anos de Corinthians renderam-lhe um busto no Parque São Jorge. Brilhou no Timão em 549 jogos, conquistando 352 vitórias e 105 empates, como aponta Celso Unzelte, no Almanaque do Corinthians. Por causa do Cláudio, muitos filhos de torcedores do Corinthians que nasceram nos anos de 1950 foram batizados com o nome do ídolo.

Apesar de toda a história bonita no Parque São Jorge, Cláudio era santista. Nasceu em Santos, batizado Cláudio Christovam de Pinho, a 18 de julho de 1922. O seu clube de coração foi o primeiro da carreira. No Alvinegro praiano, começou, aos 17 anos, em 1940, contra o extinto SPR. O Santos venceu por 5 a 1 e o bicho foi de cem mil réis. Um massagista recomendou, em 1941, que profissionalizassem o talentoso Cláudio. No ano seguinte, quase foi para o Corinthians, indicado pelo zagueiro Agostinho, mas o Palestra Itália contratou-o primeiro.


O dia 20 de setembro de 1942 é emblemático para os palmeirenses por corresponder a data do primeiro jogo do vecchio Palestra com a sua nova marca: Sociedade Esportiva Palmeiras. O adversário, o São Paulo F.C., estava montando um dos melhores esquadrões da década. Seria uma parada duríssima. Mas o “novo” Palmeiras tinha um trunfo: o garoto Cláudio. “A jogada começou com um lançamento em profundidade. Entrei pelo bico da grande área e chutei cruzado no canto direito.”

O Pacaembu veio abaixo. Gol histórico, assinalado por um baixinho, que, não fosse a pouca idade e timidez, poderia ter trilhado uma longa e frutífera carreira no Parque Antarctica. Pior para o Palmeiras…

Após 11 gols em 33 jogos, muito tímido, bicho-do-mato, Cláudio, craque fundamental para o título estadual do Alviverde, em 1942, não se adaptou a balburdia da capital e voltou à pacata Santos, para o seu clube de coração. “Eu me sentia mal em uma cidade como São Paulo, mesmo ganhando um bom dinheiro. Eu era introvertido, me sentia sozinho.” Permaneceu na Vila Belmiro até 1945, quando finalmente, encontrou sua “casa”, no Parque São Jorge.

Exímio ponta-direita, Cláudio driblava curto e batia muito bem na bola, cobrando faltas ou executando cruzamentos precisos, muitos deles para Baltazar “Cabecinha de Ouro” concluir. Baltazar é, aliás, o segundo maior artilheiro do Timão, com 267 gols. Luizinho, o “Pequeno Polegar”, também era muito bem servido pelo companheiro. Os três formaram a trinca de craques mais famosa da história do Timão, quiçá do futebol paulista.

Embora Flávio Costa o tenha cortado do escrete de 50, Cláudio teve uma boa oportunidade para provar ao treinador que merecia a vaga. Foi um dos destaques da seleção campeã sul-americana, em 1949.

Disputou a primeira partida pelo Timão em 1945, contra o Palmeiras, e fez um gol olímpico que o consagrou na vitória de 1 a 0. No clássico entre os dois arqui-rivais, Cláudio marcou 24 gols no Alviverde. Contra o Santos, ele, Neco e Teleco são, até hoje, os corintianos que mais marcaram em jogos entre os dois clubes. Cada um fez 21 gols. Evidentemente que o maioral é Pelé, que meteu 50 vezes no balaio do time da Vila Belmiro.


O “Gerente” não teve problema para transitar entre os grandes clubes paulistas e jogou pelos quatro. Por falar em quatro, em quatro anos o Corinthians, sob a liderança de Cláudio, conquistou seis importantes títulos. Depois da magnífica seqüência vitoriosa, vieram os 23 anos de jejum. Coincidência? Acaso? Destino. A dupla Cláudio e Baltazar chegou e permaneceu no Parque São Jorge no mesmo período, de 1945 a 57. O Timão foi campeão do paulista em 1951 [a equipe marcou 103 gols no campeonato], 52 e 54 e venceu o torneio Rio-São Paulo de 1950, 53 e 54.

O último jogo do bravo “Gerente” pelo Corinthians foi na última rodada do Paulistão de 1957, realizada em 29 de dezembro, na derrota para o São Paulo por 3 a 1. Todo o sucesso que conquistara como jogador, atribuiu-o à esposa, Norma: “Minha esposa é a razão integral do meu sucesso. Como toda esposa fiel e dedicada, vive comigo minhas alegrias e igualmente participa das minhas jornadas adversas. Reconheço que entro em campo para vencer. Quando perco uma partida, não posso ficar alegre. Em minha casa, encontro toda solidariedade e o inestimável impulso para novas campanhas. A esposa na vida do jogador de futebol exerce papel fundamental. Vê agora porque sou feliz.”

Fim de linha nos gramados, Cláudio enveredou na carreira de treinador. Assumiu o cargo de técnico do Corinthians, em 1958, no lugar de Oswaldo Brandão, mas ficou apenas 14 meses no posto [hoje parece uma eternidade, mas na época, significava pouco tempo]. Saiu após rusgas com os dirigentes Vicente Matheus e Vadih Helou. 

“Fiquei indeciso. Eu não admitia ter de jogar contra o Corinthians, enfrentando a minha torcida. Mas depois bateu aquela raiva pelo Matheus e pelo Vadih, que se dizia meu amigo, e aceitei o convite. Joguei duas vezes contra o Timão, ou melhor, contra o Matheus e o Vadih.”

Voltou à função de jogador, mas agora pelo São Paulo. Disputou duas partidas contra o Corinthians, mas, para ele, estava jogando para valer contra os dois desafetos. Na segunda partida, fez o primeiro gol da vitória de 4 a 1. Aos 38 anos, fez sua última apresentação, em 21 de abril de 1960, encerrando a carreira no São Paulo, ignorando os apelos dos cartolas do clube para que renovasse o contrato.

Depois de aposentado, foi morar em Santos e conquistou o título de campeão brasileiro de tamboréu, um esporte semelhante ao tênis disputado na Baixada Santista.

Quando ainda era jogador, mantinha um costume inusitado: ficava horas a fio chutando uma bola de tênis contra a parede de uma área próxima à sua casa, em Santos. A bola batia no paredão e voltava aos seus pés. Ele a dominava, matava no peito e a chutava novamente. Era assim que treinava nas horas de folga. Antes de dormir, não dispensava a leitura de um bom livro. “Fiz-me jogador porque, como artista, sempre amei o futebol. Desde que me conheço por gente, estive ligado à número 5. É uma paixão. Não me descuido, porém, da minha formação. Sentei em bancos escolares e não abraço o sono sem antes mastigar as páginas de bons livros.”

O cotidiano frugal do ídolo era seguido à risca. Às 6:30 estava de pé, às 14 horas, no IAPC, onde trabalhava na Seção de Arrecadação. À noite, dificilmente depois das 10 estava acordado. Após o jantar, um passeio com a família, uma ou outra visita aos pais e aos sogros, um cinema de vez em quando e a indispensável atenção aos dois filhos, Bento e Claudia. “São meus maiores amigos”, dizia o craque.


Um dos maiores nomes da história do futebol brasileiro trabalhou como lançador de impostos da Prefeitura de São Paulo e morreu no dia 1º de maio de 2000, em São Paulo, de problemas cardíacos. Três anos antes de sua morte, Cláudio, o “Gerente”, o “grande capitão” que nunca fumou ou consumiu bebida alcoólica, foi homenageado com um busto no Parque São Jorge. Nada mais justo para quem tanto fez pelo Timão. Nada mais justo para o melhor exemplo de ídolo que o Corinthians já teve em toda a sua história. Cláudio foi o craque padrão.

Para os muitos que nasceram na década de 1950 batizados com o nome “Cláudio”, a reverência ao ídolo é das mais justas, das mais impolutas. Mereceu a deferência o maior artilheiro da história do Corinthians, o “gerente” do time, o capitão Cláudio. Humildade na mesma equivalência da genialidade que ostentou em campo e que tanta alegria proporcionou aos torcedores. Cláudio não tinha ambição exagerada. Trabalhava dentro e fora dos gramados para ter o essencial à família. Um exemplo de ídolo raro nos dias atuais.

CRAQUE DAS LENTES

texto: André Mendonça | fotos: André Durão


André Durão

Depois de um longo tempo, a equipe do Museu da Pelada apresenta mais um “Craque das Lentes”. A fera da vez é André Durão, fotógrafo do portal Globoesporte.com há mais de 10 anos, que, gentilmente, nos enviou uma bela galeria de fotos sobre futebol. Apaixonado pela fotografia desde os 13 anos, André nos contou um pouco sobre a brilhante carreira e a relação com o esporte.

Embora não tenha sido um craque dentro das quatro linhas, o fotógrafo tratou de se destacar na beirada delas. Em 1982, fez sua estreia no Maracanã, ainda como estagiário, auxiliando o fotógrafo Ari Gomes, e se encantou com a atmosfera do estádio. No ano seguinte, começou a carreira profissional no Jornal do Brasil e passou a ganhar destaque por conta dos cliques na beira do gramado.

– Ainda trabalho nos gramados e minha ideia é nunca parar. Se o Globoesporte.com deixar, quero ficar até não conseguir mais fotografar. Espero que esse dia demore muito a chegar!

Aos 13 anos, após muito insistir ao pai, foi matriculado em um curso na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (ABAF) e passou a ter dificuldades para conciliar as aulas com as peladas e os treinos de basquete, esporte preferido no qual se destacava na juventude. Federado no esporte da bola laranja por 16 anos, desde a categoria infantil, André precisou tomar uma decisão difícil, e abandonou os treinos do basquete para se dedicar exclusivamente à fotografia.


Apesar de, na época, ter sido um duro golpe para o garoto, não temos dúvida que foi uma decisão extremamente sábia, o que pode ser comprovado pelo vasto currículo de coberturas do fotógrafo: Copa do Mundo, Olimpíadas, Copa das Confederações, Copa América, Mundial de F-1 e mundiais de vários outros esportes pré olímpicos.

– Acho que foi a escolha certa! Me dedico muito ao que faço. Quando saio para fotografar, não vejo como um compromisso e sim como uma oportunidade de brilhar e fazer uma bela foto, que é o que mais gosto – disse André, que também ressalta a importância do respaldo familiar para se alcançar o sucesso.

Estudioso, o fotógrafo revelou que costuma analisar os jogadores antes das partidas para se posicionar da melhor forma possível e fazer os mais belos registros. Admitiu, no entanto, que assim como o bom goleiro, o bom fotógrafo precisa de sorte.

– Vejo qual é o lado que o jogador costuma correr para comemorar, qual jogador chuta de longe, qual faz mais gols de cabeça etc. O resto é ficar prestando atenção na partida e esperar um lance bonito. Só quem adivinha o que vai acontecer é a Mãe Dinah – brincou.

Se as competições em que cobriu já não fossem o bastante para comprovar o êxito na profissão, podemos falar ainda dos estádios que foram palco dos cliques do fotógrafo. Tendo fotografado em quase em todos do Brasil e alguns do exterior, como San Siro, na Itália, o craque elege o palco da estreia como o mais especial.

– O Maracanã, sem dúvidas é meu estádio preferido. Também gosto muito de fotografar jogos da Libertadores fora do Brasil, pois a pressão da torcida deixa você mais ligado nos lances!

No fim, ao ser perguntado se é melhor com a câmera ou com a bola, André foi taxativo:

– Pergunta pra galera do Globoesporte.com. Me chamam todo dia para fotografar, mas para a pelada só fui chamado uma vez! – finalizou, de forma divertida.

FUTEBOL E SAMBA

por André Felipe de Lima

Futebol e samba formam uma das mais harmoniosas relações culturais no Brasil. Ir a um estádio de futebol ou a um bar após os jogos e não ouvir um samba é como se estivéssemos assistindo a um “empolgante” clássico entre Spartak de Moscou e Dínamo de Kiev na antiga União Soviética sob um frio siberiano de quebrar os ossos. Aqui, samba na arquibancada é lei. Mesmo que divida espaço com alguns gritos importados de torcidas portenhas e adaptados pelas ditas “organizadas”. Não importa. O que cai no gosto do povo é o samba. “Domingo, eu vou ao Maracanã…”. Esse, sob a voz de Neguinho da Beija-Flor, é canção obrigatória. Tornou-se hino da inebriante festa promovida por torcedores ao perceberem que a fatura está liquidada a favor do time para que torcem. 


Beth Carvalho e Cartola

Futebol, samba, sambistas… estes sambistas que amam seus clubes. Cartola, especulam, teria feito das cores da sua Estação Primeira de Mangueira uma adaptação do pavilhão do seu amado Fluminense. Da bandeira tricolor, descoloriu o grená tornando-o rosa e manteve o verde. Daí nasceu a “Verde e Rosa” mais famosa do mundo. Cartola não foi, porém, quem imortalizou sambas sobre futebol. Um nome se destaca nesse quesito: Wilson Batista, um rubro-negro ferrenho que era capaz de chorar sangue pelo Flamengo. Fez dois sambas antológicos sobre o clube da Gávea.

Vascaínos sambistas também tem aos montes. Noel Rosa (que dizia torcer pelo Fausto, logo vascaíno, mas que também torcia pelo Monteiro, do Andarahy), Nelson Sargento, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Aldir Blanc, Luiz Melodia… nenhum deles imortalizou o Vascão em suas composições. De botafoguenses há também uma leva bacana, na qual integram Roberto Ribeiro (que foi goleiro do Goytacaz e chegou a treinar no Fluminense), Walter Alfaiate, Mauro Duarte e Beth Carvalho. É dela, da Beth, a letra do samba que embalou a torcida após o título carioca de 1989, que tirou o Botafogo da fila de espera após 21 anos de “jejum”: “Esse é o Botafogo que eu gosto/ Esse é o Botafogo que eu conheço/ Tanto tempo esperando esse momento, meu Deus/ Deixa eu festejar que eu mereço/ Mas é esse/ Esse é o Botafogo que eu gosto/ Esse é o Botafogo que eu conheço/ Tanto tempo esperando esse momento, meu Deus/ Deixa eu festejar que eu mereço/ É tão bonito ver/ Minha gente sorrindo de emoção/ O meu Brasil/ De ponta a ponta chorando, vibrando/ Saudando o Botafogo campeão/ O meu Brasil/ De ponta a ponta chorando, vibrando/ Saudando o Glorioso campeão”. 

Mas foi Wilson Batista o sambista nitidamente mais empolgado. O primeiro samba dele sobre o seu amado Flamengo, “E o juiz apitou!”, é uma deliciosa crônica sobre o time do primeiro tricampeonato estadual (1942 a 44): “Eu tiro o domingo para descansar/ Mas não descansei/ Que louco eu fui/ Regressei do futebol/ Todo queimado de sol/ O Flamengo perdeu/ Pro Botafogo/ Amanhã vou trabalhar/ Meu patrão é Vascaíno/ E de mim vai zombar/ Foram noventa minutos/ Que eu sofri como louco/ Até ficar rouco/ Nandinho passa a Zizinho/ Zizinho serve a Pirilo/ Que preparou pra chutar/ Aí o juiz apitou/ O tempo regulamentar/ Que azar!”.

O segundo, “Samba Rubro-negro”, faz uma homenagem ao timaço tricampeão de 1953 a 55: “Flamengo joga amanhã/ Eu vou pra lá/ Vai haver mais um baile no Maracanã/ O mais querido
Tem Rubens, Dequinha e Pavão/ Eu já rezei pra São Jorge/ Pro Mengo ser campeão/ O mais querido/ Tem Rubens, Dequinha e Pavão/ Eu já rezei pra São Jorge/ Pro Mengo ser campeão/ Pode chover, pode o sol me queimar/ Que eu vou pra ver/ A charanga do Jaime tocar: Flamengo! Flamengo! / Tua glória é lutar/ Quando o Mengo perde/ Eu não quero almoçar/ Eu não quero jantar”. 

Em São Paulo, Adoniran Barbosa fez do seu Corinthians fonte de inspiração. Compôs “Corintiá – Meu amor é o Timão”. A letra diz assim: “Como é bom ser alvinegro/ Ontem, hoje e amanhã/ Respirar o ar mistura/ Do Tietê a Tatuapé/ Lá no alto a velha Penha/ Da Anchieta e Bandeirantes/ Ver São Jorge lá na lua/ Abençoando a fazendinha/ Onde mora um gigante
Tem igreja e tem biquinha/ Coríntia, Coríntia/ Meu amor é o Timão/ Corítina, cada minuto/ Dentro do meu coração/ Belém, Vila Maria e Mooca/ E São Paulo extensão/ Mogi, Guarulhos, Itaquera/ Tudo vibra Coringão/ É o Cornítia de ‘nóis’ tudo/ É paulista é campeão”. 

A paixão em verbo dos sambistas paulistanos pelo Corinthians não deve nada a de alguns do Rio pelo Flamengo ou Botafogo. Baltazar, centroavante inesquecível, cuja história lembramos recentemente nesta página, era um indefectível ídolo e seus gols de cabeça cativavam uma legião de fãs. Daí para o samba um pulo. Nasceu a marchinha carnavalesca “Gol de Baltazar”, nítida reverência ao Timão campeão paulista de 1954. A letra composta pelo corintiano Alfredo Borba é até hoje cantada pelos blocos no carnaval de São Paulo. Foi imortalizada na voz de Elza Laranjeira: “Gol de Baltazar/ Gol de Baltazar/ Salta o “Cabecinha”/ Um a zero no placar (bis)/ O Mosqueteiro, ninguém pode derrotar/ Carbone é o artilheiro espetacular/ Cláudio, Luizinho e Mário/ Julião, Roberto e Idário/ Homero, Olavo e Gilmar/ São os onze craques, que São Paulo vai consagrar”. 

Na década de 1970, o futebol incorporou o sambalanço de Jorge Ben Jor e de Bebeto. Nas rádios, as letras dos dois torcedores inveterados do Flamengo tocavam ad nauseam. Jorge Ben, que passeou pelos times infantis do clube da Gávea, foi o pioneiro. No seu cultuado álbum “Ben”, de 1972, ele fez de um jogador do Flamengo, o João Batista de Sales, mais conhecido como Fio Maravilha, o craque rubro-negro mais famoso de sua época. A letra foi, contudo, atabalhoadamente embargada na justiça pelo próprio Fio, que foi, provavelmente, muito mal instruído por cartolas e advogados chinfrins. Jorge Ben lamentou e alterou a letra para “Filho Maravilha”. Somente em 2007 é que o compositor pôde retomar a versão original autorizada pelo Fio Maravilha. Mas, aí, perdeu a magia. 

Deixando a paixão clubística de lado, Jorge Ben também fez sucesso com o sambalanço “Zagueiro”, do LP “Solta o Pavão” (1975), o mesmo que inclui “Jorge de Capadócia”. “Zagueiro” é uma verdadeira “lição” de como um beque deve fechar a zaga do time. Jamais perguntaram ao Jorge Ben o que o motivara a compor uma letra, digamos, futebolisticamente didática. Técnicos de hoje deveriam obrigar seus comandados a ouvi-la. 

No LP seguinte, o “África Brasil” (1976), Jorge Ben anunciou a célebre “Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)”. Muita gente associa a música ao ídolo do Jorge Bem: Zico.

O samba psicodélico foi imortalizado pelo Jorge Ben, e ele jamais deixaria o futebol fora desse parangolé lingüístico na MPB dos anos de 1970.

Embalado pela conquista do título de Campeão Mundial pelo Flamengo, em 1981, no Japão, Bebeto compôs um sucesso estrondoso sobre o time do coração. “Arigatô, Flamengo” foi, sem revanchismo, cantada por torcedores de todos os times nos blocos e bailes do Carnaval de 1982. Hoje, a música está bloqueada até mesmo no Youtube por direitos autorais. Foi árdua a missão para achar um link com a gravação completa na Internet. Porém conseguimos.

Mas e Pelé? E Garrincha?… eles, os dois maiores ídolos do nosso futebol não mereceram sambas como homenagem? Sim, mereceram. E qual foi o primeiro samba ou chorinho sobre futebol? Muitos dirão: “E o Chico Buarque, tricolor, também compôs letra sobre futebol…”. Eu sei. Vão cobrar também: “Escolas de samba e futebol, quais sambas encantaram na Sapucaí?”. É papo que não acaba mais…

Mas estas e outras histórias ficarão para uma continuação desta série sobre samba, MPB e futebol. Enquanto isso, ouçam os excelentes sambas da rapaziada citada aí em cima. Até lá.

A BOLA E O RÁDIO, OSMAR SANTOS

por Marcelo Mendez


Os rádios de pilha eram amigos inseparáveis dos torcedores

Houve um tempo em que não havia jogos transmitidos ao vivo.

Aliás, houve um tempo que a vida era vivida, que ninguém ficava com a fuça enterrada numa tela de celular ou de TV, as pessoas se freqüentavam, se abraçavam, não havia essa interatividade toda e vejam, ainda assim todo mundo se ajeitava muito bem.

Por esses tempos, para nós que gostávamos de futebol, tinha o rádio, a boa e velha Rádio AM para cuidar de nossas emoções e nos guiar rumo ao gol do outro time, para jogar de zagueiro quando éramos atacados e afins. 

Para homenagear esses tempos e esses caras, estamos aqui a começar a coluna “A Bola e o Rádio” e relembrar desses momentos onde o gol não seria tão gol se não fossem esses caras.

Então vamos começar os trabalhos…

OSMAR SANTOS, O PAI DA MATÉRIA

De moleque eu me recordo do Osmar…


Osmar Santos

Em São Paulo, nos anos 80, não poderia ter futebol se não tivesse o Osmar Santos a narrar os jogos pelo canhão que era a Rádio Globo 1100 AM. Sempre acompanhei as suas milhares de gags, suas tiradas sensacionais, sua velocidade para narrar e toda a emoção a milhão que ele passava. 

Não demorou para a gente protagonizar nossa história…

O ano era 1986.

O meu Palmeiras amargava o décimo ano de uma fila que começava a incomodar e ali, com aquele nosso time que tinha entre outros Eder, Jorginho, Wagner Bacharel, Edu e Edmar, havia a possibilidade de acabar com isso. No meio do caminho, na semifinal, nosso maior rival; Corinthians. Um time bem ruim, com jogadores como os zagueiros Edivaldo, Paulo, os meias Cristovão, Biro Biro e afins.

No primeiro jogo, eles venceram o Palmeiras por 1×0 em uma arbitragem desastrosa de um maldito de nome Ulisses Tavares da Silva, que entre outras coisas deu escanteio em uma jogada que o zagueiro do Corinthians espalmou um chute de Mirandinha pela linha de fundo!!

Mas tudo bem…

Quando o jogo acabou meu pai veio a meu quarto e falou; “Quarta feira, vamos ao jogo”.

Opaaa!!! Era questão de honra e fomos!

No Morumbi lotado até as tampas, o jogo começou. Palmeiras em cima e Carlos, goleiro da seleção pegando tudo. Ficamos na numerada inferior com todo mundo junto e um corinthiano me enchendo o saco até a hora que Mirandinha entrou. Daí pra frente, ele deitou em cima da zaga corinthiana, meteu gols e bom, agora é com o Osmar. 

Segue a narração do Pai do matéria, para imortalizar o que seria só um jogo de bola, mas virou, então, “O Clássico da Justiça”

UM ESTRANHO NO NINHO

por Zé Roberto Padilha

Todo o universo da bola se preparou com esmero e carinho para fazer da abertura do Maracanã, o duelo entre Flamengo x Corinthians, um espetáculo grandioso. Reverenciar o futebol em um domingo de tarde, em seu templo sagrado, faz parte da nossa cultura, e é bonito, é bonito e é bonito. Da padaria aqui da nossa rua saiu um ônibus lotado e, ao comprar o pão, senti partir tal energia em ebulição apesar de ser tricolor. Mesmo porque, se havia algum frete para Curitiba, onde jogaríamos mais tarde, este seria de avião. O principado faz diferente, mas a nação consegue um jeito de empolgar diferente.


Quando defendi aquele manto depois de sete anos nas Laranjeiras, era um dos personagens em campo que definiriam se de lá voltariam alegres pela BR 040, ou trariam a tristeza como testemunha daqueles quilômetros que dobrariam até chegar Três Rios. E chegar cedo para quê? Ser sacaneado pelos vascaínos? Aturar o Álvaro nos portões de acesso ao Colégio Ruy Barbosa?

Quando a bola rolou e a televisão nos concedeu a linda imagem de um painel rubro-negro a emoldurar aquele “Ninho do Urubu”, fiquei a imaginar quantos atores, torcedores, imprensa, seguranças e arbitragem se prepararam naquele teatro para nos oferecer o melhor dos espetáculos. Mas na primeira paralisação, Balbuena, zagueiro corinthiano, foi chamado pelo seu treinador na beira do campo. Foi quando percebi um ruído. Oswaldo de Oliveira falava e o zagueiro não escutava. Seus olhos, em uma leitura oftálmica, revelavam: será que este cara conhece o nosso time a ponto de nos passar instruções? Mudar de tática?


Não conhecia. Oswaldo era um estranho no ninho ante tantos sabidos. Chegara há pouco, dirigira apenas três partidas e precisou da ajuda do auxiliar para escalar e realizar substituições. Quem levou aquele elenco para o túnel do vento da pré-temporada, após perder vários titulares para China, foi o Tite. Depois dos testes nas pistas de Jerez de la Frontera, onde carro e pilotos são apresentados, quem estava no comando era o Tite. Mas as câmeras o encontraram na arquibancada já como treinador da seleção.

No lugar de fixar o seu auxiliar, que conhecia o elenco, sua forma de jogar e suas armas de substituição, trataram de experimentar vários pilotos que não conheciam o carro. E o ultimo, Oswaldo, errou nas curvas quando escalou Marlone sem velocidade. E deixou de ganhar o jogo porque demorou a lançar o Luka diante de uma zaga confusa e que resolveu se lançar sem proteção ao ataque.


Do outro lado, Zé Ricardo, o treinador rubro-negro, acompanhou a montagem daquele time desde o começo. Como técnico dos juniores conheceu Felipe Vizeu antes de todos. Nos coletivos contra os profissionais percebeu a virtude dos titulares, e quando assumiu tinha o elenco nas mãos. Se errou e empatou em casa, não foi por falta de conhecimento do grupo, foi por desconhecimento de causa. Então, nossos cartolas, no lugar de se preocupar em aprovar recursos tecnológicos para validar ou anular gols, que tal parar de entregar seu time montado no meio da competição nas mãos de quem o desconhece? Certo fez o Flamengo, com Zé Ricardo,  o Botafogo com Jair Ventura, testemunhas oculares de sua recente história. Errado fez o Corinthians, o São Paulo e quem mais contrata o Argel, que trouxeram para seu ninho um estranho a pilotar seus descaminhos.