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Corinthians

CORINTHIANS, ODEIO TE AMAR

por Marcelo Mendez


Dando uma volta pela vida, parei em um ponto de ônibus no final de 2012, onde escutei um sujeito dizer a outro o seguinte:

– Rapaz vou te falar; Não peço nada a Deus. Não quero dinheiro, não quero um trabalho melhor, não quero aumento de salário, não quero mulher bonita nem nada. A única coisa que peço ao divino é que o Corinthians perca amanhã para o Chelsea…

Discretamente dei um sorriso, peguei meu ônibus e me pus a pensar a respeito. Que coisa maravilhosa e maluca é essa coisa do futebol. O sujeito, independente de qualquer outra coisa da vida, acima de qualquer suspeita ou razão, em detrimento até de sua própria alegria, de seu possível bel prazer, quer porque quer a todo custo o azar de um outro clube rival. Mas a questão é essa mesmo, não é qualquer clube esse que falamos.

Corinthians.

Lembrei-me de minha relação com esse clube e de como isso tudo começou. Era o longínquo ano de 1976, quando eu era um menino. Um onírico e belo menino de 6 anos de idade, num subúrbio de sonhos. De um tempo que infelizmente não existe mais. Dado momento daquele ano, lembro de meu saudoso Tio Bida, irmão de minha mãe que chegou em casa com um embrulho e me disse:

– Olha só, isso pra você jamais esquecer do ‘nosso’ Corinthians”.

Achei estranho o nome, mas gostei porque era uma palavra que não fazia parte de meu tenro vocabulário, “Corinthians”, coisa pomposa! Então, ele me deu o embrulho, não sem antes recomendar:

– Não fala nada pra teu pai, hein?

Disse isso com entonação de detetive da famigerada KGB. Via das dúvidas disse a ele que seguiria tal conselho, mais por conta do meu interesse pelo embrulho, do que por espírito de corpo de parceiros. Então abri…

Uma bola de capotão! Novinha, 32 gomos, nº5, coisa linda! Meus olhos brilharam! Imediatamente saí a correr pelo velho quintal do Parque Novo Oratório feliz da vida. Brinquei a tarde toda como o mais feliz dos homens, com uma alegria que jamais sentirei na vida. Nem me lembrei, no entanto, do compromisso firmado do segredo e então quando meu pai chegou, eu bati na bola pra o velho me devolver o passe. Ele recebeu a pelota, controlou com classe e elegância, de repente parou e viu alguma coisa que o deixou bastante irritado. Pegou a bola, segurou debaixo do braço e veio em minha direção:

– Quem te deu isso?!

– Foi o Tio Bida!

– E por que você aceitou?!”l

– Ué, porque eu gosto de jogar bola. Me devolve ela! – Falei com força!

– Não! Eu mesmo vou te dar uma bola, mas a bola certa! Você ta vendo esses nomes aqui escritos nela?? Tobias, Basílio, Zé Maria, Vaguinho, Romeu, Geraldão… São nomes de jogadores do Corinthians!! Meu filho, nunca mais na sua vida queira nada do Corinthians!! Deixa que eu vou te dar uma bola do PALMEIRAS!!

– Mas eu gostei dessa!

– Não me fala mais isso! Essa eu vou levar pro seu primo Serginho, que sei lá o porquê, gosta desse time. Aproveito e compro outra bola pra você!

Resoluto, eu chorei. Acho que foi a primeira vez na minha vida que fiquei bravo com meu pai. Claro que na inocência de criança isso passou logo que chegou a bola do Palmeiras. Mas aí, meio que meu pai conseguiu. Me deu uma raiva danada daqueles tais nomes de jogadores do Corinthians escritos na bola.

– Chatos, me tomaram meu brinquedo! Também não gosto mais deles, sou palmeirense!”– E assim começou nossa relação de rivalidade:


– Eu sou Palmeirense e não devo gostar desses caras do Corinthians!

Mas logo saquei que seria difícil…

De menino, vi a festa que eles fizeram um ano depois em 1977. Vi meu primo Serginho chorando, correndo em minha direção pra me abraçar e dizer:

– Primo, sou campeão, porra!

E como eu fiquei feliz por ele! Fiquei, mas não contei pra ninguém! Afinal, como palestrino não pegaria bem! Aí começou a dureza de minha vida de torcedor. Enquanto meu time amargava a escassez de títulos, o tal do Corinthians era campeão ano após ano. E eu lá… torcendo contra!

Veio 1982 e a Democracia Corinthiana. E o legal era ser corinthiano por motivos muito maiores que o jogo de bola. O Corinthians era o time da moda. E eu torcendo contra… E como era gostoso ganhar deles! Teve la o 5 a 1 de 1986, no mesmo ano teve a virada pela semifinal do Paulistão, também o 3 a 0 e, cara, como eu ficava contente! Queria eu ir lá zuar os caras, vê-los tristes e até conseguia. Até a página 2, porque eles já levantavam a cabeça, tocavam o bonde e diziam…

– Ser Corinthiano é bom toda hora. Se não der agora, vai dar o ano que vem!

E seguiam lidamente apaixonados.

No meu íntimo de palmeirense eu pensava “Como deve ser bom sentir isso. Mas isso é coisa do corinthiano, eu não sei como é e não quero saber!”. Ilusão, doce ilusão…

Caro amigo leitor que aqui me acompanha, vos digo; como palmeirense alucinado que sou bem conheço as coisas desse meu nobre rival. O time do Parque São Jorge é a maior representação popular de tudo que tem de mais brasileiro. Um time que agrega naturalmente brancos, pretos, amarelos, judeus, árabes, pobres, ricos, homens, mulheres, crianças, palestinos, azuis, amarelos… Que teve em sua administração ao longo de sua história, controvérsias, contestações e turbulências como em tudo que temos aqui no Brasil. Uma nação de 30 milhões de pessoas, um sentimento a parte ou como dizia Sócrates:

“Mais que um clube, o Corinthians é um estado de espírito”.

E bem mais…

O Corinthians é um pouco de tudo que há em nossas vidas. É a catarse que precede o prazer, é a gota d’água que explode em sentimento, é a lagrima que por vezes não escorre a face, para ficar guardada eternamente nos corações apaixonados de seus fiéis torcedores, é o sorriso no escuro onde só tem choro, é o contrário que pode acontecer é a hora que a razão pode não ser nada além de um capricho dispensável e tolo.

O Corinthians é a única chance que a paixão tem de ser para sempre.


Diante disso tudo, tenho certeza que nem seria necessário um título mundial para o amigo corintiano ser feliz. Porque ele é naturalmente feliz. Mesmo assim, Yokohama mereceu parabéns porque teve a honra de conhecer o Corinthians. Porque teve a chance de ver o paradoxo belo que há no fato de ter como herói, um centroavante rompedor peruano e um goleiro que defendeu até os pensamentos do time do Chelsea. Pois é amigo corinthiano, em detrimento de tudo, dessa coisa aí do que se diz ser Anti, tu és campeão do Mundo e mais um monte de coisas…

Ontem foi teu 109º aniversário.

Vai, amigo corinthiano, vai para a festa em Itaquera porque você merece. Vai ser feliz e depois volta. Volta, porque o futebol seria muito chato sem você. Volta para a gente dizer que torce contra você Corinthians, que a gente não gosta de ver esse teu povo alvinegro feliz. E vou até te dizer que é verdade isso, mas por um viés que os cartesianos não vão saber explicar. Nossa diferença é que nos define Corinthians, nossa torta diferença.

Porque enquanto vocês odeiam nos amar, nós amamos odiar vocês…

AOS MESTRES QUE NÃO CONHECI

por Israel Cayo Campos.  


Desde garoto três coisas sempre me interessaram. Ciências, música e futebol. A intelectualidade que a primeira transmite a consciência da segunda e as alegrias da terceira me causaram um profundo desejo de fazer parte de todos esses meios. E por incrível que pareça, eu consegui modestamente fazer parte. Graças a pessoas as quais eu sequer conheci em vida, e que infelizmente em menos de 48 horas e ainda em plena juventude acabaram por nos deixar antes do combinado. A eles gostaria de fazer uma singela homenagem no Museu de Pelada, pois se um era um expert no que tange a história do futebol, um museu humano do futebol, o outro era um peladeiro ao estilo que todo peladeiro deve ser: Bom o suficiente para seguir outra profissão a qual tenha de fato talento! 

Mas para contar um pouco dos dois preciso me inserir como parte da história de ambos, embora eles nunca tenham me conhecido (a não ser por alguns e-mails perdidos do professor os quais tive a honra de trocar com ele na época que ainda estava a fazer meu TCC), pois eles fizeram parte da minha e mudaram-na dando um rumo especial para a mesma. Gostaria de por meio do futebol, algo que nos une (os três), agradecer a essas pessoas tão especiais em minha vida. 

Por cronologia, gostaria de começar por André Matos, um dos maiores cantores e pianistas brasileiros, que como escolheu o rock and roll como seu meio de vida, é por incrível que pareça pouco conhecido entre os tupiniquins, apesar do sucesso estrondoso que fez no mundo todo em todas as suas bandas, o Viper, Angra e Shaman. Além é claro de seu trabalho solo e projetos com músicos internacionais de renome como o Avantasia, do alemão Tobias Sammet. 

O corintiano roxo André, apareceu em minha vida logo que comecei a me interessar por música. Tentar aprender instrumentos, e principalmente cantar… Uma forma de reduzir minha timidez crônica. Por meu jeito calado apesar de não me considerar impopular, o heavy metal caiu em minha vida como uma bomba. Não parava de ouvir todo dia bandas diferentes. Tornei-me fã número 01 do Iron Maiden, mas tinha como referencia de músico desse estilo em nosso país o André Matos.  

Não queria só o admirar, queria ser como ele! Cantar com suas notas que poucos cantores no mundo conseguem. Infelizmente, eu era um peladeiro musical! 

Mas nem por isso desisti, montei minhas “bandinhas de garagem” e sempre arriscava um cover do André em discos maravilhosos do Viper como o “Soldiers of Sunrise” e “Theatre Of Fate”, ou do Angra, tais como “Angels Cry”, “Holy Land” e “Fireworks” ou na banda que em meados dos anos 2000 quando de fato comecei a ouvir rock pesado ele estava como vocalista, o Shaman. Banda essa que com seu disco “Ritual” de tanto eu ouvir acabei irritando meus vizinhos por anos! A minha predileta dessa fase se chama “Here I Am”. Traduzido no bom português: Estou aqui! 

Mas se for pra falar das composições do André as quais era viciado em ouvir e tentar reproduzir vou acabar saindo do foco do texto. São muitas canções lindas que aconselho a quem nunca ouviu procurar na internet as letras enquanto ouve as músicas. 

Mas quero falar de outro André Matos, o rockeiropeladeiro! Que sempre como goleiro participava dos campeonatos de músicos promovidos pela MTV. De fato, ele como arqueiro era um gigante músico. Mas como todo peladeiro, achava que tinha mais talento do que de fato apresentava! 


Ao ver um ídolo da música que gosta do mesmo esporte que eu, meu instinto de fã sempre me impedia de torcer contra a equipe que estivesse defendendo! Ainda mais pelo fato de dentro de um estilo musical tão fechado, quase uma seita, haver um dos ícones do mesmo, fã de futebol igual a mim. Não só nos identificávamos pela música, mas também pelo amor pelas peladas.

Torcedor corintiano doente (apesar de eu ser São Paulino), pouco me importava seu time do coração. Gostar de metal e de futebol ao mesmo tempo fazia me identificar com o cara! Tietado pelo goleiro Cássio (Roqueiro assumido) e tiete do técnico Tite, visitou em programas esportivos o CT do Corinthians! E sua paixão pelo clube era tão grande que até o hino do time de Parque São Jorge em japonês ele gravou após a conquista do mundial de clubes de 2012. Só lembrando que no Japão, ele recebia o valor e admiração do grande gênio da música que era! 

Outro momento especial da relação André Matos e futebol veio com a gravação da música intitulada ‘Kamisama”, em parceria com a banda de metal brasileira Eyes of Shiva. A letra é uma homenagem a Zico, maior ídolo da geração 1980, que é tratado como o Deus do futebol na letra. E que como todos sabem, é não só aqui no Brasil, como também no Japão, o “Galinho de Quintino” assim como o André Matos são reverenciados com a grandeza que merecem! Tal canção da qual Matos participou, fez Zico, um conhecido fã do samba brasileiro, convidar a banda para o conhecer, além das dependências do CFZ. O eterno camisa dez do Flamengo ainda brincou com os integrantes do Eyes of Shiva que se sentia muito honrado com a homenagem e agora começaria a ouvir heavy metal! (Fonte, Site Wiplash. Dia 30 de novembro de 2005). 

Infelizmente no dia 08 desse mês, Matos acabou deixando órfãos os seus milhões de fãs no mundo todo. O maestro das notas perfeitas no vocal se foi. E com ele parte da minha adolescência. Mas a sua relação interseccionada entre música de ótima qualidade, gosto pelo esporte mais popular do mundo, e inspiração devido transmitida pelo seu grande talento a fãs das duas artes como eu sou, ficarão guardadas para sempre! Como ele dizia em uma de suas mais belas composições… Carry On… 

Se André Matos não teve o reconhecimento do público brasileiro ao qual merecia, esse outro homenageado por minha humilde pessoa é ainda menos reconhecido do público. Afinal, quem liga para os professores? Mas um cidadão com tamanho conhecimento de futebol, e que me fez ver que eu poderia aliar minha profissão a algo que eu sempre gostei, falo do professor (Doutor) Gilmar Mascarenhas de Jesus, geógrafo, que faleceu no dia em que escrevo esse texto (10 de junho). 

Além das bandas de rock e de um flerte com uma formação em economia, acabei optando por me graduar em geografia. E muito desse gosto pela disciplina vinha do conhecimento que adquiria sobre outros países principalmente em épocas de Copa do Mundo. Contudo, perto de me graduar na profissão, ainda não sabia em que área da geografia iria me especializar. Foi aí que um professor de geografia cultural me sugeriu – por qual motivo você não fala de futebol?

Pensei comigo: Como esses assuntos se entrelaçavam? Qual a relação que eles poderiam ter? De fato era uma ótima ideia! Mas como encaixar ambas as temáticas? Foi aí que comecei a ler os textos e livros do professor Gilmar Mascarenhas, e percebi o quanto isso era possível. Que um diploma em geografia não necessariamente só precisava ser dado a quem quer entender de politica ou relevo, que havia muitos caminhos pelos quais a geografia se entrelaçava. 

Mesmo não o conhecendo pessoalmente, apenas trocando alguns e-mails, o professor carioca me inspirou a concluir meu curso. A fazer meu trabalho me baseando em algo que adoro. Deu-me um ânimo para investir naquilo que me dispus a fazer da vida. Seus textos sobre as origens do futebol brasileiro, e a territorialidade criada por torcedores como os do Grêmio e Internacional que ultrapassava os limites das quatro linhas desde seus primórdios, me fizeram ver o futebol muito além do que ele almeja ser. Muito mais do que um jogo inglês reinventado no Brasil. O futebol pode assumir outros contextos e formas de acordo com o entendimento do que ele representa dentro de uma sociedade! Principalmente uma sociedade tão miscigenada e pobre como a nossa! Se não fosse o Professor Gilmar Mascarenhas, minha linha de pesquisa seria apenas mais do mesmo!


Com suas referências bibliográficas construí meus próprios textos. Conclusão de curso, artigos, revistas, e utilizo algumas informações até aqui no Museu da Pelada. O professor Mascarenhas foi o pioneiro no mundo acadêmico a associar geografia e futebol. Que hoje longe das amarras caretas de alguns professores universitários, consigo ver o quanto estão relacionados! Para mim, é um pai acadêmico! Apesar de ainda ser um homem muito jovem, perdendo sua vida a dez dias de completar 55 anos! 

Vale salientar os mais de 100 artigos em inglês e português sobre a temática. Que iam além do futebol, bem como os grandes eventos esportivos que o Brasil sediou nos últimos anos, tais como os Jogos Pan-americanos e Olímpiadas. Além de livros essenciais para quem gosta da história do futebol no Brasil, como por exemplo, “Entradas e Bandeiras, a conquista do Brasil pelo futebol”.

Em seus artigos o professor analisou a história de grandes times como o Corinthians, o Bangu, o Grêmio, o Internacional e até a importância da Seleção Brasileira na construção do espaço urbano do país. Sem contar a análise do operariado tomando um esporte que até então era das grandes elites e a busca para saber se o futebol no Brasil entrou primeiro via Charles Muller, como a história conta, ou pelas vias férreas que ligavam o Rio Grande do Sul ao Uruguai e Argentina, países pioneiros nesse esporte na América do Sul. Também escreveu sobre a Copa do Mundo de 1950 e sua importância para o estado do Rio de Janeiro, os legados da Copa de 2014 e Jogos Olímpicos para o território brasileiro, e o que passamos hoje em nosso futebol, a globalização que praticamente torna os nossos campeonatos que já foram os mais fortes em torneios de segundo escalão devido ao êxodo de nossos craques. São tantos temas futebolísticos associados ao meio acadêmico que foram discutidos pelo professor Mascarenhas que não cabem nessa singela homenagem. 

Que me desculpem os ex-jogadores de futebol que acham que só quem entende de bola é quem enfrentou um maracanã lotado. Mas o conhecimento adquirido sobre esse esporte também pode vir das salas de aula. O futebol também é aprendizado! E ninguém mostrou de maneira melhor em nosso país que essa afirmação é verdadeira do que o Doutor Gilmar Mascarenhas de Jesus. 

Torcedor do Botafogo, soube por amigos próximos que ele planejava ver a Seleção brasileira na Copa América desse ano. Infelizmente o destino não permitiu que isso acontecesse. Mas meus sinceros agradecimentos a um cara que nem conheci, mas que me ensinou que tanto. Que fez muito por uma temática tão importante, mas ao mesmo tempo tão marginalizada pelo meio acadêmico. E que aceitem ou não, é uma parte da história de nosso povo. Que seu exemplo inspire novos acadêmicos a pesquisarem outros assuntos que também são de extrema importância para boa parte dos brasileiros. Esse foi seu grande legado! Grande mestre. O Futebol não pertence só a jogadores e jornalistas especializados. Mas é um bem do povo brasileiro, que pode e deve ser analisado por todas as óticas. Inclusive acadêmica! 

Mesmo que não tendo a fama de alguns que aparecem na TV para mostrarem que não tem metade do conhecimento que o senhor possuía, em um país onde os professores são pouco valorizados, um visionário como o senhor merece a minha sincera homenagem! Livros e textos na internet gratuitos estão aos montes. Resta as pessoas uma vontade de aprender mais sobre aquilo que elas acham conhecer tanto e na verdade entendem apenas de maneira superficial! Um pouco de cultura não faz mal a ninguém! Conhecer a história do esporte pelo qual se dá tanta audiência muito menos! E graças ao professor Gilmar, tal situação é possível! Um exemplo que infelizmente eu não tive o prazer de conhecer pessoalmente! Só me resta desejar sinceras condolências a família! Que descanse em paz grande mestre! 

 

 

CORINTHIANS 1998/1999

por Marcelo Mendez


São vários os aspectos que formam um bom time de futebol.

Grana, sorte, uma geração privilegiada, uma boa gestão, planejamento ou absolutamente nada disso. O time de hoje, por exemplo, vem formado por uma das grandes magias do Futebol Brasileiro e assim se fez.

O Brasil queria um time como esse que falaremos aqui.

ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO chama todo mundo para falar do Corinthians de 1998/99

O COMEÇO

Na metade dos anos 90 as coisas mudaram para o Corinthians.

O time de Parque São Jorge que vinha tropeçando pra tudo que era canto, foi pra uma decisão de Campeonato Paulista em cima do Palmeiras. Se perdesse seria o terceiro vice pro arquirrival e de todo jeito tinha que mudar a coisa. Conseguiu…

Um gol de Helivelton em Ribeirão Preto fez a torcida do Palmeiras silenciar e a Fiel fazer a primeira festa de 1995. A segunda seria a Copa do Brasil em cima do Grêmio e tudo rumava para o futuro brilhante.

Veio em partes.

O mesmo Grêmio tirou o Timão da Libertadores em 1996, as campanhas de Paulista e Brasileiro também não foram boas e em 1997, Alberto Dualib dá o primeiro sacode na gestão administrativa do clube.

O BANCO DO TIMÃO


Eis que no dia do torcedor surge um tal Banco Excel despejando um tanto de grana em cima do Corinthians. No começo deu ruim, o time com Tulio Maravilha e Donizete Pantera venceu um Paulista e depois foi ladeira abaixo no Brasileirão. Foi mal. Mas serviu para algo muito bom.

Em 1998 o Banco liberou as contratações de Edílson, Rincón, Ricardinho, Gamarra e afins. Também trouxe Vanderlei Luxemburgo e pronto:

Daí pra frente a história seria outra…

A MÁQUINA

As contratações, somadas a Vampeta, Mirandinha, Silvinho e outros que lá estavam, criaram uma base sólida, forte, parruda. O Corinthians passou a ser visto de uma outra maneira e seus jogos, verdadeiros espetáculos. Força, aliada a muita tecnica, Marcelinho Carioca voando, goleada pra todo lado e o título inevitável.

Em três partidas contra o Cruzeiro, um título vencido com excelência.

Em 1999, mais títulos

Paulista, Bi Brasileiro, bailes de bola. O Corinthians que teve como base Dida, Indio, Gamarra, Batata, Kleber, Rincón, Vampeta, Ricardinho, Marcelinho, Luizão e Edilson fez história e merece estar aqui.

Corinthians 1998/99 um baita time em ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO.

QUERIA RIVELLINO, MAS QUEM ME GANHOU FOI ROMERO

por Marcelo Soares


Roberto Rivellino, o maior jogador da história do Corinthians na minha opinião, infelizmente ficou marcado por não ter ganho um título expressivo com a camisa alvinegra. Um dos maiores jogadores da história do futebol e de sua época, foi campeão do Mundo em 1970 no México com uma das melhores formações da Seleção Brasileira, apresentando ao mundo a patada atômica.

Participou de um dos episódios que mais marcaram a história do futebol e do lendário Maracanã: a invasão da torcida do Corinthians em 1976, na partida contra o Fluminense, levando mais de 145 mil pessoas ao estádio.

Canhoto para o bem do futebol, por onde passou, brilhou! Encantou a todos e se tornou ídolo por onde jogou. Rivellino brilhou tanto que até mesmo Maradona, considerado por muitos o melhor de todos os tempos, se rendeu aos talentos do Reizinho do Parque e o elegeu como seu ídolo no futebol.

A falta de um título paulista com a camisa Corinthiana sempre perseguiu Rivellino, fato que o levou a declarar que trocaria a perdida taça Jules Rimet por um título paulista com o maior vencedor do campeonato. Acredito eu que até a troféu do Campeonato Paulista tenha pedido por esse encontro com Rivellino, mas fato é que nunca aconteceu.

Que injustiça do futebol, o time que mais venceu o campeonato não pôde ganhar mais uma edição enquanto Rivellino vestia sua camisa, não entrou para a lista de ídolos com a letra R que o venceram pelo Corinthians, como os Ronaldos (Giovanelli e o fenômeno) e o colobiano Rincón. Quem diria que até mesmo Romero ganharia esse título.

Depois disso, aconselho Rivellino a esquecer isso. O futebol está mudado, você não precisa fazer parte em hipótese alguma de um grupo que conta Romero. Com sua perna direita que nem era a boa, daria elásticos em cães de guarda da moda e ganharia 10 títulos paulistas nos tempos de futebol moderno. Só para mostrar aos Deuses do Futebol que eles também erram.

BALTAZAR, ‘CABECINHA DE OURO’ PRECISA COMO O BIG-BEN

por André Felipe de Lima


Baltazar, o “Cabecinha de ouro”, foi um dos maiores artilheiros da história do Corinthians e ídolo alvinegro muito bem descrito pelo saudoso jornalista Solange Bibas: “O Cabecinha de Ouro é como o Big-Ben de Londres: infalivelmente certo!”. Cabeçada com ele significava meio gol. Mais certo meter a bola na rede com o cocuruto que chutá-la da marca do pênalti e concluí-la em gol. “Com a cabeça, nem Pelé foi melhor do que eu”, dizia Baltazar, cujo nome era Oswaldo. Decidiram chamá-lo assim devido à semelhança com um irmão mais velho, esse sim com o “Baltazar” devidamente descrito na certidão de nascimento.

As glórias do passado ficaram no baú, em jornais e revistas empoeiradas e carcomidas pelo tempo. Poucos hoje se recordam do grande centroavante, o segundo maior goleador da história do Corinthians, com 266 gols, ficando atrás apenas do atacante Cláudio, que marcou 305 vezes. Ambos foram contemporâneos e jogaram naquela que, para muitos, foi a melhor equipe que o Timão montou, entre 1950 e 1954, contando, principalmente, com os goleiros Gylmar dos Santos Neves e Cabeção; os defensores Homero, Murilo, Olavo, Belfare, Idário, Goiano e Touguinha; os volantes Roberto Belangero e Julião e os avantes Cláudio, Luizinho, Baltazar, Rafael, Nelsinho, Carbone, Simão e Mário. Uma penca de craques que teve como treinadores no período Newton Senra, Rato (grande craque do Timão nos anos de 1920) e Oswaldo Brandão, talvez o maior treinador que o Timão já teve.


Tudo que puderam disputar, eles conquistaram. Com essa leva de cobras, o Timão foi tricampeão paulista, de 1951 a 1954; três vezes campeão do Torneio Rio-São Paulo, em 1950, 53 e 54, e até mesmo vencedor da Copa Marcos Pérez Gimenez, considerada uma pequena “Taça do Mundo”, de 1953, um quadrangular para o qual o Timão acabou convidado após a desistência do Vasco. Realizada na Venezuela, a competição teve o Corinthians campeão após bater a Seleção de Caracas, o Barcelona e a Roma, que foi no lugar do Milan, que, igualmente ao Vasco, desistiu do torneio. Foi o único título dessa leva memorável de conquistas que o “Cabecinha de ouro” não ostenta no invejável currículo.

O próprio Baltazar não era afeito a entrevistas e, segundo perfil publicado pela revista Placar, em 1970, nunca gostou muito de paparico de torcedor. “Todos o achavam muito mascarado”, escreveu a revista. Mas Baltazar reconhecia o jeitão esquisito: “Eu sou assim. O passado não me interessa”.

Mesmo de perfil azedo, Baltazar não pode ser esquecido no passado. Nem pelos torcedores mais jovens e jamais pelos mais antigos. É um verdadeiro herói corintiano, que até o final da década de 1990 era figura indispensável em formações dos sonhos do Timão, como mostrou edições da própria Placar e dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo. Sempre que rolava uma enquete promovida por estes veículos para a escolha dos melhores do Timão em todos os tempos, Baltazar era nome certo. Mas a virada do ano 2000, marcada pelo tal “bug do milênio” nos computadores, parece ter apagado —, não das máquinas e acervos, mas da memória de muitos — a figura do incomparável Baltazar, o “Cabecinha de ouro”, que hoje completaria 93 anos. Hora mais que oportuna para resgatá-lo.