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Copa do Mundo

ROBERTO BAGGIO, AS COPAS E OS PÊNALTIS

por Serginho 5Bocas 


Garoto muito bom de bola, cheio de ginga e artilheiro nos campinhos italianos, parecia um brasileiro tal a sua facilidade no trato com a bola. Foi mais ou menos assim que o olheiro que viu Baggio dando show nos campinhos de pelada da Itália descreveu a fera no documentário e filme da Copa de 1994, “Todos os corações do mundo”. 

Com um estilo destes não poderia deixar de ter ídolos brasileiros. Seu primeiro ídolo foi Chinesinho, que jogou no Vicenza e depois foi Zico, a quem acompanhou de perto, inclusive viajando de trem para vê-lo jogar, quando o Galinho atuou pela Udinese e até mesmo no Flamengo pela TV. Seu primeiro treinador no Vicenza chegou o apelidando de Zico, por conta de sua habilidade com a bola.

Baggio foi precoce, pois, em 1982, aos quinze anos, já estava nos profissionais na Série C do Campeonato Italiano e, em 1985, aos dezoito anos, estreava na Fiorentina. Apesar de ter de conviver com problemas físicos no joelho, teve uma passagem na Fiorentina espetacular, fazendo lindos gols, que o levariam à seleção italiana e à primeira Copa do Mundo, de 1990, na Itália. 

Craque de belos gols, foram muitos, mas o que ele fez quando jogava pela Fiorentina contra o Napoli de Maradona, foi sensacional. Além de ter feito três gols na partida, fez um golaço arrancando da meia lua de sua defesa e enfileirando jogadores do Napoli, finalizando com um drible no goleiro, uma pintura que concorreria ao prêmio “Puskas” da FIFA nos dias atuais.

Roberto Baggio, “il brasiliano”, tem uma peculiaridade em sua carreira que precisa ser enfatizada: participou de três disputas de pênaltis nas três Copas do Mundo que esteve, e perdeu todas, infelizmente uma marca infeliz em sua carreira.


Na Copa de 1990, em casa, ele ficou praticamente toda a competição no banco para  Gianini do Roma, mas foi ganhando espaço com suas belas atuações e se firmando cada vez que entrava em campo. Fez um golaço contra a Tchecoslovaquia, mas foi desclassificado na semifinal contra a Argentina, quando Donadoni e Serena perderam suas cobranças. Baggio só entrou no meio do segundo tempo, fez o seu na disputa de pênaltis, mas não foi o suficiente, era a sua primeira eliminação.

Em 1994, como titular, fazia a Copa de sua vida, pois a partir da fase de mata-mata, danou a fazer gols importantes e foi carregando a seleção italiana para as fases seguintes do mundial. Na final contra o Brasil, jogou com uma lesão na coxa por conta de uma entrada que sofreu de um zagueiro búlgaro na semifinal e perdeu um gol feito cara a cara com Taffarel. Nos pênaltis, nova tristeza, pois Baresi e Massaro perderam primeiro, mas ele perdeu o último pênalti, isolando a bola. O Brasil venceu, mesmo com Marcio Santos perdendo a primeira cobrança. A Itália foi tão ruim nos pênaltis que Bebeto nem precisou bater a sua cobrança que seria a última da série, foi a segunda e talvez a mais marcante decepção de sua vida em Copas do Mundo. 

Em 1998, novamente foi reserva, ia dividindo o tempo das partidas com Del Piero, vinha tendo ótimas atuações e no jogo das quartas de finais contra a França, ele entrou no final do segundo tempo e poderia ter se consagrado, se fizesse o “Golden-gol” na prorrogação, quando tentou encobrir levemente Barthez e a bola passou rente à trave, uma pena. Desta vez, como em 1990, acertou a sua cobrança, mas seus companheiros Albertini e Di Biagio perderam e a Itália novamente voltou para casa sem vencer.


Triste sina, caprichos dos deuses, sei lá o que foi, mas sei que Baggio foi reserva injustamente em duas Copas e, na única que foi titular, perdeu o pênalti decisivo após carregar os italianos nas costas a Copa toda, vai entender o jogo bruto das Copas do Mundo.

Baggio pode colocar a cabeça no travesseiro antes de dormir e, se orgulhar de ter sido considerado o melhor jogador do mundo pela FIFA em 1993 e, de ter jogado nos três maiores clubes italianos, sendo considerado ídolo nas três equipes. Mas o mais brasileiro de todos os italianos, a fera dos gols bonitos, não foi um cara de sorte na Copa do Mundo, apesar de ter deixado belas pinturas na memória e na retina dos torcedores e dos fãs do bom futebol.

Baggio foi pra mim o melhor jogador de futebol italiano que vi jogar, gastava a bola com a beleza e a inteligência dos gênios, a falta de uma vitória em Copas com certeza diminuiu o seu tamanho para o resto do mundo, não pra mim.

Forte abraço

Serginho 5Bocas

SIM E NÃO

por Rubens Lemos


Alguns amigos da minha geração, do fim dos anos 1970 e plenitude nos anos 1980, sempre perguntam se ganharíamos da Itália em 1982 fosse a Copa do Mundo um campeonato, com turno e returno e não um torneio de tiro curto, simples, errou, morreu. Sempre digo sim e não e vou explicar.

Digo sim se (conjunção da ilusão), Telê Santana, teimoso siderúrgico, trocasse na partida da volta contra a Azzurra, o goleiro Valdir Perez por Carlos (o melhor mesmo era Leão, que não foi por birra de Telê), o quarto-zagueiro Luisinho por Edinho, o amarelão Cerezo pelo corajoso Batista e o horroroso centroavante Serginho Chulapa por Roberto Dinamite.

Ou mesmo Telê Santana, que odiava o Vasco – veterano, foi dispensado em 1965 e não poria Dinamite, adiantasse Sócrates com Paulo Isidoro na ponta-direita. Ponta-direita que o traumatizou no baile tomado de Garrincha nos 6×2 do Botafogo no Fluminense em 1957.

O time ficaria competitivo, não somente belo e encantador. Estava em jogo uma vaga, a classificação e com Cerezo dando passes perfeitos para Paolo Rossi e atrasando cabeçadas com a bola dominada para escanteio, Luisinho sem pular uma Gilete e Serginho Chulapa inútil e dominado pelo magistral Gaetano Scirea, líbero perfeito, possivelmente perderíamos a segunda por 4×2.

Todos dizem que em 20 partidas Brasil x Itália em 1982, o Brasil ganharia 19. Depois insistem que somos humildes, simpáticos e despretensiosos. A seleção italiana era excelente e melhor para disputas do modelo da Copa de então. E de sempre, pois, passada a primeira fase, começam os mata-matas.

A Itália tinha Zoff, um monstro no gol, Scirea já mencionado, Cabrini, um lateral-esquerdo do nível de Júnior, dois meias que jogariam no time do Brasil: Tardelli e, sobretudo, Antognioni, um falso ponta brilhante, Bruno Conti, um artilheiro que funcionava, Paolo Rossi e um outro armandinho de talento, Graziani.

Então, melhor ficar do jeito que a história decidiu. Quando o Brasil perde, vem a soberba verborrágica, “foram os deuses do futebol”, quando o Brasil ganha, não há deuses, mas a onipotência insuperável do jogador brasileiro.

Em 2014, ninguém falou em Deus na justíssima surra de 7×1 da Alemanha, sobre o time de mascarados cabeças de bagre. A Holanda não repetiu, por ressaca e piedade, a diferença de gols na decisão do terceiro lugar, puxando o freio nos 3×0.

O encanto que resta na Copa do Mundo é o seu caráter eliminatório. Senão seria uma Copa América acrescida de europeus, africanos e asiáticos. E bote chata nisso.

A Copa América, exceto a de 1989, aquela em que Bebeto e Romário deram show, é competição sem charme, sem consequências, não classifica para nada. Seria ótima, garantisse uma das vagas das Eliminatórias continentais para a Copa do Mundo, aí sim.

Sobre Brasil x Itália, para tentar encerrar o que nunca vai terminar, é comer uma macarronada com cerveja e dormir. Para sonhar com o 3×3 e acordar puto da vida.

O TIME IDEAL PARA A COPA DO MUNDO DE 1978

por Luis Filipe Chateaubriand


Na Copa do Mundo de 1978, na Argentina, o revolucionário técnico da Seleção Brasileira Cláudio Coutinho, excelente treinador, cometeu erros relevantes, possivelmente por inexperiência, já que era novato como técnico. 

Um de seus maiores erros foi a escalação do time. Seu time titular não inspirava confiança. 

O time titular de Cláudio Coutinho foi: Leão; Toninho (Nelinho), Oscar, Amaral e Edinho (Rodrigues Neto); Batista, Toninho Cerezo (Chicão) e Zico (Jorge Mendonça); Gil, Reinaldo (Roberto Dinamite) e Dirceu. Rivelino, contundido, estava fora de combate.

Melhor Coutinho teria feito se escalasse o seguinte time: Leão; Toninho, Oscar, Amaral e Junior; Carpegiani, Toninho Cerezo e Falcão; Zico, Reinaldo e Dirceu. 

Coutinho sequer levou Junior e Carpegiani para a Copa. Por também ser técnico do Flamengo, possivelmente temeu ser acusado de favorecer o clube. Não podia deixar os dois grandes jogadores de fora. 

Coutinho barrou Zico e Reinaldo, um crime de lesa pátria ao bom futebol. 

Principalmente, Coutinho sequer convocou Falcão, um disparate que chega a ser inacreditável. 

Coutinho preferiu escalar os pouco mais que esforçados Batista e Rodrigues Neto, o maldoso Chicão, o ultrapassado taticamente Gil e Jorge Mendonça e Roberto Dinamite – excelentes opções de banco, mas abaixo de Zico e Reinaldo. 

Ah, Coutinho! Você era tão brilhante… o que te passou pela cabeça?

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

TELÊ, LEÃO E A COPA DE 82

por Luis Filipe Chateaubriand 


Algo que, há mais de 35 anos, não se entende no futebol brasileiro é o motivo de Telê Santana, ao assumir a Seleção Brasileira em 1980, e até a Copa do Mundo de 1982, nunca ter convocado Émerson Leão, indiscutivelmente o melhor goleiro do Brasil na época. 

Uma especulação sobre o que teria acontecido leva ao seguinte raciocínio: Leão tinha personalidade forte, era um líder; e Telê Santana não queria esse tipo de liderança em seu grupo; afinal, ele queria ser a personalidade forte do grupo. 

É inegável que, posta sua carreira até 1982, Leão exerceu papel de liderança, seja no Palmeiras, seja no Vasco da Gama, seja no Grêmio de Porto Alegre, seja ainda na própria Seleção Brasileira. 


Também é muito claro que, em sua carreira de treinador, até chegar à Seleção Brasileira, Telê não estava acostumado a lidar com fortes lideranças, nem no Fluminense, nem no Atlético Mineiro, nem no São Paulo, nem no Botafogo, nem no Grêmio, nem no Palmeiras. 

Telê deve ter apostado que, sem um grande líder, a Seleção teria um espírito coletivo maior, se unindo em torno de sua liderança. 

Só pode ser isso… não era possível enxergar outro motivo para deixar Leão de fora.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

O PRÍNCIPE QUE ANULOU UM GOL EM PLENA COPA DO MUNDO

por André Luiz Pereira Nunes


Imaginem a seguinte situação. O príncipe de um pequeno país do Oriente Médio se rebela contra a decisão da arbitragem, abandona as tribunas onde assistia ao jogo e resolve invadir o campo juntamente com seus guarda-costas para pressionar o juiz e fazer com que o mesmo volte atrás e invalide um gol assinalado pela equipe adversária. O fato poderia ser retirado de um filme de comédia, mas aconteceu de verdade. E não foi em um torneio amador ou nas divisões inferiores do combalido Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. O palco dessa cena pitoresca, impensável e bizarra abrigava simplesmente a maior competição futebolística do planeta: a Copa do Mundo.

Fahad Al Ahmad Al-Sabah, príncipe do Kuwait, realizou o impossível: anular um gol legítimo contra seu país em pleno Mundial de 1982. O acontecimento foi durante a partida entre França e Kuwait, em Valladolid, pela segunda rodada da fase de grupos. Os europeus já venciam por 3 a 1 quando, aos 27 minutos da segunda etapa, Giresse assinalou mais um. O lance, embora inteiramente normal, provocaria intensa revolta dos árabes, os quais alegaram que o atacante rival estaria em posição irregular, pois tinham escutado um apito. Uma grande confusão se formou dentro do campo. Al-Sabah então desautorizou que a seleção do Kuwait retornasse à partida, surpreendendo inclusive o próprio técnico, o brilhante Carlos Alberto Parreira.

O xeque, que assistia a tudo atentamente, era o presidente da federação de futebol, e levou a reclamação muito a sério. Imediatamente desceu ao campo para conversar pessoalmente com o árbitro Miroslav Stupar, da União Soviética. O dirigente argumentou que os jogadores de sua seleção desistiram da jogada que resultou no gol de Alan Giresse após ouvirem soar um apito, provavelmente proferido das arquibancadas e, por conta disso, seus jogadores acreditaram que se tratara de um impedimento. 

Irmão caçula do Emir do Kuwait, militar formado na Royal Military Academy Sandhurst, do Reino Unido, o polêmico Al-Sabah sempre amou o esporte. Fundara o Comitê Olímpico de seu país e presidira quase todas as associações esportivas de sua pequena nação como a de tae kwon do, boxe, caratê, handebol, esportes náuticos, remo e, obviamente, o futebol. Foi ainda dirigente da Federação nos Jogos Asiáticos, do Conselho Olímpico de seu continente, da União Esportiva Árabe, do COI e fundador da União Geral de Esportes da Ásia. Viajava o mundo comandando as delegações em quaisquer que fossem os esportes e competições. 

Mas foi realmente na Copa do Mundo da Espanha que ganhara fama mundial. A TV distribuiu a sua imagem para quase duzentos países quando, inadvertidamente, no melhor estilo Eurico Miranda, adentrou ao gramado e convenceu Miroslav Stupar a anular o tento contra o seu amado Kuwait. “Ou você invalida o gol, ou eu retiro o Kuwait da Copa do Mundo”, ameaçou. Curiosamente o juiz assentiu ao pedido e a marcação foi irremediavelmente anulada. A decisão, porém, seria fatal para o árbitro ucraniano, o qual jamais pôde continuar a apitar internacionalmente. Além de barrado dos quadros da FIFA, fôra suspenso da função pelo resto de sua vida. Coube, no entanto, ao príncipe, um dos homens mais ricos do mundo, apenas pagar uma módica multa de 8 mil dólares e ser perdoado. Contudo, desde então, o time do Oriente Médio jamais voltaria a se classificar para uma Copa do Mundo.

Vale ressaltar que o Kuwait, estreante na competição, dias antes havia empatado com a Tchecoslováquia e perdido apenas por 1 a 0 para a fortíssima Inglaterra. Por isso, o cotejo contra os franceses era de extrema importância e responsabilidade para o destino da equipe no torneio. 

Todavia, nem sempre o dinheiro salvaria a pele do poderoso dirigente invasor de gramados e anulador de assinalações. Oito anos mais tarde, sua roda da fortuna giraria para o lado oposto. De invasor, passaria a invadido. Em agosto de 1990, o vizinho Iraque, de Saddam Hussein, usurpou o Kuwait, no começo da chamada Guerra do Golfo. Apenas 100 mil soldados foram suficientes para subjugar 16 mil defensores. O irmão de Al-Sabah, dirigente máximo do país, deu logo no pé, deixando o príncipe, então com 45 anos, para defender o Palácio. Quis o destino que dessa vez o xeque não conseguisse convencer absolutamente mais ninguém. Acabaria impiedosamente morto a tiros e seu cadáver arrastado por um tanque T72 iraquiano. 

O seu legado, entretanto, não se extinguiu com ele. O filho mais velho, Ahmad, a maior autoridade do exército, foi ministro das Informações e do Petróleo, a maior renda da nação. Ainda é presidente do Conselho Olímpico da Ásia e já treinou a seleção de futebol. O segundo filho, Talal, dirige a Federação de basquete. O terceiro, Athbi, pratica tiro. O quarto, Khaled, é vice-presidente da Federação Nacional de Futebol. E finalmente o caçula, Dari, é o mandatário do Clube Hípico e de Caça. Não há, porém, registros de que qualquer deles tenha invadido uma praça esportiva para contestar qualquer decisão de arbitragem.