por Mateus Ribeiro
Já faz um tempo que me apaixonei pelo futebol. Não sei a data exata, mas já faz mais de vinte e cinco anos. Uma vida inteira.
Como acontece em (quase) todos os relacionamentos amorosos, existem idas e vindas, risos e choros, mas no final das contas, o amor prevalece. Um sentimento que poderia ser traduzido através do clássico “Entre Tapas e Beijos”, da dupla Leandro e Leonardo. E dentre esses beijos,os mais tórridos que dei em minha paixão aconteceram de 4 em 4 anos. A Copa do Mundo servia como motel durante um mês. Aqui, neste texto, falarei sobre tudo que aconteceu no nosso quarto francês, no ano de 1998, já que a Copa disputada na França foi a que mais me fez sentir tudo o que uma relação de paixão pode trazer.
Devo dizer que em 1994, por ser minha primeira Copa, como em todo começo de namoro, tudo foi uma maravilha. Até o Brasil sendo campeão serviu para criar um horizonte de perfeição intocável. O time que eu torcia era invencível, eu só via jogo bom, um monte de craques desfilando um bom futebol, e belíssimos uniformes me deixaram enfeitiçado por um mês. Após o primeiro término, esperei os quatro mais longos anos da minha nada mole vida para viver a primeira reconciliação.
Após muitos meses de espera, eis que chega o período pré Copa. Aproveitava meu talento em cumprir bem minha obrigação de ser bom aluno, e cobrava para fazer trabalho de escola pros alunos mais preguiçosos. Todo o dinheiro arrecadado tinha uma finalidade: comprar figurinhas para o álbum oficial da Copa do Mundo. Como na época a Internet e a TV por assinatura eram sonhos impossíveis para a minha realidade, utilizava os dados contidos no álbum para descobrir até a data de aniversário dos jogadores.
Enfim, chega o dia da estréia. Meu amor Brasil entra em campo contra a Escócia. Achei que fosse ser vida fácil, mas quase que o boi deita na estreia. Aparentemente, depois de um gol bem confuso de Cafu, tudo ficaria mais tranquilo.
Após a primeira partida, tinha que acompanhar minhas pretendentes remanescentes de 1994, Bulgária e Romênia. Devo dizer que a Bulgária estava bem diferente de quatro anos atrás. Mais chata, burocrática, e parecia não haver muita possibilidade de uma volta. Cheguei a pensar “como um dia me apaixonei por quem hoje despreza tanto minha pessoa (e a bola)?”. A relação acabou quando conseguiram apanhar de 6 da sempre sem sal Espanha. Ambos arrumaram as malas e partiram pra longe após o jogo.
Já a Romênia parecia estar mais madura, mais atraente. Porém, após alguns flertes, resolveu mudar um pouco o visual. Não deu muito certo, e coube a Croácia (que viraria minha paixão de inverno) terminar minha relação com a Romênia de forma mais amena.
Voltando ao meu primeiro amor (Brasil sil sil), a primeira decepção foi a derrota para a Noruega. Para deixar tudo mais triste, a derrota foi no mesmo dia (ou na mesma semana, não me recordo) da morte do Cantor Leandro, um fato que comoveu muita gente, e me fez ouvir a música “Um sonhador” por horas a fio. Inclusive dei o play nela agora. Mesmo após a derrota, que contou com um show de Galvão Bueno reclamando de uma penalidade máxima para os Escandinavos, a classificação estava encaminhada. Foi por pouco que não tive que pagar o motel e voltar pra casa. Pelo menos iria pagar metade do preço.
Já que as outras pretendentes haviam ido embora, criei vergonha na cara e resolvi dar atenção exclusiva para meu único amor. E a próxima seleção que tentaria destruir esse amor foi o Chile. Se você tem menos de 20 anos e se impressiona com esse time aí comandado por Vidal e Sanchez, saiba que apesar de Salas e Zamorano, o Chile era o patinho feio da turma. Basicamente, é aquela pessoa que ninguém dá bola no colegial, e depois de 20 anos pensa que é galã. Enfim, uma paulada com direito a show de César Sampaio colocou os chilenos no lugar deles.
A segunda crise foi ocasionada pela irresponsabilidade. Roberto Carlos foi empinar sua bicicleta e quase jogou tudo pro alto. Ainda bem que Rivaldo ajudou na reconciliação, apesar dos esforços da Dona Dinamarca em me seduzir.
Passado o susto, eis que aparece a sempre formosa Holanda. Por pouco que o suco não ferve, mas o que azedou mesmo foi o suco de laranja, graças ao Santo Taffarel. Agora era só ganhar dos donos da casa para concretizar o casamento.
Acontece que o final de tudo foi trágico. Desde o fato de ninguém saber o que aconteceu na tarde da final (foi a primeira vez que eu ligava e o mozão não atendia as ligações) até o Roberto Carlos batendo balãozinho, passando pelo gol daquele careca maldito que eu nunca tinha ouvido falar na vida, a porrada foi dolorida. Mas nada, nada foi pior do que tomar um gol do Petit. Me senti trocado pelo meu pior inimigo. Senti algo como chegar no baile e dar de cara com minha ex aos beijos com o jovem feioso da rua de baixo.
Foi o pior fim para uma relação que eu achei ser perfeita.
O lado bom de tudo isso é que descobri outros amores, como a Croácia e a Iugoslávia. Pena que tal qual meu coração, a Iugoslávia foi dividida em pedaços, e não me encantou mais. Quanto à Croácia, só fez barulho, bagunçou e foi embora, como todas as minhas paixões da vida real.
Sobre o Brasil, foi o último ato. Depois de sair do motel em 1998, nunca mais torci para os cordeirinhos da Nike e da CBF. Não torço para se dar bem, se tornou aquela ex que eu amei muito um dia. Não tenho a mínima pretensão de voltar, visto as decepções que sofri. A sutil diferença é que as ex namoradas eu não sei e nem quero saber do rumo que tomaram. Já a Seleção eu acho um barato quando perde, e espero que perca em todas as outras Copas que disputar.
Até tentei descobrir novos amores, mas após alugar quartos de motéis no Japão , na Coréia do Sul e na Alemanha, nunca mais senti vontade de deitar na cama redonda que a Copa me oferecia. Hoje, a Copa do Mundo se tornou basicamente um almoço na casa da família da namorada pra mim. Começa bem chato, no meio eu me acostumo, mas não vejo a hora que acabe. e quando acaba, não sinto a mínima falta.
Vamos aguardar para ver se a Rússia reacende essa chama dentro de mim.
Até a próxima!