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Copa do Mundo

ELES NÃO SABEM O QUE FAZEM

por Zé Roberto Padilha


Quem o julgou, Guerrero, não sabe o que faz
Impedir um menino simples e talentoso
Criado em um país humilde das Américas
Ter o direito de passar toda uma vida lutando
Para realizar seu sonho de criança
Que é jogar uma Copa do Mundo

Difícil para eles, os sabidos, filhos dos sabidos
Procriados nos primórdios das Américas, enviados à Coimbra
Enquanto os colonizados sofriam e pagavam impostos à matriz
Não convidados ao açoite, poupados ao submisso
Entender o que é ter um filho seu, nativo, sobrevivente e excluído
Ser convocado a jogar uma Copa do Mundo

Porque seus filhos, os filhos das elites
Tiveram acesso aos melhores salões, as mais belas cortesãs, cargos de chefia
Os melhores brinquedos
Do autorama ao videogame, de ultima geração
A serem escolhidos por méritos, conquistas pessoais, gols marcados
Não acordos escusos, indicações, bocadas, fisiologismos

Ao não terem como única opção, à sua disposição
Apenas um campo de terra batida, no Peru, Argentina ou Vila Maria
Uma bola de futebol, como única diversão
Jamais aos seus rebentos fora permitido uma topada sobre pés descalços,
Numa pelada a céu aberto, pois estes calçariam mais tarde, na posse, 
Mocassins italianos pela manutenção da ordem e sobrevida
De suas eternas oligarquias


Essa semana, a FIFA acabou de impedir, no alto do seu poder absolutista
Que a arte de um exímio artista, seu raro domínio sobre os quiques
E o rumo da razão maior de toda a festa do futebol
A bola de futebol bonita, colorida e atrevida, 
Que aos poucos foi cedendo seu encanto, sua magia e empatia
A quem melhor aprendeu, como Paolo Guerrero,
A alinhá-la nas redes que perseguia, seu alvo, sua razão maior de existir

Para eles, Guerrero, que estudaram Direito desde cedo para serem justos
Mas precisam ser justos apenas com os seus e consigo mesmo
O chá de coca que você toma, desde menino, virou cocaína na festa deles
E acaba de estragar a festa do seu povo, peruano
E outra festa da sua nação, rubro-negra
Apenas porque o mundo é sempre injusto com o sul da América
E incapaz de reconhecer o valor dos seus heróis e guerreiros.

Eles não sabem o que fazem, e o artista da festa que estão perdendo.

SARRIAZO 1982, A ANATOMIA DE UMA DOR 

por Marcelo Mendez

Era dia 05 de julho de 1982, aproximadamente 10h da manhã, no Parque Novo Oratório, em Santo André.

A essa altura daquela segunda-feira, algumas coisas ainda seguiam o curso normal da razão, dos sentidos, das coisas que são como devem ser. Acordei tarde, não haveria aula no Felipe Ricci por uma razão muito nobre:


O time de futebol o qual orgulhosamente chamávamos de Brasil entraria em campo para enfrentar uma capengante Itália pelas quartas de final da Copa do Mundo da Espanha. O time italiano vinha de uma primeira fase triste, com três empates e uma classificação por gols marcados; Um!

Já do nosso, outra expectativa não havia. Daquele time de sonhos com Leandro, Júnior, Cerezo, Falcão, Zico, Sócrates, Serginho e Eder, apenas o espetáculo era admitido. Nada menos do que isso serviria para conter nossa sanha bronzeada de encanto

– Toma café, menino! – cobrou-me a mãe, Dona Claudete. Não quis.

Ansioso por outro baile, como tantos outros que me foram oferecidos por aquele time, saí de casa, peguei minha bola olímpica nº5, amarrei meu kichute e fui para o Campinho da Rua Cremona. Uma espécie de santuário dos meninos de 12 anos como eu. Cheguei por lá e não encontrei ninguém. Apenas um silêncio grande, e o vento que varria a poeira daquele campinho. Não me importei.

Comecei petecar a bola, meio que como uma forma de me comunicar, de ouvir algo, de tentar saber do que viria logo mais, na partida que seria realizada às 12h. Me perdi em pensamentos e outros sentimentos. Só me desvencilhei deles com o chamado de meu primo Delei:

– Ei, Marcelo… Vem logo pra casa da Tia Leoni que o jogo vai começar! – fui.

A partir do apito daquele árbitro, o tempo passou a não ter mais nenhuma lógica, a noção dos minutos se foi, todo e qualquer arremedo de sentido se esvaiu por entre sonhos de meninos que se frustram, por entre paixões que não podem ser vividas, por amores que são vilipendiados por uma chicotada de realidade dura e fria como corte. Começava o jogo que para mim jamais terá fim:

Era o Brasil x Itália de 1982…

O silêncio que sufoca

No caminho entre o campinho e a casa de minha Tia Leoni, eu e meu primo Delei pouco falamos.

Estranhamente algo nos incomodava, mas não dava para saber. Nem de longe pensávamos que era nosso time, ali tudo ia bem. Mas aquele silêncio do campinho da Rua Cremona, irritantemente insistia em mim. E mesmo chegando no alvoroço da casa minha Tia Leoni, nosso ponto escolhido para torcer, mesmo lá, em meio a tanta euforia, a única coisa que eu conseguia ouvir era aquele silêncio.

Dentro de mim as coisas seguiam assim, meio turvas e caladas. Não brinquei com o Fred, o pastor alemão do quintal, não tentei roubar as empanadas da Tia Leoni, pouco falei e surpreendentemente sentei no meu canto do sofá da sala e alheio a tudo aquilo, esperava pela hora do jogo.

Só ouvia o silêncio…


Eis que aos 5 minutos de jogo, Paolo Rossi faz 1×0 para a Itália.

Aquilo me fez ouvir mais outras coisas além do silêncio. Finalmente ouvi meus tios e primos brigando, xingando o Luizinho que deixou o italiano subir sozinho e por aí vai. Não me assustei aquilo já havia acontecido antes e viramos contra URSS e Escócia. Decerto que algo aconteceria para restabelecer a ordem. Aconteceu:

Sócrates empata aos 12 minutos. Festa!

Os mesmos abraços, a mesma alegria e então, do nada, poucos minutos após, aos 25, o mesmo Rossi aproveita um vacilo de Cerezo e faz 2×1 para Itália.

Medo…

Aquilo nunca aconteceu. Nunca tínhamos visto uma seleção ousar a atacar e marcar tão bem nosso time. Quem diabo era esse tal de Conti que tanto corria? E esse aí, tal de Graziani que está em todo lugar? E o tal do Rossi?? Nunca jogou nada e vai resolver jogar agora?? As perguntas me torturavam e não tinham resposta. Assim seguiram até os 22 do segundo tempo quando Falcão enfiou o pé e fez o 2×2.


GOOOOOOLLLLLLLLLL!!! – Gritei com gosto. Saiu das profundezas da minha alma de menino a força para comemorar um gol que nos classificaria e que nada; “Vamos virar isso aí” – eu pensava.

Mas aí veio os 29 minutos do segundo tempo de jogo no Sarriá… 

O Apocalipse

Não sei exatamente o que fiz depois daquele terceiro gol de Paolo Rossi. Apaguei da minha mente aquilo. Não quero lembrar a dor que senti quando o goleiro Zoff pegou aquela cabeçada do Oscar aos 42 do segundo tempo. Não quero lembrar a hora que o árbitro apitou o fim.

Sei apenas do que houve depois daquilo.

Andei até a cozinha da casa e chorei… Tive uma crise de choro absurda a altos brados.

Todo mundo correu, tentou falar comigo, mas nada conseguia me consolar. Me desvencilhei de quem quis me segurar, corri até o quintal, caí no chão e segui chorando. Naquele momento na casa da minha tia, só se ouvia meu choro.


Minha mãe preocupada me segurou, chorou comigo. Meu Pai, desesperado, não sabia o que fazer. Eu seguia… Dentro de mim, pela primeira vez na vida, veio uma dor de perda, de me tirarem algo que gostava, uma coisa dura de sentir.

Nesse momento, Tio Urzaiz veio.

Me pegou do chão a contra gosto, me jogou no carro. Lembro que ele falou algo com meu Pai e então saímos. No banco daquele Opala, ouvi meu Tio falando comigo.

Falou das duras lutas de nossa família, do Brasil que até aquele momento só perdia, dos anos de chumbo, das torturas, das eleições diretas que se sonhava…

Se esforçava para dizer que entendia o porquê de eu querer ter uma mínima alegria no futebol. Mas que a vida era assim. Que ia doer pra caralho às vezes, mas viver sempre ia valer a pena.

Rodamos de carro. O jogo acabou e saímos umas 15h, se muito. Meu tio me entregou em casa as 22h30.

Naquela noite quis que tudo de muito ruim acontecesse com a Itália e com o Paolo Rossi, mas não adiantou; Semanas depois ele foi artilheiro da Copa e a Itália campeã do mundo.

O rescaldo da dor

Muita coisa aconteceu depois disso.

Surgiram técnicos covardes e seus volantões, surgiu a desesperança em campo e a culpa disso tudo era da beleza, segundo alguns. O Brasil ganhou uma Copa nos pênaltis, outra de madrugada na Ásia e eu não comemorei. Não comemorei mais nada de seleção. Minha geração não é dada esses foguetórios.


Não nos cobre que sejamos felizes com uma Copa que se ganha com o adversário dando uma bicuda para fora. Não queiram que vejamos graça em vencer uma Alemanha capengante. Não queiram que sejamos complacentes com a seleção do Ricardo Teixeira, do Marín, do Del Nero, nem com o Brasil do Collor, ou com o oba-oba do Galvão Bueno. Não…

Nós sempre seremos a geração que ousou sonhar, que teve a picardia de querer o show, de mandar às favas esse troço de “jogar pelo empate”. Dane-se! Não jogamos pelo empate, jogamos pelo sonho! E por mais que doa, como disse meu Tio Urzaiz, sempre vai valer pena. Sempre.

Nós somos a geração que pra sempre vai torcer para aquela cabeçada do Oscar entrar, mesmo sabendo que jamais isso vai acontecer.

São Paulo, agosto de algum lugar pra depois do ano 2000…

 Não me recordo que diabo de evento era aquele e nem tampouco me preocupo com isso. Eu ia participar de uma coletiva com Dino Zoff, o goleiro italiano de 1982. Após perguntas, risadas, simpatia e elegância da parte dele, a coisa acabou e eu o segui pelo corredor do hotel. Cheguei perto.

Vi um homem alto, chique, muito bem vestido, um Signori Italiano típico. Ele me viu. Abriu um largo sorriso, me esticou a mão, eu apertei e disse:

– Posso te fazer uma pergunta?

– Claro…– respondeu gentilmente…

– Por que você pegou aquela cabeçada do Oscar em 1982? Por que?

Nesse momento, o velho Italiano riu e com a enorme mão direita me fez no rosto um afago de pai, de quem realmente se preocupa e me disse:

– Menino, por que você não esquece isso?

– Porque eu não consigo. Simplesmente não consigo…

CONSISTÊNCIA ZERO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

A “consistência de carreira” foi o critério adotado pelo “professor” Tite para a convocação dos jogadores. Antes escolhia-se pelo futebol… Mas Tite vive buscando esses termos em seu dicionário “Chatês”.

É uma tentativa de dar peso a um grupo sem carisma, sem sal e zero de identificação com grande parte do torcedor. Mas fazer o quê? É a globalização, nesse caso, como tem bola no meio, é a globolização…. Antes a base da seleção era o Botafogo, o Santos, o Cruzeiro. Hoje é o Manchester City, o Shakhtar Donetsk.

Do Brasil, Cássio e Fágner, claro do Corinthians, para agradar a massa. “Mas Tite, o Grêmio está atropelando, não vai levar nenhum de lá?”, deve ter alertado algum assessor. E entre o craque Luan e Geromel, mais um zagueiro comum, é óbvio que ele optou por um defensor.

Sem qualquer saudosismo, mas essa seleção e a do 10×1 são as piores da nossa história em Copas do Mundo. Qualquer uma das outras, mesmo as que não conquistaram o caneco, deixariam esses convocados na roda.


“Mas, Caju, você não gosta de ninguém?”. Já disse mil vezes e repito: Marcelo, Philippe Coutinho, Neymar e William são craques! Mas o conjunto da obra é ruim, bem ruim. E se é o que temos para hoje que repensem o nosso futebol e não venham com essa balela de “consistência de carreira”.

Resumindo, se essa seleção fosse um filme e eu um crítico de cinema, o meu bonequinho seria aquele indo embora da sala. E no meu caso xingando uns bons palavrões!  

O QUE ESPERAR DA COPA DO MUNDO

por Mateus Ribeiro


Falta pouco para a Copa do Mundo. Torcedores, jornalistas e profissionais da área começam a fazer projeções sobre o que pode acontecer no campeonato de futebol mais importante do planeta.

Como todo mundo tem um pouco de técnico e de entendido, resolvi dar meus pitacos também, e fazer um resumo geral do que pode acontecer na Copa do Mundo.

Sem mais conversas, vamos lá:

– Favoritos


Não tem muita novidade por aqui. Todos nós sabemos que Brasil e Alemanha SEMPRE entram como candidatos diretos ao título.

A favor da Alemanha, conta o fato de ter mantido um trabalho sólido, que já vem de muito tempo. O título mundial foi a cereja de um bolo que vem sendo preparado desde a década passada. Além disso tudo, a renovação tem se tornado uma constante, e muitos jogadores que eram promessas em 2014 são realidade em 2018, e poderão ajudar muito a atual campeã mundial. Isso pra não falar no peso da camisa, que apesar de alguns entendidos da nova geração tentarem desmerecer, ainda decide jogos e campeonatos.

Ao lado da Alemanha, os comandados de Tite. O treinador comandou um trabalho fantástico de reconstrução, e conta com ótimos nomes para tentar o sexto título mundial. Um fator que pode ajudar (e muito) a Seleção Canarinho é o fato de que Neymar (um dos poucos jogadores capazes de mudar uma partida em poucos toques) tem companhias melhores que Messi e Cristiano Ronaldo, por exemplo.


Resta saber em quais condições o astro brasileiro chegará para disputar a Copa. Jogam contra o  Brasil o costumeiro oba oba criado por parte da imprensa, que foi reforçado pela vitória diante da Alemanha.

Com um pouco menos de peso e força, chegam Espanha e França.

A Espanha aproveitará a última cartada dos remanescentes de 2010. Contam com o reforço de jovens talentos que surgiram nos últimos anos, além de um já consolidado sistema de jogo.

Já a França tem ótimos nomes, porém fracassou em seu maior teste, a final da Eurocopa.

Dito isso, temos uma Seleção que apesar da péssima fase, nunca pode ser subestimada. Sim, estou falando da Argentina. Mesmo om uma defesa inconstante, e com alguns jogadores discutíveis, não se pode esquecer que essa é a última Copa de Messi, e o jogador do Barcelona é um diferencial gigante. Ainda não conseguiu decidir um torneio para sua Seleção, mas quem sabe na última hora, o demônio adormecido não acorde, não é?

– Podem fazer alguma fumaça


São poucas as Seleções que podem pregar alguma peça, mas o Uruguai sempre merece respeito, e encabeça a lista. Além de ter caído em um grupo fácil, conta com uma seleção entrosada, e tem o talento de Suárez, que com a cabeça no lugar, deixou de ser um perigo para os uruguaios, e se tornou um terror para os adversários. Com uma pitada de sorte, pode beliscar uma vaga nas semifinais.

A tão falada Bélgica vem mais forte e mais madura do que em 2014. Também está em um grupo fácil, e se não fizer nada fora do script, passa fácil para as oitavas. Daí em diante, a coisa fica um pouco mais pesada. Mesmo assim, se o conjunto funcionar, pode chegar nas semifinais com um pouco mais de entrega e esforço.

A Inglaterra se renovou, e tenta apagar as duas últimas campanhas. O talento de Harry Kane deve ajudar muito, mas a falta de um goleiro confiável (um problema que parece não ter solução) e o time muito jovem podem atrapalhar. Nem de longe é candidata ao título, mas os ingleses devem fazer uma campanha mais digna do que a de 2014, com toda certeza.

Portugal é o famoso exército de um homem só. Como está em um grupo tecnicamente fraco, deve passar em segundo lugar, e o possível confronto das oitavas também está longe de ser uma pedreira.

Os gajos chegam credenciados também pelo título europeu, e se Cristiano Ronaldo estiver iluminado, podem sonhar até mesmo com uma vaga nas semifinais. Porém, nada além disso.

– Possíveis zebras


A zebra costuma passear na Copa do Mundo. Que o digam Turquia, Costa Rica e Croácia, para falar apenas dos últimos 20 anos. Em 2018, apesar da dificuldade, as surpresas podem aparecer, para o bem e para o mal.

Se existe um país que confia cegamente todas as suas esperanças em um só jogador, esse país é o Egito. Os faraós contam com Salah, que está em um momento formidável. Se conseguir passar pelo seu grupo, pode surpreender nas oitavas. E chegar até as quartas será um feito e tanto. Porém, se fracassar na primeira fase não será nenhuma coisa de outro mundo.

A Colômbia pode fazer o mesmo bom trabalho de 2014, quando vendeu caro a eliminação nas quartas de final.

Do mesmo grupo da Colômbia, temos a Polônia, que pode chegar bem nas oitavas, se Lewandowski estiver inspirado.

– Sacos de pancada


Apesar de todo o carinho de parte da imprensa, a estreante Islândia tem tudo para figurar ao lado da também estreante Panamá no hall dos sacos de pancada. Tunísia, Irã, Marrocos, Rússia e Arábia Saudita são outras fortes candidatas ao duvidoso prêmio de Seleção lanterna da Copa.

No restante, imagino que nada de especial vá aontecer.

Porém, o tal do futebol ainda é uma caixinha de surpresas,e tudo que foi escrito aqui pode me enganar. Portanto, tire seu print aqui e me cobre depois.

E para você, quais os favoritos, azarões e saco de porrada?

Até a próxima!

TARDES DE ENCANTO EM SEVILHA E UM BAILE NOS ARGENTINOS

por Marcelo Mendez


E a Espanha era uma festa!

Em um escaldante verão, as tardes de Sevilha viram os 11 homens de amarmelo dar espetáculos contra Escócia e Nova Zelândia e agora vinha a segunda fase.

Seriam quatro grupos de três times sendo que o campeão de cada grupo iria para semi. No grupo do Brasil, que muitos chamaram de “grupo de fogo”, tinha, além de nós, Argentina e Itália.

Em um sábado, após os treinos no Nacional, na hora de comer goiabas que a gente sempre roubava lá nos pomares do Seminário dos Padres, nós, os meninos de 12 anos de 1982, falávamos desse chaveamento:

– Porra, mas esse time Italiano num jogou nada na primeira fase!

– Ah, sei não, Batata. Agora é outra fase, time grande cresce nessas horas…

– Grande da onde, Pedrinho? Os caras fizeram um gol em três jogos e empataram com Camarões!

– Tá bom, Marcelo. Então cê acha que a Itália é uma merda? Vamo ver…

– Ô, Pedrinho… Que porra é essa?! Cê é Judeu ou é Italiano?!

Nessa hora, nós todos rimos:

– Que tem a ver a minha religião, com isso, Zila? Mas tá, depois a gente vai ver no campo. As coisas da bola se resolvem no campo!


– Escuta, mas antes tem a Argentina. Esqueceram?

– Argentina é baba, Marcelo…

O BAILE NA CATALUNHA

A Argentina estava engasgada na garganta.

Além de tudo que havia acontecido quatro anos antes, quando uma armação da Ditadura Argentina, alinhados com direção da Seleção Peruana, garantiu um resultado para os portenhos passarem de fase, aquele jogo pegado no Mundialito em 1981 estava bem vivo nas nossas cucas.

Era hora de passar o trator em cima dos caras.

No dia 02/07/82, em Barcelona, o Brasil jogou futebol como se não fosse haver amanhã. Como se fosse o ultimo jogo da face da terra.

Foi 3×1 em cima deles e era pra ter sido pelo menos uns 8!

Passamos pelos Argentinos. Agora era cumprir uma conveniência que seria vencer a Itália, time capengante e irregular e passar pra semi. Não passava pela cabeça de ninguém que o destino fosse ser outro.

Bem, a bola do destino rolou…