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Copa do Mundo

A COPA DO MUNDO E SUAS INJUSTIÇAS

por Mateus Ribeiro

Todos nós sabemos que o futebol está longe de ser um esporte dos mais “justos”. Coloco a palavra entre aspas, porque se pararmos para pensar, existe uma justiça no futebol: quem faz mais gols vence o jogo. E fim de papo.

Porém, sempre existem aquelas equipes que cativam muita gente, e quando perdem algum campeonato, deixam a sensação de que o resultado não foi o mais justo. E a Copa do Mundo é um grande palco para grandes dessas “injustiças”.


Quem é que não se lembra, ou nunca ouviu falar do Brasil de 1982 e de 1986? Um time recheado de jogadores do mais alto escalão, comandados por um dos treinadores mais cultuados e respeitados da historia do futebol brasileiro. Na Espanha, foi Paolo Rossi quem acabou com o sonho brasileiro. Quatro anos depois, no México, a França e as penalidades máximas fizeram com que milhões de pessoas lamentassem o fato de Zico, Sócrates, Telê Santana, Leandro, Osar, Waldir Peres, Éder, Cerezo e tanta gente boa terminasse a carreira sem uma Copa do Mundo no currículo.

O povo brasileiro ainda pode se gabar de ter cinco mundiais, dois desses conquistados depois das decepções oitentistas. E onde é que os holandeses encontram conforto, após três vice campeonatos?


A Laranja Mecânica deixou o planeta chocado com sua forma de jogar. Comandados por um gênio chamado Johan Cruijff, em 1974, foram derrotados pela eficiência dos alemães. Quatro anos mais tarde, na Argentina, já sem seu principal jogador, perderam para os donos da casa. Até hoje, as derrotas são lembradas. Na Copa da África, em 2010, Robben e seus companheiros tiveram a chance de lavar a alma de seus compatriotas, mas esbarraram no sólido time espanhol, e amarguraram mais uma vez a tristeza de perder uma final de Copa do Mundo. Já neste último caso, vale ressaltar que qualquer Seleção que vencesse iria ser lembrada. Não que a Alemanha de 1974 ou a Argentina de 1978 não fossem merecedoras (apesar do “polêmico Argentina x Peru…), mas até hoje, fica a sensação de que aquele time da década de 1970 merecia um título de Copa do Mundo. Na verdade, a Holanda merece estar no seleto hall de campeões mundiais. Uma pena que em 2018 não disputarão o Mundial.


Outro caso bastante falado é o de Messi. Um dos maiores jogadores dos últimos trinta anos, o argentino não conseguiu conquistar o tri para sua seleção. É bem verdade que suas companhias em 2010 e 2014 eram um tanto quanto contestáveis. Porém, para o povo argentino, tão apaixonado por futebol, não importa que Messi tenha conquistado o Universo pelo Barcelona, encerrar a carreira sem dar um título para a Argentina no futebol profissional vai ser uma marca em sua vitoriosa jornada futebolística.


Cristiano Ronaldo, seu eterno “rival”, até poderia entrar nessa estatística, mas se lembrarmos que Portugal tem uma relevância bem menor do que a Argentina no futebol, e que os gajos foram campeões europeus em 2016 (mesmo com o craque não jogando a final, e com a seleção passando de fase na bacia das almas…), a barra do jogador do Real Madrid fica limpa. Seria o mesmo, por exemplo, que lamentar o fato da Irlanda da Norte não faturar um Mundial contando com George Best.

Voltando a falar de seleções, tivemos injustiças quase criminosas, cometidas em 2002. Ou ninguém se lembra da “forcinha” que a Coréia do Sul recebeu contra Itália e Espanha? É claro que os coreanos só foram beneficiados porque conseguiram chegar até as fases finais., portanto, seria leviano de minha parte afirmar que só alcançaram o quarto lugar por erros de arbitragem. Mas não dá pra ignorar o gol mal anulado contra a Itália, a expulsão de Totti, os gols anulados contra a Espanha, e por fim, o goleiro Lee Won Jae praticamente dividindo a bola com Joaquín para defender sua penalidade máxima.

Ainda no campo das zebras, mas falando das “zebras do bem”, podemos citar a Croácia de 1998, que por pouco não chegou na final,o que poderia facilitar (ou dificultar) as coisas para o Brasil naquela fatídica final. Também vale lembrar da Bulgária em 1994, que foi parada apenas na semifinal pela Itália. Mas isso já é mais algo sentimental, de torcer pelo time menos expressivo. Algo parecido com o fenômeno São Caetano do início do Século presente.

Para 2018, o Brasil chega como grande favorito. Vocês, caros leitores, irão considerar uma injustiça qualquer outra seleção que não a Canarinho vencendo a Copa? Opine nos comentários!

Até a próxima, ótima Copa do Mundo

LEMBRANÇAS DA COPA DO MUNDO

por Jorge Eduardo Faria

Em 1962 eu tinha sete anos completos. Morava num pequeno prédio de quatro andares perto do Campo de São Bento em Niterói, que era o nosso grande quintal, meu e da minha turma, a “Turma dos Sete”, como a do programa da antiga TV Record (canal 7), nossos ídolos. Eu era o Juca. 


Domingo, dia 29 de junho, depois do almoço, a turma se reuniu na portaria do prédio para ouvir o jogo. Mas faltava uma coisa muito importante. O rádio. E agora? O jogo iria começar às 15h, e a gente tinha que arrumar um rádio. Foi então que o “Chuvisco” chegou, e avisou que o pai do Mauro tinha colocado o rádio em cima do muro da casa para todo mundo ouvir. Foi uma correria só. Lembro-me que o Serginho levava no bolso um amarrado de chilenas e uma cabeça de nego. 

A casa do Mauro era do lado da padaria do Seu Antonio. O pai dele tinha colocado um fio longo lá de dentro da casa até o radio, um poderoso Mullard de seis válvulas e três faixas de ondas, que imponente, e cheio de estática, nos fazia ouvir a voz de Fiori Gigliotti anunciando o inicio do jogo: Brasil x Tchecoslováquia, diretamente de Santiago do Chile. 

A turma ainda tentava se arrumar na calçada quando Masopust, considerado o melhor jogador da Europa, marcou o primeiro gol dos Tchecos. Foi uma ducha de água fria. A gente já não tinha Pelé, e ainda levava um gol no comecinho do jogo. Não dava pra acreditar. 

De onde eu estava não conseguia escutar direito o rádio, então entrei na casa do Mauro, passei com cuidado por baixo do fio que ligava o rádio e subi no muro, me sentando bem do lado daquela caixa enorme com três faixas de onda. Não demorou muito para o João, o cara metido a mau da rua, chamar a minha atenção.

– Se derrubar o rádio vai levar uns cascudos!

 Fingi que não escutei e fiquei lá, que nem pardal no final da tarde, quietinho, empoleirado, tentando ouvir o jogo. E não demorou quase nada, Amarildo empata o jogo. Me jogo lá de cima no meio da galera. A turma toda se abraçou e comemorou junto. Aí eu falo. Todo mundo para o lugar que estava, que deu sorte. E corri de volta para o muro. E novamente o João Valentão falou comigo.

– Ô guri, já não te falei pra não ficar aí? 

E o pai do Mauro, que o tempo todo tinha acompanhado a minha peripécia, bateu o martelo da cadeira da varanda.


– Deixa ele aí. Deu sorte. Todo mundo no lugar que estava na hora o gol.

Aí eu estufei o peito que nem pombo, cheio de moral. O meu lugar, a partir de agora, era do lado do rádio. 

O primeiro tempo acabou 1 a 1. A turma correu para a padaria do Seu Antônio para tomar um suco de groselha bem gelado, servido naqueles copinhos cônicos de papel e suporte de plástico. O Serginho então tirou uma chilena do bolso, acendeu e jogou do lado do gato que, preguiçosamente, cochilava em cima de um saco de batatas (sim, naquela época padaria também vendia batata). Saímos correndo e ficamos de longe esperando a explosão e o susto do gato dorminhoco. Serginho fazia a contagem regressiva. O pavio vai se aproximando do papel. A turma toda põe a mão nos ouvidos. Serginho diz …. “é agora” … e puff … a bomba falhou. Nem precisou esperar mais, todo mundo caiu de molho no Serginho.

– Vai começar! – gritou o Mauro, e a turma voltou, cada um pro seu canto, pra ouvir o segundo tempo.

Era a época do rádio, e a voz do locutor nos levava pra dentro do estádio, imaginando os nossos craques lutando pra virar aquele jogo. E os locutores passavam toda a emoção na narração. Seu olhos eram os nossos sonhos de um dia estar vendo de perto uma final da Copa do Mundo. E aos 25 do segundo tempo Amarildo faz um estrago pela esquerda e centra na cabeça de Zito. Era o gol da virada. Era o gol do Bi. E a turma toda estava abraçada de novo, pulando juntos, até o óculos do Alfredo cair no chão e quebrar. Para tudo. O Alfredo faz cara de choro imaginando a bronca que ia levar da mãe, mas a turma é solidaria e diz pra ele que todos juntos íamos à casa dele explicar que o óculos quebrou por acidente, e ele não teve culpa. A partir daí resolvemos ficar todos juntos, ao lado do Alfredo (o Sabe-Tudo). 


Mas a tristeza não durou muito. Aos 34 minutos Vavá, depois de uma pixotada do goleiro Tcheco, só teve o trabalho de empurrar a bola para dentro do gol. Brasil 3 a 1. Os rojões se ouviam por todo o bairro, e não queriam parar mais. O Brasil era Bicampeão Mundial de Futebol. E a turma toda junta, abraçada, voltava para o prédio cantando.

– A Copa do Mundo é nossa. Com brasileiros, não há quem possa!

Na portaria do prédio nos divertíamos com uma chuva de papel picado, confetes e serpentinas. Serginho então tira do bolso todas as suas bombinhas, chilenas, e junta tudo com uns pedaços de serpentina no canto da calçada da portaria, e prepara uma fogueira de bombas. Não satisfeito, pega a cabeça de nego, acende e enfia por baixo de tudo.


Quando a galera viu aquilo, nem precisou ninguém mandar. Saiu todo mundo correndo. Ia ser a nossa super explosão em comemoração ao título do Brasil. De longe a gente só vê aquela fumacinha subindo … subindo … subindo… e parou. Caramba, falhou novamente? Corremos todos para lá pra ver o que tinha acontecido, e na hora que a galera colocou a cara bem pertinho da fogueirinha de bombinhas, ela explodiu. Me lembro que fiquei com os ouvidos apitando por um bom tempo. Mas não importava nada. O Brasil era campeão. 

Essas são as lembranças da minha primeira Copa do Mundo, e desde aquela época até hoje, sempre que vai começar uma nova Copa, eu me lembro deste episódio, e me lembro dos meus amigos. Alguns eu encontro até hoje, outros já se foram, a maioria eu nunca mais vi. Mas eles estão vivos na minha lembrança, a Turma dos Sete, de uma época em que ouvia a Copa do Mundo e se sonhava estar em campo com os nossos heróis.

Bons tempos … bons tempos!

ANÁLISE DA FRANÇA

por Mateus Ribeiro


A expectativa é grande. Bons nomes não faltam para a França. Alguns são revelações, outros já são realidade. Porém, em 2016, muito se esperava na Eurocopa, e todos se lembram do que aconteceu na final: derrota na prorrogação, dentro de casa, para Portugal, que jogou praticamente a partida toda sem Cristiano Ronaldo. E que me desculpem os jogadores portugueses, mas se a França foi capaz de perder para a Seleção lusitana sem Cristiano Ronaldo, pode se esperar tudo dos Azuis. Inclusive um papelão.

O grupo não é lá dos mais difíceis, o que pode ajudar bastante. É bem verdade que o time tem bons valores, mas a impressão que se tem é que com um pouco mais de “sangue no olho”, a França poderá ir longe.

CAMPANHA NAS ELIMINATÓRIAS


O grupo era difícil, e contava com Holanda e Suécia, lutando por uma vaga direta, e outra na repescagem. A França passou em primeiro lugar, mas para provar que é um time inconstante, goleou a Holanda , mas conseguiu empatar com Belarus e Luxemburgo (com o último, dentro de casa). Foram sete vitorias, dois empates e uma derrota. Boa campanha.

TIME

O time tem boas peças em todos os setores. Lloris é um bom goleiro, e invariavelmente, pratica alguns milagres. A defesa conta com jogadores que são titulares no Real Madrid e no Barcelona. O meio tem o incansável Kanté, que dentre outras coisas, tem a missão de correr por Pogba. Pogba, aliás, que é um dos jogadores mais supervalorizados do planeta, mas que tem seus bons momentos. A questão é saber se ele vai querer jogar bola pro time, ou se vai querer entrar em campo pra desfilar seu novo corte de cabelo.


Os principais jogadores estão no ataque. Griezmann e Mbappé são dois dos melhores atacantes do mundo nos últimos anos. Além de muita velocidade e raciocínio rápido, possuem um arremate de muita qualidade. Giroud, apesar de bastante contestado, faz lá seus gols. Quem sabe em algum momento importante, a bola não bate na sua canela e decide uma partida, né?

Pelo fato do time ter muita qualidade técnica, podemos esperar um jogo de muito toque de bola, e muita velocidade, já que os citados atacantes estão com todo o gás.

Segue a lista dos convocados:

Goleiros: Aréola (Paris Saint-Germain), Lloris (Tottenham) e Mandanda (Olympique de Marselha)

Defensores: Lucas Hernández (Atlético de Madrid), Kimpembe (Paris Saint-Germain), Mendy (Manchester City), Pavard (Stuttgart), Rami (Olympique de Marselha), Sidibé (Monaco), Umtiti (Barcelona) e Varane (Real Madrid)

Meio-campistas: Kanté (Chelsea), Matuidi (Juventus), N’Zonzi (Sevilla), Pogba (Manchester United) e Tolisso (Bayern de Munique).

Atacantes: Dembélé (Barcelona), Fekir (Lyon), Giroud (Chelsea), Griezmann (Atlético de Madrid), Lemar (Monaco), Mbappé (Paris Saint-Germain) e Thauvin (Olympique de Marselha).

Como a sina da França é ter treinadores polêmicos, algumas ausências na convocação fizeram chover críticas em cima de Deschamps. O nome mais comentado foi o do meio campista Rabiot, do PSG. Além dele, Benzema também não vai. Mas o caso do atacante vai além das questões técnicas, e parece longe de ter um final feliz.

De qualquer forma, a França corre por fora, e pode sonhar com algo além das quartas de final (onde parou na última Copa). Resta saber se o time vai negar fogo na hora H, como fez na Eurocopa 2016.

BIOGRAFIA DAS COPAS


Os fanáticos por futebol sabem que a vida é feita de ciclos que duram quatro anos. Eles são capazes de fazer referências a períodos de suas vidas, apenas com base em Copas do Mundo. O espetáculo esportivo faz parte da memória afetiva de todo brasileiro, até daquele que não acompanha futebol. Todos temos alguma lembrança de Copa, e não somente das cinco vencidas pelo Brasil (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002)

Em “Biografia das Copas”, da Editora Onze Cultural, o jornalista Thiago Uberreich, apresentador do Jornal da Manhã da Rádio Jovem Pan, promete resgatar passagens históricas, oferecendo ao leitor um cenário de cada mundial, de 1930 a 2014.

– A intenção é que o leitor faça uma viagem no tempo. Normalmente, lemos biografias de pessoas. Mas é perfeitamente possível biografar eventos que mexem conosco, como a Copa do Mundo, o torneio esportivo mais assistido do planeta – a final da última Copa foi vista por 1 bilhão de pessoas.

Especializada em títulos de futebol, a Onze Cultural traz um material diferenciado.

– O livro está recheado de fotos e exibe tabelas com os resultados das Copas. Visualmente, está maravilhoso. É um prato cheio para quem ama futebol e para quem quer relembrar passagens dos mundiais: os títulos do Brasil, os principais jogadores e as seleções que marcaram época! –  afirma o autor.


Destinada a todos os públicos, a biografia tem 20 capítulos, um por Copa, divididos de 1930 até 2014. Além da história de cada mundial, seu contexto político e histórico, expõe fichas dos jogos do Brasil, um resumo das partidas das demais seleções e, a partir de 1970, o início da transmissão ao vivo pela TV.

– Realizei uma ampla pesquisa sobre relatos das partidas feitos pelos jornais e as transmissões dos mundiais pelo rádio e pela TV, sobre como funcionou o pool das transmissões em 1970, além de colocar a grade da televisão antes de cada jogo do Brasil. Assim, quem viveu e quem tem curiosidade poderá se recordar de quais emissoras transmitiram os jogos, os horários… A história da Copa do Mundo está intimamente atrelada à evolução das comunicações. – explica o jornalista, que acumula, no rádio, mais de 20 anos de experiência.

Aficionado por Copas

– Na época da Copa de 1990, ainda com 13 anos, comecei a colecionar material relativo aos mundiais. Ganhei dos meus pais o primeiro livro que li sobre o assunto. Era uma obra pequena, escrita pela jornalista Solange Bibas:

– ‘As Copas que ninguém viu’ contava os bastidores dos mundiais de 1930 a 1978. Apesar de defasado, ainda era vendido em livrarias, às vésperas da Copa de 1990. A partir daí, nunca mais parei de colecionar material sobre futebol. – conta Uberreich.

O jornalista é, ainda, um inveterado colecionador de imagens de futebol:

– Tenho guardados todos os jogos na íntegra de 1966 (Inglaterra) até hoje. Antes daquele mundial, eram raras imagens de jogos completos, mas os poucos que existem tenho em meu acervo. O material foi fundamental para escrever “Biografia das Copas”.

Prefácio de Mauro Beting

“Biografia das Copas” tem prefácio do amigo e colega de Rádio Jovem Pan Mauro Beting:

“Thiago é um Cafu que faz tudo e muito bem. Parece estar em todos os lugares. Ou sabe onde procurar. Traz não só uma sinopse bem observada e condensada de cada partida como a cobertura da mídia brasileira em cada torneio. Resgata manchetes e consegue nos projetar naqueles meses que ficam por toda a vida com a gente”.


Livro: “Biografia das Copas”

Autor: Thiago Uberreich

Editora: Onze Cultural

Lançamento: 12 de junho de 2018

Horário: 18h

Local: Livraria Cultura do Conjunto Nacional

Endereço: Avenida Paulista, 2.073

Contato do autor: thiago.uberreich@jovempan.com.br

A COPA VIRTUAL DE TODOS OS TEMPOS

por Émerson Gáspari


Eu sempre sonhei com isso! E hoje, após anos alimentando meu computador com dados de jogadores, seleções e partidas ao longo da história (meticulosamente analisados), estou prestes a concretizar o plano de conceber a maior Copa que poderia existir: a Copa do Mundo “virtual” de todos os tempos.

Meu programa especial instalado não só cruza todos os dados, como vai além: aproxima fisicamente os jogadores do passado com os do presente, nivela a marcação, cria condições idênticas de regras, campo e material esportivo, adequa esquemas táticos, escala os melhores de cada posição, analisa retrospectos, extingue “arbitragem eletrônica” e adiciona o coeficiente “sorte” (pois o futebol é um pouco isso também, daí ser imprevisível e apaixonante). Algumas seleções e jogadores que me agradam ficam de fora (como a Croácia de Suker), mas quem manda é o programa e não cabe a mim, discutir com uma máquina.

Tudo pronto, eu me sento diante da tela do computador para assistir à “mãe” de todas as Copas, em imagens coloridas, de alta-definição. Aperto o “ENTER”, dando assim, o “pontapé inicial” ao torneio. Caberá aos ingleses – inventores do futebol – a primazia de sediarem o Mundial, que reúne as 32 seleções escolhidas por critérios técnicos, históricos e até geográficos, fato que extinguiu a necessidade de Eliminatórias.


A curiosidade fica por conta da presença da seleção da Coréia (aqui unificada), na disputa. Fato que emociona a todos, pela força que o esporte tem em promover a paz.

Rolam os jogos da primeira fase e após as três rodadas iniciais, surgem as 16 primeiras seleções eliminadas. Algumas delas, já esperadas: a Arábia Saudita de Abdullah, a Austrália de Harry Kewell, o Japão de Nakata e a própria Coréia de Park Ji-sung.

As demais são: a Escócia de Baxter, a Áustria de Sindelar, a Romênia de Haggi, o Chile de Figueroa, a Dinamarca de Laudrup, os EUA de Lalas, o Peru de Cubillas, a Colômbia de Valderrama e Higuita, a Suécia de Liedholm, a Bélgica de Preud’ homme, a Bulgária de Stoichkov e o Paraguai de Romerito, Gamarra e Chilavert, que de falta, marca o primeiro gol de um goleiro em Copas do Mundo.


Todos estes craques e selecionados retornam para seus países de origem. O torneio, reduzido agora à metade de seus participantes, entra naquela etapa mais decisiva: as “oitavas-de-final”.

Com ela, começam a cair esquadrões mais tradicionais do futebol mundial, como a República Tcheca de Planicka e Masopust, a Rússia de Yashin, Camarões de N’Kono e Roger Milla, México de Carbajal e Hugo Sanchez, Polônia de Lato e Boniek, Portugal de Eusébio e Cristiano Ronaldo e – para tristeza dos românticos que preferem o futebol bem jogado, como eu – a Hungria de Czibor, Kocsis e Puskas, além da Holanda de Cruyff, Neeskens, Van Basten, Gullit e Robin, todos jogadores maravilhosos, que se despedem da maior de todas as Copas.

Copa essa, que agora reúne – coincidentemente – as oito seleções que já tiveram a glória maior de levantar a Taça do Mundo: Argentina, Brasil, Uruguai, Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália. E vem as “quartas-de-final”…


Numa partida medonha, travada, repleta de faltas e catimba, os portenhos despacham os uruguaios pela contagem mínima, em incrível arrancada de Messi. É o fim da linha para “Manco” Castro, Andrade, Nasazzi, Obdúlio Varela, Pedro Rocha e Diego Forlan. Mesmo placar registrado no clássico europeu, no qual a retrancada Itália, em contragolpe de Roberto Baggio, vence a “Fúria” espanhola de Zamora, Xavi e Iniesta.

Para a tristeza da rainha e com um gol duvidoso no final (quando a bola acertou o travessão, bateu em cima da linha e não entrou, mas o juiz considerou como um tento) a Alemanha elimina a Inglaterra por 3×2. Triste fim para Banks, Stanley Mathews, Bobby Moore, Bobby Charlton, David Beckham e até mesmo… vejam só: George Best! (aqui, “naturalizado” inglês, por uma manobra do programa do computador). 

No jogo menos faltoso e mais bonito de toda a competição, repleto de futebol-arte em campo, o Brasil ganha por 2×1 da França, gols de Zico (cobrando pênalti) e Ronaldo Fenômeno. Mas Matller, Just Fontaine (que marcou o gol francês), Michel Platini, Tigana, Giresse, Rocheteau, Barthez e Henry, saem de cabeça erguida, ovacionados. Até mesmo Zinedine Zidane (expulso no último minuto por uma cabeçada em Luís Pereira quando a França buscava o empate) é aplaudido de pé, ao deixar o gramado.


Restam agora, no Mundial, as quatro seleções que possuem mais títulos em Copas. As semifinais apresentam dois duelos tradicionalíssimos: Argentina x Alemanha e Itália x Brasil. Muita emoção pela frente!

Apesar de toda a rigidez na marcação e aplicação tática extrema, os germânicos não conseguem segurar o ímpeto argentino, sucumbindo por 2×0, gols de Di Stéfano e Mário Kempes. Torcedores brasileiros lamentam não enfrentarem os alemães nessa Copa, com um selecionado que verdadeiramente os representem. Mas…

Uma verdadeira “batalha” é travada na outra semifinal.


A Itália sai na frente, com Meazza. O Brasil empata: gol de Zizinho! A “Azurra” novamente na frente, através de Bruno Conti. Outra vez os “canarinhos” empatam, agora com Pelé, de cabeça. E viram o jogo, num lindo chute de Falcão. A dois minutos do fim, Gylmar defende uma cabeçada mortal de Paolo Rossi em cima da linha e classifica o Brasil. Telê Santana vai às lagrimas e abraça forte o auxiliar-técnico Zagallo. O primeiro, comovido ao ver todos os demônios de “Sarriá” finalmente exorcizados. O segundo, gritando a plenos pulmões para quem quisesse ouvir: “- Tiveram que nos engolir!”.

Na véspera da finalíssima, Itália e Alemanha decidem o terceiro lugar. Arnaldo Cézar Coelho é o árbitro. Uma partida que se transforma em “batalha épica”: ninguém quer perder! Noventa minutos de muito equilíbrio. Matthews, de pênalti, abre a contagem, mas a Itália empata, com Schilati. A igualdade no marcador leva o jogo para a prorrogação. A Itália se atira ao ataque e abre 3×1, com gols de Baggio (de pênalti!) e Paolo Rossi. Pressão total alemã: o zagueiro Cannavaro e o goleiro Zoff se transformam nos melhores da partida, pelo lado italiano. Apesar disso, os alemães, liderados por Kross e Franz Beckenbaur (machucado e jogando com a clavícula enfaixada) empreendem reação formidável e nos quinze minutos finais viram o duelo para 4×3, com gols de Fritz Walter, Gerd Muller e Klose (em brilhante jogada de Rummenigge).

Espetacular!

Chega enfim, o grande dia, Brasil e Argentina – maior rivalidade do planeta – reunidos numa final até então inédita, no coração do Velho Continente. Estádio de Wembley tingido de verde-amarelo. Todos os ingleses torcendo pelos brasileiros (ou contra os argentinos?). Mas a seleção tem problemas: Djalma Santos, que atuou em todos os jogos está contundido e dá lugar na final, a Carlos Alberto Torres. O goleiro reserva, Leão e o técnico Telê se estranham e Taffarel o substitui, no banco. Não é só: a escalação brasileira anunciada no estádio, não inclui Ronaldo: em seu lugar, na última hora, misteriosamente, aparece o nome de Romário. A imprensa fica em polvorosa!

Os times entram em campo com as seguintes formações: a Argentina;Carrizo, Zanetti, Perfumo, Passarella e Marzolini; Sastre, Moreno e Maradona; Messi, Di Stéfano e Mário Kempes. Para o banco da “Albiceleste”, o treinador César Luiz Menotti relaciona Fillol, Ruggeri, Nestor Rossi, Labruna, Sívori, Batistuta e Pedernera.

Já o Brasil do técnico Telê Santana está escalado com Gylmar, Carlos Alberto, Luís Pereira, Domingos da Guia e Nilton Santos; Falcão, Pelé e Rivellino; Garrincha, Romário e Neymar. Na suplência ficam Taffarel, Zito, Didi, Zizinho, Zico, Ronaldinho Gaúcho e Leônidas da Silva. A arbitragem fica por conta do italiano PierluigiCollina.

Na hora do chá inglês, pontualmente às cinco da tarde, ele trila seu apito e a batalha final se inicia. Sete títulos mundiais em campo. A torcida vai à loucura.


No gramado, a temperatura sobe logo aos três minutos: Zanetti toma uma “lambreta” de Neymar e “levanta” o menino, mas Rivellino dá sequência ao lance antes que o juiz apite a falta, aplica um “elástico” em Sastre e atira um torpedo de fora da área. A bola explode na trave! Um minuto depois, é a vez platina: Di Stéfano tabela com Maradona, que lança Messi. Ele invade a área e tenta “dar uma cavadinha” pra cima de Gylmar, mas o goleiro manda pra escanteio. A partida “pega fogo”.

Jogadas maravilhosas se sucedem: numa delas, Garrincha entorta Marzolini e cruza para Pelé, que cabeceia com força para baixo, obrigando Carrizo a saltar ao chão, espalmar e ficar rezando, enquanto a bola caprichosamente encobre o travessão.


Só que a os portenhos saem na frente: José Manuel Moreno inverte uma bola da direita pra esquerda; Kempes recebe e centra na área, onde Gylmar divide pelo alto com Maradona. É quando “El Pibe de Oro” soca a bola para as redes, sem que Collina se aperceba: 1×0 para os “hermanos”, cuja pequena torcida vibra muito. 

Na discussão, no meio do bolo de jogadores, Neymar infelizmente é agredido com uma joelhada nas costas e deixa o gramado para não voltar. Em seu lugar, surge Didi. Telê pede para que Riva ocupe a ponta esquerda. Já passa da metade do primeiro tempo quando o Brasil sai em contra-ataque e Nilton Santos faz um passe rasteiro na diagonal, para o “Rei”. Carrizo deixa a área para interceptar e é fintado num drible de corpo desconcertante de Pelé, que corre pelo outro lado e quase caindo, bate cruzado. Perfumo ainda se joga pra tentar salvar, mas a bola passa quicando em câmera lenta, da direita pra esquerda, toca no pé da trave e entra: tudo igual, 1×1.

Só que a Argentina é um time enjoado, que nos conhece muito bem e se aproveita do fato da equipe se desconcentrar na comemoração do gol, para desempatar: A “Flecha Loira” Di Stéfano recebe de Maradona e bate firme, apesar da marcação de Domingos da Guia: 2×1 para eles, que passam então a “fazer cera”. O Brasil tenta de novo, numa linda escapada de Garrincha pela direita, “deitando” dois “Joões” pelo caminho e cruzando rasteiro pra Romário, que se estica todo e toca de biquinho, para fora.


Só que o “Baixinho” põe a mão na virilha e sai para o intervalo mancando, deixando uma interrogação na cabeça da torcida e do treinador.

Quinze minutos depois, é Leônidas da Silva quem sobe do túnel, com a equipe, para o segundo tempo. Pela Argentina também há substituições: sai Moreno, para a entrada de Nestor Rossi, numa clara tentativa de se fechar o meio-campo para segurar o placar. O duelo recomeça.

Agora o Brasil martela insistentemente. Primeiro Leônidas é bloqueado ao tentar um chute à queima-roupa. Depois, Falcão lança para Pelé que gira em cima de Nestor e fuzila para o gol. A bola passa por Carrizo e Passarella salva em cima da linha. Mas o “bombardeio” não cessa. Nem quando o time desce todo ao ataque e é surpreendido porMessi, que apanha um lançamento longo de Maradona, entra na área e bate cruzado na saída de Gylmar, fazendo Argentina 3×1. Vem o desespero no coração do torcedor brasileiro.

Mas quem tem Didi, não tem medo: ele vai até o gol, apanha a bola e caminha com toda a tranquilidade do mundo, falando com os companheiros, até colocá-la no meio-campo.


A seleção não esmorece, persiste no ataque. Em jogada de Falcão, Garrincha acaba sendo derrubado sem piedade, ainda na meia-direita. A bola é ajeitada por Didi, pouco mais de trinta metros distante do gol. Os argentinos se espremem numa barreira de seis gringos. O chute sai seco, firme: passa ao lado da cabeça do primeiro homem, parece que vai em direção à Carrizo, porém, subitamente muda sua trajetória e decai, entrando rente à trave oposta. É a “Folha-Seca” de Didi, diminuindo o prejuízo: 2×3.

Menotti altera o esquema tático: Kempes e Maradona recuam para ajudar a fechar a meia cancha, ao lado de Nestor Rossi e Sastre. Na frente, ficam apenas Messi e Di Stéfano, num 4-4-2, aceitando a pressão brasileira.

E Carrizo vai mostrando que não foi eleito por acaso, o melhor goleiro sul-americano do século XX. O tempo vai passando, mas o Brasil não se desespera: confia que o gol sairá, ainda mais depois de uma descida de Carlos Alberto, que ludibriou a zaga e obrigou o arqueiro a novo milagre. É daí que o “Enciclopédia” Nilton Santos resolve abandonar a marcação e descer para o ataque também, cruzando o meio-campo e tabelando com Pelé. Ele grita pedindo a bola de volta e a recebe. Já próximo do bico esquerdo da área, centra alto, por sobre a cabeça de Passarella, surpreendendo-o. Do outro lado, Leônidas, o “Diamante Negro” alcança a bola numa bicicleta extraordinária e manda na gaveta, empatando em 3×3 a seis minutos do fim.


O gol alivia o time brasileiro, enquanto a Argentina pouco se arrisca e o jogo vai para uma dramática prorrogação. A qual não tem mudanças no marcador. Na maior chance nossa; Rivellino bate uma falta de três dedos e a bomba passa perto demais. Quanto aos argentinos, a redonda é alçada na área por Maradona e Di Stéfano divide com Gylmar, pelo alto. Na queda, o goleiro leva a pior e acaba dando lugar a Taffarel, já na “última volta dos ponteiros”. Um minuto depois, Collina apita o fim de jogo. Vamos ao velho teste para cardíacos: os malditos pênaltis. Quanta angústia, meu Deus!

Kempes bate primeiro e acerta o travessão. Só que Rivellino (que nunca gostou de cobrar penais) dá uma paulada no meio do gol e Carrizo rebate, no susto. Agora é Messi quem cobra e abre a contagem. Didi deixa tudo igual: 1×1.  Di Stéfano confere bonito, de letra: 2×1 pra eles. Ficamos com os nervos à flor da pele, quando Garrincha, calção caindo, alheio à atmosfera decisiva, cobra com certa displicência e empata de novo. O capitão Passarella, ao contrário, bate com muita seriedade e põe os portenhos na frente, outra vez. Mas Leônidas iguala, com um chute preciso, no ângulo: 3×3 e falta uma cobrança para cada lado.


Diego Armando Maradona passa a mão na bola e olha para o banco, onde Menotti nervosamente mastiga seu centésimo cigarro. Corre, dá uma meia-trava, colocando de canhota no cantinho e… Taffareeelll! Vai que é sua, Taffarel!! O estádio se inflama.

Édson Arantes do Nascimento, com todo o peso da responsabilidade do universo em seus ombros, põe na cal e olha para o banco. Telê masca seu chiclete, enquanto Zagallo berra de lá: “- Negão, foram 12 gols até agora… esse é o de número 13”.

O “Rei” decide então, cobrar igual ao seu milésimo gol: parte para a pelota, dá uma paradinha e toca de direita, sutil, no canto. Carrizo se estica todo, resvalando os dedos na bola e… goool do Brasil, campeão de todos os tempos!!!

O estádio parece explodir; tamanha a vibração: os ingleses, feito os mexicanos em 70, deixam a frieza habitual de lado e liderados pelos torcedores brasileiros, invadem o gramado. Maradona reclama da “paradinha” de Pelé, mas o árbitro dá de ombros, afirmando que utilizou o mesmo critério que usou na cobrança dele.

Agora, os jogadores brasileiros são cercados por centenas de torcedores. Telê é carregado em triunfo. Zagallo, às lágrimas, corre para abraçar Pelé, que aos poucos vai ficando quase sem roupa, perdendo camisa, chuteiras, meias… só não perde a realeza.


Depois que se recompõe, sobe às tribunas de honra com a seleção brasileira, onde a rainha Elizabeth II entrega a taça “Copa Eterna FIFA” ao “capita” Carlos Alberto Torres, que a beija e depois a levanta, sob uma chuva de fogos de artifícios ensurdecedora, que ilumina magnificamente os céus de Londres. Ninguém nota a discreta saída dos argentinos. “O papa pode ser argentino, mas Deus é brasileiro”, gozam os torcedores verde-amarelos.

Uma semana mais tarde – muitos carnavais e comemorações pelo Brasil afora – a FIFA organiza um amistoso internacional para celebrar a realização da Copa de todos os tempos, entre seleção brasileira e seleção mundial, num Maracanã abarrotado de torcedores. E um providencial empate de 2×2, deixa a festa ainda mais bonita.

A ficha do jogo? Seleção do Mundo: Yashin, Bobby Moore, Baresi e Beckenbauer; Obdúlio Varela, Zidane, Cruyff e Maradona; Messi, Eusébio e Puskas. Téc.: RinusMichels.  Seleção do Brasil: Gylmar, Carlos Alberto, Luís Pereira, Domingos da Guia e Nilton Santos; Falcão, Didi e Pelé; Garrincha, Romário e Rivellino. Téc.: Telê Santana.

Um “fecho-de-ouro” para uma Copa de outra galáxia, uma conquista inquestionável, inigualável, eterna.