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Copa do Mundo

O QUE VESTEM AS SELEÇÕES NA COPA

por Idel Halfen


Repetindo o que já foi feito nas Copas de 2010 e 2014, analisaremos aqui as marcas esportivas que suprem as seleções que disputam o Mundial de 2018, utilizando para efeito de parametrização o histórico de fornecimento desde a Copa de 2002. 

Assim temos que em 2018 a Adidas com doze seleções é pela 3ª vez a marca mais presente. 

Em segundo aparece a Nike com dez, lembrando que na Copa passada a marca norte-americana ficou na liderança com o mesmo número de equipes. Cumpre observar que a Nike é o único fornecedor presente em equipes dos cinco continentes. 

A Puma completa a relação de marcas reconhecidamente globais com apenas quatro times, metade do que tinha em 2014, valendo salientar que em 2006 foi o fornecedor com mais seleções. 

As mudanças em relação ao número de equipes por marca costumam ocorrer basicamente em função da classificação dos países, o que não significa que não ocorram trocas de fornecedores. 


Vinte seleções estiveram presentes tanto em 2014 como em 2018, dentre essas quatro (25%) mudaram a marca dos uniformes: 

Bélgica de Burrda para Adidas, Costa Rica de Lotto para New Balance, Iran de Uhlsport para Adidas (foi a 3ª marca diferente em 3 Copas, pois em 2006 vestia Puma) e Nigéria que após duas Copas com Adidas voltou a usar Nike, que tinha sido a sua fornecedora em 2002. 

Desde 2002 apenas sete seleções participaram de todas as Copas: Alemanha, Argentina, Brasil, Coreia do Sul, Espanha, Japão e Portugal, sendo que nenhuma dessas mudou de fornecedor – quatro vestem Adidas e três Nike. 

Essa estabilidade de fornecimento advém da maior atratividade que essas seleções despertam, o que faz com que as marcas envidem os maiores esforços para manterem essas equipes em seus portfólios, afinal de contas estar presente no maior evento do futebol mundial é um enorme diferencial. 


Evidentemente, há um custo maior envolvido nessa operação, o que talvez não retorne em vendas, mas certamente fortalece a marca. 

Tal condição faz com que as marcas com menor capacidade de investimento tenham que seguir estratégias alternativas para estarem presentes nesse universo, o que pode acontecer através de “apostas” em seleções menos tradicionais, no fornecimento de chuteiras para jogadores que participam do evento ou ainda como fez a italiana Macron que fechou um acordo com a UEFA (Union of European Football Associations) para vestir as seleções menores, pois dessa forma consegue ao menos ter visibilidade na Euro (campeonato europeu de futebol). 

Para quem tiver interesse no tema, sugiro a leitura dos dois artigos desse blog referentes às Copas anteriores: 2010 – A Copa das marcas esportivas – http://halfen-mktsport.blogspot.com/2010/07/copa-das-marcas-esportivas.html e 2014 – Material Esportivo na Copa – http://halfen-mktsport.blogspot.com/2014/07/material-esportivo-na-copa.html.

“CORRIGINDO” AS COPAS DO MUNDO

por Émerson Gáspari

Dentre todos os esportes coletivos, talvez o futebol seja o mais imprevisível.

Fruto de fatores como o alto número de jogadores, o tamanho do campo de jogo e de ser praticado com os pés, ocasionando um número sem fim de combinações de jogadas, gols e placares. Embora nem sempre ele nos reserve surpresas agradáveis, muitos creem ser justamente aí que resida nosso interesse maior pelo futebol: na sua fantástica imprevisibilidade.


Em Copas, as “surpresas” às vezes atingem nações inteiras e traumatizam gerações, (em caso de derrota) dado o “encantamento” que certas seleções provocam no mundo futebolístico, por vezes conquistando fãs de outros países e continentes.

Exemplos como a Hungria de 54, a Holanda de 74 ou o Brasil de 82, irremediavelmente nos vem à cabeça. Mas seriam apenas esses, os “injustiçados” na história dos Mundiais? E aquelas seleções, cuja antecipada certeza da vitória impediu que a mesma se concretizasse? Ou como ficam as que ganharam com “cartas marcadas”? Ou ainda: como poderia ser o resultado em Copas que sequer tivessem acontecido?

Parece impossível? Depende do ponto de vista!

Para mim, sempre foi mais difícil aceitar a crueldade com que certas derrotas aconteceram, do que criar uma alternativa num universo lúdico e mais justo.

Saibam que cada um de nós, representa um universo particular em potencial.

Cada pessoa possui teorias, convicções – ente outras coisas – que nos moldam diferentemente e provocam divergências de opiniões. Daí; concordem com a “minha” realidade alternativa ou apostem na de vocês: o que lhes soar mais verossímil.

Importante é não perder a capacidade de sonhar nessa vida – mesmo com os pés no chão – em diferentes áreas, inclusive nas que envolvam nossas “paixões”.

A paixão pelo futebol, em especial.

Por isso, convido vocês a mergulharem comigo nessa “reviravolta” futebolística das Copas, reescrevendo (ou não!) a história delas ao longo de mais de oito décadas. Torcedores têm sim o direito de questionarem resultados e promoverem “justiça divina”, conforme sua própria consciência.

Mãos à obra, então!


COPA DE 1930 (Uruguai): Poucos sabem que a ideia de uma Copa surgiu em 1905, um ano após a criação da FIFA. Mas a tensão reinante na Europa, não deu margem a isso. Após a I Guerra e a reconstrução de vários países, a entidade, presidida por Jules Rimet, concretizou o sonho de promovê-la. Mas o boicote europeu esvaziou o torneio, que teve apenas 13 seleções, o qual logo apresentou dois candidatos ao título: Uruguai e Argentina. O Brasil ainda “engatinhava” no futebol amador. Por serem bicampeões olímpicos (em 1924 e 1928) e atuarem em casa, no recém-inaugurado estádio Centenário, os uruguaios confirmaram seu favoritismo e, numa final justa, que não merece reparos, derrotaram os argentinos. A finalíssima teve ingredientes únicos: Carlos Gardel cantou para o público de 70 mil pessoas e como cada país queria usar sua própria bola, foi estabelecido que cada seleção usasse a sua, em um tempo da partida. Desse modo, a “Celeste Olímpica”, embora saindo na frente, levou a virada no primeiro tempo, com a bola argentina. Já no segundo, com a bola dos uruguaios e um jogador a menos, os argentinos viram sua vantagem de 2×1 ser revertida para 2×4. Para mim, seria como foi, até porque os anfitriões contavam com Nasazzi, Andrade, Scarone e “Manco” Castro: URUGUAI CAMPEÃO.


COPA DE 1934 (Itália): Mussolini organizou uma Copa para ganha-la, sob o domínio do fascismo. Por aí, já se nota que as coisas não foram muito legítimas. O ditador socava a tribuna de honra, quando sua seleção “emperrava” em certos confrontos. A Espanha, que despachou o Brasil na primeira partida, me parecia melhor que a Itália. Vítima de arbitragens parciais, no entanto, acabou eliminada por eles num jogo-desempate, em que não pôde contar com seu grande arqueiro Zamora, contundido pelos italianos, entre outros escândalos da arbitragem. A Tchecoslováquia seria também “garfada” na final, apesar de atuar melhor que os donos da casa. Foi uma Copa em que o Brasil dividido politicamente no futebol, não levou seus melhores atletas. Os uruguaios boicotaram o torneio, perdendo a chance do bicampeonato, talvez. Para mim, o terceiro lugar caberia à Áustria de Sindelar, chamada de “Time-Maravilha”, vencendo a Itália e seus “oriundi”. A final deveria ser entre espanhóis e tchecos, num jogo equilibradíssimo, de placar baixo, em função da presença dos dois maiores goleiros do planeta: Zamora e Planicka. TCHECOSLOVÁQUIA CAMPEÃ.


COPA DE 1938 (França): Aí, a coisa muda de figura: a Itália do técnico Vittorio Pozzo estava bem mais preparada e reforçada. Ao lado do craque Meazza, agora havia o artilheiro Piola. O boicote sul-americano (liderado pela Argentina, que quisera promover a Copa) não atingiu o Brasil, que pela primeira vez levou sua força máxima, tendo Leônidas da Silva, como nossa maior estrela e artilheiro do Mundial, com sete gols. Fizemos jogos memoráveis contra a Polônia (6×5) e a Itália, quando ficamos de fora da final. Mas a Itália jogou melhor e mereceu vencer, em que pese aquela polêmica envolvendo o pênalti cometido por Domingos da Guia. O terceiro lugar nos coube muito bem: estávamos evoluindo depressa. A Áustria foi covardemente anexada pela Alemanha que não venceu aquele Mundial, embora tivesse sérias pretensões. Foi outra derrota esportiva de Adolf Hitler.  A Hungria dos craques Sarosi e Titkos merecia chegar à final, de fato. Só que a “Squadra Azurra” fez por merecer o título, mesmo sendo vaiada pela plateia francesa, na decisão. Até porque, jogou sob a ameaça do famoso telegrama de Mussollini, que ordenava: “Vencer ou morrer”. ITÁLIA CAMPEÃ.

COPA DE 1942 (América do Sul): Fazer “justiça divina” implica não apenas subverter fatos, mas criar outros. Apaixonado por futebol, jamais eu iria preferir a II Guerra Mundial a uma nova edição da Copa do Mundo! Então, claro que uma nova Copa seria disputada e bem aqui na América do Sul, provavelmente na Argentina ou no Brasil, países candidatos a sediá-la (Jules Rimet inclusive estava no Rio, analisando sedes, quando Hitler ordenou a invasão da Polônia, iniciando o conflito, em 1939). Acredito que, por ter mais tradição no futebol naquela época e também por já haver lançado uma candidatura (derrotada) em 1938, a Argentina sediaria o Mundial e o venceria, pois seu auge futebolístico se deu entre 1939 e 1946, com craques maravilhosos, como Moreno, Labruna, Pedernera e muitos outros, a maioria da chamada “La Máquina” (o time do River Plate).  Além disso, pesaria o fato de estar atuando em casa. A Itália seria a vice-campeã, numa final muito “pegada”, sem dúvida. ARGENTINA CAMPEÃ.

COPA DE 1946 (Europa): Adivinhar o país-sede dessa vez, seria pedir demais, então nos concentremos em alguns fatos: a Copa aconteceria antes do trágico acidente aéreo que vitimou todo o elenco do Torino em 1949, desfalcando metade de sua seleção nacional. Completa (e sob a sombra de Mussolini, que não teria sido executado na II Guerra, já que ela sequer ocorreria) a Itália se entregaria de corpo e alma à preparação e em seu continente, devolveria a derrota de quatro antes aos portenhos, numa final dessa vez mais aberta, com mais gols e bons jogadores dos dois lados. O ainda jovem Di Stéfano só se firmaria um ano depois, enquanto a geração de craques argentinos já estaria veterana. O Brasil brigaria pelo terceiro lugar, talvez com a Alemanha, que até poderia sediar esta edição da Copa, em mais um projeto esportivo megalomaníaco do “Fuhrer”. ITÁLIA BICAMPEÃ.


COPA DE 1950 (Brasil): Se o Brasil mereceu perder pela balbúrdia na concentração, às vésperas da final como alegam alguns, então, numa Copa perfeita, sem “oba-oba”, nem clima de “já ganhou”, nossa seleção venceria. Não que o Uruguai não fosse um grande adversário. Mas já não se tratava da “Celeste Olímpica” dos anos 30, embora tivesse grandes valores individuais, como o capitão Obdúlio Varela, Máspoli, Schiaffino, Júlio Pérez e Ghiggia. Só que o Brasil tinha mais time, com Barbosa, Bauer, Danilo, Zizinho, Jair Rosa Pinto e o artilheiro da Copa com nove gols, Ademir de Menezes. Até Flávio Costa, num Mundial perfeito, não implicaria com as chuteiras de Nilton Santos e o escalaria para anular Ghiggia. O Brasil perdeu do Uruguai, mesmo com a vantagem do empate, é verdade. Mas não creio que perderia, se jogasse outra vez, até porque não seria provável, a repetição da tragédia diante daquelas 200 mil almas. Prova disso, é que às vésperas do torneio, havíamos conquistado a Copa Rio Branco numa melhor-de-três, justamente em cima dos mesmos uruguaios. A final foi em São Januário, pois o Maracanã estava em fase final de construção. Para ser perfeito, o Mundial teria que ter a conquista brasileira. E o empate já resolveria aquela parada, aliás, como relatei para vocês aqui, no Museu da Pelada, semanas atrás, em meu conto “Subvertendo a Tragédia de 50”. Não tenho dúvidas, portanto! Para comemorar a conquista dourada, após o Mundial, o Brasil mudaria a cor do uniforme para o amarelo. BRASIL CAMPEÃO.


COPA DE 1954 (Suíça): Alguém duvida que a final tenha sido injusta? Ou que a chuva que enlameou o gramado, deixando-o pesado e escorregadio não prejudicou os húngaros? Ainda mais, pelo fato dos alemães terem utilizado chuteiras moderníssimas para a época, altas e parafusáveis. Sem tudo isso – e um gol de Puskas mal anulado no fim da partida – teria sido impossível derrotar a campeã olímpica de 1952, que sustentou uma invencibilidade de 36 partidas até aquela fatídica final e que só voltaria a perder em 1956. A Hungria era uma “fábrica de gols”, capaz de placares como os 9×0 na Coréia do Sul ou os 8×3 sobre a Alemanha, ainda na primeira fase. Ok, os alemães estavam desfalcados de meio time. Mas foi nesse jogo que contundiram Puskas, o qual atuou sem condições, na final.  Não preciso dizer mais nada, certo? Talvez tenha sido a maior injustiça de todas as finais, até hoje. Quanto ao Brasil, indubitavelmente fez um “partidaço” diante da Hungria – violência à parte – com chances até de vencer, não fosse um penal duvidoso para eles, além de duas bolas na trave seguidas, quando poderíamos ter passado à frente, já na etapa final. Mas aquela derrota seria o amadurecimento que precisávamos para enterrar o “complexo de vira-latas” – ao qual sempre se referia o escritor Nelson Rodrigues – na Copa seguinte. HUNGRIA CAMPEÃ.


COPA DE 1958 (Suécia): Uma seleção com Pelé e Garrincha, dupla jamais derrotada em campo, nas 40 partidas que realizou, seria sobrepujada por outra? Imaginem então; acrescentando Gilmar, Djalma, Nilton Santos, Zito, Didi. Nem há muito a comentar. Verdade que o time foi modificado na tal estreia da intrépida dupla, bem na terceira partida, diante da URSS de Yashin. Mas, encontrada a formação ideal, ninguém seria capaz de deter aquele selecionado e o aparecimento do “Rei” Pelé; como os franceses (e o mundo) passariam a chama-lo. A França, uma potência, tendo Just Fontaine, artilheiro daquele Mundial com 13 gols, bem que deu trabalho, sendo prejudicada por atuar parte do jogo contra nós, com apenas 10 homens. Só daí o Brasil deslanchou. A Suécia, em que pese o talento de seu craque Liedholm, não deveria ter chegado à final. Eu mudaria as chaves numa Copa perfeita; a França faria a decisão contra o Brasil, perdendo por um placar apertado e elevado, com Pelé e Fontaine fazendo gols aos montes! E com Zizinho no banco de reservas, sendo o primeiro brasileiro – ao lado de Nilton Santos – a se sagrar bicampeão mundial. A primeira vez também que um selecionado ganharia o Mundial em outro continente. Merecidíssimo: a delegação brasileira trazia até inovações, como psicólogo e dentista. Tudo sob o comando do Dr. Paulo Machado de Carvalho, o “Marechal da Vitória”: BRASIL BICAMPEÃO.


COPA DE 1962 (Chile): Muitos irão brigar comigo, mas, de coração, não foi um Mundial que deveríamos ter vencido. Explico: há menos informação sobre essa Copa, talvez por tudo o que envolveu a conquista. Nem foi um grande Mundial, tecnicamente falando. Tanto, que o conquistamos com uma seleção envelhecida, na base da experiência e de fatores extracampo. No quesito organização, não é preciso falar muito: a partida entre Brasil e Inglaterra teve duas invasões de cães em campo (algo inimaginável, hoje!). Se havíamos ganhado do México na estreia graças a Pelé (já que o time não foi bem), no início do jogo seguinte, o “Rei” se contundiu sozinho e ficamos sem o craque até o fim. Amarildo até que o substituiu bem, mas não é a mesma coisa. Quanto a Mané, a lenda que corre é a de que ganhou o Mundial “sozinho”. Até pode ser verdade, mas o fato é que suas atuações não empolgaram exatamente, na primeira fase. Apenas em dois dos últimos jogos ele “arrebentou” em campo.  Agora, não podemos negar estranhas “facilidades” nos momentos complicados da campanha. Na decisão, Garrincha jogou mesmo expulso por agredir um chileno com um pontapé durante a semifinal. Deram um “sumiço” no bandeirinha, após o juiz depor no Tribunal, que “não havia visto a agressão”. Pior, foi no duro jogo que o Brasil teve contra a Espanha, reforçada pelo naturalizado Puskas. A “Fúria” saiu na frente e perdeu a chance de ampliar no segundo tempo, quando Nilton Santos cometeu o famoso pênalti e soube disfarçar, dando dois passos à frente, ficando com os pés sobre a linha. Até aí, apenas a típica “malandragem” brasileira. Mas malandragem mesmo foi na sequência do lance: Puskas cobra a “falta” e Peiró marca um lindo gol de bicicleta. O juiz providencia um “jogo perigoso” totalmente inexistente, inventado às pressas. Vergonhoso! Quem mereceria estar na final, diante da Tchecoslováquia de Masopust seriam os espanhóis, que, classificados, ainda iriam contar na segunda fase do torneio, com Di Stéfano (também naturalizado, voltando de contusão) com quem Puskas iria reviver a lendária dupla do Real Madrid. Desculpem, mas – discordem ou não de mim – uma conquista, antes de tudo no esporte, precisa ser legítima: ESPANHA CAMPEÃ.


COPA DE 1966 (Inglaterra): O que podemos dizer de um Mundial no qual, no mastro das bandeirinhas de escanteio, tremulava a bandeira do Reino Unido? Foi uma Copa realizada pelos ingleses, para lhes premiar com um Mundial, após ausências e até vexames em edições anteriores, por parte dos anfitriões de 1966. Se a Copa de 1962 teve “fatos estranhos”, essa seria “medonha” nesse sentido: árbitros coniventes com a violência praticada contra as equipes consideradas adversárias diretas do selecionado inglês. Pelé por exemplo, foi “caçado” em campo, diante de Portugal. Mas nossa seleção, desorganizada e com excesso de atletas, não iria muito longe, de qualquer maneira. Os absurdos continuaram pelo Mundial sempre favorecendo o “English Team”: a expulsão do artilheiro argentino Ratín foi um fato lamentável e que originaria até, mudanças na regra, com a posterior criação do cartão amarelo. Mas nada superou o absurdo da finalíssima, entre ingleses e alemães. Um jogo disputado palmo-a-palmo, que terminou num equilibrado 2×2, foi transformado na prorrogação, no maior escândalo da história das Copas, quando uma bola que bateu no travessão e caiu sobre a linha foi providencialmente transformada em gol. Como se isso não bastasse, ainda houve tempo para um quarto gol inglês, marcado em contra-ataque, enquanto a equipe médica que prestara assistência a um jogador, nem havia saído de campo, enquanto alguns torcedores o invadiam, pelo outro lado. A Inglaterra tinha um timaço, mas não merecia ter vencido assim. Para mim (e boa parte do mundo) a vitória final seria da Alemanha do então jovem Franz Beckenbauer. ALEMANHA CAMPEÃ.


COPA DE 1970 (México): Foi uma redenção do futebol: nada de “garfadas” e as maiores potências futebolísticas (exceto a ausente Argentina) no auge, tecnicamente falando. Além disso, a organização e hospitalidade mexicanas foram fantásticas, deixando nossa Seleção bem à vontade. A preparação física, tática e mental durou meses. Pelé, Rivellino, Gérson, Carlos Alberto, Tostão, Jairzinho, Clodoaldo, Piazza…    uma constelação de “feras” que atropelou as seleções que vinham pela frente, vencendo todos os jogos. Por outro lado, a semifinal foi um jogo de gigantes, entre Alemanha e Itália, vencido pela “Azzurra” num 4×3 dramático, na prorrogação, que desgastou os italianos, aos quais faltaram pernas, no segundo tempo da final contra nós. Não importa! De qualquer modo, os brasileiros venceriam. Apenas penso que na decisão, deveríamos ter tido pela frente, aquele que foi o adversário mais duro durante o torneio: a Inglaterra de Gordon Banks, Bob Moore, Bob Charlton e Hurst, a campeã de 66. Mas não daria nem mesmo para eles, que na primeira fase, perderam para nós, por 1×0. Já pensaram aquela cabeçada de Pelé e a defesa de Banks bem na final? Antológico! Mais ainda, se o gol que definisse o título, tivesse nascido daquela jogada mitológica, construída pelo ataque brasileiro, em cima dos ingleses: Tostão entortando os adversários pela esquerda, Pelé virando o jogo para a direita e Jairzinho “Furacão da Copa” entrando para definir. Apoteótico! E a Taça Jules Rimet, mesmo que por outros caminhos, teria sido conquistada em definitivo na mesma edição de Copa do Mundo. Com isso, Alemanha e Itália protagonizariam a maior disputa de terceiro lugar de todos os tempos e não a semifinal. Não tem jeito, sob qualquer análise que se faça a Jules Rimet viria para as nossas mãos e Pelé se consagraria como o maior jogador de todos os tempos, naquele Mundial. BRASIL TRICAMPEÃO. 


COPA DE 1974 (Alemanha): Se você pensou que eu corrigiria os fatos e faria da “Laranja Mecânica” a grande campeã dessa Copa, adivinhou. Aliás, como não se render aos talentos de Cruyff, Neeskens, Rensenbrink, Krol e outros; todos magicamente orquestrados pelo genial técnico RinusMichels? Nem mesmo a seleção germânica, liderada por seu capitão Beckenbauer deveria ter sido capaz de parar o “Carrossel Holandês” naquela decisão. O Brasil – agora sem Pelé – só passou para a segunda fase devido a uma sofrida partida diante do Zaire, na qual precisava vencer por pelo menos 3×0 e conseguiu o terceiro gol, graças a um frango histórico do goleiro adversário. O time não era nem sombra daquele que levantou o tricampeonato, na Copa anterior e não teria mesmo sido páreo para os holandeses, que passariam por cima de nós, da mesma forma, já que a seleção canarinho vivia um período de transição. Pior para os alemães, que perderiam a Copa em casa. HOLANDA CAMPEÃ.


COPA DE 1978 (Argentina): Aqui se aplica a mesma regra que o Brasil na Copa de 62. Falar dos disparates daquele Mundial seria “chover no molhado”: os caras fizeram de tudo para ganhar essa Copa, que possuía todo um cunho político. O Brasil obviamente foi o maior prejudicado, obrigado a viajar muito mais que os anfitriões e a treinar em campos recém-plantados, que soltavam placas de grama, na hora do chute. Não satisfeitos, os anfitriões alteraram o horário de um confronto decisivo, apenas para poder jogar diante do Peru, já sabendo de quantos gols precisariam, para avançar no torneio e nos desclassificar. Por falar em Peru, é impossível se esquecer daquela seleção, cujo goleiro era um argentino naturalizado peruano e também dos seis gols que a defesa deles levou, naquele jogo. Por tudo isso e pelo fato da ditadura argentina ter bancado o Mundial apenas para vencê-lo, o melhor castigo para os portenhos seria o de perderem a final para a Holanda no minuto final, com aquela bola que o Rensenbrink mandou na trave entrando e evitando-se assim, a prorrogação que viria logo após. O Brasil, mesmo invicto, tinha problemas, especialmente na parte ofensiva e para mim, terminaria no terceiro lugar, na bonita virada sobre a Itália, como acabaria acontecendo, de fato. Para uma Copa perfeita, Menotti reconsideraria sua decisão e colocaria Maradona, então com 17 anos, no grupo e em campo. Em contrapartida, Cruyff reconsideraria sua decisão política e jogaria pelos holandeses, repetindo-se o “Carrossel Holandês”. Já imaginaram a final desse jeito? Até os “deuses do futebol” agradeceriam! E os portenhos chorariam copiosamente a derrota em casa, em plena final. Impagável! HOLANDA BICAMPEÃ. 


COPA DE 1982 (Espanha): Esse Mundial não tem nem o que discutir: o mundo inteiro (menos a Itália) vai concordar que teria que ter terminado diferente, com outro campeão. O futebol-arte daquela seleção brasileira que tinha Zico, Sócrates, Falcão & Cia. comandados por Telê Santana, deixou saudade e não merecia perder (apesar da desatenção) para os italianos, conforme inclusive retratei, em conto, aqui no Museu da Pelada: “Exorcizando o Sarriá de 82”. Para piorar, a França, também praticante de um futebol belíssimo, foi desclassificada quatro dias depois, pela Alemanha. Isso acabou mudando (para pior) o próprio modo de se enxergar o futebol, especialmente por aqui. Adotamos um estilo feioso, de resultados e mais defensivo, rompendo com a nossa tradição. Pena que o futebol de resultados tenha prevalecido. Sinceramente, a final mais perfeita para uma Copa cheia de craques e seleções jogando bonito, teria sido a de nosso selecionado, contra a França de Michel Platini, Giresse, Tiganá, Rocheteau. E com vitória brasileira, numa batalha repleta de gols e sem faltas, onde o tetra teria vindo mais cedo e merecidamente. BRASIL TETRACAMPEÃO.


COPA DE 1986 (México): Assim como a Copa de 70 foi a de Pelé, a de 86 foi a de Diego Maradona, não há como contestar. Os próprios ingleses (acreditem!) se dividem sobre quem teria sido o maior jogador do século XX, fruto principalmente da atuação histórica do argentino, no confronto frente os britânicos. Embora o Brasil tivesse ido bem e sido desclassificado num jogão diante da França, a verdade é que ambos os países já não estavam mais no mesmo nível, com a maioria de seus craques veteranos ou contundidos. Daria Argentina mesmo, nas costas do Maradona (pois a seleção em si não era grande coisa). Apenas o vice não seria a Alemanha: eu o substituiria pela Dinamarca, que embora tenha sido “arrasada” pela Espanha, demonstrou um futebol lindíssimo, envolvente, goleando o Uruguai por 6×1. Se a “Dinamáquina” fizesse a final, ao menos seria um prêmio para a iluminada geração de Laudrup & Cia., que mais tarde faturou a Eurocopa 92 e a Copa das Confederações 95. ARGENTINA BICAMPEÃ.


COPA DE 1990 (Itália): Tecnicamente, essa Copa foi um porre! Um futebol feio e retrancado, que ditou a moda, entre a maioria das seleções que a disputaram. Quase nada acrescentou de novo, teve um dos números mais baixos de gols marcados até hoje, prenúncio das próximas edições do Mundial. Uma seleção alemã mais robusta, liderada pelo eficiente Matthaus, foi tudo o que se viu. Um Maradona obeso, com lampejos de genialidade, foi o que a Argentina conseguiu oferecer como resistência (ela que heroicamente chegara à final, eliminando a Itália nos penais, graças ao surpreendente goleiro Goycochea). Não há muito a acrescentar: talvez os italianos merecessem ao menos estarem na final, mostrando um futebol um pouco mais ofensivo, com Schillaci e Roberto Baggio surpreendendo no ataque. Foi uma fatalidade perderem para a Argentina, que à duras penas havia eliminado o Brasil, esta, uma seleção descaracterizada, jogando com três zagueiros, naquilo que se rotulou de “Era Dunga”. Os alemães, até por terem se preparado melhor e batido com folga a Holanda de Gullit, Van Basten e Rijkaard, maior decepção daquele Mundial, mereciam mesmo a taça e vencendo a Itália na final. ALEMANHA BICAMPEÃ.


COPA DE 1994 (Estados Unidos): Não adianta brigar comigo, amigo leitor! Não sou chegado a patriotadas! Para mim, melhor que o Brasil, era a Argentina, naquela Copa. Porque Maradona estava maduro, em ótima forma e desta vez, tinha um time respeitável, a acompanha-lo: Simeone, Redondo, Caniggia e Batistuta.  Que “El Pibe de Oro” usou drogas na carreira, todo mundo sabe e ele mesmo assumiu, exceto no caso de 94, quando jura inocência em nome das filhas. O tal “complô” que tirou Maradona daquele Mundial, “quebrou” os portenhos (até paramédica uniformizada entrou em campo e pelo braço, o retirou do gramado). Não creio que o Brasil teria sido páreo, apesar da zaga e da dupla de atacantes: Bebeto e principalmente Romário. O Brasil não tinha meio-campo, empatou duas vezes e praticava aquele futebol pragmático, engessado. Na semifinal, perderia para os “hermanos”, por mais que seja doloroso reconhecer. Os italianos, pelo que mostraram na final contra nós, também não teriam melhor sorte. Os argentinos (com Maradona “turbinado” ou limpo) venceriam a Copa, cuja decisão não iria sequer para os penais. ARGENTINA TRICAMPEÃ.


COPA DE 1998 (França): Já disse que não sou de patriotadas, na hora de opinar sobre futebol. Minha opinião – polêmica, eu sei – sobre a convulsão de Ronaldo Fenômeno é a de que ele não iria sofrer outra, em campo (por isso mesmo, foi liberado para jogar), mas o estrago psicológico já estaria feito, na cabeça do grupo. Particularmente, penso que o Brasil começou a perder essa Copa, antes mesmo de viajar, quando a comissão técnica optou pelo corte de Romário. Fez falta! Com o “Baixinho” lá na frente e com Ronaldo, a história teria sido outra. Na ausência de Ronaldo, repetiríamos o ataque de 94. Enquanto isso a França treinou, se aprimorou e foi de uma obediência tática absurda, jogando tudo o que podia, justamente na final, contra um Brasil desarticulado e abalado psicologicamente, que se estivesse bem, poderia ter feito mais, sem dúvida, mas não impediria o título dos “blues” tendo Zidane a lidera-los.  Daí eu não contestar o campeão e achar apenas que o placar foi dilatado. FRANÇA CAMPEÃ.


COPA DE 2002 (Japão/Coréia do Sul): Uma Copa a feitio, para o Brasil. Muito bem organizada e num continente “neutro”, não deu outra: conquista brasileira (merecida), com Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho arrebentando e vencendo todas as sete partidas que disputaram (um recorde!). E pensar que, como em outras oportunidades, o time estava desacreditado e correndo riscos até de não se classificar para a Copa do Mundo. Ótimo trabalho de Luís Felipe Scolari, que fez suas apostas pessoais, armou um esquema rígido na defesa, mas com liberdade no ataque e no fim, deu no que deu. Os alemães não tinham chances; o talento brasileiro era muito superior. A caminhada brasileira foi irretocável e mesmo com a arbitragem errando duas vezes a nosso favor, em partidas diferentes, teríamos chegado do mesmo jeito, pois os gols saíam sempre na hora certa e a moral do time foi se elevando. O goleiro Oliver Khan falhou numa final em que São Marcos jogou mais. Não há o que corrigir. Ao contrário de 94, desta vez tínhamos uma liberdade maior para sair jogando, um meio-campo mais talentoso e mais que suficiente para levar o caneco, pela quinta vez. BRASIL PENTACAMPEÃO.


COPA DE 2006 (Alemanha): Os germânicos fizeram talvez a Copa mais bem organizada até hoje. O esmero em tudo foi motivo de muitos elogios pelo mundo todo. Mas, apesar do artilheiro Klose, os alemães não conseguiram chegar à final, na qual italianos e franceses se enfrentariam. Zinedine Zidane deu uma aula de futebol no jogo em que desclassificaram o time brasileiro e seu “quadrado mágico”. Da minha parte, corrigiria apenas o detalhe que fez toda a diferença na final, no qual Zidane é provocado, se descontrola e dá uma violenta cabeçada no peito de Materazzi, sendo expulso e deixando a França com dez, justamente em seu melhor momento dentro da partida. Então, para mim, o ideal seria que isso não tivesse acontecido e dessa forma – acredito eu – naturalmente o gol francês acabaria saindo e a decisão nem teria ido para os penais, evitando assim, a vitória do insosso time italiano. Por isso, eu apenas inverteria o campeão e o vice. FRANÇA BICAMPEÃ.


COPA DE 2010 (África do Sul): Uma Copa diferente, também disputada em continente “neutro” e na qual a FIFA “teve que engolir” várias falhas na organização. Porém, em campo, as equipes não tiveram problemas com isso. Um Brasil sem inteligência no meio-campo, desprovido de um articulador de jogadas (um camisa 10 autêntico), fruto da teimosia do técnico Dunga, foi o que apresentamos no torneio, decepcionando a crítica mundial. Resultado: acabamos sendo desclassificados pelos holandeses, numa partida infeliz do volante Felipe Melo.  O futebol espanhol, de posse de bola e incessante troca de passes, deu um show de eficiência, consagrando seu estilo de jogo denominado como “tiki-taka”.  Mesmo tendo pela frente uma equipe insinuante e perigosa como a Holanda do driblador Robben. Eu não mudaria em nada a finalíssima: a Espanha controlou o jogo, apostando que o gol sairia naturalmente, sem desesperos. E foi o que, de fato, acabou acontecendo, a quatro minutos do fim de uma emocionante prorrogação, através de Iniesta. Sem retoques. ESPANHA BICAMPEÃ.


COPA DE 2014 (Brasil): Um lamentável equívoco, para os brasileiros! Organizada no pior momento para a economia do país e ainda por cima, sem um cuidado adequado na preparação de nosso selecionado. Comissão técnica aparentemente ultrapassada e jogadores que sentiram (e muito!) a pressão. Resultado: a maior decepção em Copas, justamente em casa. O caos levou o time a tomar dez gols nas duas últimas partidas. A própria torcida se sentiu envergonhada. Em minha modesta opinião, sequer deveríamos ter chegado entre os quatro primeiros. A Alemanha, com um planejamento impecável, conquistou com todos os méritos, mais uma Copa do Mundo. Apenas acho que a Holanda mereceria ao menos o vice, pois deu muito trabalho, especialmente com o atacante Robben, jogando um futebol bonito e ofensivo. A Argentina de Messi, ao contrário, atuando na defesa chegou à finalíssima, mas para mim, deveria mesmo era ter disputado o terceiro lugar, contra a surpreendente França, que contava com um time jovem, mas centrado e que teve em Benzema, seu principal jogador. À equipe de Muller & Cia., todos os méritos pela inquestionável conquista! Seria a “vingança” dos alemães, pela derrota em 74 em casa, para os holandeses. ALEMANHA TRICAMPEÃ. 

Ufa! Aí está: 22 Copas (e não 20) e o ranking da FIFA diferente, em títulos: Brasil pentacampeão; depois Alemanha e Argentina, tricampeãs; Itália, Espanha, França e Holanda bicampeãs; Uruguai, Hungria e República Tcheca, campeãs.

O Brasil teria tido o mesmo desempenho, inclusive conquistando a Taça Jules Rimet, na mesma Copa do México, porém Pelé teria sido “apenas” bicampeão do mundo, mesmo continuando a ser o maior jogador de todos os tempos. As seleções de 62 e 94 teriam suas conquistas substituídas pelos selecionados de 50 e 82.

Os alemães teriam um título a menos; a Itália seria a mais prejudicada, perdendo metade deles, ao contrário da Espanha e França, que duplicariam suas conquistas.

A Holanda seria a maior beneficiada, deixando de ser “tri-vice”, para virar bicampeã.

O Uruguai perderia um título e a Argentina ganharia outro, mantendo os nove conquistados, pela América do Sul.

A Hungria e a República Tcheca (ou Tchecoslováquia, como queiram) teriam vencido suas finais, no lugar da Inglaterra, que perderia a sua e não teria obtido sequer um Mundial, até hoje.

Para encerrar, uma confissão: não sou; nunca fui e jamais tive pretensão de ser o dono da verdade. Apenas realizei essa brincadeira, pois sempre gostei de criar e explorar assuntos até então intocáveis. “Brincar de Deus”, tentando “levar justiça” às muitas trapaças que o futebol apronta, é minha diversão. Esse gosto pelo lúdico sempre foi uma espécie de “marca registrada” minha. Estejam à vontade para discordar de mim. O mais importante é termos opinião própria, sempre. Especialmente no futebol.

UM SEMIDEUS EM MEIO AOS MORTAIS DA COPA

por Ivan Gomes


Diego Armando Maradona é mais do que um craque do futebol, é mais do que um torcedor ou símbolo argentino, Maradona é o que a mitologia grega nos diz sobre os semideuses, filho de um deus que cruzou com um humano. Ele tem a divindade e todos os defeitos que um ser humano pode ter, como dizia Nietzsche, Maradona se qualifica como humano, demasiado humano.

Os “ursos” talvez pensem que ele está ali apenas para aparecer, jogada de mídia… pobres “ursos”. El pibe de oro está sempre com a seleção de seu país, el pibe está sempre em La Bombonera quando o Boca tem jogos importantes e sempre com a paixão a flor da pele.


É por tudo isso que Maradona é único, Maradona é mais do que um craque, ele personifica a raça e a técnica, el pibe é o deus capaz de varrer uma defesa inteira da Inglaterra, assim como ludibriar os olhos humanos com um toque sutil com a mão que enganou a arbitragem que viu um gol com a cabeça.

Maradona: semideus em meio aos mortais da Copa. Sorte do futebol, mesmo neste momento de grande pobreza, consegue ser acompanhado por um gênio. Coitado do Messi, será sempre lembrado como um grande jogador, pode até vencer a Copa, mas jamais chegará próximo a Maradona. Os pecados que faltam em Messi, sobram no pibe, ainda bem, pois ele é somente humano, demasiado humano.

TÚMULO DO GRAMADO DESCONHECIDO

por Rubens Lemos


Alguns fazem teste de DNA para reconhecer paternidades duvidosas.

Outros investigam para reconhecer autores de crimes.

Tem gente grata que reconhece gestos.

Tem gente ingrata que não reconhece quem lhe ajuda.

No futebol, há um clichê prático e abominável.

Time reconhecer gramado.

O gramado é por demais óbvio: é feito de grama.


Bem ou mal pisada.

Boleiro que não reconhece um gramado merece comer capim.

Se o gramado – ele sim – pudesse reconhecer e expulsar cabeças de bagre da pior Copa do Mundo da história, mandaria todos ao pasto da lama e o futebol voltaria a respirar clamando por vida.

O DIA EM QUE O GOL FICOU VAZIO

 por Victor Kingma


Minha paixão pelo futebol começou muito cedo. Como já escrevi em outros textos, quando criança, nas tardes de domingo ou nas noites frias de Mantiqueira, bucólico pedacinho de Minas Gerais, o que eu mais gostava de fazer era acompanhar as transmissões esportivas com os famosos locutores da época, como Waldir Amaral, Jorge Curi ou Fiori Giglioti. Sempre  ouvia os jogos pela frequência da emissora que o nosso velho e chiador rádio Zenith  sintonizasse primeiro. 

Uma das transmissões que mais marcaram a minha infância foi a decisão da Copa do Mundo de 1962, no Chile, entre Brasil e Tchecoslováquia. Naquele dia 17 de junho, eu, meus irmãos e tantos outros amigos, ouvíamos o jogo pelo serviço de alto falante que o mano João tinha instalado na torre da igreja.

O Brasil, que começara perdendo o jogo, tinha virado para 2 a 1. Masopust, o grande craque rival, abriu o placar mas Amarildo, o jovem substituto de Pelé, que havia se contundido na segunda partida da Copa contra os próprios tchecos, e Zito, marcaram os gols brasileiros. A seleção estava a poucos minutos de se tornar novamente campeã do mundo.


O jogo estava quase no fim e a tensão era grande a cada novo ataque da Tchecoslováquia, que buscava o empate a todo custo. A transmissão pela Rádio Globo estava bastante inaudível naquele dia, o que aumentava ainda mais a apreensão de todos. Agonia que só terminava quando Waldir Amaral, aliviado, enchia os pulmões e narrava:

– DEFENDEU GILMAR!!!

E todos vibravam como se o Brasil tivesse feito mais um gol. No final, Vavá, o raçudo centroavante brasileiro, ainda faria mesmo o terceiro gol. O Brasil, vencendo por 3 a 1, se tornaria bicampeão mundial de futebol. A grande atuação do nosso goleiro foi fundamental para a histórica conquista.

Gilmar era daqueles jogadores que no seu clube, primeiro no Corinthians e depois no Santos,  era um bom goleiro que, às vezes, até ficava na reserva. Na seleção, entretanto, era insubstituível. Com a camisa do escrete nacional, virava um paredão, capaz de deixar na reserva lendas do gol, como Castilho. Com grande espírito de liderança tinha moral para dar bronca até em craques consagrados, como Bellini ou Nilton Santos, quando acontecia alguma falha de marcação na defesa.


Jogou 103 partidas pela seleção e participou de três Copas do Mundo: 1958, na Suécia, 1962, no Chile e 1966, na Inglaterra. 

Gilmar dos Santos Neves, para muitos o maior goleiro da seleção brasileira de todos os tempos, exemplo de atleta e um dos mais consagrados jogadores de futebol que o Brasil já teve, faleceu em 25 de agosto de 2013, aos 83 anos. Naquele dia, o futebol perdeu um mito. E o gol ficou vazio.