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Copa do Mundo

DEZ JOGOS DA HISTÓRIA DAS COPAS DO MUNDO QUE EU MUDARIA O RESULTADO.  

por Israel Cayo Campos 


Reis e plebeus, heróis e covardes, jovens e velhos… Todos nós gostaríamos de em algum momento modificar alguma coisa de nosso passado. Algo que achamos injusto, algo que achamos um erro, algo que nos envergonha por influenciar o destino de outras pessoas… No esporte também não é diferente! Eu particularmente adoraria mudar o destino de muitas partidas de meu clube de coração, obviamente, aquelas derrotas mais doloridas.

Em outros esportes, claro se tivesse esse poder, mudaria o destino de dois grandes atletas do nosso país: O acidente automobilístico de João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, em 22 de dezembro de 1981. Que fez com que o tricampeão mundial de salto triplo perdesse sua perna direita meses depois, o que além de abreviar sua grande carreira contribuiu direto para a depressão que o fez nos deixar precocemente aos 45 anos. E outro acidente automobilístico, o de Ayrton Senna da Silva, no dia 01 de maio de 1994 (aniversário do meu hoje já falecido pai), no grande prêmio de San Marino, em Ímola, que acabou por ceifar a vida do tricampeão mundial de fórmula 1 na fatídica Curva Tamburello.


Se pudesse também, mudaria o destino de Mané Garrincha, pois um dos dez maiores jogadores de futebol de todos os tempos não merecia o tratamento que teve do povo brasileiro em vida. Sem contar a falta de apoio que o povo brasileiro não soube dar ao mesmo ao não entender que apesar do gênio que foi, Mané era uma pessoa doente e que precisava e muito de ajuda! Hoje me irrita qualquer jogador nota sete ser mais lembrado como gênio do que o seu Manuel Francisco dos Santos.

E assim é claro, faria com qualquer situação ou pessoa se tivesse esse poder! Não importa se fosse na área familiar, artística, intelectual, política, literária, científica, entre outros…, mas voltando ao esporte, mais especificamente ao futebol, resolvi relembrar jogos de Copas do Mundo, os quais gostaria de ver outros resultados, ou ao menos a reparação de alguns erros do “destino”. É claro, é um gosto pessoal meu, e darei argumentos para tais situações.E mais claro ainda, é que o mundo em que vivemos, e o futebol é um dos melhores reflexos do mesmo, é imperfeito e inesperado. O que o torna o esporte mais maravilhoso entre todos!

A Copa do Mundo é o principal torneio esportivo do planeta, e dita as tendências para o esporte por pelo menos quatro anos de intervalo entre um torneio e outro. A partir dessa premissa, se tivesse o poder de utilizar um DeLoreane viajar no tempo, tentaria de alguma forma (aí sinceramente não sei como), mudar esses placares!

JOGO 1: BRASIL 1 X 2 URUGUAI (COPA DO MUNDO DO BRASIL EM 1950)


O Brasil sediava sua primeira Copa do Mundo. Era o primeiro mundial do período pós-guerra, um jejum de bola rolando de 12 anos sem o torneio. Jogávamos em casa, tínhamos um time melhor (com direito a não convocar os veteranos mas ainda craques Heleno de Freitas e Leônidas da Silva), jogamos mais partidas (seis jogos contra apenas quatro dos uruguaios), aplicamos maiores goleadas (contra Espanha e Suécia), jogávamos pelo empate, tivemos o grande artilheiro do torneio (Ademir Menezes), abrimos o placar com Friaça aos dois minutos do segundo tempo, com mais de duzentas mil pessoas no jovem estádio do Maracanã a nos empurrar… Apesar de já campeão do mundo em 1930, o Uruguai não tinha uma campanha comparável à nossa! O título tinha que ser nosso! Mas não foi… Com calma Schiaffino e Ghiggiaviraram o jogo e conquistaram o bicampeonato para a Celeste Olímpica. A primeira grande tragédia do futebol brasileiro.

Essa derrota causou um enorme impacto nos jogadores e torcedores brasileiros. O Maracanazzo, o “Complexo de vira-lata”, a maldição da camisa branca… O futebol brasileiro criou um trauma que nem mesmo cinco campeonatos mundiais foram capazes de fazer a torcida brasileira esquecer. O goleiro Barbosa, marcado por uma falha. E a impressão até hoje que o mal planejamento para aquela partida atrapalhou o que seria nossa primeira Copa do Mundo! De uma Seleção que nome por nome é parelha a uruguaia, e os jogos anteriores a essa final (na verdade jogo final de um quadrangular) entre essas duas seleções mostravam esse equilíbrio, mas que naquele mundial, fez uma campanha muito melhor. Até os 66 minutos da última partida daquela Copa.

JOGO 2: HUNGRIA 2 X 3 ALEMANHA OCIDENTAL (COPA DO MUNDO DA SUÍÇA EM 1954)


A seleção húngara era campeã olímpica em Helsinque em 1952, chegava a Copa da Suíça como grande favorita ao título, tinha o grande jogador do futebol mundial a época, Ferenc Puskás. E na Copa do Mundo não decepcionou.

Um 9 a 0 na Coréia do Sul e um 8 a 3 na Alemanha Ocidental logo na primeira fase colocavam a geração de Lantos, Czibor, Kocsis e Hidegkuti como favoritos nos jogos eliminatórios. Nas quartas, o atual vice-campeão mundial Brasil, e uma goleada por 4 a 2 para os Húngaros (sem Puskás!), e uma semifinal contra ainda invicta em Copas e atual campeã mundial, a seleção uruguaia, nova goleada de 4 a 2! E novamente a Alemanha Ocidental em Berna, pela final do torneio. Para quem não perdia a 31 jogos (cerca de quatro anos), e já havia goleado os mesmos de oito gols, era barbada…

A barbada ainda aumentou quando com menos de dez minutos de jogo os húngaros já venciam os germânicos por 2 a 0. Mas aí aquela seleção fenomenal, como que num encanto de Cinderela virou abóbora! O campo de Berna encharcou! As travas maiores das chuteiras alemãs permitiam aos mesmos ficarem mais em pé em campo do que os húngaros, e antes do fim do primeiro tempo o jogo que parecia que ia ser mais uma goleada estava empatado! Faltando seis minutos para o fim do jogo, Helmut Rahn virava o jogo para os alemães! Era o fim de uma era da maior seleção da história do leste europeu! Puskas ainda marcou um gol de empate, mas corretamente anulado pelo bandeirinha!

A derrota para os alemães no que ficou conhecido como o milagre de Berna teve consequências sérias não só para aquela geração húngara de futebol magistral, como também para todo o futebol do leste europeu, que a partir de então, começou a enfraquecer perante o ocidente, e até o futebol de outras confederações. Talvez um título que seria mais que merecido para aquela brilhante geração húngara na Suíça permitisse um maior desenvolvimento do futebol do leste europeu, que só foi ter novamente um finalista de Copa do Mundo em 2018 (64 anos depois), com a Croácia. Uma das maiores injustiças da história das Copas do Mundo! Que eu mudaria se pudesse por acreditar que aquele time não foi só o melhor daquela Copa, bem como um dos maiores de todos os tempos!

JOGO 3: INGLATERRA 4 X 2 ALEMANHA OCIDENTAL (COPA DO MUNDO DA INGLATERRA EM 1966)


No caso específico desse jogo, talvez não mudasse o resultado do torneio, pois não há como se saber o que não aconteceu. Para mim, ambos que chegaram a final da Copa do Mundo da Inglaterra eram merecedores do título. A Alemanha Ocidental de Franz Beckenbauer e Uwe Seeler, contra a Inglaterra dos Booby’s Moore e Charlton!

A situação que mudaria nessa final seria o terceiro gol inglês marcado por GeoffHurst aos dez minutos de prorrogação quando a partida estava empatada em dois tentos a dois! Até hoje ninguém sabe ao certo se a bola de Hurst de fato entrou ou não no gol do alemão Tilkowsky! Infelizmente a tecnologia da linha do gol estava décadas a frente para ser inventada, e por isso, até hoje paira suspeita no único título de Copa do Mundo conquistado pela Inglaterra.

É bem verdade que faltando um minuto para o fim da prorrogação o mesmo Hurst marcou mais um gol para os ingleses fechando o caixão alemão em 4 a 2, mas esse gol não pode ser considerado prova de que os ingleses venceriam com ou sem o terceiro e polêmico gol. A Alemanha já havia partido ao ataque desesperadamente em busca do empate, e deixara espaços para o quarto gol Inglês.

Se pudesse levaria a tecnologia da linha do gol para 1966 e veria se de fato a bola entrou ou não, corrigindo ou mantendo o erro histórico! Ou simplesmente não daria o benefício da dúvida não validando o gol que provavelmente nem o juiz teve convicção plena de que a bola entrou ou não! Se em uma nova partida, ou em um sorteio, ou até ainda nessa prorrogação outros gols legítimos saíssem, não importando de que nação fosse, ao menos o sentimento de ser campeão de maneira justa pairaria sobre esse jogo! Nesse caso não mudaria especificamente o resultado do jogo como creio ter ficado bem claro, mas sim um lance crucial da partida, que acabou por mudar o resultado da mesma!

JOGO 4: BRASIL 0 X 0 ARGENTINA (COPA DO MUNDO DA ARGENTINA EM 1978)


Em 1978, até os dias atuais, paira a suspeita de que o Peru entregou o jogo para os argentinos, perdendo por 6 a 0 para que os hermanos pudessem ir à final de seu mundial em casa!

Tudo isso poderia ser evitado se a partida anterior dos argentinos, contra os brasileiros do técnico Cláudio Coutinho tivesse saído com um vencedor.

Não cabe a mim dizer quem deveria vencer a partida, pois obviamente escolheria que o vencedor fosse o Brasil. Embora admita que os melhores lances de gol desse jogo conhecido como a “Batalha de Rosário” tenham sido da seleção comandada em campo por Daniel Passarela e Mario Kempes. Um gol perdido por Ortiz com o goleiro brasileiro Leão já caído no chão é um exemplo de um jogo parelho, mas com uma leve vantagem para a albiceleste. O Brasil também perdeu boas chances, com Gil e Roberto, mas principalmente graças ao mérito do goleiro argentino Fillol.

Para mim, mais importante do que ser Brasil ou Argentina, gostaria que essa partida especifica tivesse um vencedor, mudaria o resultado de empate da mesma exatamente para retirar o cheiro de marmelada que ficou no torneio poucos dias depois quando a Argentina passeou contra o Peru. Se o Brasil tivesse vencido a partida contra os argentinos, pouco importaria a goleada sobre os peruanos, se fossem os argentinos os vencedores, uma vitória simples sobre os peruanos, o que é algo normal, ou até mesmo uma goleada contra uma seleção já eliminada não causariam tanto furor e desconfianças para o mundo do futebol.

JOGO 5: BRASIL 2 X 3 ITÁLIA (COPA DO MUNDO DA ESPANHA EM 1982)


O que dizer dessa Seleção brasileira e dessa partida contra a Itália? Praticamente tudo já foi dito! Que o Toninho Cerezo não deveria passar a bola pelo meio da área, que alguém deveria ter pego o Paulo Rossi em dia inspirado, que após o empate em 2 a 2 o técnico Telê deveria ter recuado o time para impedir o terceiro gol italiano…

Eu particularmente mudaria o resultado desse jogo não apenas pelo Brasil, pois em mim pairam dúvidas se essa Seleção passando nem que fosse com um empate contra os italianos seria campeã do mundo.

Eu mudaria de fato o resultado desse jogo em prol do Brasil pois após o mundial da Espanha com os italianos vencendo o torneio após passarem da primeira fase de maneira sofrível com três empates, o futebol passou a ser visto de uma maneira diferente! A técnica e a qualidade dos jogadores passaram a ser segundo plano! Primeiramente tornou-se necessário impedir o adversário de jogar, depois se conseguir um gol e mais uma vez se retrancar, era o início da força física dominando a habilidade!

Nas Copas seguintes, esse estilo de jogo se tornou padrão! Não era importante mais ter craques no time! Toque de bola! Belos dribles! O importante é cumprir a função tática, ser efetivo e se recolher na defesa! (tal maneira de jogo obrigou a FIFA a mudar as regras do esporte tentando o deixar novamente mais agradável aos espectadores). Por fim, essa não foi uma derrota do futebol brasileiro, mas sim do futebol arte, do futebol ofensivo, para o futebol burocrático de resultados! O por essa morte, eu mudaria o resultado desse jogo!

JOGO 6: ALEMANHA OCIDENTAL 3 X 3 FRANÇA (COPA DO MUNDO DA ESPANHA EM 1982)


A primeira coisa que deveria ser mudada era o adversário da França na semifinal da Copa do Mundo da Espanha em 1982, pois em um jogo de compadres, os Alemães Ocidentais combinaram um resultado de vitória simples sobre a Áustria para eliminar a Argélia.

Voltando para o jogo em questão, um dos maiores de todas as Copas! Com direito a em uma jogada de Breitner, Littbarski abrir o placar contra os franceses de Michel Platini. O próprio, Trésor e Giresse (os dois últimos já na prorrogação) colocaram a França com um 3 a 1 sobre os alemães. Era a primeira final francesa!

Um pouco antes dos gols franceses, o jogo ainda não estava definido, até que Platini acerta um belo passe para Battiston que entra na cara do goleiro Schumacher, o arqueiro germânico esquece a bola e ataca violentamente o francês em uma agressão que quebra 3 dentes de Battiston! O mesmo sai de maca e para o goleiro alemão sequer é marcada a falta, o que dirá uma justa expulsão. Se pudesse eu mudaria a decisão do juiz expulsando o goleiro alemão. Até porque se tratava de um lance de último homem, e de uma clara agressão para o goleiro. Com um a menos e perdendo por 3 a 1, seria difícil os alemães chegarem ao empate!

Com o mesmo número de jogadores, e goleiro titular em campo, a Alemanha conseguiu forças para ainda no primeiro tempo de prorrogação Rummenigge descontar e logo aos 3 minutos do segundo tempo da mesma Fischer em um belo gol empatar novamente a partida! Era a velha Alemanha Ocidental, que nunca desiste em busca de mais uma final! O jogo iria para a disputa de penalidades máximas! A primeira semifinal disputada assim!

Nos pênaltis o mesmo goleiro Schumacher, que deveria ser expulso no primeiro tempo da prorrogação provocou os franceses e defendeu duas penalidades francesas! Graças a ele, que nem deveria estar em campo, a Alemanha Ocidental estava classificada para mais uma final de mundial! O que se pudesse voltar no tempo, por uma questão de justiça, ainda mais numa época em que prorrogações fisicamente desgastavam completamente os jogadores, mudaria! Ao menos a decisão da arbitragem, e mudando a mesma, tenho a impressão que o finalista contra a Itália seria a França!

Para o futebol as consequências foram poucas, a boa geração francesa campeã da Eurocopa dois anos depois não conseguiu um título mundial (mais hoje tem dois e uma final de Copa) e Michel Platini, que na Itália era tido como o melhor jogador do futebol mundial, mesmo concorrendo com Zico, Boniek, Rummenigge e depois Maradona, não conseguiu se sagrar campeão do Mundo! Mais um para a enorme lista! Entretanto, é notória a interferência da arbitragem impedindo os franceses de chegarem a final daquele torneio.

JOGO 7: CAMARÕES 2 X 3 INGLATERRA (COPA DO MUNDO DA ITÁLIA EM 1990)


Quartas de final da fraca Copa do Mundo da Itália em 1990. Fruto ainda da ideia de 1982, as seleções priorizavam seus sistemas defensivos ao extremo. Primeiro não levar gol a fazê-los foi o lema desse mundial!

Em uma Copa repleta de vitórias por 1 a 0, empates sem gols e jogos eliminatórios indo para as penalidades máximas, quem destoava era a seleção de Camarões, do já veterano e aposentado Roger Milla (a época com 38 anos!).

Com um futebol alegre, repleto de passes, dribles, belos gols e de uma grande irresponsabilidade, os leões indomáveis começaram vencendo nada mais nada menos que a atual campeã mundial Argentina por 1 a 0, depois com um show de Roger Milla mais uma vitória sobre os romenos de George Hagi por 2 a 1 e a classificação garantida com dois jogos apenas! O terceiro realmente foi aquele da irresponsabilidade! Uma goleada sofrida para os Soviéticos por 4 a 0, não importava, Camarões era a primeira seleção africana a passar da primeira fase de uma Copa do Mundo, e em primeiro!

E para quem pensava se tratar de pura sorte, nas oitavas de final, uma vitória sobre a Colômbia do folclórico goleiro Higuita na prorrogação por 2 a 1. Novamente com dois gols de Milla, que nesse período já rivalizava com Mathaus e Maradona para craque da Copa!

Camarões era a primeira seleção africana a chegar a uma quarta de final de um mundial, e aí chegava para enfrentar a forte, mas de cintura dura seleção inglesa, que desde seu título em 1966 (24 anos antes!) não chegava sequer a uma semifinal de Copa. Foi um massacre camaronês durante todo o jogo! Mesmo saindo atrás no placar os africanos empataram e logo viraram e aí cansaram de perder gols cara a cara com o goleiro Peter Shilton! Parecia que Camarões iria vencer o jogo a qualquer momento por mais gols! Só parecia…

Faltando sete minutos para o fim do jogo um pênalti é marcado para os ingleses! Lineker, artilheiro da Copa anterior bate e coloca os Ingleses de volta na partida. O jogo iria para a prorrogação!

Nela os africanos continuaram superiores, mas ao mesmo tempo continuaram infantis, principalmente na hora de definir os belos lances criados pelo time. Se defensivamente Camarões não era um primor, ofensivamente o time mostrava muita qualidade, uma qualidade que superava a dos ingleses! Mas que não se refletia em gols! E como diria o velho jargão, quem não faz… Lineker sofre pênalti em contra-ataque armado, ele mesmo bate e coloca de maneira eficaz, mas não justa os ingleses nas semifinais daquela Copa do Mundo.

Apesar de Senegal em 2002 e Gana em 2010 terem conseguido chegar também as quartas de final, jogando um futebol bem mais europeu do que com a alegria camaronesa. E a Nigéria ter ido as fases de oitavas de final em 1994, 1998 e 2014. O insucesso de Camarões em 1990, jogando um futebol ao mesmo tempo ofensivo, mas irresponsável causou um processo de involução no futebol africano. Que cada vez mais deixou de ser um futebol alegre, passando a se espelhar no modelo de futebol físico e tático europeu.

Hoje, as seleções africanas estão jogando um futebol abaixo até do praticado em continentes como a Ásia e América do Norte! Para quem esperava uma seleção africana chegando a uma final de Copa do Mundo depois de Camarões, o que se viu foi exatamente o oposto! E por isso mudaria o resultado dessa partida levando os camaroneses pelo menos a uma semifinal contra os alemães em 1990.

JOGO 8: ITÁLIA 1 X 2 CORÉIA DO SUL (COPA DO MUNDO DO JAPÃO E CORÉIA DO SUL EM 2002)


Que me desculpem quem gosta da Coréia do Sul, mas nunca vi uma Copa com tantos favorecimentos para que o anfitrião chegasse as semifinais! E o jogo ainda nas oitavas de final contra os italianos foi o exemplo claro disso! Embora também pudesse escolher o jogo de quartas de final contra os espanhóis…

A Coréia já havia perdido uma penalidade defendida por Buffon quando em um escanteio cobrado por Totti, Vieri abriu o placar de cabeça, ao seu estilo! Em uma bobeira da defesa italiana, Seol Ki-Hyeon empatou o jogo e levou para a prorrogação. E aí começaram os erros de arbitragens esdrúxulos!

Além de um pênalti claro não marcado em Totti, o juiz equatoriano da partida ainda expulsou o camisa dez italiano alegando simulação! Até o técnico italiano Trapatoni se irritou e socou a tela de proteção que separava o banco italiano dos delegados do jogo! No segundo tempo Tommasi faz um gol legitimo (que seria o gol de ouro italiano) mas o bandeirinha marca impedimento para desespero dos italianos!

Com um a menos e cansada de lutar contra os coreanos e os árbitros da partida, a Itália levou o gol da virada de cabeça (em uma das melhores defesas aéreas do mundo!) e acabou eliminada do mundial! Nesse jogo eu mudaria de preferência o juiz e os bandeiras da partida! Sendo de merecimento que o resultado fosse favorável aos italianos, como eles demonstraram dentro de campo, mas acabaram tendo seus gols e penalidades não validados pelos árbitros!

JOGO 9: ESPANHA 1 X 0 HOLANDA (COPA DO MUNDO DA ÁFRICA DO SUL EM 2010)


Esse jogo eu sei que os fãs do “Tiki-Taka” vão me criticar! Tudo bem, mas a verdade é que nunca me agradou esse estilo de jogo praticado pela Espanha! Um estilo de futebol enfadonho, sempre com muita posse de bola, mas poucos lances de habilidade individual e pouca objetividade! Atualmente, o futebol espanhol pena em torneios importantes exatamente por ter a posse de bola a maior parte do tempo, mas sofrendo para conseguir marcar gols! Por sinal, a primeira fase espanhola teve uma derrota para a Suíça por 1 a 0, uma vitória suada contra o Chile por 2 a 1 e uma vitória também suada contra a fraca Honduras por 2 a 0.

Na fase eliminatória foi pior! Quatro vitórias por 1 a 0, contra Portugal, Paraguai (Onde contou com Casillas defendendo pênalti e salvando a Espanha!), Alemanha e a final Holanda! Nem as seleções italianas campeãs com seus esquemas de cadeado fizeram tão poucos gols em uma Copa do Mundo!

Em contrapartida, a Holanda, que já tinha uma tradição de finais de Copa (duas contra nenhuma dos espanhóis!), Venceram a boa Dinamarca por 2 a 0, o Japão que veio a ser segundo do grupo por 1 a 0 e Camarões por 2 a 1 na fase de grupos! 100% de aproveitamento! Nas oitavas de final a volta de Robben e uma vitória por 2 a 1 sobre os eslovacos (que haviam eliminado na fase de grupos os atuais campeões mundiais italianos), Nas quartas de final mais uma vitória contra os favoritos brasileiros por 2 a 1 e nas semifinais uma vitória por 3 a 2 sobre a Seleção uruguaia do melhor jogador da Copa, Diego Forlán. A Holanda chegava a final da Copa com seis vitórias e 12 gols marcados! Além de uma dupla de jogadores individualmente em grande fase: Sneijder e Robben!

Na final, novamente aquele jogo enfadonho espanhol. Acho que os times iam sendo derrotados devido ao sono que o futebol adversário causava! Robben teve a grande chance de dar o primeiro titulo mundial a Holanda, mas parou em IkerCasillas, de fato, melhor goleiro da Copa! No final do segundo tempo da prorrogação o castigo veio a galope! Iniesta marcou e deu o título aos espanhóis!

Eu mudaria o resultado dessa final e daria aos holandeses, principalmente pela campanha dos mesmos e o melhor futebol praticado durante o campeonato na África do Sul! Pessoalmente, nunca me agradou o estilo de jogo espanhol, e depois da Copa das Confederações de 2013, meu desagrado por esse estilo de jogo se tornou comum a outros espectadores de futebol! Eu particularmente acho a Espanha de 2010 a pior campeã mundial de todas as 21 edições de Copas de Mundo até hoje! Se fosse a Holanda, pelo menos contra a Itália de 2006 ela iria competir! E por isso mudaria o resultado dessa Copa! Pro bem de quem gosta de assistir jogos de futebol!

JOGO 10: BRASIL 1 X 1 CHILE (COPA DO MUNDO DO BRASIL EM 2014)


O Brasil enfrentou o Chile nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2014 em casa, antes disso, havia passado de maneira suspeita pela Croácia, empatado pela primeira vez em Copas com o México e vencido Camarões, a pior seleção do torneio de goleada. Uma campanha razoável para a maior Seleção de todos os tempos jogando em casa.

Para o torcedor o importante é vencer, mas para quem assiste futebol, o Brasil demonstrava que não ia ser campeão daquele torneio, e o jogo contra o Chile foi o primeiro golpe que culminou na humilhante derrota para a Alemanha!

Depois de um empate em tempo normal com gols de Thiago Silva para o Brasil e Alexis Sánchez para o Chile (Assim como o México, era a primeira vez que empatávamos com o Chile em um mundial!), levamos uma bola na trave no último minuto da prorrogação do atacante reserva chileno Pinilla (que teve apagada atuação pelo Vasco da Gama)! Era aí que mudaria o resultado. Para mim aquela bola deveria ter entrado!

Na disputa de penalidades, o capitão do time teve crise de choro, jogadores tremeram para bater e se não fosse Júlio César o Brasil não se classificaria as quartas de final. Das quartas em mais um jogo suado contra um antes fácil adversário, um 2 a 1 sobre a Colômbia e a classificação para a semifinal do mundial contra a Alemanha!

Na semifinal mais um motivo pelo qual mudaria o placar contra o Chile. A goleada sofrida pelos alemães foi o pior resultado de uma Seleção brasileira em mais de 100 anos de história. E em uma Copa do Mundo! E na nossa casa! Os alemães nada tem a ver com isso, venceram com méritos, mas se o Brasil tivesse sido eliminado pelo Chile, não teríamos passado por tamanha vergonha com uma camisa tão gloriosa como a nossa!

 

 

LONGE DO POVO

por Leandro Ginane

A seleção brasileira está há dezesseis anos sem vencer uma Copa do Mundo. Serão vinte anos sem levantar o caneco até a próxima Copa que será realizada no Qatar, em 2022. Desde 1950, o maior tempo que a seleção brasileira ficou sem ganhar um título mundial foi entre 1970 e 1994, quando venceu o tetra nos Estados Unidos.


Os jogadores que ganharam o tetracampeonato sofriam a pressão de vencer um mundial após duas décadas e tinham como sombra seleções que encantaram o mundo, mas não venceram, como o time de 1982 que para muitos foi um dos melhores de todos os tempos. Jogavam o futebol arte, com estilo de jogo que só o brasileiro sabia fazer com maestria, com habilidade e improviso. Curiosamente, para vencer em 1994 a seleção brasileira modificou completamente seu estilo. Rotulada como uma seleção que jogava para não perder, tinha em sua dupla de ataque a única grande esperança de gols. Com grande destaque para o número onze Romário, que foi convocado apenas no último jogo das eliminatórias graças ao clamor popular dos torcedores brasileiros. Na época, dirigentes, opinião pública e a comissão técnica cederam ao desejo do povo.

O tricampeonato mundial e a hegemonia histórica no futebol, impunha àqueles jogadores e a sua comissão técnica o velho bordão: tem que vencer e convencer. Era como se para ser um legítimo campeão, fosse necessário jogar o futebol mais bonito para encantar o mundo, herança das grandes seleções que tinham Pelé, Garrincha e Tostão como jogadores, uma seleção formada em sua maioria por camisas dez.


O desejo pela hegemonia no futebol somada a pressão por um título após vinte e quatro anos, resultou na humildade em entender que para voltar a vencer, seria necessário modificar o estilo de jogo brasileiro, tão aclamado até então. Com um esquema tático que privilegiava a marcação, aliado aos talentos individuais de Bebeto e Romário, a seleção voltaria a se sagrar campeã após duas décadas.

O fato de se tornar campeã mundial pela primeira vez sem o Pelé, tirou um peso enorme das costas dos jogadores brasileiros; e a leveza de ser a atual campeã, fez o futebol brasileiro retornar as suas raízes, conquistando o mundo com títulos e atuações inesquecíveis a partir de então. Após o tetracampeonato, o Brasil participou de mais duas finais de Copa em sequência, em 1998 perdendo para a França e em 2002, quando venceu a Alemanha se tornando o única seleção pentacampeã mundial. Enfim, a hegemonia estava de volta e com ela a seleção passou a viver então uma espécie de síndrome de vira-latas as avessas onde seus jogadores ganharam status de astros globais, sendo premiados como os melhores do mundo em 1997, 1998, 2002, 2004, 2005 e 2007.


Inebriados pelo sucesso e com uma postura arrogante que caminhava junto com a certeza de que o hexacampeonato viria no próximo torneio, jogadores e comissão técnica se afastaram do povo e usaram os treinamentos durante a Copa de 2006 como um verdadeiro show de entretenimento.

O resultado foi a eliminação precoce nas quartas de final para a França, algoz do vice campeonato brasileiro em 1998. Uma grande decepção tomou o país e quatro anos depois, ainda com a arrogância de quem carregava a hegemonia do futebol mundial, a solução adotada foi o isolamento dos jogadores e fechamento dos treinamentos, que resultou em forte crítica da opinião pública. Outro fator determinante que reforça a arrogância, foi o fato de novamente desconsiderar o clamor popular em 2010, que naquela ocasião pedia Neymar e Ganso na seleção, jovens promessas do futebol brasileiro. O resultado foi uma nova eliminação nas quartas de final, agora para Holanda. A tristeza de uma eliminação precoce nas quartas de final deu lugar rapidamente a euforia pela próxima Copa, que seria novamente realizada no Brasil, sessenta e quatro anos depois. Era a chance de reescrever a triste história da Copa de 1950.

A expectativa pelas transformações realizadas em estádios tradicionais, como o Maracanã, que descaracterizou o Maior Estádio do Mundo para que se tornasse uma arena europeizada para disputa da Copa, a empolgação da população brasileira e a trajetória descendente da CBF, diminuiu a importância do trabalho que vinha sendo feito pelas seleções européias, que evoluíram taticamente e importaram ano após ano os talentos sulamericanos


A postura paternalista da comissão técnica brasileira, que apostava em palestras motivacionais para vencer um torneio tão competitivo, resultou na eliminação mais vergonhosa da história da seleção, o fatídico 7 a 1 imposto pela Alemanha em pleno Mineirão, na semifinal do torneio. Enfim, a realidade cobrou o seu preço e expôs ao mundo a fragilidade do futebol brasileiro. O clima no país era de terra arrasada, brasileiros choravam pelas ruas, nunca na vitoriosa história da seleção brasileira, houve uma derrota tão vergonhosa como aquela. Deveria ser o início de uma renovação, mas não foi.

Sem direção e com seus principais dirigentes investigados pela justiça, a CBF optou pelo mesmo técnico derrotado em 2010, uma espécie de técnico fantoche e sisudo que teria como missão colocar ordem e resgatar a reputação da seleção, que aquela altura não possuía mais a hegemonia do futebol mundial e se tornara motivo de piadas em todo o mundo. Obviamente, não conseguiu. Com uma sequência de resultados ruins, foi substituído pelo nome que era consenso entre a opinião pública. Um profissional com capacidade técnica comprovada pelos seus últimos resultados em clubes e imune às críticas, devido a ótima eloquência e o ar professoral em suas entrevistas coletivas, que mais pareciam uma palestra. Os primeiros resultados na eliminatória da Copa foram surpreendentes e novamente a empolgação tomava conta do país as vésperas da Copa da Rússia 2018. Com o novo professor, o Brasil ascendeu no ranking da FIFA e passou a ocupar a segunda posição, atrás apenas da Alemanha, a atual campeã mundial.


O cenário de euforia e certeza deu o tom, as entrevistas da comissão técnica explicavam matematicamente cada decisão tática. Enfim o hexa viria e a hegemonia do futebol era questão de pouco tempo. Mas novamente a seleção foi surpreendida, dessa vez por uma seleção sem tradição que se tornara uma das grandes sensações da Copa da Russia, a Bélgica. Na única derrota em jogos oficiais sob seu comando, o professor unânime entre os especialistas, errou. Com uma escalação equivocada e organização tática que desconsiderou o talento adversário, em apenas 45 minutos o jogo já estava liquidado e mais uma vez a seleção brasileira foi eliminada precocemente da Copa do Mundo. Com a eliminação, não veio a busca por um vilão, como é o costume da mídia e do torcedor brasileiro em Copas passadas. O sentimento também não foi de decepção, o que sugere que o discurso pós derrota do professor apoiado amplamente pela opinião pública foi suficiente para diminuir a dor da perda.

Em 2022, serão vinte anos sem disputar uma final de Copa. É o momento de voltar a escutar o clamor popular e dar oportunidade a jovens promessas. Mas principalmente: criar um diálogo direto com o povo para não se tornar o reflexo das instituições governamentais brasileiras. Chegou a hora de ser crítico em relação a função do futebol na sociedade brasileira e questionar os discursos elitistas e de auto ajuda que tentam esconder a realidade de que o Brasil se tornou um coadjuvante não só no cenário político e econômico mundial, mas também no futebol.

POR QUE GANHOU?

por Idel Halfen


Ao fim de uma Copa do Mundo costumam surgir as mais variadas teses para se explicar as razões dos resultados. 

Com o intuito de contribuir para as devidas reflexões sobre o tema será apresentado a seguir mais uma análise, a qual tem como linha de raciocínio a busca por algum tipo de correlação entre a representatividade das ligas nacionais e o desempenho das respectivas seleções na Copa do Mundo. 

Essa é a segunda vez que esse tipo de estudo é aqui desenvolvido, na versão passada relativa à Copa de 2014 – https://halfen-mktsport.blogspot.com/2014/07/ligas-versus-selecoes.html, as conclusões extraídas foram: (i) que havia uma “silenciosa” competição entre a liga e a seleção nos países, pois a maior presença de estrelas “importadas” diminuía o espaço para os jovens nativos, prejudicando assim o processo de renovação e surgimento de jogadores;

(ii) que o intercâmbio de jogadores promovia um nivelamento maior entre as seleções.

Para que a leitura não fique muito extensa, ilustraremos nossa análise com uma pequena parte das informações coletadas, mas vale informar que para se chegar às conclusões contidas nesse artigo foi utilizada uma base que contempla dados a partir da Copa de 1970.

Dessa forma podemos observar que desde a Copa de 1998 as ligas inglesas são as que mais “fornecem” jogadores para as seleções que se classificaram para cada edição do torneio. Foram 124 jogadores em 2018 (nove a mais do que em 2014) que defenderam 28 das 32 seleções participantes, sendo que tanto em 1998, como em 2010 e 2018 todo o plantel inglês atuava no próprio país. O 4º lugar agora conquistado foi sua melhor classificação desde 1990 quando ficou na mesma posição, porém, na época a liga com mais “jogadores de Copa” foi a da Itália, cuja seleção foi a 3ª colocada.


Ainda sobre a Copa desse ano, temos seguindo a Inglaterra como “celeiros” para a Copa do Mundo as ligas dos seguintes países pela ordem: Espanha, Alemanha, Itália – que não se qualificou para o torneio – e França, sobre a qual falaremos a seguir.

A campeã mundial teve sua equipe constituída por seis jogadores que atuavam na Espanha, cinco na Inglaterra, dois na Alemanha, um na Itália e nove no próprio país, ou seja, todos são oriundos das cinco principais ligas europeias.

Mas o que pensar do nível de excelência de seu campeonato, a Ligue 1?

Pelos resultados dos times franceses na última Champions League podemos inferir que a liga não esteja tão bem assim, corrobora para essa suposição o fato de que, depois da França, a seleção do Senegal foi a que teve mais jogadores no citado campeonato e que as seleções que se classificaram do 2º ao 4º lugar tiveram apenas três representantes ali jogando, sendo a que a Inglaterra não teve nenhum.

Uma avaliação menos atenta desses números poderia sugerir de que de nada adianta ter um campeonato com tantos bons jogadores como o inglês, já que a vice-campeã Croácia ficou à sua frente tendo apenas três disputando seu campeonato nacional(dois croatas e um suíço).

Claro que a conclusão não procede, pois a título de contestação poderíamos evocar que foi graças ao elevado número de jogadores atuando em seus gramados que a seleção inglesa conseguiu chegar às semifinais após 28 anos, o que também não seria absolutamente certo, afinal de contas existem inúmeros fatores que podem afetar os resultados da Copa do Mundo.

Assim, diante de tudo que foi analisado, as conclusões que consideramos razoáveis são:
1. O intercâmbio, de fato, contribui bastante para a evolução técnica dos jogadores e consequentemente das seleções, entretanto, é necessário ter em mente que o nível técnico “inicial” dos impactados pela “globalização” difere entre si, o que em outras palavras significa dizer que há também um tempo diferente para se colher os frutos.

2. Apesar de uma série histórica mais ampla proporcionar uma base estatística mais rica, é importante também considerar que a vida útil de um jogador o deixa apto a participar em boas condições de no máximo 4 edições de Copa do Mundo, ou seja, a safra de jogadores é uma variável incontrolável que afeta os resultados.

3. O modelo de disputa da Copa do Mundo não permite concluir que as equipes vencedoras são aquelas que representam necessariamente os países que têm as melhores estruturas e/ou políticas esportivas. 


Em resumo, o que podemos tirar de “verdades” sobre as teses e explicações acerca de resultados é que elas são extremamente válidas para a construção de cenários e discussões a respeito, todavia, a quantidade de variáveis incontroláveis, inclusive o dinamismo da sociedade, não permite sequer imaginar que haja uma fórmula mágica de sucesso. 

Contudo, independentemente dessa incerteza preditiva, é fundamental que informações sejam coletadas e analisadas para, dessa forma, se elaborar um planejamento que minimize os riscos de insucesso.
Isso se estende ao mercado de forma geral.

LEMBRANÇAS DE ROMÁRIO

por Rubens Lemos 

É passar em frente ao prédio e a angústia é instantânea. Volta como em reprise a agonia das caminhadas noturnas na calçada do Hospital Infantil Varela Santiago em Natal.

Chorava na rua para não assistir ao meu filho, com um ano e um mês de idade, ser picado por agulhas, amarrado ao berço em intenso tratamento contra uma pneumonia surgida do nada.

Descobri naqueles dias o que é ser pai. Eu, Isabel e Caio só tínhamos a nós mesmos. Quando o pediatra, Doutor Edmilson Freire – médico sereno e eficiente que se tornou amigo -, deu o diagnóstico e determinou a internação, caímos no pranto, pai e mãe inexperientes e abraçados. O meu filho estava naquela fase em que todo cuidado é pouco e tudo o que faz é encantador.

Dormíamos os três no pequeno apartamento do hospital. Ele teve que ser amarrado porque não agüentava de impaciência. E se doía nele, mais ainda em mim. Pai sofre em dose tripla. Caio já demonstrava a valentia sertaneja lá do Oeste potiguar. Soluçava baixinho. Quase 20 dias de tormenta. Quando o libertaram do soro, Caio quase voou do berço e foi pouco para os milhares de abraços chorões.


É, 1994 havia começado mal. Toda a família já tinha sido castigada por uma catapora. Como sempre ocorre desde que me entendo trabalhador, férias, só por doença. Fiquei lindo, todo pipocado. No esporte, golpe traiçoeiro. O moleque Dener, que eu tenho certeza faria história bem mais que os Neymares e Robinhos, morria enforcado pelo cinto de segurança do seu carro nas imediações da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Dener, do Vasco, achava o drible mais belo que o gol. Demais eu chorei por Dener.

Desabafar também é arma de pobre. Lembro que usei uma tarjinha preta na camisa para ir trabalhar, igual ao luto estampado nos homens interioranos.

Eu nunca fui fã de Ayrton Senna, falecido também por aqueles dias. Talvez pela chatice de Galvão Bueno e depois pelo alpinismo de uma namorada galisteia, feminino de papa-defunto em ascensão social e fulanização.

Confesso que não me integrei à comoção pela morte de Ayrton Senna. Se vivo fosse, duvido que Schumacher ganhasse tanto depois. O problema, como nos sonhos delirantes, é um pequenino se.

Caio já estava robusto e nós, felizes em nossa vida simples e assim boa além da conta. Tínhamos o suficiente e ninguém ligava pra gente, o que era melhor, o melhor da história.


Veio a Copa do Mundo. E eu com 100% de fé naquele que jamais me decepcionou em minhas preces: Romário.

Eu gostava mais de Romário do que da própria seleção. Ele levava sem saber a revolta que eu precisava extravasar. Eu tinha de ganhar alguma coisa. Ele correspondeu.Ganhou o tetra pra mim.  

O jogo contra a Holanda pôs meu pulmão de tísico à prova. Na falta cobrada por Branco, a que decidiu a partida (3×2), berrei como um Pavarotti com 50 quilos. Caio assustou-se e chorou o que não pudera quando em seu leito de hospital.

Contra a Suécia, na semifinal, o goleiro deles era um chato, Ravelli, que ficava zombando a cada chute pra fora de Mazinho, Bebeto, Zinho, até Mauro Silva arriscou de longe. Aí Romário subiu como um senador romano à tribuna, mandando a empáfia do goleiro direto pra Estocolmo.


Contra a Itália, nos pênaltis, petrificado eu fiquei quando Baggio mandou a bola pelos ares. E, sem o vozeirão de Cauby, gritei, gritei até ter dó da garganta.

Editava o Bom Dia RN na afiliada Globo em Natal. Encerrei o telejornal com um clip com a música Brasileirinho na voz de Baby Consuelo. Aquele era o hino. De todos os nós desatados.

Faz 24 anos.Isabel me confessa até hoje ter pena do pobre Baggio e a sua solidão após o fracasso e a nossa vitória. E fica indignada quando eu digo que ele fuck!. Minha mulher esquece da tragédia de Zico em 1986.

Feliz 1994. Caio hoje, 25 anos, casado, é torcedor de Copa do Mundo. Nada é perfeito. E acha exagero quando eu digo que Romário foi tudo.Ele alcançou os meus milagres.Cometeu minhas vinganças.

VIVA A DIVERSIDADE!

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


França campeã, impossível não me emocionar. Fui o primeiro brasileiro campeão mundial a jogar naquele país. Tinha algumas opções, mas escolhi o Olympique de Marselha por ter um clima parecido com o do Rio de Janeiro.

Quando jogava pelo Flamengo e fazia uma excursão na Alemanha, Daniel Stern, fundador do Paris Saint-Germain, e o lendário Just Fontaine, me visitaram na concentração e me convidaram para o PSG, que acabara de subir para a Primeira Divisão. Neguei porque o frio parisiense me assustava. Depois, acabei indo para o Olympique.

Não imaginei que pudesse voltar ao Brasil porque era tratado com muito carinho pelo torcedor, na verdade pelo povo francês em geral. Mas Francisco Horta me convenceu e voltei ao Flu. De qualquer forma me sinto um dos responsáveis por abrir essa porta ao mercado brasileiro. Indiquei Jairzinho, o Furacão, e jogamos juntos. O sucesso foi tanto que o estádio do Olympique precisou ser ampliado para receber mais torcedores.

Aprendi a língua, fiz amigos, como os atores Jean Paul Belmondo e Alain Delon, o tenista Yannick Noah, e o príncipe Albert de Monaco. Colecionei gravuras de Picasso, Monet, Salvador Dali e uma revista de arte fez uma capa com o título “De Paul Cezanne a Paulo César” exaltando a poesia do futebol brasileiro.

Era convidado para os grandes eventos e recentemente fui consagrado com a Legião de Honra, importante comenda do governo francês. Vi muitos imigrantes correndo nas ruas da França. Fugiam da polícia que os impedia de vender suas bolsas “Louis Vitton” nas áreas turísticas.


Guarda Negra

Nessa época, apenas dois negros atuavam da seleção, Tresór e Jean Pierre Adams, apelidados pela imprensa de “la garde noir”, a Guarda Negra. Muita coisa mudou de lá para cá, ocorreram avanços na política e a França, com certeza, deve ser a seleção mais miscigenada.

Sobre essa grande variedade de origens, Matuidi, descendente de angolanos e congoleses, disse que a diversidade é uma das belezas da seleção francesa e, por isso, sentia orgulho em representá-la. Matuidi, Griezmann e outros 17 jogadores são filhos de imigrantes ou nasceram em outros países e se naturalizaram. As raízes são as mais diversas: Filipinas, Haiti, Congo, Senegal, Mali, Angola, Guiné, Togo, Mauritânia, Argélia, Camarões, Ilha de Guadalupe, Martinica, Alemanha, Espanha e Portugal. Isso faz bem ao futebol? Para a França fez. E muito!

Não sou historiador e a Croácia também teria seus motivos extra futebol para ganhar o título, mas falo da França por minhas ligações sentimentais. Se pudesse escolher a campeã da Copa seria a Bélgica, que apresentou o futebol mais bonito, técnico e veloz. Entre França e Croácia, a França. Tem muito mais jogadores técnicos e Didier Deschamps se deu ao luxo de não precisar usar todos os seus reservas, alguns muito bons de bola, como Thomas Lemar e Dembelé.


Essa Copa foi uma vitória do futebol porque as três primeiras mereciam o título e mesmo Didier Deschamps, uma espécie de Dunga francês, curvou-se ao futebol ofensivo. Claro que não surgiu um novo Platini, nem um novo Zinedine Zidane, mas podemos dar mil vivas a essa escola maravilhosa, que encanta o mundo não é de hoje.

Viva, Just Fontaine, Lilian Thuram, Thiery Henry, Marcel Desailly, Cantona, Mbappé, Griezmann e Pogba! Viva o futebol! Viva a diversidade!