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Copa do Mundo

O BRASIL E A COPA DO MUNDO: A ARROGÂNCIA FUTEBOLÍSTICA

por Paulo Henrique Gomes

A ideia do documentário “O Brasil e a Copa do Mundo: a Arrogância Futebolística” surgiu de um sentimento de revolta do autor em relação à cobertura da imprensa brasileira na Copa do Mundo de 2018. O clima ufanista, a ignorância coletiva e desinformação que vimos nessa cobertura é o que me motivou a fazer esse trabalho.

Apesar de 20 anos sem uma final de Copa, apesar de não eliminarmos um europeu desde 2002, apesar de já não termos o melhor futebol do mundo, grande parte ainda acha que o Brasil tem a obrigação de ganhar a Copa do Mundo toda vez, ignorando totalmente a qualidade de outras equipes.


Cria-se sempre uma expectativa muito alta, quando vem a eliminação a cobrança também triplica. A torcida é bombardeada o tempo todo ouvindo que a Seleção é favorita, quando perde, se instaura um clima de revolta, dessa forma, demonizam jogadores, culpam o extracampo e inventam teorias da conspiração pra amenizar a derrota.

No Brasil não há meio-termo, os jogadores voltam como heróis ou como vilões. Esses são os temas centrais do documentário, destrinchar os motivos que levam o Brasil a ter essa arrogância no futebol e as consequências disso.

BRASIL, O REI DAS COPAS FORAS…

por Serginho 5Bocas


É raríssimo uma seleção nacional, de qualquer modalidade esportiva, ser tão adorada pelo mundo. Contra tudo e contra todos, o Brasil ainda é assim no futebol.

Americanos são imbatíveis no basquete, chineses dão aula quando o assunto é tênis de mesa, quenianos são pódios garantidos quando o assunto é provas de corrida de média e longa distância, jamaicanos deitam e rolam nas provas de corrida de velocidade, mas poucos tem o carisma e personificam tanto a arte em um esporte como o brasileiro no futebol.

O “X” da questão é que esta idolatria toda não se transforma em predomínio ou protagonismo na hora do “vamu ver”, o Brasil realmente não é bom nisso! Quando somos favoritos é uma desgraça, como damos mole!

Vi onze Copas do Mundo, contando com esta que acabou recentemente e posso afirmar que demos “doce” pelo menos numas cinco delas. Por isso tenho que concordar com o dono do bar que frequentava, quando ele dizia que o Brasil era o rei das Copas foras.

1978 na Argentina foi infame, o 6×0 dos hermanos sobre o Peru foi de doer. Sei até hoje o nome dos atacantes peruanos: Munhantes, Cubillas e Oblitas e do famigerado goleiro argentino Quiroga, mas se Coutinho tivesse levado Falcão e não tivesse feito tantas invenções como escalar Edinho como lateral esquerdo ou colocar em campo dois laterais direitos ao mesmo tempo (Nelinho e Toninho) contra a Argentina, entre outras esquisitices, não sei não…


Veio 1982 e a bruxa de Sarriá resolveu sacanear todo mundo, pois me desculpem os derrotistas de plantão, mas o nome “tragédia” só foi dado porque só mesmo uma tragédia para definir o que foi aquele time perder para os italianos naquele dia. Falem o que quiserem, mas o Brasil de 1982 jogou Copas foras naquele 5 de julho, foi de chorar lágrimas de esguicho, como diria Nelson Rodrigues. Sem mais comentários para não chorar de novo.

1986 e o que poderia dar errado quando tínhamos um goleiro que não havia levado gol em quatro partidas seguidas daquela Copa, quando ainda no primeiro tempo do jogo das quartas de finais contra a França já tínhamos aberto o placar e estávamos sobrando na partida? Fim de jogo, mais posse de bola, muito mais chances de gols, perdemos nos pênaltis e mais uma vez, jogamos Copas foras novamente. Desta vez, enterrando uma geração de monstros que saíam de cabeça erguida para o mundo, mas sem a consagração que muitos daqueles craques mereciam.


1998, depois da final antecipada contra a Holanda em que Ronaldo teve talvez a sua maior atuação em Copas do Mundo, veio a final e todos dizem até hoje que o Ronaldo amarelou naquele jogo, que nos vendemos para a FIFA, enfim, cada versão escabrosa, mas o que sei é que os franceses entraram com sangue nos olhos e nos venceram de novo, consagrando os donos da casa, mas sei que foi mais uma Copa fora, molinho, molinho…

2006 e a seleção sensação. Havia tempo que não reuníamos tanta gente boa numa mesma seleção, tinha tudo pra dar samba, não deu. Veio um joelho na meia lua da entrada da grande área, uma bola alçada sem que o goleiro saísse para cortar e novamente os franceses, sempre eles, nos mandaram pra casa sem dó nem piedade. Outra geração maravilhosa de jogadores de baralho, de outra Copa fora…


Depois disso nunca mais chegamos com protagonismo na competição, nunca mais choramos com gosto, só ironizamos, rimos de nós mesmos, pois a cada Copa vamos banalizando as derrotas e pelo menos estamos aprendendo a entender que não somos mais os mocinhos do filme, que não jogamos mais Copas foras, agora só participamos…que fase!

Que pena…

Forte abraço

Serginho5bocas

AUGUSTO, O PRIMEIRO BRASILEIRO QUE DEVERIA ERGUER A JULES RIMET

por André Felipe de Lima


Ele tinha um sonho: ser o pioneiro do gesto que seria imortalizado por Bellini, Mauro Ramos de Oliveira, Carlos Alberto Torres, Dunga e Cafu. Mas tudo não passou de um sonho [ou seria pesadelo?] para Augusto, o “capitão de 50”. O velho Jules Rimet desceu as escadas da tribuna de honra e entregou a taça para outro capitão, o da celeste uruguaia, Obdúlio Varela. “Não chorei, mas tive vontade”, confessou Augusto ao repórter Geneton Moraes Neto. Fim de jogo contra os uruguaios, o zagueiro vascaíno saiu do Maracanã diretamente para sua casa, no bairro da Ilha do Governador. Já era agente da polícia especial. No dia seguinte, ao chegar ao departamento em que trabalhava, no Largo da Carioca, ouviu gozações. Aceitou tudo calado. O glamour dos dias que antecederam a final da Copa acabou. Restou-lhe a frustração que o atormentou até o fim da vida.

O ex-zagueiro, que também atuou como lateral-direito, Augusto da Costa nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 22 de outubro de 1920. Já era soldado da Polícia Especial do Exército quando iniciou a carreira nos juvenis do São Cristóvão, como ponta-esquerda. Em 1936, conquistou o seu primeiro título, ainda como juvenil pelo time da rua Figueira de Melo. No ano seguinte, novamente campeão juvenil, agora como lateral-esquerdo, após recomendação do treinador Palestini. Em 1940 foi campeão de aspirantes e no ano seguinte foi campeão do Torneio Municipal, conquista que os torcedores do São Cristóvão consideram como segundo troféu do campeonato carioca que o clube levantou. Demorou um pouco, mas em 1943, Augusto foi lembrado para compor a seleção carioca que acabou sendo campeã brasileira do mesmo ano.


Foi um jogador vigoroso e líder nato em campo. Em 1945 chegou ao Vasco para tornar-se capitão do time. Fez parte do “Expresso da Vitória” cruzmaltino que despontou no futebol brasileiro por quase dez anos, agregando nomes como o do goleiro Barbosa, Eli, Danilo, Jorge, Friaça, Maneca, Ademir de Menezes, Ipojucan e Chico. Augusto ficou no Vasco até 1953, quando encerrou a carreira. Foi campeão carioca em 1945, 47, 49, 50 e 52 e campeão invicto do sul-americano de clubes em 1948. Todos os títulos conquistados com a camisa do Vasco. Augusto atuou pela seleção carioca e foi campeão brasileiro interestadual em 1946. Disputou 311 jogos pelo Vasco marcando apenas um gol. Fez dois contra e jamais foi expulso, como apontam os dados levantados pelo pesquisador vascaíno Alexandre Mesquita.

Titular absoluto da seleção brasileira e capitão de 1948 a 1950, Augusto defendeu o escrete nacional em 20 jogos. Fez apenas um gol pela seleção. Estreou em 1947 formando a zaga com Aroldo e Nena da seleção que disputou dois jogos pela Copa Rio Branco. Conquistou a Copa América em 1949 e amargou o vice da Copa do Mundo de 1950, no Brasil. Após a tragédia no jogo em que perdeu o título mundial de 50 para o Uruguai, Augusto deixou o Maracanã indo diretamente para a sua residência na Ilha do Governador. No dia seguinte, trabalhou normalmente em sua repartição da Polícia Especial e teve que aguentar o deboche de colegas de trabalho.


Ao se aposentar dos gramados, em 1953, passou a exercer apenas a função de policial. Foi censor de filmes e de músicas durante o regime de ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1984. Um dos episódios mais comentados sobre a carreira de censor teria envolvido Augusto e o cantor e compositor Chico Buarque durante um show da cantora Maria Bethânia, na casa de espetáculos Canecão. Augusto foi lá especialmente para vetar a letra da música “Tanto mar”, composta por Chico, que, indignado com o censor, supostamente esbravejou: “Porra, Augusto, você perde a Copa e ainda vem me aporrinhar”. Constrangido, Augusto teria deixado a música ser tocada, mas vetado a letra.

O ex-craque vascaíno morou em Poços de Caldas, em Minas Gerais, durante bastante tempo. Casou-se duas vezes e teve dois filhos. Até 1994, mantinha um apartamento no Rio Comprido, bairro da Zona Norte carioca. Morreu aos 83 anos, na madrugada do dia 29 de fevereiro de 2004, ano bissexto, no Rio de Janeiro.

JOGOS INESQUECÍVEIS

por Mateus Ribeiro


São Paulo x Corinthians (Semifinal do Campeonato Brasileiro 1999).

Clássicos são emocionantes na maioria das vezes. Se o clássico em questão valer algo grande, a tendência é que a emoção alcance níveis estratosféricos. E foi isso que aconteceu no dia 28 de novembro de 1999.

São Paulo e Corinthians se enfrentaram pela primeira partida da semifinal do Campeonato Brasileiro de 1999. De um lado, um São Paulo que vinha de uma década fantástica, com títulos nacionais, continentais e mundiais. Do outro, o Corinthians, que naqueles dias, vivia a melhor fase de sua história. Como se isso não bastasse, grandes nomes do futebol como França, Marcelinho, Rogério Ceni, Rincón, Ricardinho, Raí, Edílson, Jorginho, Dida e muitos outros estavam em campo. Não se poderia esperar algo diferente de um grande jogo.

A partida foi um lá e cá sem fim, do primeiro ao último minuto. Os treinadores deram uma bica na tal da cautela, e ambos os times atacavam sem medo de ser feliz.

O Corinthians saiu na frente, com gol do zagueiro Nenê. Alguns minutos depois, Raí, acostumado a ser carrasco do Corinthians, acertou um chute que nem dois Didas seriam capazes de defender. Eu, que já havia ficado muito chateado pelo tanto que Raí judiou do meu time do coração (acho que já deu pra perceber que torço para o Corinthians) em 1991 e 1998, senti um filme passando pela minha cabeça. Estava prevendo o pior.


Para a minha sorte, dois minutos depois, Ricardinho aproveitou um lançamento e colocou o Corinthians na frente de novo. Meu coração estava um pouco mais aliviado, e eu conseguia respirar. Até que Edmílson tratou de empatar a partida, e jogar um banho de água fria na torcida do Corinthians. O frenético e insano primeiro tempo terminou empatado em dois gols, e com muitas alternativas para ambos os lados. Eu tinha certeza que o segundo tempo seria uma loucura. E realmente foi.

Logo no início, Edílson deixou Wilson na saudade, e caiu dentro da área. Pênalti para o Corinthians. Na batida, o jogador que eu mais amei odiar na minha vida inteira: Marcelinho. Bola de um lado, goleiro do outro, e o Corinthians estava novamente em vantagem.

Alguns minutos depois, pênalti para o São Paulo. De um lado, um dos maiores jogadores da história do São Paulo. Do outro, um goleiro gigantesco, que estava pegando até pensamento em 1999. O Resultado? Nas palavras de Cléber Machado, “…Dida, o rei dos pênaltis, pega mais um…”.

Naquelas alturas, eu já estava quase tendo uma parada cardíaca. Teve bola na trave, bola tirada em cima da linha, e tudo mais que os deuses do futebol poderiam preparar para fazer meu coração parar.


Até que quando o jogo estava se aproximando do fim, mais uma surpresa. Desagradável, é lógico. Mais um pênalti para o São Paulo. Eu já achava que aquilo fosse perseguição. Meu coração, desde sempre, nunca foi de aguentar fortes emoções. Tanto que no segundo pênalti, fiquei de costa para a tevê, sabe se lá o motivo, com meu chinelo na mão. E o chinelo foi um personagem importante, já que o monstruoso Dida defendeu o pênalti do gigante Raí mais uma vez, e eu arremessei meu calçado na árvore de Natal, e destruí o adorno que enfeitava a sala da minha casa.

Antes do apito final, Maurício (que substituiu Dida) ainda fez uma grande defesa, garantindo a vantagem para o jogo de volta.

Um jogo emocionante, que consagrou Dida, e de certa forma, foi uma espécie de vingança minha contra Raí, que em muitas oportunidades me fez chorar. Vale ressaltar que o craque são paulino é o rival que eu mais admirei durante minha vida.

A vitória me deixou feliz, é claro. Porém, além dos três pontos e da vantagem para o jogo da volta, quase uma década depois, o que me deixa feliz (e triste) é ver que naqueles dias as torcidas dividiam o estádio, os times se enfrentavam em pé de igualdade, e os craques ainda passeavam pelos gramados.

Um dos dias mais emocionantes e insanos da minha vida. Agradeço aos grandes jogadores que me fazem lembrar daquele domingo como se fosse ontem. Agradeço também, você que leu até aqui, e dividiu essas lembranças comigo.

Um abraço, e até a próxima!

 

 

 

O PELÉ DA ARBITRAGEM

por Marcos Vinicius Cabral


– Eu também gostaria de fazer um agradecimento à TV Globo. Já apitei final de Copa do Mundo e desde então exerço a profissão de comentarista. É muito tempo e gostaria de um descanso porque é um trabalho muito desgastante! – disse um emocionado Arnaldo Cézar Coelho ao fim da transmissão no Estádio Lujniki, na Rússia, onde a França venceu a Croácia por 4 a 2 e conquistou seu segundo título mundial.

Filho mais velho de dona Sarah Sabat Coelho – funcionária dos Correios – e de seu Oswaldo Amazonas Cézar Coelho – um médico renomado da cidade -, nascia Arnaldo David Cezar Coelho, no Rio de Janeiro, naquele 15 de janeiro de 1943. 

Ainda muito jovem, aos 17 anos, começou a exibir seu talento nas praias cariocas e já cursando Educação Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – apesar do talento natural para ser economista e controlado nos gastos, segundo amigos mais próximos – se tornou árbitro da Liga de Futebol de Praia no começo da década de 60.

– Jogo em praia é muito difícil. É preciso ser xerife, exercer autoridade, e claro, saber nadar. Era para o mar que eu corria sempre que o pau comia! – brinca Arnaldo.

Assim foi por cinco anos – dando braçadas à lá Michael Phelps no mar de Copacabana após correr à lá Usain Bolt dos mais exaltados por alguma falta mal marcada ou pênalti não assinalado – o tempo que levou para se profissionalizar, para três anos depois fazer parte dos quadros da FIFA, em 1968.

Se no meio futebolístico alguns jovens e talentosos jogadores em começo de carreira se espelham em algum ídolo e fazem de tudo para sê-lo, na arbitragem não seria diferente: sim, Armando Marques (1930-2014), foi sua grande inspiração.

Porém, temperamental e polêmico, quase uma antítese do conciliador que era Arnaldo, a lenda da arbitragem (falecido em 2014), fez sucesso na TV, como jurado de programas de auditório.


Assim como seu pupilo, estreou casualmente na Rede Globo em 1989, após ser convidado pelo diretor de jornalismo Armando Nogueira (1927-2010), para falar no Jornal Nacional, sobre os lances polêmicos do jogo entre Brasil e Chile, no Maracanã, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1990, na Itália.

Na ocasião, uma torcedora brasileira chamada Rosenery Mello, lançou um rojão no gramado, provocando a suspensão da partida após o goleiro chileno Rojas sair ensanguentado para o vestiário e o Chile se recusar a voltar a campo.

“Me cortei com uma gilete e a farsa foi descoberta. Foi um corte à minha dignidade”, afirmou o dono da camisa 1 do Chile à época de seu banimento no futebol – só em 2001, a FIFA o perdoaria -, que passou por graves problemas de saúde e recentemente fez um transplante de fígado em decorrência de uma hepatite C.

Já a “fogueteira do Maracanã” – que foi capa da edição 172, da Playboy de novembro de 1989 – acabou morrendo em 2011 de aneurisma cerebral, aos 45 anos. 

Mas se o seu ingresso à TV foi obra do acaso, não podemos dizer o mesmo do dia 10 de junho de 1978, na cidade de Mar del Plata, no Estádio José María Minella, quando a França venceu a Hungria por 3 a 1, na Copa do Mundo, em solo argentino.


Enfim, o apito talentoso do maior árbitro do país, era soprado pela primeira vez no torneio mais importante do planeta: Arnaldo Cézar Coelho, aos 35 anos, começava a escrever seu nome na história!

Porém, se naquela 11ª edição de uma Copa do Mundo, o Brasil fosse considerado o “Campeão Moral” da competição – Cláudio Coutinho, então treinador do Brasil, se considerava assim após os 6 a 0 da Argentina sobre o Peru – as eliminatórias se tornariam importantes para Arnaldo, que conheceria seu amigo inseparável Galvão Bueno, este, narrador da TV Bandeirantes.

– Galvão é um dos jornalistas mais profissionais que existem, capaz de transformar uma luta simples em um grande acontecimento e nos impressionar com tamanha emoção, elogia o parceiro de longa data.

Contudo, o ápice da carreira veio exatamente na Copa seguinte, a de 1982, em solo espanhol, quando todos acreditavam no Brasil de Telê Santana e ninguém – inclusive Arnaldo – imaginaria que a eliminação pudesse acontecer.

Mas aconteceu e a Seleção Brasileira que encantou o mundo, perdeu por 3 a 2 para a Itália, na “Tragédia do Sarriá”, que o Google mostra em toda pesquisa, belos registros fotográficos nos lances da partida daquele que foi, sem dúvida alguma, um dos maiores times brasileiros de todas as Copas.

Portanto, se centenas de milhares de torcedores brasileiros existentes naquele ano de 1982 – para ser mais exato, 127 milhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – sentiram o golpe, Arnaldo não teve tempo para isso, pois era escolhido para apitar a final do mundial na Espanha.   

Sua atuação na vitória da Itália sobre a Alemanha por 3 a 1, foi tão discreta (árbitro bom é o que não aparece, como Arnaldo costuma dizer nas transmissões), que só foi notada na hora do apito final quando entrou no meio de dois italianos, pegou a bola do jogo e com as duas mãos – repetindo os gestos de Bellini em 58, Mauro em 62 e Carlos Alberto Torres em 70 – ergueu a bola como se fosse uma taça.


– Eu queria dar a bola para o garoto (filho do rei da Espanha, Juan Carlos) mas o Havelange não deixou, se justifica, para em seguida dizer que a bola está em sua casa.

Mas não é de estranhar que o árbitro que mais apitou jogos nacionais – 26.190 minutos de jogo ou 291 partidas do Campeonato Brasileiro -, 360 minutos de jogo ou quatro partidas de Copas do Mundo – 1978 e 1982 – e nas outras três partidas como assistente, não tenha tido realmente a intenção de presentear o pobre menino fã de futebol.

Mesmo com tanto sucesso no país pentacampeão do mundo, Arnaldo não dependia apenas da atividade de árbitro, que jamais foi regulamentada no Brasil.

No entanto, conseguiu turbinar seus negócios, e depois de ser um simples operador autônomo na distribuidora de valores Multiplic, trabalhou duro e fundou em 1985, a Liquidez, que se tornou uma das maiores corretoras do país, vendida em 2009 para o grupo inglês BGC Partners, algo em torno de R$ 500 milhões, segundo informações veiculadas e também, a TV Rio Sul, afiliada da Globo na cidade de Resende (RJ), que cobre toda a região Sul Fluminense e o Vale do Paraíba. 


Pioneiro na profissão de comentarista de arbitragem, Arnaldo, que começou carregando malas com as câmeras na Copa da Alemanha em 1974, para Carlos Niemeyer (1920- 1999), responsável pelo Canal 100, sai de cena em definitivo da TV no fim do ano, quando termina seu contrato com a Rede Globo.

E já deixa em nós uma saudade imensa de quem se acostumou a ouvir “A Regra é Clara”, nas tardes de domingo ou nas quartas-feiras à noite, deste que foi o Pelé da Arbitragem!