Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Copa do Mundo

O NASCIMENTO DE UMA LENDA

por Jorge Eduardo Antunes


A caminhada épica da maior seleção brasileira de todos os tempos completa meio século em 2020. O tricampeonato mundial valeu a posse definitiva da Taça Jules Rimet – roubada no dia 19 de dezembro de 1983 da antiga sede da CBF, no Centro, e posteriormente derretida. Mas a trajetória daquele time fantástico rumo ao topo do planeta futebol foi acidentada, com percalços e injunções políticas. E é isso que esta série especialmente preparada para o Museu da Pelada pretende mostrar, meio século depois.

Até chegar ao dia 21 de junho de 1970 e aplicar os 4 x 1 na Itália, a seleção passou por tudo – da campanha fulminante nas eliminatórias à queda de João Saldanha, treinador que formou sua base, para chegar ao ápice na Cidade do México. Em capítulos, vamos contar como o imbatível esquadrão tricampeão do mundo tomou forma definitiva. Até hoje na nossa memória, nem todos os 11 titulares – Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gerson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino –, ocupavam uma vaga antes da campanha no México.

Como o primeiro jogo da seleção em 1970 só foi disputado em 4 de março de 1970, contra a Argentina, em Porto Alegre, a série começa com uma retrospectiva da chegada de Saldanha ao comando. Para isso, é preciso recuar até 1969, mais precisamente para 4 de fevereiro daquele ano. Naquele dia, João Alves Jobim Saldanha, o gaúcho de Alegrete mais carioca de que se tem notícia, foi anunciado oficialmente como o novo treinador. Uma escolha que pegou muita gente de surpresa.

Saldanha havia sido jogador por breve tempo e treinara o vitorioso Botafogo de 1957, que atropelou o Fluminense com um sonoro 6 x 2 na partida final do Carioca. Jornalista dos bons, entedia de técnica e tática como poucos. E, desde o fiasco na Copa de 1966, quando a seleção brasileira foi eliminada na fase de grupos, reclamava que o torcedor não sabia o time-base canarinho. 


E estava certíssimo. Na Copa da Inglaterra, o Brasil experimentara três escalações distintas. Na estreia com vitória (2 x 0) contra a Bulgária jogou com Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Altair e Paulo Henrique; Denilson e Lima; Garrincha, Alcindo, Pelé e Jairzinho. Na derrota para os húngaros (1 x 3), Tostão entrou no lugar do contundido Pelé e Gerson fez o meio com Lima. Já no jogo do desespero, contra Portugal (outro 1 x 3), a mexida feita por Vicente Feola, campeão mundial em 1958, fora completa: Manga, Fidélis, Britto, Orlando Peçanha e Rildo; Denílson e Lima; Jairzinho, Silva, Pelé e Paraná.

Mesmo sendo um celeiro de bons jogadores, essa indefinição do 11 titular perturbava Saldanha e o torcedor brasileiro. Em 1967 e 1968, com a seleção nas mãos de Aymoré Moreira o panorama seguiu inalterado. O ciclo do técnico campeão mundial em 1962, no Chile, chegou ao final após um 3 x 3 com a Iugoslávia, no Maracanã, em 17 de dezembro de 1968. No jogo seguinte, dois dias depois, a seleção já estava sob o comando de Yustrich, que a dirigiu apenas naquela partida.

A chegada de Saldanha acabou com a indefinição. Já na coletiva que confirmou sua contratação, anunciou que tinha um time-base que só seria alterado em caso de contusão – e não o revelou no mesmo dia pois preferiu conversar primeiro com os jogadores. Em 7 de abril daquele ano, o Brasil veria o 11 em ação contra o Peru, com Félix, Carlos Alberto Torres, Brito, Djalma Dias e Rildo; Piazza e Gérson; Jairzinho, Dirceu Lopes, Pelé (Edu) e Tostão. Vitória por 2 x 1 no antigo Beira-Rio, com gols de Jairzinho e Gerson. 

Dois dias depois, já no Maracanã, outra vitória sobre os peruanos, desta vez por 3 x 2, gols de Pelé, Tostão e Edu, com o Brasil alinhando Félix, Carlos Alberto Torres, Brito, Djalma Dias e Rildo; Piazza e Gérson; Jairzinho, Dirceu Lopes, Pelé e Tostão. Saldanha apenas mexeu diferente no time durante o jogo, colocando Joel Camargo no lugar de Piazza, Edu no de Dirceu Lopes e Paulo Cézar Caju na vaga de Tostão. 

Em 12 de junho, contra a campeã mundial Inglaterra, Saldanha mexeu pela primeira vez no seu 11. Escalou Gylmar para sua despedida da seleção ao lado de Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel Camargo e Rildo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu, com Paulo Cézar Caju substituindo o ponteiro esquerdo. Vitória por 2 x 1 sobre os ingleses, com gols de Jairzinho e Gerson.  Do meio para frente, quase todos seriam titulares do time campeão do mundo um ano depois.

Julho de 1969 foi usado por Saldanha para dar polimento ao selecionado. Vitórias tranquilas sobre o Bahia (4 x 0) e sobre as seleções de Sergipe (8 x 2) e Pernambuco (6 x 1). Félix voltou ao gol e Clodoaldo só não jogou contra os pernambucanos, cedendo a vaga a Piazza. Entre os reservas, Saldanha testou o goleiro Cláudio, os laterais Zé Maria (direita) e Everaldo (esquerda), Rivellino como meia e Paulo Borges no ataque, além de Caju, o 12° jogador do time.

O 11 de Saldanha estava na ponta dos cascos para as eliminatórias. Mas isso é assunto para outro texto.

A FALÁCIA DA COPA DO MUNDO DE 1978

por Luis Filipe Chateaubriand 


Muitas vezes, o fato de historicamente o futebol brasileiro ser dos melhores do mundo dota a torcida brasileira de uma arrogância que não faz sentido. 

É como se tivéssemos saído do “complexo de vira latas” de Nelson Rodrigues para a auto suficiência dos pavões. 

Um exemplo disso é nossa justificativa para não termos vencido a Copa do Mundo de 1978: fomos roubados! 

O raciocínio é simples, ou melhor, simplista: a Argentina só foi à final de uma Copa do Mundo realizada na Argentina porque meteu 6 x 0 no Peru, que se vendeu.

Não há provas que o Peru se vendeu, mas é provável, com efeito, que tenha se vendido. Mas não foi por isso que a Argentina foi à final da Copa, no lugar do Brasil… 

O real motivo que o Brasil deixou de ir à final da Copa foi que, quando jogou com a Argentina, não venceu o jogo. 

Tivesse vencido da Argentina, quando jogou com a anfitriã da Copa, iria à final, no lugar desta. 

O capitão Cláudio Coutinho, excelente treinador, cometeu o erro de achar que o empate com os argentinos seria bom resultado. E, assim, escalou o defensivo Chicão no lugar do ofensivo Toninho Cerezo. 


Conseguiu o empate que queria – e foi exatamente esse empate, e não a pretensa armação de “hermanos” e peruanos, que nos tirou da final. 

É bem verdade que o Brasil jogou melhor que a Argentina. Poderia ter vencido, mas o brilhante goleiro Fillol foi extremamente feliz ao defender chutes na cara do gol de “Búfalo” Gil e de Roberto Dinamite (dois, mas um impedido), além de um chute de longe de Zico. 

Em resumo, o Brasil não foi à final porque não teve competência para vencer a Argentina. Mas, arrogantes que somos, não admitimos isso, preferimos acreditar que não chegamos à final porque fomos “garfados”. 

Como a garotada costuma dizer, é muito mimimi!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais 40 anos e é  estudioso do calendário do futebol brasileiro e do futebol europeu. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.   

SE ELES NÃO GANHARAM UMA COPA, AZAR DA COPA

por Israel Cayo Campos


A frase do título, até onde se sabe, é de autoria do grande jornalista Fernando Calazans, que a cunhou inicialmente para enaltecer Zico, o eterno camisa dez da Gávea mesmo este não conseguindo trazer um campeonato mundial com a camisa da Seleção brasileira.

Contudo, outros jogadores também merecem essa pomposa frase em seus currículos, principalmente analisando o que fizeram por suas seleções em Copas do Mundo da FIFA.

Pensando nisso, eu resolvi fazer minha lista do Top 10 jogadores que mereciam ter vencido um mundial, mas que por uma crueldade do destino acabaram por não conseguir tal feito.

Vale salientar que o meu critério para o ranking que estabeleci não é do melhor jogador para o pior levando em consideração sua carreira. Mas sim daqueles que mais tiveram importância dentro das Copas do Mundo para seus países, mas que não levaram o caneco.

Ou seja, o critério escolhido leva em consideração as atuações dos mesmos apenas em Copas do Mundo!

Fiquem à vontade para discordar!

10º Lugar: Cristiano Ronaldo. Copa de 2006.


CR7 tem no currículo quatro Copas do Mundo disputadas, sendo um dos raros jogadores do Planeta a marcar gols em todas elas. Mas a Copa de maior destaque do jogador português fora o Mundial da Alemanha em 2006.

Ainda garoto, em um time onde os mais experientes eram Luís Figo, Pauleta e Maniche, o futuro cinco vezes melhor do mundo não desafinou.

Contra o Irã, marcou de pênalti seu primeiro gol em Copas que acabou garantindo por antecipação a classificação da Seleção do técnico Luís Felipe Scolari para as oitavas de final do torneio.

Nas quartas de final, após um duríssimo zero a zero contra a favorita Inglaterra, coube a Ronaldo cobrar a última penalidade que classificou Portugal quarenta anos depois de volta a uma semifinal de Copa do Mundo.

Nas semifinais, tentou de tudo contra a forte defesa francesa. Mas o gol logo no início de Zidane acabou por mandar Portugal mais uma vez a disputa do terceiro lugar. Assim como em 1966.

Na disputa do terceiro lugar, nova derrota. Dessa vez por três a um para os anfitriões alemães. Embora Ronaldo tenha criado boas chances e parado no goleiro Oliver Kahn, ele passara em branco em mais uma partida.
Foi a melhor participação do jogador em mundiais, já que em 2010 e 2018 sequer passou das oitavas de final, em 2014 a seleção portuguesa caiu na primeira fase.

Para um jogador que hoje está entre os dez maiores de todos os tempos, são participações discretas, mas vale ressaltar o melhor jogo individual de um jogador em Copas do Mundo nos últimos 12 anos. O jogo contra a Espanha na primeira fase da Copa do Mundo da Rússia onde Cristiano marcou os três gols do empate em três a três contra a “Fúria”.

É bem verdade que em mundiais CR7 ainda deixa a desejar. Em uma Seleção portuguesa que cada vez mais melhora tecnicamente com jogadores espalhados por todo futebol europeu. Mas um jogador de seu quilate não pode ser descartado na lista dos grandes que nunca venceram um mundial da FIFA.

9º Lugar: Leônidas da Silva. Copa de 1938.


Confesso que para a nona posição, fiquei em dúvida se escolhia o craque brasileiro da Copa de 1938, ou o argentino Guilhermo Stábile, artilheiro do mundial de 1930 no Uruguai e vice campeão do mundo com sua seleção.

Se fosse apenas por uma questão de gols o argentino mereceria essa vaga. todavia, a Seleção uruguaia de 1930 que enfrentou os Stábile era muito superior aos argentinos. Ao contrário da Itália que tirou a chance de Leônidas ser o primeiro grande craque de uma título mundial com a Seleção brasileira.

Por sinal, o “Diamante Negro” nem enfrentou os italianos nas semifinais da Copa de 1938. Estava supostamente lesionado (alguns dizem que já estava sendo poupado para a final!), portanto a décima posição fica com o “Homem de Borracha”.

O mundial de 1938 disputado na França teve Leônidas como um dos principais destaques daquela Seleção brasileira que seria a primeira a fazer uma grande campanha em mundiais. Na partida de estreia contra os Poloneses, o Diamante Negro fez três gols em um duríssimo jogo que terminou na prorrogação com um 6 a 5 para os brasileiros.

Com direito aos dois gols anotados pelo Brasil na prorrogação em Strasbourg (os dois do desempate!) serem de Leônidas. Era a primeira vez que o Brasil passava da primeira fase em uma Copa do Mundo.

Vale ressaltar que o modelo de tabela da Copa do Mundo de 1938 era eliminatório. A Seleção que perdesse ia para casa. Como já ocorrera quatro anos antes no mundial da Itália, onde o Brasil perdera para a Espanha por 3 a 1. Sendo o gol brasileiro marcado por Leônidas.

Vieram as quartas de final e o adversário era a atual vice-campeã do mundo Tchecoslováquia. E novamente Leônidas não decepcionou! Fez um gol no empate em um a um que obrigou as duas Seleções a disputarem uma nova partida dois dias depois, onde novamente marcou contra os tchecos, contribuindo para a vitória brasileira por 2 a 1, que colocou a nossa Seleção pela primeira vez numa semifinal de Copa do Mundo!

Como dito antes, Leônidas não enfrentou os italianos, e o Brasil levou a pior… Na fase em que estava, mesmo com a Azurra sendo considerado um time mais experiente, Leônidas poderia ter feito a diferença para o Brasil. Mas o destino reservou ao “Diamante Negro” a disputa do terceiro lugar.

Nesta, em partida disputada em Bordeaux contra a Suécia, novamente o “Homem de Borracha” marcou. Duas vezes na goleada brasileira por 4 a 2. O Brasil terminava o mundial de 1938 em terceiro lugar, graças ao talento de Leônidas da Silva, que hoje é pouco lembrado pelos brasileiros, mas que se tivesse vencido uma Copa do Mundo, e talento tinha para tal, Com certeza seria comparado aos grandes centroavantes que o sucederam como Vavá, Tostão, Romário e Ronaldo.

8º Lugar: Ademir de Menezes. Copa de 1950.


Ademir simboliza não só ele enquanto jogador, mas uma geração inteira que deveria ter vencido o mundial de 1950 disputado no Brasil.

Artilheiro máximo da Seleção naquele mundial com nove gols em seis jogos (um Record até os dias atuais para um jogador brasileiro em apenas uma Copa do Mundo!), O então jogador do Vasco aliava a inteligência ao faro de gol.

Logo na estreia brasileira, dois gols na goleada contra o México por quatro a zero.

Após o fraco jogo brasileiro contra Suíça onde passara em branco, voltou a marcar no Maracanã contra a Iugoslávia classificando o Brasil para a fase final do torneio.

E na fase final do campeonato um show: Quatro tentos contra a Suécia na goleada brasileira por sete a um (nossa maior freguesa em Copas do Mundo), até hoje, o Record de gols de um brasileiro em apenas uma partida de Copa do Mundo. E mais dois gols contra a Espanha em outro espetáculo brasileiro no Maracanã encerrado em seis a um.

Curiosamente, Ademir só não marcou nos jogos contra a Suíça e contra o Uruguai. Contra a primeira Seleção um empate. Contra os uruguaios nem preciso lembrar o que aconteceu!

Outro detalhe é que em todas as partidas que o Brasil venceu naquele mundial, Ademir fez o primeiro gol da Seleção.

Se Leônidas é pouco reconhecido pelos seus sete gols marcados na Copa de 1938, Ademir consegue ser ainda menos lembrado. Mesmo tendo feito nove gols na Copa do Mundo do Brasil.

Era mais um que estaria um patamar histórico acima se tivesse vencido o mundial. Infelizmente o Uruguai acabou fazendo com que os torcedores brasileiros esquecessem o quão brilhante fora o “Queixada” naquela Copa do Mundo!

7º Lugar: Zico. Copa de 1982.


Apesar de Zico ter disputado três Copas do Mundo (1978, 1982 e 1986), Fora no mundial da Espanha que o “Galinho de Quintino” desempenhou seu melhor futebol.

O camisa dez do Flamengo teve uma estreia discreta contra a URSS. Todavia, no jogo seguinte contra a Escócia, marcou um belíssimo gol de falta que empatava um jogo que até então estava difícil para os brasileiros. A partida terminou quatro a um para a Seleção canarinho.

Contra a fraca Nova Zelândia, outro show de Zico: Após belo cruzamento do companheiro de clube Leandro, Zico acertou uma bela “meia bicicleta” que colocou o Brasil na frente.

Em seguida após bela jogada de Sócrates, Leandro novamente recebe a bola e acha o “Galinho” como um camisa nove dentro da área, era o segundo gol brasileiro.

Quando o jogo já estava três a zero para o Brasil, Zico deu um belo passe cruzado para Serginho dá números finais a partida. O Brasil estava classificado com cem por cento de aproveitamento.

Apesar daquela Seleção contar com muitos craques, era em Zico que o torcedor brasileiro entendia ser o fator de desequilíbrio que nos traria o então tetracampeonato mundial. E contra a Argentina não seria diferente.

Já pela segunda fase do mundial da Espanha, Zico mostrou que era mesmo um camisa dez com alma de nove. Aproveitando uma falta cobrada por Éder na trave, o “Galo” entrou com bola e tudo aproveitando o rebote. Era o primeiro do Brasil contra os argentinos.

Quando a partida já estava em dois a zero para os brasileiro, Zico deu um passe de camisa 10 perfeito para seu outro companheiro de Flamengo Júnior entrar na área e cutucar no canto do goleiro Fillol. Uma atuação espetacular do “Galinho”.

Vinha o jogo contra a Itália. Bastava apenas um empate. E quando o Brasil já perdia por um a zero para os italiano, Zico deu um drible magistral em Gentile e tocou de maneira precisa para Sócrates. Era o empate brasileiro.

Quando os italianos novamente com Paulo Rossi venciam por dois a um, Zico recebeu dentro da grande área e chutou para a defesa de Zoff. O problema é que o mesmo Gentili havia o puxado com tamanha virulência que até a sua camisa havia rasgado. Um pênalti claro que o juiz ignorou.

O Brasil até chegou a empatar com Falcão mas aquele era o dia de Paulo Rossi. Itália três a dois e o futebol arte do Brasil e de Zico estavam eliminados do mundial da Espanha. Nem por isso pode-se dizer que aquela Copa do Mundo não fora uma atuação brilhante do “Galinho de Quintino”.

6º Lugar: Eusébio. Copa de 1966.


Copa do Mundo da Inglaterra. Portugal estreando no torneio. Um jovem moçambicano naturalizado português desfilava seu talento nos gramados da “Terra da Rainha”, seu nome era Eusébio da Silva Ferreira.

Se Ronaldo é mais jogador num contexto geral, em Copas do Mundo Eusébio merecia bem mais a taça que o atual ídolo da Juventus de Turim. Após uma estreia em branco contra a Hungria, ele deixou logo seu primeiro gol anotado na vitória por três a zero sobre os búlgaros.

No terceiro jogo, a seleção do técnico brasileiro Otto Glória iria enfrentar o Brasil, que precisa vencer para se classificar as quartas de final do torneio. A Seleção brasileira era a atual bicampeã do mundo. Mas Eusébio não tomou conhecimento do país do futebol.

Entrou pela esquerda e cruzou, contou com a falha do goleiro Manga que soltou a bola na cabeça de Simões.

Em seguida, utilizando a cabeça na pequena área de Manga veio o segundo. E mesmo após Rildo ter descontado para os brasileiros, lá estava de novo Eusébio para em um chute forte mandar os brasileiros para casa e seguir com Portugal o sonho do título inédito.

Para quem achava que o show de Eusébio em 66 só se daria contra a Seleção brasileira, o jogo de quartas de final mostraria outra vez que aquela era a Copa do português, quatro gols na goleada por cinco a três (de virada!) sobre a surpreendente Coréia do Norte. Em sua primeira Copa, Portugal chegava entre os quatro primeiros.

Contudo, nas semifinais, com muita pressão da torcida inglesa. Portugal caiu por dois a um. Mesmo assim, Eusébio Marcou o gol de honra português em cobrança de pênalti. Restava a disputa de terceiro lugar.

Nela, novamente Eusébio balançou as redes em uma penalidade máxima. E Dessa vez os lusitanos venceram a União Soviética do goleiro Lev Yashin por dois a um e Portugal conquistou o que até hoje é sua melhor campanha em mundiais. Um terceiro lugar.

Eusébio saiu artilheiro da competição com nove gols. E entrou para a história das Copas do Mundo como um dos maiores artilheiros do torneio mesmo tendo o disputado apenas uma vez. E com seu país estreando!

5º Lugar: Michel Platini. Copas de 1982 e 1986.


Até Zidane, o maior ídolo do futebol francês sempre fora Michel Platini. Que assim como Zico para o Brasil, acabou batendo na trave em mundiais duas vezes.

Em 1982 na Espanha, Platini teve uma atuação discreta na primeira fase, com apenas um gol sobre a fraca seleção do Kuwait.

Já na segunda fase, o camisa dez da França começou a demonstrar o talento de um dos maiores jogadores do mundo. Com belas jogadas e passes contribuiu nas vitórias francesas contra Áustria e Irlanda do Norte que classificaram o país as semifinais de uma Copa do Mundo, feito que não ocorria desde 1958.

Nas semifinais contra a Alemanha Ocidental, em um dos jogos mais emocionantes da história das Copas, Platini deixou o dele em tempo normal e na disputa de penalidades máximas (o jogo terminou 3 a 3!), mas a França perdia para os alemães e estavam fora do mundial da Espanha.

O desânimo associado ao cansaço da partida anterior contribuíram na derrota para os poloneses na disputa do terceiro lugar por três a dois. Mas Platini saiu como um dos grandes nomes daquele mundial. Todavia, era no México em 1986 que Platini desfilaria todo seu talento.

Ao lado de grandes craques como Giresse, Papin e Tigana, a França passou com facilidade da fase de grupos.

Nas oitavas, um duelo contra a atual campeã do mundo, a Itália. Platini fez um golaço, o seu primeiro no mundial que acabou por classificar os franceses que ainda marcaram o segundo. Uma vitória para dar moral, já que nas quartas de final iriam enfrentar o Brasil.

Em um jogo cheio de emoções, o Brasil abriu o placar, mas Platini tirou a invencibilidade do goleiro Carlos e empatou o jogo. Esse empate, associado a defesa de Bats no pênalti cobrado por Zico levou a disputa a prorrogação, e depois as penalidades máximas. Assim como fora contra os alemães em 1982.

Na disputa, Platini errou sua cobrança. Mas Sócrates e Júlio César também pelo Brasil. Uma França cansada estava novamente classificada a uma semifinal de Copa. Graças em grande parte a Platini.

Decisivo nas oitavas e nas quartas, Platini parecia extenuado contra a Alemanha Ocidental, a pedra no sapato francês nas Copas dos anos 1980.
Com o forte calor mexicano, os franceses foram facilmente vencidos por dois a zero e tiveram que disputar novamente o terceiro lugar.

A França ficou com o terceiro lugar após uma goleada sobre a Bélgica por quatro a dois, repetindo até então a melhor colocação do país em Copas do mundo como ocorrera em 1958. Mas Platini sequer quis jogar a partida. era sua última Copa e parecia que duas derrotas em semifinais para a Alemanha Ocidental o deixara desanimado!

Contudo, Se não fosse Platini a comandar a ótima geração francesa daquele período, a seleção do azul não teria ido tão longe nesses mundiais. Pelo conjunto da obra, chegando perto em duas Copas do Mundo, o quinto lugar lhe é pra lá de justo.


4º Lugar: Puskas. Copa de 1954.

Puskas poderia até estar em primeiro nessa lista. Mas a verdade é que uma lesão o tirou de boa parte do mundial da Suíça em 1954. Cabendo a Hidegkuti, Lantos, Tóth, Kocsis, Czibor e outros jogadores o protagonismo que cabia ao “Major Galopante”. Entretanto, em todas as partidas que atuou, Puskas foi destaque naquele mundial com aquela máquina húngara que poderia ter saído com o título se os alemães ocidentais não estivessem dopados.

Na primeira fase, Puskas fora arrasador! Dois na goleada por nove a zero sobre a Coréia do Sul e mais um na vitória por oito a três sobre a Seleção da Alemanha Ocidental. Só que nesse mesmo jogo, o craque da seleção da Hungria se machucou e ficou fora do torneio até a final.

Ficou de fora das quartas contra o Brasil e das semifinais contra os atuais campeões uruguaios. Mas o time húngaro era tão bom que passou por cima das duas potências sul-americanas sem tomar conhecimento rumo a final contra novamente a Alemanha Ocidental. A mesma que havia tomado de oito na primeira fase.

Naquela final em Berna, Puskas abriu o placar para a Hungria. Parecia que o ciclo da grande seleção ia ser brindado com o justo título mundial. Mas logo após fazer o segundo gol, os alemães equilibraram o jogo o empatando ainda antes dos vinte minutos de partida.

Nos seis minutos finais de jogo o que ninguém esperava, com um drible e chute de Relmut Rahn, a Alemanha Ocidental virava o jogo. Puskas ainda marcava o gol de empate, mas o juiz anularia alegando impedimento. Era a última cavalgada do Major. Que assim como o resto do mundo viu espantado uma Seleção de até então pouca tradição no futebol conquistar uma Copa do Mundo que todos já davam certo como vencida pela Hungria.

A Puskas restou o prêmio de melhor jogador daquele mundial. Mas que diferença faz uma Copa do Mundo no currículo de muitos jogadores. Principalmente os do passado que não tinham tantos vídeos que mostravam todo seu talento… Dois anos depois, o super time húngaro fora dissolvido pelos tanques soviéticos que invadiram Budapeste. A grande chance do “Major Galopante” havia passado.

3º Lugar: Lionel Messi. Copa de 2014.


Se Puskas tinha uma constelação ao seu lado, o mesmo não pode ser dito de Lionel Messi. O craque argentino, talvez o maior jogador da história depois de Pelé, disputou quatro Copas do Mundo, e com exceção de 2006 onde ele ainda era um ilustre reserva, em todos os outros mundiais “La Pulga” encontrou times medianos que não contribuíram com o sucesso do craque no torneio.

Mesmo assim, em 2014, Messi fez uma Copa do Mundo espetacular. Levando nas costas aquela dedicada, mas pouco talentosa seleção albiceleste.

No primeiro jogo contra a Bósnia, Messi jogou na área e Kolasinac fez contra. Em seguida, o próprio camisa dez em sua jogada específica fez um belo gol passando pelos marcadores e arrematando de maneira certeira. O jogo terminou em um suado dois a um para a Argentina.

Contra o Irã, novamente ele no último minuto de jogo chuta de fora da área e faz o gol da sofrida vitória argentina.

Contra a Nigéria, já classificada, a Argentina passou por um novo sofrimento. Um três a dois com direito a dois de Messi. Sendo um golaço de falta!
Nas oitavas, quartas e semifinais, a Argentina enfrentou respectivamente Suíça, Bélgica e Holanda.

Contra os suíços, uma arrancada ao estilo Maradona e um passe perfeito para Di Maria marcar. Contra a Bélgica, se livrou de dois marcadores e passou para Di Maria, que por sua vez errou o passe mas a bola caiu no pé de Hinguaín que marcou o gol da vitória. Contra a Holanda, após um modorrento empate sem gols, Messi deixou o seu na disputa de pênaltis que classificou a Argentina para uma final de Copa vinte e quatro anos após a última!

Na final contra uma Alemanha descansada, Messi foi bem marcado. Mesmo assim perdeu gols que não costumava perder! E ainda viu um jovem Mário Gotze fazer o gol do título alemão na prorrogação.

Novamente a Argentina caia diante da Alemanha, desde 1990 era a quarta vez! E Messi, o melhor jogador desse século, mesmo tendo levado a Seleção argentina nas costas, acabou batendo na trave no sonho de ser campeão mundial.

2º Lugar: Roberto Baggio. Copa de 1994.


Há quem fale que Romário foi o melhor jogador da Copa de 1994 nos Estados Unidos. Me perdoem os fãs do “Baixinho” mas eu discordo! Roberto Baggio, único jogador lúcido da Seleção italiana (do meio pra frente), levou a seleção do mediterrâneo nas costas até a final onde acabou ficando no quase!

A primeira fase da Itália e de Baggio realmente foram pífias. A seleção foi a última a se classificar! Mas a partir das fases eliminatórias, o camisa dez italiano mostrou todo seu talento.

Contra a surpreendente Nigéria, Baggio empatou o jogo no último minuto, e na prorrogação mandou os africanos de volta pra casa.

Nas quartas de final contra a Espanha, o jogo estava empatado em um a um até que faltando dois minutos para o fim do jogo, Roberto recebe um belo passe, entra na área, dribla Zubizarreta e faz um golaço! Itália nas semifinais.

O jogo que valia vaga para final era contra a Bulgária de Stoichkov. Após passar por dois e meter um belo chute em curva, Baggio abriu o placar. Em seguida, de novo “Robbie” entrou na área e bateu cruzado, dois a zero. A Bulgária ainda descontaria. Mas a notícia ruim fora o estiramento na coxa que o atacante teve.

Roberto Baggio merece a medalha de prata pois levou uma Seleção tecnicamente fraquíssima nas costas até a final. Sendo decisivo. Jogando ao mesmo tempo como um armador e como finalizador.

Na final contra o Brasil ainda teve uma chance que desperdiçou chutando na mão de Taffarel. Mas ficaria mesmo marcado pelo pênalti isolado (um dos raros erros de pênalti em sua carreira) que deu o quarto título mundial a nossa Seleção.

Contudo, se Romário teve ajuda de Bebeto, Dunga, Jorginho, Branco e Taffarel, Roberto Baggio levou um time fraco a final e ainda a jogou sem a menor condição!

Se ele ganha aquele mundial dos EUA, os italianos até hoje estariam dizendo que ele ganhou a Copa sozinho, como Garrincha em 1962 ou Maradona em 1986.


1º Lugar: Johan Cruyff. Copa de 1974.

Engraçado ler de algumas pessoas que Cruyff era um jogador tático, porém não talentoso como outros grandes gênios do futebol!

Além da consciência tática que possuía, o holandês também tinha um talento absurdo. Passes precisos, dribles desconcertantes para ambos os lados sempre em direção ao gol, movimentos giratórios que deixavam zagueiros no chão, velocidade, arranque, ótimos cruzamentos e um faro de gol que faria inveja a qualquer camisa nove de ofício.

Cruyff era um jogador completo. E ao ter ao seu lado uma Seleção forte, montou um esquadrão comandado por Rinus Michels que fora a Seleção mais injustiçada entre aquelas que não venceram uma Copa do Mundo. A de 1974 na Alemanha Ocidental.

Na estreia contra o Uruguai, um dois a zero com dois gols de Rep, mas ambos com jogadas construídas pelo “mago” da camisa 14.

Anos depois, Pedro Rocha, craque da Seleção uruguaia e do São Paulo falaria que aquele jogo era difícil até de pensar. Quando ele pegava a bola, já haviam quatro marcadores em cima dele.

Após dribles humilhantes nos zagueiros suecos, mas um jogo sem gols contra a seleção escandinava, Cruyff e a “Laranja Mecânica” iriam enfrentar a Bulgária.

Logo no inicio de jogo, Cruyff em sua jogada característica corta o zagueiro e entra na área, é derrubado e Neeskens cobra a penalidade abrindo placar!

Os arranques e passes de Cruyff podem ser comparados aos de Messi no auge. E nessas corridas em direção ao gol ele novamente acha Neeskens sozinho que acaba derrubado. Novo penal. Segundo gol da Holanda. A partida terminaria quatro a um para os holandeses, classificados para a segunda fase.

Na segunda fase o primeiro duelo de Cruyff era contra a Argentina. Logo aos dez minutos, o camisa 14 recebe lançamento, dribla o goleiro com facilidade e abre o placar.

Quando o jogo já estava dois a zero, a dobradinha Cruyff e Rep funcionou novamente. Com cruzamento do craque holandês, Rep ampliava o placar.
No fim do jogo, Cruyff, num sem pulo de fora da área, aproveitando o rebote do goleiro fecha o caixão argentino. Quatro a zero fora o baile de Johan Cruyff.

O segundo jogo da segunda fase era contra a Alemanha Oriental. Mais um passe de Cruyff e uma vitória por dois a zero que dava o direito do empate com a Seleção brasileira.

Contra o Brasil, atual campeão mundial, era jogo de vida ou morte. Depois de uma pancadaria generalizada no primeiro tempo, Cruyff deu um passe perfeito para Neeskens que abriu o placar. No fim do jogo o próprio Cruyff em mais uma partida espetacular antecipa cruzamento e acaba com o sonho do Tetra da Seleção brasileira. Holanda na final em sua primeira Copa do mundo.

O adversário? Os donos da casa, os alemães ocidentais. Beckenbauer x Cruyff. No primeiro minuto de jogo, o camisa 14 da Seleção holandesa de novo sai driblando do meio campo e entra na área, pênalti. Neeskens bate e abre o placar para a Holanda.

A vantagem parece ter feito mal aos holandeses. O time se desestabilizou e logo viu Breitner empatar também de pênalti.

No segundo tempo, Sepp Maier fechou o gol com defesas absurdas! Cruyff se irritou, tomou cartão e quando todos menos esperavam, Gerd Muller marcou o gol do título alemão.

Era um vice injusto e pra lá de doído para um Cruyff que não jogou mais nenhuma Copa do Mundo.

Apesar da derrota, a espetacular atuação no mundial lhe rendeu o título de melhor jogador do torneio.

Cruyff é o maior injustiçado da história das Copas pois jogou bem todos os jogos, decidiu a maioria deles, foi o melhor do torneio, jogou todas as partidas, sua seleção jogou o melhor futebol mesmo sendo sua estreia em mundiais, tinham um melhor elenco…

Mas no fim das contas ficou apenas o vice campeonato para a estrela holandesa!

Coisas do futebol!

25 ANOS DO TETRA

por Mateus Ribeiro


Há 25 anos, mais precisamente no dia 17 de julho de 1994, o Brasil se tornava tetracampeão mundial de futebol após o craque de bola Roberto Baggio mandar sua cobrança de pênalti na Lua, em uma clara comemoração aos 25 anos da missão Apollo 11 (que obviamente, 25 anos depois, completa meio século de vida).

As lembranças podem ser muitas, mas são basicamente iguais na cabeça de todo mundo: os gritos histéricos de “É tetra!” sendo repetidos exaustivamente, a gravata do Pelé, o Dunga falando todos os palavrões possíveis, a molecada na rua enchendo a cara de refrigerante enquanto os pais e parentes mais velhos tomavam litros de cerveja e muita festa pelas ruas.

Eu estava feliz pra caramba, comemorando junto da minha família, e na minha cabeça, o Brasil era invencível. Antes do início da Copa, meu pai me deu o álbum de figurinhas, me ensinou a fazer cola de trigo (a cola era cara, e mesmo que a nossa situação não fosse de pobreza extrema, luxos não eram exatamente permitidos ou incentivados) e me disse que o Brasil venceria. Venceu mesmo, e tal qual meu velho, não me decepcionou.


Eu estava emocionado, principalmente por ver o Viola ali no meio, e naquela época, ele era um dos meus principais ídolos. Hoje, é bem possível que se eu encontrasse metade do elenco de 1994, não faria a mínima questão de apertar a mão, por divergências de opiniões. Mas naquele domingo, aquela turma me fez a pessoa mais feliz do mundo.

Vinte e cinco anos depois, eu não torço mais (na verdade, desde idos de 2001 eu nem perco meu tempo), porém, esse dia não sai da minha cabeça. A maior Copa do Mundo da história tinha dono, e eu me senti um pouco campeão do mundo naquele 17 de julho de 1994.

Um quarto de século após um dos dias mais felizes da minha vida, reconheço que o futebol apresentado passou longe do espetáculo, e agradeço por isso, pois hoje sou um resultadista, com todo o orgulho do mundo.

Duas décadas e meia depois, sei o quanto identificação é importante e que traumas deixam marcas. Eu juro por tudo que é mais sagrado e que (não) acredito que entendo os adultos que já não ligavam mais em 1994, muitos deles atormentados por Paolo Rossi, penalidades máximas, Maradona e Caniggia.


E no final das contas, sabe o que tudo isso significa? Que depois do final do meu expediente (que começou muito cedo e vai acabar muito tarde), eu vou vibrar com a falta do Branco contra a Holanda, com o Bebeto se declarando para o Romário. Também vou sofrer com o empate dos holandeses e com a porrada que Leonardo deu em Tab Ramos. Vou relembrar como chorei na hora que o juiz apitou o final da prorrogação, temendo o pior. 

Afinal de contas, não é todo dia que se comemora uma data tão especial. E não é todo dia que se volta a colaborar com esse projeto maravilhoso chamado Museu da Pelada.

Obrigado, Brasil. Obrigado, Museu!

MEU SARRIAZO PARTICULAR

por Rodrigo Octavio Souza


O dia 5 de julho de 1982 foi o primeiro em que me lembro de ter visto os meus pais chorando. Do alto dos meus cinco anos incompletos, sabia apenas que tinha a ver com a Copa do Mundo e com o “Canarinho”. Algo estranho para quem tinha se acostumado a viver em meio à euforia nos 20 dias anteriores.

A chuva de papel picado caía das janelas e inundava as ruas de Icaraí, onde eu morava, à medida que o genial escrete (ainda se usava essa palavra) do igualmente genial Telê Santana enchia as redes dos rivais de gols. E haja trabalho para os garis, afinal, foram 15 em cinco jogos.

Mas, de repente, o colorido das paredes pintadas e dos bandeirões pendurados de um lado ao outro da rua virou cinzas. A alegria e os gritos de gol transformaram-se em um nó na garganta. No máximo, em um pranto sentido e sofrido.

Sofremos pelos pés de um atacante que ficará mais de um ano suspenso, acusado de envolvimento com manipulação de resultados no “calcio”. Pela primeira vez na minha vida, ouvi a palavra “carrasco”. Palavra cujo sentido, descobri depois, é empregado em contextos muito piores. Mas que se aplicava perfeitamente ao que aconteceu naquele verão mediterrâneo.
Havia, e há, coisas piores no mundo. O próprio Brasil vivia o início da “década perdida”, nos estertores de um regime falido e atolado na hiperinflação e na dívida externa. Mas sob a ótica particular do futebol, que tudo vê com uma lente de aumento, o que se passou no Sarriá foi, sim, uma tragédia.


Como tal, ainda dói quando se remexe, em especial, nas efemérides como essa dos 37 anos da fatídica partida contra os italianos. Mas, contraditoriamente, tanto tempo depois da dramática peleja, posso dizer que o que aquele time me deixou mesmo é um enorme sentimento de orgulho e gratidão por ter me acendido a fagulha da paixão por esse esporte, tão divino quanto diabólico.

Para além do resultado, aquela equipe legou ao mundo o ideal do “jogo bonito”, que volta e meia é emulado por equipes como o histórico Barcelona de Guardiola do começo desta década. Aliás, sempre que pode, o treinador faz questão de falar do impacto que aquela seleção teve sobre o então menino catalão de 10 anos, na gênese do esquadrão blaugrana de Messi e no seu próprio conceito do jogo.
Quase tudo já foi dito ou escrito sobre aquela partida, mas o fato é que a Itália jogou melhor. Tirou os espaços, anulou nossos pontos fortes, fez o jogo perfeito.
Aliás, ninguém jogou mais bola do que a Azzurra na primeira quinzena de julho de 1982. Não tinham a magia brasileira, mas eram organizados e, sobretudo, excelentes tecnicamente. Só obediência tática não seria capaz de deter Zico, Sócrates e companhia.

Não ter ganho aquele Mundial deixa o coração dolorido, claro. Poucas não foram as vezes que, num exercício de imaginação, “vi” o Doutor erguer o caneco depois de botarmos na roda a ótima, mas exausta, Alemanha (olha ela aí!) de Rummenigge, Briegel e Magath. Jamais saberemos o que aconteceria com o futebol mundial caso o Brasil conquistasse a Copa. Nada garante que, ainda assim, não seria trilhado o caminho da cautela defensiva, que resultou no pífio Mundial de 90, coincidentemente disputado na Velha Bota. 

A única certeza que eu tenho é que nunca mais vi meus pais chorando por causa de futebol desde aquele dia 5 de julho de 1982.