por André Felipe de Lima
Cláudio Coutinho é o que podemos definir como o ápice da militarização na seleção brasileira. Ou, ao menos, a efetivação dela no escrete. Muitos dos conceitos (inclusive táticos) que empregara no time que foi à Copa do Mundo de 1978, na Argentina, tiveram como embriões modelos militares. Coutinho, afinal, era capitão do Exército e o país ainda respirava o fétido ar da ditadura militar. Isso tudo é fato. Mas a verdade é que, no campo, aquela seleção foi eficiente e só não chegou à final daquele Mundial devido à mutreta (inquestionável) naquele jogo entre argentinos e peruanos, que terminou 6 a 0 para os anfitriões, que acabariam campeões daquela que é a mais obscura de todas as Copas já realizadas. Fim de papo em Buenos Aires, Coutinho, jogadores e toda a delegação arrumaram as malas para regressarem ao Brasil com a pecha de “campeões morais”.
Mas há uma inusitada história descrita pelo saudoso repórter Tárlis Batista (1940-2002), um carioca de Pilares, que sempre entendeu (e muito!) de samba e futebol. Trabalhou na TV Manchete, onde cobria o desfile das escolas de samba e comandara um programa esportivo (cujo nome não me recordo) que recebia inúmeros craques da época. Zico, entre eles. O Galinho era uma de suas fontes principais no dia a dia do futebol.
Tárlis cobriu a Copa de 78 pela revista Manchete Esportiva — ele, aliás, trabalhou em praticamente todas elas da antiga editora Bloch. É dele a história de uma “homenagem” que os jogadores da seleção queriam prestar ao Coutinho. A ideia pintou ainda no avião que transportava todos de volta. Zico, Edinho, Rivelino, Gil, Toninho, Abel, Roberto Dinamite e Dirceu combinaram de promover um jantar para Coutinho no badalado restaurante Castelo da Lagoa, que já não existe mais. Foi fechada a umas três décadas, creio.
No dia combinado, Edinho foi o primeiro a chegar. “Chegou, olhou, procurou e concluiu que estava absolutamente só”, escrevera Tárlis Batista. A hora avançara. O relógio apontava 22 horas e o jantar estava marcado para as 21h. O zagueiro do Fluminense, que foi improvisado por Coutinho na lateral-esquerda da seleção, levantou-se e foi embora. Zico chegara logo após a saída do Edinho. Estava acompanhado de Sandra, sua esposa. “Ficou ali, parado, aguardando, durante duas horas, mas nem mesmo Cláudio Coutinho, o homenageado, apareceu. Então, cansado de tanto esperar, Zico jantou e foi embora, mancando, apoiando-se no ombro da sua mulher, grávida de quatro meses”, descrevera Batista.
A “homenagem” não rolou e a tentativa de “gratidão” ficou restrita ao Zico e ao Edinho. Nunca se soube quais foram os motivos que fizeram a maioria dos jogadores melarem o tal jantar. Somente Zico, Edinho e, sobretudo os que fizeram forfait podem explicar a repentina mudança de agenda.