por Zé Roberto Padilha
Diante da atual penúria técnica do futebol brasileiro, que conta com a pior safra da sua história, seria normal que os atuais treinadores do G-20, grupo que reúne os comandantes da sua primeira divisão, se reunissem para rever o estado de conservação dos campos de fertilização de novos talentos. Buscar a fundo as razões que levaram a cidade de Três Corações, no interior de Minas Gerais, a não revelar um novo Rei. Saber por que Quintino, no subúrbio do Rio de Janeiro, não enviou um outro Antunes ao Maracanã. E porque o São Cristovão não vê por ali nascer mais fenômenos. Isto é, buscar nas raízes dos campos de peladas do interior, e no desaparecimento dos seus heróis abnegados, com um apito na boca e uma bola debaixo do braço, que viviam a garimpar, sem CREF ou Licença Pró-Teção ao meu cargo, a nossa maior matéria prima de exportação.
Mas no lugar de ir fundo no problema, os integrantes do G-20 preferiram ficar na superfície das suas próprias ambições. Inseguros, corporativistas, tramaram nas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro se reunir na sede dos Coveiros do Futebol Brasileiro (CBF) e garantir a própria sobrevivência. Afinal, como um treinador de seleção brasileira se presta ao desconforto de sentar num banco escolar para ouvir não uma preleção do Guardiola, do Mourinho, mas as considerações de um Famoso Quem em busca de uma carga horária?
Ele, Tite, o Dunga e mais os 18 anões do meu pirão primeiro, se prestaram a tal humilhação para ter direitos exclusivos sobre nós, treinadores do futebol brasileiro espalhados por todos os campos do país. Eles se rotulam comandantes da elite, mas que elite é esta que precisa buscar nos países vizinhos soluções berrantes, e Berrios, que brotavam a toda hora pelos nossos campinhos de pelada?
Sou treinador de futebol do interior, com muito orgulho. Oito anos dirigindo quatro equipes (Fluminense FC, América FC-TR, Entrerriense FC e Ariquemes FC) com quatro títulos conquistados (Estadual Carioca Infantil 87, Juvenil 89, Segunda Divisão Carioca 94 e Campeão Estadual de Rondônia 93). Pouco importa o que lutei e alcancei. Como centenas de colegas ex-atletas carregados de experiências, estou há anos sem clube porque o descaso da FERJ com o interior saiu fechando o futebol do Barra Mansa FC, de Cantagalo, de Teresópolis, e do Serrano também. Os dois clubes da minha cidade, Três Rios, que revelaram o Ferreira para a Seleção Brasileira e o Vinícius Righi para o comando do ataque do Flamengo, e o Da Silva para proteger a zaga da nação, entre tantos craques , fecharam suas portas. Sem campeonatos, ligas desportivas abandonadas, deixaram de revelar grandes jogadores, oferecer a população espetáculos ao vivo e passaram a abastecer o crescente mercado do mundo das drogas.
Ao final da reunião do G-20, na sede coveira da Granja Comary, foi registrado em ata que só eles poderão dirigir as grandes equipes dos pequenos jogadores. Pagaram uma fortuna para garantir que ninguém mais irá dirigir o Flamengo sem Nunes, o Fluminense sem Fred, o Botafogo sem Túlio e o Vasco sem o Roberto Dinamite. Pouco importa o resultado alcançado, o que vale é estar ali no comando de um Titenic que já perdeu outra Copa do Mundo, viu a Copa Libertadores da América ser disputada por dois argentinos e segue, imponente sob seus comandos, para o fundo do mar porque para o fundo das redes ninguém mais com a 9 consegue acertar.