por André Felipe de Lima
Onde jogou, recebia apelidos dos mais inusitados. Na época em que defendeu o Internacional, de Porto Alegre, Carbone era o “Caminhão”, segundo o ex-centroavante Claudiomiro. Quando vestiu a camisa do Botafogo, Marinho Chagas batizou-o de “Charbon” (?!) e Ademir Vicente, de simplesmente “Veterano”.
José Luís Carbone, um dos mais aguerridos volantes do futebol brasileiro nas décadas de 1960 e 70, sobrinho do também ídolo e goleador corintiano Rodolpho Carbone, faz anos hoje.
Nasceu em 1946, na cidade de São Paulo, e começou a jogar bola aos onze anos, no Flor de Vila Formosa. Depois seguiu para a divisão de base do Juventus, quando contava dezesseis anos. Após um jogo do Juventus, foi levado ao São Paulo. E foi no tricolor do Morumbi onde começou a carreira profissional, em 1963. Perambulou pela Ponte Preta, em 1966, mas, no ano seguinte, regressou ao São Paulo, clube no qual permaneceu até 1968.
Passou rapidamente pelo Metropol, de Criciúma, que na época tinha um time bastante competitivo, de onde saiu o ponta-direita Valdomiro, e depois fincou os pés no Beira-Rio.
No Internacional, Carbone ganhou o estrelato. Era um dos ídolos da torcida e respeitado pela crônica esportiva gaúcha. Foi um dos ícones da equipe colorada que impôs um freio no ímpeto do Grêmio, que almejava o oitavo “gauchão” seguido. Logo na primeira temporada, em 1969, foi eleito o melhor jogador do estado. Nos cincos anos em que vestiu o manto Colorado, de 69 a 73, foi campeão estadual. Depois, sua história seria com o Botafogo.
Vi Carbone em campo defendendo o Botafogo. Embora vascaíno, meu pai levou-me ao Maracanã algumas vezes para ver o Fogão. Acho que foi uma forma de agradecer ao meu avô que, botafoguense, tentava convencê-lo a tornar-se alvinegro levando-o aos jogos para torcer pelo Otávio de Morais, pelo Nilton Santos, pelo Paraguaio, pelo Juvenal e pelo Geninho. Frustrada tentativa do vovô. Para o papai, era Deus no céu e Ademir de Menezes na terra. Segui o mesmo caminho.
Quanto a mim e ao dia em que “conheci” Carbone, confesso, era pequeno e não me recordo muito bem dos jogos. Sei que um deles foi contra o Bahia e terminou 0 a 0. Creio que em 1975 ou 76. Literalmente dormi no gelado cimento da arquibancada do velho Maracanã. Entre um cochilo e outro, chamava-me atenção o Carbone. Havia visto a foto dele no jornal. É, porém, certo: a cabeleira e o bigode do Carbone jamais saíram da minha memória. Tanto que achava bacana. Achava que ao crescer teria o mesmo bigode do Carbone. Coisas de criança. Fiz do craque um dos meus primeiros astros do futebol de botão, uma mistureba de jogadores do Vasco com os do Botafogo. No gol era o Andrada. Miguel e Osmar na zaga. Tinha, na meia, o Carbone, o Manfrini e o Zanata. Dinamite no ataque, com Jorginho Carvoeiro e por aí vai.
A cabeleira e o bigode do Carbone “rivalizavam” com outro famoso bigode, o do tricolor Rivellino. Um verdadeiro “Clássico vovô” dos bigodes. Divertia-me com tudo aquilo. Coisas de criança.
Hoje, aniversário do ídolo Carbone, esta memória veio à tona. Graças a Deus que ainda existem em mim… coisas de criança.